segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pesquisas buscam alavancar potencial vinífero da região Oeste do Paraná


A cultivar ‘Bordô’, apesar de não ser tradicionalmente vinífera, tem sido bem aceita na indústria por apresentar produtos de aroma e sabor frutado. Um grupo de pesquisadores da Unioeste vem avaliando o desempenho desta cultivar sobre diferentes porta-enxertos, determinando as características mais favoráveis e adaptadas à nossa região. Um dos trabalhos virou dissertação de mestrado da engenheira agrônoma Maria Suzana Vial.


A expansão da área cultivada com uvas na região Oeste é um fato, especialmente das variedades rústicas para vinhos. Empreendimentos industriais e o cultivo orgânico da fruta têm chamado atenção de pesquisadores do Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Cândido Rondon, no sentido de determinar quais as características de adaptabilidade de porta-enxertos às condições de cultivo da região, visto que a produção de uvas de qualidade, destinadas à industrialização, está estreitamente relacionada a vários fatores, dentre eles a cultivar copa e o porta-enxerto.
Diante da importância sócio- econômica da uva Bordô na região, a equipe de pesquisa detectou a necessidade urgente de aprimorar o sistema de cultivo, avaliando diferentes porta-enxertos (veja Box 2), com o objetivo de caracterizar e identificar as melhores combinações porta-enxerto/variedade-copa para as condições fisiográficas da região Oeste do Paraná.
O experimento foi realizado na safra 2007/2008 e conduzido em parreiral orgânico, localizado no município de Missal, no oeste paranaense. “O sucesso da viticultura depende muito da escolha acertada da cultivar de porta-enxerto para a variedade copa que se pretende explorar, contudo deve-se levar em conta também as condições climáticas e as limitações fitossanitárias, encontradas no local de instalação dos vinhedos. No experimento utilizamos os porta-enxertos ‘420A’, ‘IAC 766’ e ‘Ripária do Traviú’, três dos mais usados pelos produtores da região”, destaca a pesquisadora.

Subsídios físico-químicos

Através da orientação do professor doutor Gilberto Costa Braga e da doutora Ariane Busch Salibe, o experimento faz parte de uma linha de pesquisa que visa contribuir na geração de conhecimento tecnológico para o incentivo, alavancagem e desenvolvimento da viticultura na região Oeste. Especificamente, ele avaliou os diferentes momentos fisiológicos das uvas ‘Bordô’(Confira Box 1), frente aos diferentes porta-enxertos testados, estabelecendo subsídios físico-químicos, como índices de ponto de colheita, para diferentes finalidades de consumo, assim como determinar o porta-enxerto cujas características da uva apresentarem melhor qualidade para o consumo.
Assim, a pesquisa buscou determinar, num cronograma de três coletas, características físicas da uva Bordô, como massa do engaço, das bagas e do cacho, assim como comprimento, diâmetro e número delas, além das características químicas como pH (acidez), Sólidos Solúveis totais (o teor de sólidos solúveis totais indica a quantidade de açucares existentes no fruto), antocianinas (pigmentos vegetais responsáveis pela maioria das cores azul, roxa e todas as tonalidades de vermelho encontradas em flores, frutos, algumas folhas, caules e raízes de plantas. Fazem parte do grupo dos flavonóides) , vitamina C, polifenóis totais e taninos (substância responsável pela sensação de adstringência em alguns vinhos).

Padronização de cor

As análises físicas e químicas foram realizadas no Laboratório de Tecnologia de Alimentos do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Cândido Rondon. Os resultados apontaram que as melhores características físicas, como peso da bagas e do cacho foram observados quando a uva bordô foi cultivada sobre os porta-enxertos ‘IAC 766’ e ‘Ripária de Traviú’. No entanto, o porta-enxerto ‘420 A” se diferencia dos demais, pois as uvas cultivadas nele apresentaram maior teores de Sólidos Solúveis. (eBRIX)
Com relação aos parâmetros químicos tecnológicos de interesse para a vinificação, os resultados, embora ainda não definitivos, apontam para o porta-enxerto ‘Ripária do Traviú’ como o de melhor influência sobre o teor de antocianinas das uvas bordô, porém, foi o que apresentou os menores índices de taninos, tanto da polpa quanto da casca da uva.
Segundo os pesquisadores, que vêm desenvolvendo uma série de estudos na área da viticultura, a determinação destes parâmetros na época de colheita, são fundamentais para a obtenção de vinhos e outros produtos de alta qualidade. De acordo com eles, o experimento corrobora a tese de que, apesar do fato de que vinhos tintos de alta qualidade, são obtidos a partir de uvas viníferas, com excelentes características para sólidos solúveis totais, polifenóis e antocianinas, isto não implica concluir que vinhos de variedade consideradas não-viníferas, como é o caso da uva Bordô estudada neste caso, sejam pouco importantes sob o ponto de vista vinífero, pois, neste caso específico, vinhos deste tipo de uva, possuem grande aplicabilidade na padronização de cor de outros vinhos, tendo assim grande potencial industrial.

BOX 1

A uva ‘Bordô’

A cultivar Bordô é originária dos Estados Unidos e é uma das principais videiras de V.labrusca. Foi introduzida no Rio Grande do Sul em 1839 com o nome de ‘Ives’. Sua expansão foi devido a sua fácil adaptabilidade às condições climáticas, assim como à boa produtividade e longevidade, além da rusticidade. Na indústria, a ‘Bordô’ possui uma grande demanda para elaboração de vinho tinto, suco, vinagre e geléias. Por sua precocidade, a produção é escoada para o consumo in natura.
A cor intensa do vinho ‘Bordô’ e seu matiz violeta são características dessa cultivar, cuja importância comercial ocorre principalmente em regiões com inverno definido. É também uma cultivar muito rústica e resistente a doenças fúngicas.

LEGENDA FOTO: Imagem 3 – Os vinhos deste tipo de uva, possuem grande aplicabilidade na padronização de cor de outros vinhos, tendo assim grande potencial industrial.


BOX 2

Porta-enxerto

Com a disseminação da filoxera , uma doença que danifica as raízes da videira, os viticultores obrigaram-se a fazer uso de porta-enxertos tolerantes ou resistentes à doença. Os bons porta-enxertos, assim, devem ser resistentes a filoxera e aos nematóides, adaptáveis ao ambiente e afinidade satisfatória com as cultivares copas e sanidade. Um dos fatores de suma importância na instalação de um parreiral comercial, segundo os pesquisadores, é a escolha do porta-enxerto, que pode influenciar diretamente nas características químicas e físicas dos frutos da variedade copa.

BOX 3

Uva no Paraná

O estado do Paraná ocupa o 5º lugar na produção brasileira de uvas, com cerca de 95 toneladas em 2006, com destaque para o norte do estado na produção de uvas de mesa. O Oeste tem apresentado grande potencial, especialmente na produção de variedades rústicas para vinhos. São cerca de 200 produtores na região, metade dedicada a produção de uvas de mesa e o restante a produção de uvas para vinhos e sucos.