ARTIGO
Transporte público para pessoas ou para pessoas pobres?
Edésio Reichert
*
Não é preciso ser instruído e nem muito inteligente, para chegar em qualquer cidade, com
população de 100 mil habitantes ou mais, e perceber como são excludentes e
prejudiciais as decisões de nossos administradores e legisladores municipais, a
respeito do que significa transporte público para pessoas.
Pouquíssimas
cidades fogem dessa situação. Estas não são objeto deste artigo, assim como não
é o metrô, por ser transporte que se aplica a poucas cidades.
Toda
pessoa maior de idade tem direito a ter um veículo? Sim. Toda pessoa maior de
idade, que tem um carro, tem direito de ir trabalhar ou estudar com ele? Sim. Se
toda pessoa que possui veículo, utilizá-lo como meio de transporte para ir
trabalhar ou estudar, as ruas comportam? Não!
Então
o que leva uma pessoa a decidir ir trabalhar ou estudar com o próprio carro?
Seguramente, a sua condição financeira, aliada à praticidade que gera.
Logo,
aquele que vai de transporte público, principalmente de rodoviário, só o faz
por não ter condições de bancar as despesas de um veículo e por não ter outra opção,
pois se tivesse não iria de ônibus.
Como
é possível considerar um serviço bom e atraente, se o sonho de quem o utiliza,
é não usá-lo mais? Assim acontece com a maioria das pessoas que utilizam o
sistema de transporte analisado neste artigo.
Quer
humilhação maior ou mais desprezível, do que deixar explícito a uma pessoa que
ela é pobre? Não bastam as dificuldades que ela tem na vida, não importando
aqui as razões, o sistema de transporte que está à sua disposição, precisa
confirmar que ela não tem condições financeiras para usar outro meio.
Em
sua maioria, ônibus e trens urbanos são sujos, cheiram mal, não têm ar-condicionado,
são superlotados, por demais demorados, barulhentos, com pontos de embarque e
desembarque sem proteção adequada, com poucos terminais de transbordo e sem
preferência de vias e em semáforos (especialmente ônibus), etc.
Resumindo:
em sua maioria, o transporte público no Brasil é para pessoas pobres, não para
pessoas. E grande número dos usuários desse sistema, por sua pouca instrução,
jamais poderão conquistar a condição de ir com seu próprio carro trabalhar.
Sob
esta perspectiva, o mal maior é o que vai se desenvolvendo no coração dessas
pessoas, como o ressentimento. Pessoa ressentida não trabalha direito, pode ter
mais problemas de saúde, problemas psicológicos, de relacionamentos,
dificuldade de colaboração, etc.
Carro
e cidade jamais se harmonizarão, pois não foram feitos um para o outro. Cidade
combina com transporte público e sempre pensando em maior número possível, mas
para pessoas, não para pessoas pobres.
Aqui
reside o principal desafio: mudar a cultura do veículo como meio de transporte
dentro das cidades, incluindo as motos, pelos riscos que apresentam.
Esta
é uma daquelas brigas necessárias, que deveriam ser enfrentadas por
administradores e legisladores corajosos; não importando os entraves legais,
burocráticos e daqueles que têm mais condições financeiras.
Todos
os esforços dos homens públicos deveriam concentrar-se nesta direção: preferência
absoluta para o transporte público, para atrair todo tipo de pessoa. E quem
desejar ouprecisar do veículo próprio para trabalhar? Sem problemas, desde que saiba
que a preferência será para o transporte público.
Temos
muitas cidades bem organizadas, limpas, com harmonia entre os elementos
naturais e os edificados pelo homem, mas quando olhamos o seu sistema de
mobilidade, número de veículos, motos, os estacionamentos nos espaços públicos,
se tornam uma verdadeira tragédia.
A
vida das pessoas sendo sugada pelo tempo no trânsito dentro de um carro, seja
em saúde, em convivência familiar, em produtividade no trabalho, etc.
Todos
sentem esse desconforto da mobilidade, uns mais, outros menos. Quem vai de
carro ou moto próprios, em ruas lotadas e riscos de acidentes, quem vai de
ônibus ou trem, todo desconforto já descrito, além do número de veículos que
lotam as ruas dificultando o fluxo.
E
como mudar esta realidade? Certamente não será fácil a solução. Porém o
princípio de tudo é ter vontade e coragem de mudar. Segundo, os poucos exemplos
de cidades do Brasil e as soluções já encontradas mundo afora, deveriam servir
de inspiração, tanto para mudar leis como para criar políticas públicas
direcionadas para esta prioridade, como é transporte público para pessoas.
É
surpreendente o número de autoridades que viajam ao exterior e retornam
elogiando os sistemas de transporte que lá fora viram. E aqui quase tudo
continua como está. As nossas cidades, cada vez mais populosas, sob o ponto de
vista aqui analisado, vão tornando a vida das pessoas cada vez mais num
pedacinho do inferno.
*O
autor é pequeno empresário no Paraná, ex-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Toledo
(Acit) e idealizador do Movimento Pessoas Melhores
E-mail:
edesioreichert@gmail.com
COLABORAÇÃO: Luiz Alberto Costa
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