Primeiro, ela identifica, junto às comunidades locais, quais espécies têm potencial para se tornarem mais populares. Depois, realiza estudos ecológicos e com consumidores para descobrir quais são as plantas silvestres mais aceitas, qual é o público-alvo (perfil de potenciais compradores), quais as melhores estratégias, inclusive de marketing, para apresentar esses produtos e para que eles cheguem aos centros urbanos.
Ela costuma, por exemplo, fazer associações para entender como as pessoas escolhem o que vão comer, se é pelo nome, pela aparência ou pelo cheiro.
"A popularização dessas plantas vai ampliar a renda das comunidades", diz a cientista, acrescentando que ao mesmo tempo isso permite diversificar os nutrientes e as opções alimentares, algo que ela afirma ser fundamental.
"Estudos mostram que os alimentos convencionais têm deficiências de certos micronutrientes, como ferro e cálcio, minerais que precisamos na nossa alimentação. Pesquisas também indicam que as plantas silvestres têm muitos micronutrientes. Então seria uma forma de diversificar e não de substituir os produtos tradicionais", afirma a jovem cientista, de 35 anos.
Os araçás, por exemplo, têm altos teores de vitamina C. Já o jenipapo é altamente energético e tem uma quantidade interessante de certos micronutrientes, como ferro é cálcio. Além disso, há pesquisas em curso que indicam que o jenipapo teria propriedades funcionais e auxiliaria a evitar algumas doenças.
"Cada uma dessas plantas tem um perfil nutricional diferente. Se conseguirmos incrementar a dieta com várias delas, podemos ter um espectro grande na alimentação", ressalta Medeiros.
Segundo ela, o Brasil ainda aproveita pouco seu potencial alimentar. Isso se dá pelo receio da população de consumir o que não é convencional. É a chamada "neofobia alimentar", o medo de comer coisas novas.
Seu trabalho também inclui estratégias para driblar a neofobia alimentar que pode desestimular o consumo de plantas silvestres e de espécies frutíferas selvagens.
"É necessário diversificar para não sobrecarregar determinadas cadeias de alimentos. Esse é o ponto chave", destaca.
As pesquisas de Medeiros foram premiadas, segundo a Fundação L'Oréal, porque além de incluir novos produtos na alimentação, promovem a biodiversidade e a segurança alimentar, já que essas plantas são mais adaptadas aos seus ambientes, e reduzem ainda a necessidade de agrotóxicos e de fertilizantes devido ao fato de nascerem na natureza.
A cientista pernambucana, que faz suas pesquisas em áreas de restinga da costa brasileira, diz que é necessário ainda diversificar a alimentação por conta das mudanças climáticas.
Segundo ela, não se sabe o que ocorrerá nas próximas décadas e quais são os alimentos da agricultura convencional que estariam ameaçados e quais são as alternativas possíveis.
As plantas não convencionais são aquelas que não são conhecidas nos centros urbanos. Muitas delas são vendidas em feiras locais, como no interior do Alagoas, diz ela, mas nem chegam à capital.
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