Avenida Brasil: quem matou…o jornalismo?
19 out
Por Bruna Andrade
Qual a razão
de ser do jornalismo: a realidade ou a ficção? É essa a iminente
pergunta que se faz ao perceber o espaço dado por Globo e Zero Hora a
especulações relacionadas ao desfecho da novela Avenida Brasil. É a
ficção pautando e ganhando considerável destaque em espaços que se dizem
jornalísticos.
O modelo da
cobertura que está sendo feita para o final da novela não é nenhuma
novidade na grande imprensa brasileira, é o velho showrnalismo:
cobertura a nível de entretenimento, com a opinião de “especialistas”, a
fim de chamar a atenção e formar a opinião pública através do circo
midiático. Foi isso que fez o Fantástico do último domingo em um espaço
de quase 10 minutos dedicados à discussão sobre quem matou o personagem
Max, de Avenida Brasil, e que Zero Hora repetiu em uma matéria de duas
páginas no jornal de quinta-feira. Há ainda que se destacar que nessa
edição de ZH nenhuma outra matéria foi contemplada com duas páginas.
Mas qual
seria o valor notícia, a relevância jornalística da morte de um
personagem ficcional? Ocorre que a grande mídia já naturalizou a quebra
da fronteira entre jornalismo e entretenimento, e agora vem se perdendo
também na linha entre realidade e ficção. Porém, esse processo de
inversões não vem acontecendo por acaso, ou pela simples perda de
“qualidade” desses veículos, isso acontece dentro de um modelo de
jornalismo que trabalha pela alienação e despolitização. Exemplo disso é
a reportagem no jornal ZH desta sexta-feira (19) sobre a moradora de
rua que comprou uma televisão em prestações somente para assistir a
novela. A reportagem em momento algum questiona a dominação consumista
exercida pela programação da TV, nem a inversão de valores que há na
história, e não questiona pelo fato de que a matéria vem para endossar e
naturalizar práticas como essa, que, assim como as empresas
jornalísticas, funcionam dentro da lógica capitalista.
Outro ponto
relevante nessa cobertura é o do veículo se autopautando, ou seja,
transformando o próprio veículo em notícia. É o que acontece quando o
Fantástico, da Rede Globo, dedica quase 10 minutos, em um espaço de
concessão pública, para tratar do final da novela Avenida Brasil, da
mesma Rede Globo, e quando a Zero Hora, do Grupo RBS, filiado à Globo,
dedica quatro páginas em dois dias ao mesmo tema.
E tudo isso
é, infelizmente, apenas um exemplo, entre tantos que diariamente se
sucedem nos jornais, do tipo de jornalismo feito pela grande mídia: um
jornalismo circense, pautado pelo mercado, e que vem para promover a
conservação através da alienação.
*Atualizado às 21h41.
O Jornal
Nacional de hoje veiculou uma reportagem de 1 minuto e 40 segundos sobre
a expectativa dos “brasileiros” e a movimentação das pessoas voltando
para casa para não perder o final da novela. A reportagem teve direito
até a sobrevoo ao vivo pelo Rio de Janeiro e São Paulo para mostrar como
as ruas estão vazias, segundo eles, em razão do derradeiro capítulo de
Avenida Brasil.
FONTE: http://jornalismob.com/2012/10/19/avenida-brasil-quem-matou-o-jornalismo/
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