sexta-feira, 2 de maio de 2014

MÍDIA



ZERO HORA COMEMORA 50 ANOS E NOVO PROJETO GRÁFICO APRESENTANDO PEÇA DE FICÇÃO COMO REALIDADE

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Alexandre Haubrich
O jornal Zero Hora, que comemora 50 anos no dia 6 de maio, reformulou seu projeto gráfico a partir da edição desta quinta-feira, 1º de maio. Como parte da divulgação das mudanças, encartou cinco páginas duplas que destacam mudanças sociais que teriam ocorrido durante esse tempo. Com as peças gráficas, mostrou seu forte descolamento em relação à realidade das ruas. É claro que esse descolamento aparece diariamente em todos os veículos do Grupo RBS, que, encastelado em seu domínio alimentado com dinheiro público, tem como única missão verdadeira aumentar seus lucros.
Dentre as cinco peças publicitárias, a última é apenas o fechamento da ideia conduzida pelas demais. As quatro primeiras estão reproduzidas abaixo, seguidas por comentários a respeito de cada um dos temas ali retratados. Zero Hora pinta um mundo e um país maravilhosos e fantasiosos, virando as costas para a real situação da população. Constrói um discurso asséptico misturando afirmações construídas como apresentação do real com um objetivo puramente publicitário – e a clara demarcação que aparece dessas páginas como espaço de publicidade não anula a construção de discurso ali conduzida, que apresenta uma realidade fictícia como verdadeira. Há, claramente, um discurso de realidade nas frases da campanha. O corte de público do jornal, um público conservador de classe média, permite que, já que o importante é a venda e não a retratação do mundo, os problemas profundos sejam ignorados em peças como essas ou tratados de forma superficial – quando tratados – nos espaços noticiosos. Vejamos:
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De acordo com a pesquisa DataSenado de 2013, 57,9% das mulheres conhecem algum mulher que já sofree algum tipo de violência doméstica ou familiar. 18,6% das mulheres já sofreu algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem. Desses agressores, 60,3% eram maridos / companheiros, 4,3% eram namorados, 12,9% eram ex-namorados, ex-maridos ou ex-companheiros.
Mas, para a Zero Hora, “casamento virou ser feliz”.
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Em 2013, 3,27 milhões de pessoas trabalhavam em condição de subemprego, recebendo menos de um salário mínimo ao mês. Também em 2013 a Comissão Pastoral da Terra apontou casos de trabalho escravo envolvendo 2.874 trabalhadores. De acordo comlevantamento da ONG Walk Free Foundation, 200 mil pessoas trabalham em condições de escravidão no Brasil, 29 milhões no mundo. Nas recentes obras visando a Copa do Mundo de futebol, já morreram oito operários.
Mas, para a Zero Hora, “trabalho virou fazer o que se gosta”.
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Segundo relatório da UNESCO divulgado no início de 2014, 22% dos alunos brasileiros saem da escola sem capacidades elementares de leitura e 39% não têm conhecimentos básicos de matemática. Além disso, a nível mundial, 250 milhões de crianças não conseguiram aprender o básico na escola primária e que um quarto da população jovem do mundo não é capaz sequer de ler parte de uma frase. Já o IBGE apontou em 2013 a existência no Brasil de 13,2 milhões de pessoas que não sabiam ler nem escrever, o equivalente a 8,7% da população total com 15 anos ou mais. Já os analfabetos funcionais são 27,8 milhões de pessoas, 18,3% dessa população.
Mas, para a Zero Hora, “aprender virou ter experiências”.
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Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2010, 42.844 pessoas morreram nas estradas e ruas do país. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, mais de 2 mil pedestres morreram apenas em 2011 vítimas de acidentes de trânsito apenas naquele estado. O número de internação de pedestres  naquele mesmo ano, em São Paulo, foi de 10.548. Os problemas relacionados ao transporte público foram ainda os principais motivadores da onda de protestos populares que teve seu auge em junho e julho de 2013.
Mas, para a Zero Hora, “transporte virou filosofia de vida”.
Imagens: Reprodução Zero Hora

FONTE: http://jornalismob.com/2014/05/01/zero-hora-comemora-50-anos-e-novo-projeto-grafico-apresentando-peca-de-ficcao-como-realidade/

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