terça-feira, 14 de julho de 2015

OS AWÁ-GUAJÁ E OS GUARANI-KAIOWÁ



O que une os Awá-Guajá, grupo indígena do Maranhão, de pouco mais de 360 pessoas, com parte de sua população em situação de isolamento voluntário, nas matas da Amazônia Oriental, aos Guarani-Kaiowá, o segundo maior grupo indígena do país, com quase 50 mil pessoas vivendo uma situação desesperadora em seu cotidiano, marcado por dezenas de assassinatos e suicídios todo ano, além de confrontos diretos com fazendeiros do sul de Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai?
Os Awá-Guajá e os Guarani-Kaiowá representam realidades extremas vividas em duas regiões do país onde hoje é muito distinta a situação dos povos indígenas, no que tange à terra.
Na região da Amazônia Legal, o Maranhão é palco de um grave assédio contra as terras indígenas.[1] No Estado, que já teve mais de 70% de sua área de floresta desmatada, 52% de toda a mata que resta está em terras indígenas. Em busca desse tesouro, os madeireiros e carvoeiros subornam lideranças e funcionários públicos.
Além desse cerco, os Awá-Guajá, em suas três terras indígenas, que somam 820 mil hectares, ainda têm que lidar com um projeto como a duplicação da Ferrovia Carajás, da mega multinacional Vale. Como negociar e dimensionar “compensações” pelos danos causados por empreendimentos como este, quando nem mesmo se tem noção do que seja o dinheiro?









Os Guarani-Kaiowá, por sua vez, estão distribuídos por 30 terras indígenas e mais de 30 acampamentos, instalados na beira de estradas ou dentro de fazendas que esses grupos reivindicam como seus tekoha– “o lugar onde se pode viver do nosso jeito”, em uma tradução aproximada.
Ao todo, as terras ocupadas pelo grupo hoje não chegam a 50 mil hectares. Nas reservas demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), entre 1915 e 1928, onde até hoje vive grande parte da população Guarani-Kaiowá, a superlotação gera um ambiente hiperviolento e depressivo: mais de mil suicídios foram registrados nos últimos 30 anos entre os Guarani-Kaiowá, atingindo principalmente os jovens. Foram 659 casos somente entre 2000 e 2013.
Segundo os dados compilados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) nos últimos anos, morrem assassinados mais indígenas em MS do que em todo o resto do país – em alguns anos, mais de 90% dos mortos em MS são Guarani-Kaiowá. Entre 2003 e 2013, morreram 349 indígenas em MS, contra 267 indígenas no restante do país.[2] Boa parte desses números está relacionada a violências cometidas entre os próprios indígenas, principalmente jovens e, sobretudo, nas antigas reservas do SPI.
Abandonar as reservas, onde boa parte dos líderes de famílias extensas já não consegue perceber uma perspectiva de futuro, e buscar a retomada dos tekoha é a diretriz fundamental do movimento de luta pela terra que os Guarani-Kaiowá têm empreendido desde os anos 70.
Em guarani e em guajá, línguas da família tupi-guarani faladas por esses dois grupos, é awá (ou avá) o termo para “gente” ou “pessoa”. E seja na Amazônia ou no Mato Grosso do Sul, é por meio da terra que se pode alcançar uma condição de vida plenamente humana.
Referências
CARVALHO, Cleide. No Maranhão, áreas indígenas são dizimadas por desmatadores. O Globo, Rio de Janeiro, 6 abr. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/no-maranhao-areas-indigenas-sao-dizimadas-por-desmatadores-8047507>. Acesso em: 7 maio 2015.
RANGEL, Lúcia Helena (Org.). Relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil (dados de 2013). Brasília: Conselho Indigenista Missionário, 2013. 126 p.

FONTE: http://www.genteawa.com.br/web-serie/

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