sábado, 5 de dezembro de 2015

O ATAQUE DOS AGIOTAS E O COMPLEXO DE VIRA-LATAS DAS ELITES BRASILEIRAS



Bruno Lima Rocha*, especial para o Jornalismo B
No dia 9 de setembro, a mídia eletrônica brasileira anunciava a catástrofe advinda com a nota atribuída por uma agência de rating. Obviamente que nenhum lide de um mísero jornal brasileiro estampou em sua capa ou tela, e menos ainda em escalada de telejornal ou chamada de síntese radiofônica a vida pregressa desta mesma empresa. Bastava retornar no tempo, para o ano de 2008 e a reputação dos emissores da nota cairia por terra. 
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Eu agrego que os impactos são de ordem política e de confiança, como numa espécie de profecia autorrealizada. Especificamente a agência de “análise” de risco Standard & Poor’s (S&P), tão festejada pela mídia aberta brasileira, foi condenada pelas autoridades dos EUA a pagar uma multa de 1,37 bilhão de dólares pelas fraudes cometidas na chamada crise da bolha imobiliária e falência de bancos de investimentos. A saber, no maior escândalo destes analistas, a agência classificou como triplo a (AAA) ao falimentar banco Lehman Brothers meses antes da quebra.  E, até a manhã da falência do Lehman (em setembro de 2008), recebia a nota A. Outro escândalo se deu com a “avaliação” da empresa de energia Enron, que recebeu grau de investimento até cinco dias antes de sua quebra, em dezembro de 2001. O caso da Enron formaliza o primeiro grande escândalo do século XXI e é magistralmente registrado no documentário “The smartest guys in the room” (Enron: os caras mais espertos da sala, 2005, dirigido por Alex Gibney).
A fraude da Enron envolve todas as pontas do negócio de venda de ações e apreciação de valor de algo que perdera seu lastro. Na jogada estavam os altos executivos desta empresa de energia, pois maquiavam balanços através da criação de empresas fantasmas em paraísos fiscais (como Bahamas e Cayman), onde supostamente estas empresas inexistentes comparavam ações da Enron. Com o lucro no azul, estes mesmos executivos aumentavam seus bônus por “produtividade”. As empresas de auditoria Arthur Andersen, Price Waterhouse e KPMG abalizavam as operações, afirmando que tudo ia bem. Já a mega corretora Merril Lynch, fez uma operação e compra e venda de investimentos da Enron na Nigéria e com isso movimentou as ações da empresa quase falida, inflando o valor de suas ações. E, para fechar o esquema, a S&P deu grau de investimento para a picaretagem empresarial promovida pelos “espertalhões” que comandavam a Enron. Resultado: uma falência fraudulenta, mais de cinco mil demitidos e outros vinte mil empregados quebraram juntos, pois foram incentivados a comprar ações da própria empresa. 
Ao observarmos ambos os casos, e ao constatarmos o absurdo da rebaixa da nota brasileira em 09 de setembro de 2015, nos damos conta de que o país está sob um forte ataque especulativo. O Brasil perdeu, literalmente, o grau de investimento atribuído pela S&P -  que em conjunto com a agência Moody’s e a Fitch, detêm 70% deste “mercado” de avalistas – sendo rebaixado de BBB- para BB+. Além do governo central e o seu orçamento, também foram rebaixados mais de quarenta empresas brasileiras, a começar pela Petrobrás, um dos  alvos permanentes de cobiça internacional.
Nosso país é alvo dos ataques internacionais – de ordem especulativa – e das direitas político-ideológico-financeiras, dentro e fora tanto do governo de turno (o do 3º turno, o real e concreto), como com e sem legenda, a exemplo da manada de entreguistas a sair às ruas em nome de um moralismo lacerdista. É óbvio que a meta de curto prazo é a reversão da melhora material das condições de vida – promovidas pelo pacto conservador e policlassista do lulismo – e uma inflexão na política econômica para assegurar os ganhos das hienas sedentas do mundo financeiro e, se possível, não avançar na quebradeira das indústrias aqui instaladas.
A fragilidade do Brasil – mesmo dentro da selvageria do Sistema Internacional sob modo de produção capitalista não é de ordem estrutural, mas ideológica. As elites dirigentes tem cabeça de bastardos, odeiam a si e a todos nós, materializando o conceito do complexo de vira-latas. 
*Professor de ciência política e de relações internacionais -estrategiaeanalise.com.br.

Fonte: http://jornalismob.com/2015/12/03/o-ataque-dos-agiotas-e-o-complexo-de-vira-latas-das-elites-brasileiras/

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