quarta-feira, 27 de julho de 2016

MÍDIA DIGITAL




MÍDIAS DIGITAIS, MOBILIZAÇÃO POPULAR E A URGÊNCIA DE ORGANIZAR A OCUPAÇÃO DA INTERNET POR AGENTES TRANSFORMADORES






Bruno Lima Rocha*
Durante os primeiros 10 anos de difusão da internet civil e de fins comerciais, tivemos no meio da comunicação uma estéril polêmica entre integrados e críticos. Quem fazia a apologia ou a integração total da rede, afirmando que todos poderiam ser mídia, em determinado momento, esqueceu-se de um conceito fundamental em economia política, o de Hora Trabalho (HT). Assim, a ampliação da internet e a precarização das rotinas produtivas do jornalismo levaram a um maior número de pessoas produzindo conteúdos jornalísticos sem a devida remuneração.
O primeiro diferencial entre o peso das empresas capitalistas de mídia e a cidadania ou militância jornalística está justamente na capacidade de liberar financeiramente uma redação para produzir conteúdos digitais. É como uma escala de produção, entre uma fábrica de pães com distribuição ampla, uma tradicional padaria de bairro e o panificador artesanal, que faz pão duas vezes por semana e vende entre vizinhos e parentes. A escala devida para disputar com os conglomerados de comunicação e manter a democracia seria a de montar, através de plataformas digitais, uma série de “padarias de bairro”, ou enxutas redações semiprofissionais, mas com gente liberada para realizar, em determinado número de horas, o melhor trabalho possível de comunicação social.
Se a crítica vale para os apologistas, esta se volta também para os hipercríticos do papel da internet. Questionava-se seu efeito mobilizador no Brasil até chegarmos ao ano de 2013 e observarmos, ao vivo, a fantástica capacidade de atingir quem não está organizado.  Observamos também o efeito desorganizador das empresas de mídia, recordando as três datas de junho de 2013 quando houve o chamado “sequestro da pauta” pelo Estadão, Folha e a Globo, interferindo na convocatória e levando uma multidão a fazer algo próximo da catarse coletiva. Nota-se também a diferença nas formas de convocação para os atos do Bloco de Lutas, onde uma coordenação consistente e a devida aliança tática entre organizações e correntes da esquerda impulsionou uma vitória popular ímpar em Porto Alegre, abrindo margem para conquistas semelhantes em outras cidades e políticas públicas na sequência.
A conclusão é quase óbvia. Através de uma economia de resistência ou de forma cooperativada, se a esquerda restante no Brasil quiser atingir uma massa de pessoas abaixo de 30 anos de idade, deve, necessariamente, constituir redações semiprofissionais a partir de plataformas digitais. 
*Professor de ciência política, relações internacionais e jornalismo (www.estrategiaeanaliseblog.wordpress.com).

Fonte: http://jornalismob.com/2016/07/21/midias-digitais-mobilizacao-popular-e-a-urgencia-de-organizar-a-ocupacao-da-internet-por-agentes-transformadores/

Nenhum comentário: