segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

GEOPOLÍTICA



A Ucrânia e a geopolítica energética

Bruno Lima Rocha*, especial para o Jornalismo B (reproduzido na íntegra)

A Ucrânia representa hoje a frente aberta do conflito entre a Rússia da Era Vladimir Putin e o avanço do Ocidente nos antigos países pertencentes à União Soviética. É comum a mídia internacional associar o levante de Kiev com intentos de avanços democráticos ou soberania nacional diante do Urso Russo. Para analisar além da difusão midiática é preciso compreender os interesses estratégicos na região.
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A presença dos Estados Unidos na disputa à beira de uma guerra civil no leste ucraniano é flagrante. Isto é observado não apenas nas falas da reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou nos discursos de Barack Obama associando o governo do tenente-coronel da reserva da extinta KGB com os combates ao nazifascismo na 2ª Guerra Mundial.  No duro jogo internacional pelas reservas e direitos de distribuição de petróleo, gás e derivados, os lances do xadrez eurasiano estão sendo jogado a leste do Rio Dnieper. É justo na região onde em maio de 2014 a maioria da população local optou por um regime federal com a Rússia onde se localizam as maiores reservas de gás do país.
A empresa Burisma é o exemplo material concreto deste jogo impossível de ser reivindicado. A sede física da empresa fica na Ilha de Chipre, Estado que decretara falência financeira em 2013 e é reconhecida como a lavanderia dos oligarcas (mafiosos) russos, ucranianos, georgianos, bielorussos e demais ramos de associações criminosas na era pós-soviética.  
A Burisma, maior empresa privada de gás da Ucrânia, foi fundada em 2002, mas com ações abertas somente em 2006, e tem sede em Limassol, Chipre, sendo que o website só teve o domínio registrado em 2010. O controlador último da Burisma, cuja cadeia de comando passa por no mínimo três empresas fantasmas, seria o oligarca (mafioso) ucraniano Ihor Kolomoisky, designado como governador do oblast (região administrativa) de Dnipropetrovsk (leste da Ucrânia) e inimigo mortal de Putin. O premiê russo fechou todas as filiais do Privat Bank, de propriedade deste que é tido como o terceiro homem mais rico da Ucrânia e maior mafioso do país.  
A diretoria da empresa tem relações tão duvidosas como a própria composição acionária da empresa. Alan Apter, veterano executivo de bancos de investimento (com passagens por Troika, Merril Lynch e Morgan Stanley), é o número 1 da holding, sendo que o grupo de diretores é composto pelo ex-presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski; o advogado Hunter Biden, filho do vice-presidente Joe Biden e Devon Archer, ex-secretário financeiro da campanha de John Kerry (atual secretário de Estado) e ex-candidato democrata para a presidência, em 2004.
Embora a Burisma seja um exemplo de cinismo oficial, não se trata é caso isolado de associação da “democracia” ucraniana aos capitais transnacionais. Shell e Chevron também têm contratos para exploração de gás xisto na região em conflito e avançam sobre o controle estratégico da distribuição de gás no país.


*Professor de relações internacionais de ciência política  (www.estrategiaeanalise.com.br).

Fonte: http://jornalismob.com/2014/12/15/a-ucrania-e-a-geopolitica-energetica/

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