A Ucrânia e a geopolítica energética
Bruno Lima Rocha*, especial para o Jornalismo B (reproduzido na íntegra)
A Ucrânia
representa hoje a frente aberta do conflito entre a Rússia da Era
Vladimir Putin e o avanço do Ocidente nos antigos países pertencentes à
União Soviética. É comum a mídia internacional associar o levante de
Kiev com intentos de avanços democráticos ou soberania nacional diante
do Urso Russo. Para analisar além da difusão midiática é preciso
compreender os interesses estratégicos na região.
A presença
dos Estados Unidos na disputa à beira de uma guerra civil no leste
ucraniano é flagrante. Isto é observado não apenas nas falas da reunião
da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou nos discursos de
Barack Obama associando o governo do tenente-coronel da reserva da
extinta KGB com os combates ao nazifascismo na 2ª Guerra Mundial. No
duro jogo internacional pelas reservas e direitos de distribuição de
petróleo, gás e derivados, os lances do xadrez eurasiano estão sendo
jogado a leste do Rio Dnieper. É justo na região onde em maio de 2014 a
maioria da população local optou por um regime federal com a Rússia onde
se localizam as maiores reservas de gás do país.
A empresa
Burisma é o exemplo material concreto deste jogo impossível de ser
reivindicado. A sede física da empresa fica na Ilha de Chipre, Estado
que decretara falência financeira em 2013 e é reconhecida como a
lavanderia dos oligarcas (mafiosos) russos, ucranianos, georgianos,
bielorussos e demais ramos de associações criminosas na era
pós-soviética.
A Burisma,
maior empresa privada de gás da Ucrânia, foi fundada em 2002, mas com
ações abertas somente em 2006, e tem sede em Limassol, Chipre, sendo que
o website só teve o domínio registrado em 2010. O controlador último da
Burisma, cuja cadeia de comando passa por no mínimo três empresas
fantasmas, seria o oligarca (mafioso) ucraniano Ihor Kolomoisky,
designado como governador do oblast (região administrativa) de
Dnipropetrovsk (leste da Ucrânia) e inimigo mortal de Putin. O premiê
russo fechou todas as filiais do Privat Bank, de propriedade deste que é
tido como o terceiro homem mais rico da Ucrânia e maior mafioso do
país.
A
diretoria da empresa tem relações tão duvidosas como a própria
composição acionária da empresa. Alan Apter, veterano executivo de
bancos de investimento (com passagens por Troika, Merril Lynch e Morgan
Stanley), é o número 1 da holding, sendo que o grupo de diretores é
composto pelo ex-presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski; o
advogado Hunter Biden, filho do vice-presidente Joe Biden e Devon
Archer, ex-secretário financeiro da campanha de John Kerry (atual
secretário de Estado) e ex-candidato democrata para a presidência, em
2004.
Embora a
Burisma seja um exemplo de cinismo oficial, não se trata é caso isolado
de associação da “democracia” ucraniana aos capitais transnacionais.
Shell e Chevron também têm contratos para exploração de gás xisto na
região em conflito e avançam sobre o controle estratégico da
distribuição de gás no país.
*Professor de relações internacionais de ciência política (www.estrategiaeanalise.com.br).
Fonte: http://jornalismob.com/2014/12/15/a-ucrania-e-a-geopolitica-energetica/
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