segunda-feira, 23 de março de 2015

O FUTURO DAS ÁGUAS*




Elemento vital reduzido a “recurso hídrico”, a água é, atualmente, uma das maiores preocupações mundiais em virtude das alarmantes previsões de escassez crônica. Se quantificada e tratada como mercadoria, como vem acontecendo, se tornando praticamente uma commoditie, tudo leva a crer que quem ficará sem ela serão as comunidades pobres, que não terão como pagar. 
Mas a questão é bem mais abrangente na medida em que não se vive uma escassez, pelo contrário, já que a disponibilidade de água é bem maior que o consumo médio necessário, segundo a ONU. O problema é uso inadequado da água, e, daí, o problema então deixa de ser a quantidade, e passa a ser a qualidade, afetada pela depredação dos rios e cursos d'água, que a humanidade transformou em esgoto da sua civilização.
Isso tornou a atividade de distribuição e saneamento um excelente negócio. É só verificar o número de empresas interessadas quando da privatização de sistemas públicos de abastecimento ou saneamento. A legislação vigente abriu grandes brechas para a participação popular, mas, também, para a privatização e mercantilização das nossas águas. O ‘mercado das águas’ tornou o setor de distribuição e saneamento brasileiro um negócio lucrativo, através da transferência de outorgas. Estas são solicitadas à ANA, ao Estado ou ao município.
A não captação das águas das chuvas, a crescente impermeabilização do solo e a falta de gestão adequada das águas pluviais que descem, em geral, sem controle em direção aos córregos nas zonas urbanas tem sido a causa das enchentes e alagamentos que hoje assolam as grandes cidades e regiões metropolitanas.

*Editorial publicado na Revista Thelema.

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