terça-feira, 22 de setembro de 2015

ECLIPSE TOTAL E SUPERLUA I




no Lago Municipal de Marechal Cândido Rondon


O Grupo de Estudos Astronômicos Hipátia de Alexandria, de Marechal Cândido Rondon, estará realizando uma observação astronômica pública do eclipse total da Lua que acontecerá na noite do próximo domingo, 27, período em que acontece também a ocorrência da Superlua. A observação acontecerá no Parque Ecológico Rodolfo Rieger, no Lago Municipal, a partir das 21 horas e conta com o apoio do Colégio Luterano Rui Barbosa, da Prefeitura do município de .Marechal Cândido Rondon e do Colégio Estadual Antonio Maximiliano Ceretta.

O objetivo é proporcionar a todos a observação do evento a partir de telescópios montados para este fim, com as imagens reproduzidas e ampliadas. Apesar de o eclipse poder ser observado normalmente, sem nenhum aparelho especial, os telescópios permitem observação de detalhes das crateras, sombras e relevo lunar que não se pode ver a olho nu.

O grupo alerta ainda que os interessados em astronomia da região podem levar seus equipamentos de observação, telescópios e lunetas, não só coletivizarem a observação, como também para tirar dúvidas sobre seus funcionamento.

BOX I

A "quarta Lua de Sangue", como é chamada, é um eclipse total da Lua, onde ela passa totalmente pela região de sombra da Terra causada pelo Sol, e, quando isso acontece, a Lua fica com uma coloração avermelhada (devido a efeitos da nossa atmosfera, por onde a luz do Sol passa antes de atingir a Lua). Por isso é popularmente conhecida por "Lua de Sangue".
Já o nome de "quarta" vem da ocorrência de quatro eclipses totais seguidos, num intervalo de 2 anos (dois em 2014 e dois em 2015). O próximo eclipse lunar total visível na América do Sul acontecerá somente em julho de 2018.

E, como se o espetáculo do eclipse não fosse suficiente, este momento de setembro coincidirá com mais uma Superlua, que é a ocorrência de uma Lua Cheia coincidindo com a passagem da mesma pela região de sua órbita que é o ponto onde ela está mais próxima da Terra. A distância média entre nosso planeta e nosso satélite natural fica próximo de 380.000km. Durante a Superlua, essa distância cai para cerca de 350.000km. A aparência do astro no céu acaba ficando levemente maior, cerca de 10%, mas não é fácil de se perceber essa diferença a olho nu.





BOX II


Uma das mulheres mais importantes da Antiguidade, filósofa, matemática e diretora do Museu de Alexandria, Hipátia marcou seu tempo com seu legado e conhecimento.
Hipátia (também conhecida como Hipácia) nasceu por volta de 355 d.C (alguns estudos afirmam ter sido em 370 d.C) em Alexandria, cidade que era capital e considerada um grande caldeirão cultural do Egito. Ela era filha de Theon, famoso filósofo, astrônomo e mestre de matemática no Museu da cidade. O próprio pai a incentivou a estudar e aprimorar seus conhecimentos em Matemática e Filosofia. Theon acreditava no ideal grego da “mente sã em um corpo sadio” (“men sana in corpore sano”) estimulando a filha a exercitar tanto a mente como o corpo. Algumas lendas da época chegam a dizer que ele desejava tornar a filha um “ser perfeito”. A menina cursou a Academia de Alexandria e, com o tempo e o domínio das mais diversas áreas, superou até mesmo as expectativas paternas.
A jovem foi para Atenas completar seus estudos e logo ficou conhecida como “A Filósofa”. Tornou-se discípula na Escola de Plutarco e professava ensinamentos Neoplatônicos, chegando a atrair viajantes curiosos em aprender seus conhecimentos. Esta corrente filosófica vinha dos ensinamentos de Platão, e dentre seus pensamentos, seus adeptos rejeitavam o conceito do mal, e acreditavam apenas em níveis de imperfeição e na carência da prática do bem. Diferente dos ensinamentos cristãos, não era necessário ultrapassar as fronteiras da morte e caminhar para estágios de uma vida na espiritualidade, a fim de se conquistar uma alma perfeita e feliz. Estas virtudes podiam ser obtidas através do exercício constante da meditação filosófica.
Ao retornar para a sua cidade natal, foi convidada para assumir uma cadeira na Academia de Alexandria como professora e por volta dos 30 anos tornou-se diretora do local. Seus conhecimentos abrangiam Filosofia, Matemática, Astronomia, Religião, poesia e artes. Era também versada em oratória e retórica. Hipátia produziu diversas obras, escrevendo livros e tratados sobre álgebra e aritmética. Seu interesse por mecânica e tecnologia a levaram a desenvolver instrumentos utilizados na Física e na Astronomia, como o astrolábio plano (instrumento que mil anos depois os portugueses utilizariam para realizar as grandes navegações), o planisfério e o hidrômetro.
Mulher de grande beleza, Hipátia vestia-se apenas com o manto dos filósofos, uma espécie de túnica branca. Não acumulava riquezas, não se casou e nem teve filhos. Segundo escritos da época, ela se dizia já “casada com a Verdade”.
Os conhecimentos e a genialidade de Hipátia de Alexandria a fizeram pagar um alto preço. Naquela época, o cristianismo estava em plena expansão, e por conta de sua defesa fervorosa ao livre pensamento, os ensinamentos Neoplatônicos, e sua observação de que o universo era regido pelas leis da matemática, levaram-na a ser vista pelos cristãos como pagã. Enquanto Orestes, seu amigo e ex-aluno, era prefeito da cidade, a filósofa mantinha-se protegida e atuante contra o pensamento conservador pregado pelo cristianismo, porém em 412 chegou ao poder o patriarca Cirilo, bispo cristão fanático e grande adversário dos que ele considerava herege. A pesquisadora foi alvo de diversos boatos no meio do conflito entre cristãos e pagãos, sendo até mesmo acusada de bruxaria por conta de seus conhecimentos. Anos depois, em 415, ao chegar em sua casa, Hipátia foi cercada por um grupo de cristãos furiosos, seguidores de Cirilo. Ela foi arrancada de sua carruagem, arrastada para a igreja de Cesarión, e teve seu corpo mutilado e atirado em uma fogueira. Suas obras também se perderam com a destruição da Biblioteca de Alexandria, fato cuja data é motivo de discussão até hoje por especialistas e historiadores.
Sua história chegou até os dias atuais por conta de várias cartas e relatos escritos por seus alunos, consultores e admiradores da época. Um deles, Hesíquio, O Hebreu, certa vez escreveu: “Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que a quisessem ouvi-la. [...] Os magistrados costumavam consulta-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade.” Já Sócrates Escolástico escreveu: “[...] fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.” A pesquisadora sempre atendia cientistas perdidos na resolução de seus problemas, e poucas vezes os deixava sem respostas. Esta busca se transformou em ideia fixa para Hipátia.
Considerada a última intelectual de destaque de Alexandria, Hipátia é atualmente considerada a primeira matemática da História, e sua contribuição para a Física, a Filosofia, Astrologia e outras ciências é motivo de respeito, admiração e curiosidade até hoje.
Foto: Wikimedia Commons

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