O planeta não tem uma lata de lixo
Reutilizar, reaproveitar, reciclar, recuperar são
palavras que precisam, com urgência, fazer parte mais efetiva do vocabulário de
todos os seres humanos, de todos os países, especialmente dos mais
desenvolvidos, pois são eles que produzem a maior quantidade de lixo no
planeta. E o planeta não tem uma lata de lixo. É urgente, portanto, que tiremos
a palavra do nosso vocabulário.
A obsolência programada e o culto ao consumo desenfreado
têm nos levado a fazer o equivalente a depositarmos todo o lixo que produzimos
dentro de nossa própria residência. Em quanto tempo ela estaria inabitável? O
que fazemos em casa e nas ruas afeta todo o nosso planeta. O problema é o ritmo
incrível e insustentável do desenvolvimento mundial. Na verdade, não há
“desenvolvimento”; e, sim, um modo de vida totalmente equivocado.
O descarte irregular de objetos como sofás, geladeiras,
fogões e outros móveis e utensílios é hoje um dos maiores problemas das
cidades, independentemente de seu tamanho. Afeta tanto as pequenas cidades do
interior, quanto os grandes centros.
Não temos sido capazes de lidar bem com as consequências
do nosso pseudo desenvolvimento, do modo como convivemos com a natureza. Os milhões de toneladas de lixo que
produzimos são colocados onde não vemos. É o lado mais escuro e obscuro das
selvas urbanas, onde milhares de animais como nós, e outros, buscam a
sobrevivência, a comida dos filhos, o comercializável para bancar o resto
necessário para se manterem vivos.
Por outro lado, a humanidade
tem visto acontecer cada vez mais cedo o limite no uso dos recursos renováveis
do planeta. A organização
não-governamental Global Footprint Network (GFN) chama de “Dia da sobrecarga”. Não obstante,
as autoridades mundiais têm metas apenas no que se refere à emissão de gases.
Não há discussões planetárias sobre a redução da produção de lixo e do uso dos
recursos. Segundo a GFN, em 2015, o tal dia de sobrecarga da Terra aconteceu em
agosto. Em 1970, acontecia em dezembro.
A nossa sociedade é construída
para queimar recursos, de forma continua, sem possibilidade de abrandar. A
produção de lixo segue o mesmo caminho. Quando a ‘queima’ abranda, fala-se em crise
económica, lamenta-se a falta de crescimento.
A reutilização e o
reaproveitamento de móveis, objetos e mesmo de restos orgânicos é, em geral,
visto como coisa de loucos ainda. Projetos que buscam trabalhar com a
reutilização de materiais, geralmente descartados, são vistos com “maus olhos”.
Reutilizar um vaso sanitário descartado na rua para plantar alfaces então, é o
cúmulo para a maioria. “Que coisa horrível”, dizem. Asseguram que é melhor
plantar num vaso de plástico e levar o tal vaso sanitário para o aterro, longe
de nossos olhos. Lhes asseguro que esta é uma visão equivocada.
Espero que, breve, mudemos
de ideia. Para o bem de todos nós que aqui estamos e dos que virão, pois um
recurso que se esgotará, talvez, muito em breve, é a capacidade da terra de
absorver o nosso lixo.
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