Chuva retorna às regiões afetadas pela seca nos próximos dias
O mês de setembro está sendo marcado por anomalias importantes de precipitação e temperatura em praticamente todas as regiões do Brasil.
Até o momento, a chuva, que já deveria ter retornado, principalmente ao sul da Amazônia e partes do Centro-Oeste, Sudeste e Sul, ainda não vingou pra valer. Já as temperaturas estão até +5°C além da média climatológica (1961-1990) para o período.
O monitoramento feito pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), com base em dados de estações meteorológicas espalhadas pelo Brasil, revela a diferença de precipitação e temperatura com o que normalmente é verificado em setembro.
Desde 20 de agosto estabeleceu-se sobre o país um padrão de bloqueio atmosférico, com valores de geopotencial (altura da massa de ar) bastante positivos, o que atrapalhou o escoamento natural dos sistemas transientes (cavados, frentes e vórtices).
Nos próximos dias, porém, simulações numéricas indicam a diminuição de anomalia positiva dos valores de geopotencial, o que deve permitir uma mudança no padrão de escoamento do vento na média troposfera, aproximadamente 5.800 metros de altitude.
O anticiclone, com sua larga crista (área alongada de alta pressão) deve sofrer um encurtamento. A simulação abaixo indica tais valores, conforme previsão feita pelo modelo norte-americano Global Forecast System (GFS).
Outro ponto de maior importância é a fase da Oscilação Madden Julian (OMJ), (perturbação do vento na alta coluna troposférica, cerca de 12 mil metros de altitude), onde o vento, sempre de leste para oeste, promove, ou não, o agrupamento dos sistemas, bem como as correntes de jato.
Quando na fase positiva, como agora, a OMJ dificulta o escoamento dos sistemas transientes e com isso, bloqueios atmosféricos ficam mais evidentes. Já quando na fase negativa, o efeito é oposto, a nebulosidade torna a se desenvolver, bem como a chance de precipitação. Para os próximos dias, portanto, a simulação feita pelo National Centers for Environmental Prediction (NCEP) indica um período maior de valores negativos OMJ sobre a América do Sul.
Meteorologistas do Cptec/Inpe mostram no boletim de previsão para os próximos dias, o aumento da possibilidade de chuva sobre estados que agora enfrentam estiagem, e que já supera 30 dias, como o interior de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Também há indicativo de retorno da chuva até segunda-feira (25) para o Rio de Janeiro e Santa Catarina.
“No sábado (23/09), com o avanço deste sistema frontal um pouco mais para o norte do RS, as instabilidades deverão atingir também SC e parte do PR. No domingo (24,09), este sistema frontal já estará afastado no Oceano Atlântico, mas alinhará a convergência de umidade em direção à SP e RJ, que juntamente a cavados de onda curta, deverão instabilizar o tempo em parte do leste de SP e sul do RJ. O dia também estará nublado e com possibilidade de chuva em SC e no PR. Na segunda-feira (25/09), uma área de cavado sobre o RS, contribuirá para o tempo instável e a tendência que toda a Região Sul esteja com pancadas de chuva, principalmente no RS e oeste de SC. A tendência é que o tempo esteja com bastante nebulosidade e com possibilidade de pancadas de chuva em SP e parte do MS.”
As simulações numéricas, para um período maior do retratado no texto do órgão oficial, mostram a possibilidade de melhor espalhamento da chuva sobre o Brasil, inclusive em regiões que enfrentam uma estiagem bem mais duradoura, como áreas das Regiões Centro-Oeste e Nordeste, onde não chove há mais de 130 dias. Os mapas abaixo, ilustram a precipitação acumulada prevista para os próximos sete e 16 dias, segundo o modelo GFS.
A chuva em si, caso as previsões se confirmem, chegará em boa hora para frear, ainda que parcialmente, o déficit hídrico do solo, bem como a queda do nível dos reservatórios que abastecem as cidades e as usinas hidrelétricas.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), grande parte dos reservatórios geradores de energia está com capacidade inferior a 30% e o governo já trata de aumentar o valor da fatura, com a ativação da bandeira tarifária vermelha para o mês de outubro, com cobrança de R$ 3,50 a mais para cada 100 kWh consumido.
Para a agricultura, a chuva retornando de modo mais distribuído será excelente para o preparo do solo para o plantio da safra 2017/2018, mas os produtores rurais ainda terão de esperar por acumulados mais expressivos, com exceção da Região Sul.
O mapa abaixo preparado pelo Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostra o limite atual de umidade disponível no solo.
Outro ponto bastante positivo para o retorno da chuva ao Brasil será com relação à quantidade exorbitante de focos de queimadas registrados até o momento.
Somente no mês de setembro, em todo o país, o monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostrou que foram registrados 89.015 focos de calor, o que significa um aumento de 157% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Desde 1998, quando o órgão começou a monitorar e comparar os focos de calor, o mês de setembro que mais queimou foi do ano de 2007, com 94.516 focos, sendo também o maior acumulado mensal já observado. Provavelmente, pelo atual ritmo, setembro de 2017 pode superar esse recorde para o nono mês do ano.
Em 2017, o acumulado já atingiu 178.971 focos, aumento de 49% em relação ao mesmo período (entre 01 de janeiro e 20 de setembro) do ano passado. O recorde anual de queimadas é de 270.295 focos registrado em 2004.
Como sempre ocorre após um longo período de estiagem, as primeiras chuvas costumam vir em forma de temporal, quase sempre acompanhadas de granizo, rajadas de vento e raios e que acabam impactando a população, com danos estruturais. Por isso, a população deve estar atenta à emissão de avisos preparados pelos órgãos oficiais, Cptec/Inpe e Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), além do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
(Crédito das imagens: Arquivo/Infoclimat – Reprodução/Agritempo - Reprodução/Cptec/Inpe – Reprodução/NCEP/NOAA – Reprodução/ONS - Reprodução/Pivotal Weathe
(Fonte da informação: De Olho No Tempo Meteorologia)