segunda-feira, 24 de agosto de 2009

pesquisas viticultura


Estudos sobre viticultura no Oeste do Paraná apontam porta-enxertos mais adequados para o clima sub-tropical


Pesquisadores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná estão identificando variedades que apresentem melhor desempenho fitotécnico em clima subtropical e estudam a introdução de técnicas auxiliares para o desenvolvimento da viticultura na região.

Os estudos tem como base a importância econômica da viticultura, especialmente no âmbito da agricultura familiar, que no Brasil, em virtude do seu enorme potencial produtivo, apesar de ocupar pouco menos de um terço da área total do país, responde por quase a metade do valor bruto da produção agropecuária nacional. A característica mais marcante da agricultura familiar, a predominância do trabalho familiar, com a contratação de trabalhadores temporários na época da colheita dos frutos, é que aumenta a potencialidade da viticultura na região Oeste do Paraná, marcada pela pequena propriedade, visto que a fruticultura tem uma perspectiva de mercado e renda muito mais favorável do que os grãos, por exemplo, tanto no país como no mercado de exportação.
"Ao demandar mão de obra intensiva e qualificada, a viticultura fixa o homem no campo e, na maioria dos casos, permite boas condições de vida para uma família que tenha uma pequena propriedade", diz a bióloga Tânia Pires da Silva, autora de uma dissertação de mestrado, orientada pelo professor doutor Rafael Pio, da Unioeste, que tem como tema o "Desenvolvimento vegetativo de porta-enxertos de videira em condições sub-tropicais" e a co-orientação da professora doutora Ariane Busch Salibe. O trabalho faz parte de um projeto DCR (Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional), coordenado pela co-orientadora, cujo objetivo é implantar na universidade um banco de germoplasma. As pesquisas têm apoio financeiro da Fundação Araucária e do campus local.
Tecnologia Adequada
Com um clima tipicamente subtropical, a região oeste do Estado do Paraná tem despontado como alternativa de grande potencial para a produção de uvas americanas ou rústicas (Vitis labrusca), ideais para a produção de sucos e fermentados. O bom desenvolvimento dos pomares já instalados, apesar da falta de tecnologia adequada à região, tem levado os pesquisadores do Programa de Pós Graduação em Agronomia, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Cândido Rondon, a desenvolverem estudos no sentido de identificar as variedades mais adaptáveis, envolvendo também a seleção de porta-enxertos. Isto porque, entre os fatores de suma importância para o cultivo da videira, está o potencial propagativo da variedade copa e do porta enxerto.
Incremento produtivo e resistência
"Para a instalação de um parreiral comercial de uvas americanas e híbridas, que possuem maior rusticidade em comparação às uvas da espécie Vitis vinifera, há a necessidade de emprego da enxertia, para aliar os fatores benéficos do porta-enxertos à variedade copa, visando incrementos produtivos e resistência às adversidades climáticas e fitopatológicas características da região", explica a pesquisadora, cujo trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho de 17 diferentes porta-enxertos(confira no box os porta-enxertos avaliados) na fase de formação à campo e o desenvolvimento inicial do enxerto, bem como o emprego de técnicas auxiliares para o incremento do potencial rizogênico de estacas do porta-enxerto 'VR 043-43 (Vitis vinifera X Vitis rotundifolia)' em condições de viveiro.
Neste caso, o experimento avaliou o enraizamento de estacas deste porta-enxerto submetidas a estratificação, ácido indolburítico e ácido bórico, tendo sido desenvolvido no Centro de Cultivo protegido e Controle Biológico professor doutor Mário Cezar Lopes, ligado ao Núcleo de Estações Experimentais da Unioeste, campus de Marechal cândido Rondon, no período de agosto a dezembro.
As estacas do VR 043-43 vieram de plantas matrizes de viticultores da região e foram plantadas em sacos plásticos contando com 50% de luminosidade e irrigadas duas vezes por dia por cinco minutos. Após 120 dias sob temperaturas médias entre 16 e 28,9 graus centígrados mensurou-se dados como a porcentagem de estacas enraizadas, comprimento radicular e número médio de raízes. Os resultados indicaram que a estratificação das estacas não é fundamental para que haja maior eficiência do processo de enraizamento do porta-enxerto pesquisado. Por outro lado, no que refere ao tratamento com ácido indolburítico, associado ao ácido bórico, a técnica favorecera sensivelmente o desenvolvimento radicular das estacas daquele porta-enxerto de videira.
Resistência genética
O outro experimento teve por objetivo avaliar a severidade de doenças foliares e vigor à campo dos 17 porta-enxertos testados, assim como o desenvolvimento inicial do enxerto em condições subtropicais. Conduzido na Fazenda Experimental Antonio Carlos dos Santos Pessoa, também ligada ao Núcleo de Estações Experimentais da Unioeste, campus de Marechal Cândido Rondon, entre os meses de novembro de 2007 a outubro de 2008. Estacas caulinares dos porta-enxertos foram obtidas do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Frutas (Centro APTA Frutas) do Instituto Agronômico (IAC), de Jundiaí, estado de São Paulo e da EMBRAPA Uva e Vinho de Bento Gonçalves-RS.
Segundo a análise, constatou-se que os diferentes porta-enxertos apresentaram diferenças significativas, indicando que uma ou mais variedades diferem entre si quanto à resistência genética, tanto para a antracnose (Elsinoe ampelina), quanto para a ferrugem foliar da videira (Phakopsora euvitis).
Os porta-enxertos que apresentaram maior resistência à infecção foliar de antracnose foram o 'IAC 572 Jales', o IAC 766 Campinas' e o 'IAC 313 Tropical'. Já os que apresentaram resistência à infecção foliar de ferrugem foram os porta-enxertos 'IAC 313 Tropical', 'IAC 572 Jales' e 'IAC 571-6 Jundiaí'.
Os porta-enxertos 'Harmony', 'Paulsen', '420 A' e 'Rupestris Du Lot' apresentaram a maior área foliar lesionada, sendo, portanto, suscetíveis à antracnose, enquanto que o porta-enxerto '5C' foi o que apresentou maior nível de infecção, com as folhas quase que totalmente necrosadas pelo patógeno. Quanto à incidência da ferrugem, foram considerados suscetíveis os porta-enxertos 'Riparia de Traviú', 'Rupestris Du Lot', '420 A', 'RR101-14', 'Paulsen', 'Kober 5BB', 'Golia' e '99R';

Desenvolvimento à campo

O porta-enxerto 'IAC 572 Jales' foi o que promoveu maior desenvolvimento a campo, previamente à operação de enxertia; e, de forma geral, foi o que apresentou maior vigor em todos os parâmetros mensurados. O de menor desenvolvimento à campo foi o porta-enxerto 'Teléki 8B'. Os porta-enxertos 'SO4', 'Harmony', 'Paulsen' e 'IAC 766 Campinas' foram os que promoveram maior vigor ao desenvolvimento do enxerto de 'BRS Violeta'.
Contudo, segundo Tania Pires da Silva, devido ao interesse regional por parte dos viticultores e de órgãos como a Emater, novos estudos devem ser realizados quanto a fenologia, produtividade, produção e resistência à doenças da variedade 'BRS Violeta', desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho, sobre os 17 porta-enxertos estudados neste trabalho.



BOX 1 – Porta-enxerto
Com a disseminação da filoxera, uma doença que danifica as raízes da videira, os viticultores obrigaram-se a fazer uso de porta-enxertos tolerantes ou resistentes à doença. Os bons porta-enxertos, assim, devem ser resistentes a filoxera e aos nematóides, adaptáveis ao ambiente e com afinidade satisfatória com as cultivares copas, além de sanidade. Um dos fatores de suma importância na instalação de um parreiral comercial, segundo os pesquisadores, é a escolha do porta-enxerto, que pode influenciar diretamente nas características químicas e físicas dos frutos da variedade copa.
Neste estudo foram analisados os porta-enxertos 'IAC 572 Jales', 'IAC 766 Campinas', 'IAC 313 Tropical', '99 R', '5 C', 'Ripária de Traviú', 'RR101-14', 'Kober 5BB', 'Golia', 'Teléki 8B', 'SO4', 'Rupestris Du Lot', '420 A', 'Paulsen' e 'Harmony'.

Nenhum comentário: