terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um tempo quase inacreditável




Se alguém me dissesse, lá nos longínquos anos 80 do século passado, que uma mulher governaria o Brasil dali há 30 anos, eu daria risadas, como devo ter feito, aliás, se alguém me disse isso. Não lembro. Do alto da minha sabedoria juvenil, diria que ia demorar muito para que o povo brasileiro fosse menos machista e tivesse a maturidade política para eleger uma mulher para presidir a República, nem mesmo um presidente e vice sem diploma universitário. Embora otimista por natureza, mas muito cética em relação aos muitos acordos e desacordos que permeiam os caminhos da democracia representativa, eu não acreditava que isso fosse possível em tão pouco tempo. E mais, que eu veria isso acontecer.
Não acreditava também que o Brasil mudasse sua densidade demográfica como mudou; que conseguisse sair daquele círculo vicioso de planos econômicos anunciados como milagrosos e inflação galopante e, ainda, que os brasileiros terminassem o último ano da primeira década do novo milênio sorrindo. Se sentindo mais iguais.
O tempo e a vida foram extremamente bondosos comigo. Deixaram-me criar filhos que não sabem exatamente o que é inflação. Não sabem o que é o dinheiro dos “outros”  valer mais em relação ao seu. Absurdamente mais. Não sabem o que é viver num regime de exceção e a única truculência oficial que vêem acontecer é a de eventuais policiais despreparados para a função. Bem diferente da truculência dos anos de chumbo, da PE, das torturas e outras coisas terríveis.
Os últimos 20 anos de democracia livre e ininterrupta, tempo em que pudemos eleger os nossos governantes, todavia, não zeraram o passivo social e político dos quase 30 anos, período entre a ditadura e o que eles chamaram de período de transição. O Brasil continua um país, de certa forma, governado sempre pelas mesmas oligarquias políticas. Para comprovar isso basta dirigir um olhar mais atento para os sobrenomes que estão e estiveram no Congresso no decorrer dos tempos. Lula e o PT só conseguiram chegar ao poder e implementar seu projeto de governo de um Brasil mais igual ao se aliar aos empresários liberais. Eles parecem confiar no tamanho da dívida que Lula tem para com eles. Mas esta dívida não é da presidente Dilma Roussef, embora ela tenha assumido o compromisso de manter a política de Lula.
A expectativa da maioria, mesmo não tendo votado nela, é que ela reduza os juros, incentive a produção e as exportações. Neste último item ela certamente não precisará fazer muita força, já que os preços das commodities estão em alta e a safra que está chegando promete. A redução do custo da máquina pública é outra expectativa dos que querem que o Estado funcione como uma empresa. Mas e a miséria? E o PAC? E a questão da habitação, sempre em voga no mês de janeiro com as chuvas de verão?
Eu acredito que o Brasil não vai se arrepender de ter eleito uma mulher para a Presidência da República. Acho mesmo que a coisa toda vai funcionar bem e que o Brasil caminha para uma democracia forte, consolidada e com uma população mais igual, salvo as exceções.

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