quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Sete Maravilhas"


Sim, próximo ao centro de Marechal cândido Rondon, nas imediações do SESC. O local era conhecido por muitos como as “Sete Maravilhas”. Talvez ainda se use o nome, mas quando conheci aquelas belezas não supunha que o tivessem. Na época a urbanização não havia chegado tão perto, havia lavouras ao redor. Desde então muita coisa mudou por lá e creio que compreendo por quê.
Vivemos numa cidade planejada, e o traçado do núcleo inicial da povoação segue quase que rigorosamente a topografia, assentando-se sobre dois divisores de águas que configuram com razoável aproximação um “t”. Desta forma, a concepção original evitava a urbanização em áreas alagadiças e de difícil acesso, bem como o desperdício de lotes urbanos em virtude dos acidentes geográficos. Garantia também a preservação dos recursos hídricos e das áreas adjascentes aos cursos dágua, ao menos por algumas décadas. Naturalmente a cidade haveria de crescer. E continua crescendo.
Hoje, a cidade já cerca boa parte da área, com urbanização regular e consolidada. E, embora cercado por mata ciliar, o curso d’água sente com força o seu impacto. Já sentia na minha infância, quando eu observava entre perplexo e entusiasmado as formas do rio e suas inusitadas gargantas e poços, bem como as dimensões de grandes blocos de concreto com seus esqueletos expostos e enfáticamente retorcidos. Mas maravilhado, não compreendia que eram em grande parte resultado das fortes enxurradas, conseqüência direta da impermeabilização do solo e canalização das águas pluviais, que concentram, em intervalos ínfimos de tempo, fluxos d’água que demorariam dias ou até meses para ocorrer. Tromba d’água.
Quando na adolescência retornei ao local, encontrei muitas mudanças, e compreendi o significado. Desde então as mudanças têm prosseguido em ritmo exponencialmente acelerado. E a erosão ocorrida na cabeceira, tende a assorear o curso médio e foz do rio. Vai, talvez, depositar sua contribuição aos pés da grande pedra que canta.
Creio que esse não é o único córrego em nossa cidade que sofre em semelhantes condições. E o drama tende a tornar-se mais freqüênte na medida em que cidade avança; “a cidade só cresce”. Uma série de estudos e trabalhos tem sido realizados, tendo a bacia do Guavirá e os danos devidos à urbanização como objeto, basta procurar na web ou nas bibliotecas existentes no município. Não obstante, poucas providências tem sido tomadas. Por que? Talvez não seja insensato supor que isso se deve à falta de envolvimento da população com esse espaço. Em outras palavras, a falta de integração desta área no tecido urbano e na vivência dos cidadãos, que passa a perceber o local como algo inútil, desperdiçado, senão nocivo.
Mas como integrar na urbe estas áreas sem prejudicar seu objetivo, sua razão de ser. Sem ameaçar ainda mais a integridade da área de preservação permanente. Talvez a melhor resposta seja um parque para educação ambiental, com visitas restritas e supervisionadas para complementar o ensino das escolas no município e região. Desta forma inserir-se-ia na vivência dos alunos, futuros cidadãos, e indiretamente na de seus pais e amigos. Pais, professores, instituições de ensino, secretaria de meio ambiente e de educação: uma rede social.
Do ponto de vista urbanístico, criar limites atraentes, convidativos; nítidos porém com caráter integrador. Portais de acesso que minimizem a sensação de ruptura da malha urbana talvez sejam úteis evocando a idéia de um ambiente acessível, embora restrito. E mecanismos capazes de minimizar o impacto físico, claro. Existe uma série de recursos de engenharia desenvolvidos com esta finalidade, tais como reservatórios para equalização dos fluxos (nos terminais da canalização pluvial) e escadas dissipadoras, dentre os quais poderiam ser selecionados os mais convenientes por sua eficiência, custos e qualidades estéticas.
Talvez o recurso mais imediato e apropriado com o qual se possa contar seja a atuação dos educadores, que através de visitação ou temas de estudo conduza à redescoberta deste patrimônio ambiental e paisagístico por parte dos alunos, e pais, que compõe uma boa parcela da população. A imprensa também deve cumprir o seu papel, dando visibilidade ao tema, promovendo a conscientização popular e instigando as autoridades no sentido de desenvolver e concretizar propostas viáveis e harmoniosas para lidar uma questão que tende a se tornar cada vez mais rotineira e, se não tratada com a devida atenção, gerar mazelas sócio-ambientais muito difíceis de sanar. Vale lembrar o dito popular: prevenir é muito melhor do que remediar!


Cesar Scheffler
Texto refere-se ao local onde foram feitas as fotos postadas anteriormente sob o título "Linda Natureza"

Um comentário:

Unknown disse...

ESTE TEXTO QUE SÓ PODERIA SER ESCRITO POR ESTA PESSOA QUERIDA,COM TODA SUA INTELIGÊNCIA E SENSIBILIDADE!

PARABÉNS MEU AMIGO!

SUZI