domingo, 17 de abril de 2011

Verdes Ou Vermelhos?

Verdes ou Vermelhos? Não caro leitor, esta não é uma pergunta que expressaria a cruel dúvida de um torcedor do Inter e do Palmeiras, tendo de assistir à um jogo destes dois times um contra o outro, e o torcedor não sabendo para quem torcer!
É uma pergunta que expressa sim uma dúvida, mas uma dúvida que é apresentada dentro de alguns setores de esquerda. Ser verde na atual conjuntura de desastre ambiental ou ser vermelho devido a continuidade da exploração inserida dentro da relação capital-trabalho?
Parece uma pergunta importante e prioritária, mas quero argumentar aqui que esta é uma pergunta retórica, mera falácia, expressão de um engano de análise da conjuntura atual da sociedade e dos próprios escritos de Marx.
Uma das maiores armas do capitalismo é a capacidade de apresentar a realidade de forma diferente da maneira como ela realmente esta organizada, é a velha relação entre essência e aparência das coisas dentro do capital, relação esta que já trabalhei em um artigo dividido em três partes aqui mesmo neste blog.
Bom, fazer esta pergunta é cair nesta armadilha, é se deixar enganar por essa capacidade do capital!
É impossível ser verde de verdade sem ser vermelho, e ser vermelho sem ser verde é não compreender a grandeza da obra marxista, que já no séc. XIX se preocupava com as questões ecológicas e com a maneira irracional que o Capital se apropriava da natureza.
A revolução verde passa pela revolução vermelha, e a revolução vermelha só pode ser verdadeiramente vitoriosa com a revolução verde! As duas devem acontecer juntas, ao mesmo tempo!
Logo a questão de ser verde ou vermelho é uma falsa questão, o verdadeiro verde só é verde se também for vermelho, e o verdadeiro vermelho só é vermelho de forma completa se também for verde!
Para entender este erro de interpretação, devemos primeiro entender como o pensamento de Marx via a natureza, em primeiro lugar Marx via dentro da natureza a dialética, que se expressava também na maneira como o ser humano se relaciona com a natureza.
A Dialética que é a chave da compreensão do materialismo histórico, e é dela que precisamos para compreender a relação homem-natureza, e as próprias relações internas da natureza!
Enfim, a natureza é também expressão da própria dialética! E não ver a dialética dentro da natureza, e na relação que o homem mantém com ela que é o erro que muitos Marxistas cometem, justificando assim a pergunta falaciosa com que comecei este texto. Também é este o erro que muitos ambientalistas caem ao analisarem a relação humana com o mundo natural. E caindo neste erro, nem os marxistas e nem os ambientalistas conseguem verdadeiramente superar o senso comum dentro da questão ambiental.
Resumindo e muito, tentarei aqui dar uma breve exposição da visão de Marx da natureza: A tradição marxista ocidental coloca que a Dialética não se aplica a natureza, mas apenas a sociedade. Ou seja a dialética seria expressão única e exclusiva das relações sociais, e é neste ponto que nasce o erro de interpretação. Na sua obra nos pontos em que trata da natureza, Marx faz uma crítica tanto a Leibniz como a Darwin. Leibniz por ver o mundo natural como um todo harmônico (visão expressa em muitas das correntes verdes), e Darwin por ver a natureza como expressão da competição entre as espécies (visão da natureza expressa em muitas das chamadas correntes marxistas), mas segundo Marx nenhuma das duas visões é completamente certa, nem completamente errada. A harmonia esta presente na natureza, assim como a competição, só que dentro de uma relação dialética entre as duas, e é este ponto chave que muitas vezes é esquecido, a Dialética.
Marx, em sua obra, unifica Leibniz e Darwin dialeticamente, inserindo nas relações naturais tanto a tendência a competição/destruição como a sustentabilidade.
Para Marx, as relações dentro da natureza tendem tanto para um lado (competição), como para o outro lado (sustentabilidade/harmonia). e é justamente esta relação entre estas duas tendências intrínsecas ao mundo natural que se pode definir como dialética dentro da natureza. Assim como a própria matéria existe dialeticamente, entre o não ser da energia e entre o ser da matéria, criando assim a tendência a existir da realidade (física quântica). Para Marx, a competição apresentada por Darwin, agindo dialeticamente com a tendência a harmonia apresentada por Leibniz, cria dentro da natureza tanto a tendência a destruição quanto a tendência a sustentabilidade, e é este fio delicado que une uma a outra, que Marx identifica ao analisar a natureza dialeticamente. Ele percebe que a natureza tende a sustentabilidade tanto quanto a autodestruição, e o ser humano pode pesar esta delicada balança tanto para um lado como para o outro, dependendo da maneira como constrói as suas relações com a natureza.
Assim, a pergunta inicial não merece resposta, além daquela que diz que não há como ser verde sem ser vermelho, e nem ser vermelho sem ser verde!
E a única maneira de salvar a sustentabilidade em nosso planeta é findar com um sistema econômico que fortalece a tendência a autodestruição da natureza, pendendo assim a balança para este lado. E para findar com esta sistema econômico é necessário ser vermelho, mas também não basta socializar a produção e seu produto, se mantiver-mos os mesmos patamares de relacionamento com o mundo natural. A revolução vermelha, só pode ser vitoriosa, se junto dela vier a revolução verde, mudando também a maneira como nos relacionamos com a natureza. E isso não é automático, para que isso aconteça é necessário compreender como o homem interfere no mundo natural, e para que esta compreensão seja possível, é necessária a compreensão da dialética da natureza, apresentada nos escritos de Marx. E durante muito tempo, relegada ao esquecimento, ou ao segundo plano. Falar em ecologia dentro da luta socialista, não é enfeitar com confetes da moda a luta, e nem desvirtuar os escritos marxistas, mas sim complementar a compreensão que se teve de Marx durante todo século XX. Ou seja, é enxergar a Dialética, como ela realmente é, presente em todas as esferas, tanto as sociais, como as naturais. Não são confetes, mas sim a identificação de raízes da preocupação da obra marxista, até então deixadas ao largo.
Logo, respondendo a pergunta, sejamos bicolores! Vermelhos e Verdes ao mesmo tempo, ambos assim, com letras maiúsculas! Desta maneira, e só assim, conseguiremos construir um mundo justo em termos sociais, e verdadeiramente sustentável na maneira de nos relacionar-mos com o mundo natural!
Abraços Verdes e Vermelhos!
Logo, Ecossocialistas!
Fonte: http://razaoaconta-gotas.blogspot.com/

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