sábado, 13 de abril de 2013

ECONOMIA CRIATIVA




Economia Criativa e o Futuro Que Queremos Construir

O Que É Possível? Entrevista Com Lala Deheinzelin

Lala Deheinzelin
LALA DEHEINZELIN pioneira da Economia Criativa
Porque devemos ouvi-la:
Com background nas artes cênicas, cinema e televisão é uma das pioneiras da economia criativa no Brasil. Seu trabalho atual é realizar palestras,oficinas e consultorias, em países de quatro continentes, sobre como aplicar em desenvolvimento local, nacional e empresarial a sistematização que desenvolveu numa rara combinação de economia criativa, sustentabilidade e processos colaborativos em rede . Sua atuação transdisciplinar, depois de iniciada no setor cultural, se expande na ação com empresas, terceiro setor, governos e instituições de fomento, organismos multilaterais e redes colaborativas. É proprietária da Enthusiasmo Cultural e criadora do movimento Crie Futuros.
Uma das fundadoras do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC, parte do Millenium Project das Nações Unidas. Membro do Conselho do Instituto Nacional de Moda e Design/ Calendário Oficial da Moda Brasileira. Assessora Sénior da Special Unit On South-South Cooperation , ONU, 2005/2011.
Publicações: Desejável Mundo Novo (2012); capítulo em Economia Criativa – um conjunto de visões ( 2012) ; capítulo em Sustentar a Vida (2011); coordenadora e coautora de Economia Criativa e Desenvolvimento Local (2010); prefácio de Creative Monetary Evaluation (2009); Introdução ao Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações (2008); uma das organizadoras dos quatro volumes de Economia Criativa, publicados pelo IN- MOD/São Paulo Fashion Week (2007-2010)além de artigos em publicações de cultura, sustentabilidade e desenvolvimento em âmbito iberoamericano.
Entrevista:
Mirla Ferreira: Lala, o seu trabalho mostra porque a Economia Criativa é estratégica no século XXI, nos mostra as oportunidades que oferece, assim como, as condições necessárias para seu florescimento. Pode-nos explicar em que consiste essa Economia Criativa?
Lala Deheinzelin: Economia criativa é um termo bastante novo, e que na verdade não é nada que foi criado recentemente, más é a junção de tudo o que existe como atividade económica e que trabalha com criatividade e cultura como matéria-prima. Todas essas actividades têm coisas em comum, precisam de um ambiente semelhante, e precisam do mesmo tipo de estímulo para formulação de políticas, então a ideia de economia criativa é agrupar tudo isso como um setor para poder formular políticas para isso.
Com a perspectiva de sustentabilidade percebemos a economia criativa, não como sendo uma das estratégias do século XXI senão “a grande estratégia”. Estamos a falar de um recurso que é a criatividade e a cultura, que é absolutamente abundante nos países e é um recurso mágico… mágico porque?… Porque quanto mais usa, mais tem. E o que tem de genial é que é uma atividade económica que não se desenrola unicamente na dimensão económica, ela tem contacto com as outras três dimensões que fazem parte da nossa vida, a simbólica, a social, e a ambiental, quando você trabalha com isso, você consegue transformar isso tudo … por isso é que ela é tão poderosa, porque na verdade, você consegue através de algo que as pessoas fazem, mudar todo o entorno.
Economia Criativa é uma economia baseada em recursos intangíveis, que, além de cultura, conhecimento e criatividade, engloba os ativos intangíveis, a experiência, a diversidade cultural. Tudo aquilo que qualifica e diferencia pessoas, empreendimentos, comunidades, projetos.
Mirla Ferreira: Sabemos que é por meio do trabalho que a pessoa alcança o progresso pelo qual anela, desde o bem-estar material até ao desenvolvimento da inteligência. Neste momento de crise, onde o desemprego se alastra como uma doença perigosa da sociedade, criando miséria. Qual seria a postura mais saudável, dentro do conceito de economia criativa sustentável, que poderiam adoptar os empresários para criar um futuro promissor?
Lala Deheinzelin: Temos recursos naturais, culturais e humanos incomparáveis.. as nossas lideranças não têm consciência ainda do valor que isso tem…
Nós somos, porém não estamos ricos … Existe aí uma diferença muito grande entre o ser e o estar. “Porque nós não estamos ricos?” … Porque a gente não da valor e não investe naquilo que nos é mais precioso. Vivemos a passagem de séculos em que sociedade, economia e política, se organizam em torno dos recursos materiais, como terra, ouro ou petróleo, que por serem tangíveis se consomem com o uso e são finitos. E essa finitude cria uma economia da escassez baseada em modelos de competição. Porém, os recursos intangíveis como cultura, conhecimento, experiência são infinitos, renováveis, e podem apresentar uma economia de abundância, baseada em modelos de colaboração.
Hoje em dia tudo o que intangível vale mais do que é tangível, por exemplo, a marca da Coca-Cola vale mais do que a Coca-Cola, vivemos num momento em que os produtos e serviços se assemelham .. o que é que te distingue?.. é a tua cultura, inclusive como empresa. Não existe mais, numa visão de futuro, uma sobrevivência empresarial sem valores no sentido mais amplo, o seu valor económico vai diminuir se os seus valores éticos não crescerem, e isso está cada vez mais claro.
Mirla Ferreira: E a postura indivíduo? aquele que se encontra à procura de trabalho e que simplesmente não encontra uma oportunidade, perdendo a sua auto-estima dia após dia.
Lala Deheinzelin: A economia criativa depende de duas questões chaves para poder se desenvolver: a primeira é a auto-estima, sem a auto-estima não consegue reconhecer que aquilo que faz tem valor. Aumentar a auto-estima é fundamental.. A outra coisa que é chave é a questão da confiança, e a confiança não existe se não existe auto-estima, porque se você não acredita em você .. você não acredita no outro.. e sem estas duas coisas você também não consegue a ética… e a ética é fundamental, já vimos que o seu valor económico vai diminuir se os seus valores éticos não crescerem.
Mirla Ferreira: Eu acredito no futuro promissor do mundo empresarial. Vem-me a memória uma frase de Thomas Carlyle, “De nada serve ao homem queixar-se dos tempos em que vive. A única coisa boa que pode fazer é tentar melhorá-los”. Como é para Lala Deheinzelin o futuro empresarial?
Lala Deheinzelin: A Economia Criativa pode ser uma chave para a sustentabilidade e para um futuro promissor no mundo empresarial, um lugar onde possamos trabalhar com bem-estar. Neste tipo de economia a gente percebe que existem 4 pilares, que são infinitos.
O primeiro desses pilares é o dos intangíveis, infinito, são infinitos porque não se consomem mas se multiplicam com o uso. O segundo dos pilares, que é outro infinito, é das novas tecnologias, porque você tem um mundo real e muitos mundos virtuais, e a través da tecnologia você potencializa e tem como trabalhar esses intangíveis, Quando se junta esse pilar dos intangíveis com o pilar das novas tecnologias, você gera um terceiro pilar que também é infinito, e que é o mais fascinante de todos, que é o do colaborativo. Existe todo um universo, existe uma nova tendência de economia colaborativa que é fantástica, que são todas as maneiras de trabalhar junto.. a gente olha e fala….. ah ah tudo bacana …seriamos felizes. Qual é o grande problema? .. É que tudo isso está invisível, porque as nossas réguas, todo o jeito que tem de medir, de dar valor, de comparar, de ver evidencias, são feitas para o financeiro, quantitativo e numérico. Então esses três infinitos estão como se fossem invisíveis. A questão toda é .. como é que a gente desenvolve outras métricas, outras moedas, outros indicadores? este é o 4 pilar, é uma visão multidimensional de riqueza, novas moedas e indicadores. É o desafio para o qual trabalho constantemente…

Recomendado por Wilson João Zonin
by Mirla Ferreira | 9th April 2013
Fonte: http://emete.com/blog/20130409/economia-criativa-e-o-futuro-que-queremos-construir-o-que-e-possivel-entrevista-com-lala-deheinzelin/

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