Estadão se espanta com “aulas de marxismo” e defende trabalhador que não pense*
"...o trabalhador serve apenas para produzir no mercado de trabalho, sem direito a conhecimento superior ao de uma máquina, sem direito à vez ou à voz."
Jornalistas
isolados da realidade e editores da velha extrema-direita
latino-americana, circense por natureza, estão à frente de alguns dos
mais cotados espaços ditos jornalísticos do país. Esse é o primeiro
ponto que fica claro na matéria que publicou no último dia 21 sobre a
Universidade do Trabalhador, uma plataforma de ensino à distância criada
pelo governo federal para oferecer qualificação profissional.
O título
da matéria tem a típica construção voltada para fomentar preconceitos e
criar temor: “Universidade do governo terá aulas de marxismo”. Qual a
novidade destacada aí, qual o valor-notícia presente nesse título?
Nenhuma, nenhum. O lógico é que qualquer curso que tenha como um de seus
apoios questões ligadas às Ciências Humanas tratem das diversas
correntes de pensamento ali envolvidas. Por que então se excluiria uma
dessas correntes? Para retornar à tese do “fim da História”, levantada
pelo ícone neoliberal Fukuyama e gritantemente negada posteriormente
pelos fatos. Para construir a chamada “escola sem ideologia“,
que nada mais é do que a aplicação do princípio do “fim da História” a
nível pedagógico, que “democrática e imparcialmente” defende o
pensamento único do status quo como único a ser ensinado.
A partir
de tudo isso e da sequência do texto do Estadão, a segunda conclusão que
se apresenta na matéria: o Estadão não quer que o trabalhador pense. A
segunda parte da matéria começa com o subtítulo “Cursos sem partido”, e é
aberta assim: “O professor da UFSC disse que os cursos serão
‘apartidários’, embora admita que abordarão o contexto no qual estão
inseridas as tecnologias”. Não existe nenhuma relação de oposição entre
as duas falas (os cursos serão apartidários / abordarão o contexto no
qual estão inseridas as tecnologias), mas o Estadão procura incutir essa
ideia, lançando uma carga simbólica negativa sobre o estudo, pelos
trabalhadores, dos “contextos no qual estão inseridas as tecnologias”.
Dos quatro
parágrafos dessa segunda parte (a primeira é mais narrativa), dois são
dedicados a ouvir o “especialista” da vez, um professor da USP. Ele diz
que “ter como foco ‘politizar’ os trabalhadores é uma medida ‘defasada’,
que não resolve o problema da baixa produtividade do mercado de
trabalho brasileiro”. Quer dizer, para o jornal e seu “especialista”, o
trabalhador serve apenas para produzir no mercado de trabalho, sem
direito a conhecimento superior ao de uma máquina, sem direito à vez ou à
voz.
O texto
exemplifica um posicionamento histórico do Estadão e dos demais
conglomerados de mídia, inimigos dos trabalhadores e que apenas fazem
reproduzir e legitimar, através de sua forçada legitimidade, o discurso
dos dominantes, o discurso do alto empresariado, o discurso dos donos do
poder econômico, político e simbólico.
*por Alexandre Haubrich
Fonte: http://jornalismob.com/2013/12/23/estadao-se-espanta-com-aulas-de-marxismo-e-defende-trabalhador-que-nao-pense/ Acessado em 26/12/2014
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