quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

JORNALISMO




Estadão se espanta com “aulas de marxismo” e defende trabalhador que não pense*

 

"...o trabalhador serve apenas para produzir no mercado de trabalho, sem direito a conhecimento superior ao de uma máquina, sem direito à vez ou à voz."



Jornalistas isolados da realidade e editores da velha extrema-direita latino-americana, circense por natureza, estão à frente de alguns dos mais cotados espaços ditos jornalísticos do país. Esse é o primeiro ponto que fica claro na matéria que publicou no último dia 21 sobre a Universidade do Trabalhador, uma plataforma de ensino à distância criada pelo governo federal para oferecer qualificação profissional.
O título da matéria tem a típica construção voltada para fomentar preconceitos e criar temor: “Universidade do governo terá aulas de marxismo”. Qual a novidade destacada aí, qual o valor-notícia presente nesse título? Nenhuma, nenhum. O lógico é que qualquer curso que tenha como um de seus apoios questões ligadas às Ciências Humanas tratem das diversas correntes de pensamento ali envolvidas. Por que então se excluiria uma dessas correntes? Para retornar à tese do “fim da História”, levantada pelo ícone neoliberal Fukuyama e gritantemente negada posteriormente pelos fatos. Para construir a chamada “escola sem ideologia“, que nada mais é do que a aplicação do princípio do “fim da História” a nível pedagógico, que “democrática e imparcialmente” defende o pensamento único do status quo como único a ser ensinado.
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A partir de tudo isso e da sequência do texto do Estadão, a segunda conclusão que se apresenta na matéria: o Estadão não quer que o trabalhador pense. A segunda parte da matéria começa com o subtítulo “Cursos sem partido”, e é aberta assim: “O professor da UFSC disse que os cursos serão ‘apartidários’, embora admita que abordarão o contexto no qual estão inseridas as tecnologias”. Não existe nenhuma relação de oposição entre as duas falas (os cursos serão apartidários / abordarão o contexto no qual estão inseridas as tecnologias), mas o Estadão procura incutir essa ideia, lançando uma carga simbólica negativa sobre o estudo, pelos trabalhadores, dos “contextos no qual estão inseridas as tecnologias”.
Dos quatro parágrafos dessa segunda parte (a primeira é mais narrativa), dois são dedicados a ouvir o “especialista” da vez, um professor da USP. Ele diz que “ter como foco ‘politizar’ os trabalhadores é uma medida ‘defasada’, que não resolve o problema da baixa produtividade do mercado de trabalho brasileiro”. Quer dizer, para o jornal e seu “especialista”, o trabalhador serve apenas para produzir no mercado de trabalho, sem direito a conhecimento superior ao de uma máquina, sem direito à vez ou à voz.
O texto exemplifica um posicionamento histórico do Estadão e dos demais conglomerados de mídia, inimigos dos trabalhadores e que apenas fazem reproduzir e legitimar, através de sua forçada legitimidade, o discurso dos dominantes, o discurso do alto empresariado, o discurso dos donos do poder econômico, político e simbólico.


 *por Alexandre Haubrich
Fonte: http://jornalismob.com/2013/12/23/estadao-se-espanta-com-aulas-de-marxismo-e-defende-trabalhador-que-nao-pense/ Acessado em 26/12/2014

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