sábado, 31 de agosto de 2013

CRÔNICA POLÍTICA



A votação



 Walmir Assunção*


A votação é secreta, a família que não é. O homem é tão vergonhoso que os desavergonhados só fizeram o concluio com a ajuda da lei: às escondidas. Refiro-me a seus amigos deputados. No entanto a família toda ficou na torcida, em júbilo no plenário diabólico: esposa, filhos e sobrinhos. Todos precisavam dar apoio ao pai ou titio bom provedor. Para que se esconder? Foi decidido pela Câmara que papai ainda é um deputado.

Mas por que não se esconder? Se titio é o pior tipo de presidiário. Donadon está preso, reclamou bastante do banho frio. Só faltou ir de regata para mostrar bem as marcas das algemas. Disse que é tratado como preso comum na Papuda, o que é lamentável, pois Donadon não é preso comum e deve ser muito maltratado.

Declarou-se inocente, o que é um tanto descabido. Garantiu ser evangélico, no que todos nós acreditamos. Ajoelhou-se e rezou após o veredito. Foi decretado que Donadon se manterá um parlamentar. Sua mão decerto é bem pesada. Deputado preso no Brasil, só se for muito desajeitado. 

 A Câmara se personificou na sombra dos votos, tudo para inocentá-lo. Foi preso no exercício da sua função, todos compreenderam. Numa votação secreta sabemos que a dignidade é um detalhe, como em alguns indivíduos. É um bastão que passa de mão em mão sem pouso, sem acusar as mãos vazias dessa dignidade.  O veredito será sempre hediondo e sem culpados pelo veredito.

 Enquanto alguns cumprimentavam o Deputado por códigos, com as sobrancelhas em nossas barbas, a família ficou eufórica na torcida. A filha chegou a pedir para o pai não ir ao plenário, pois talvez fosse mesmo vergonhoso – como se não pudéssemos lhe perguntar sobre o vice-versa.  Será que a filha nunca vestiu uma meia do pai? A família se nega a sair do apartamento na Asa Norte de Brasília. Afinal, para que ter vergonha? Se o pai é bom provedor, vai até o sobrinho.

*Walmir Assunção é cronista, contista e escritor em Curitiba/PR.

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