quinta-feira, 17 de julho de 2014

EXPO'RONDON 2014





Expo Pecuária contará com exposições de bovinos e suínos 

Suinocultura terá amostragem do ciclo de produção

A Expo Pecuária será novamente uma das atrações dos festejos de aniversário do município, que se iniciam na próxima semana, dia 24, e seguem até o dia 27.
Na oportunidade acontecerá a 28ª Exposição de Bovinos da Raça Holandesa, que contará com cerca de 120 animais, e a 14ª Mostra de Bovinos da Raça Jersey, com cerca de 30 animais. Vale lembrar que haverá expositores de Marechal Cândido Rondon e região. O evento também terá os julgamentos ranqueados em nível nacional, com a supervisão da Associação Paranaense de Criadouros de Bovinos da Raça Holandesa, que premiará os melhores animais da feira.
Com relação à suinocultura, neste ano ela estará representada através da amostragem do ciclo de produção. Questões sanitárias cada vez mais rigorosas, impostas nos últimos anos, inviabilizaram a exposição de suínos durante a festa do município de Marechal Cândido Rondon.
A suinocultura neste ano ganhará um novo espaço, junto ao barracão de exposição de bovinos. O espaço está sendo adequado e vai comportar a exposição de tecnologias e estruturas utilizadas em todo o ciclo da suinocultura, inclusive contando com diversos animais. A exposição está sendo coordenada pela prefeitura rondonense, através da Secretaria de Agricultura e Política Ambiental, com o apoio da Copagril e de empresa de Marechal Cândido Rondon.
Na manhã desta quarta-feira (15) integrantes da CCO, entre eles o prefeito Moacir Froehlich, e parceiros da exposição, estiveram visitando as instalações que abrigará a Expo Pecuária para verificar o andamento dos trabalhos e as adequações que estão sendo realizadas para a suinocultura.
O vice-presidente da CCO da festa, vice-prefeito Silvestre Cottica, ressaltou que mesmo sem o pavilhão de suínos a suinocultura estará representada na exposição. “Teremos sim a exposição de suínos, através da amostragem dos ciclos de produção, como acontece em granjas do município. Haverá baias de gestação, de maternidade, de creche, leitões de crescimento e suínos de terminação. Será um pouco diferente dos anos anteriores, devido às restrições sanitárias, que não permitem a aglomeração de animais. Inclusive, este animais que ficarão expostos não poderão retornar para as granjas, ou seja, deverão seguir para o abate. Isso se faz necessário para garantir uma proteção sanitária para as granjas, para que doenças não sejam disseminadas”, explica Cottica.
O empresário rondonense do ramo metalúrgico, Oldemar Rohloff, explica que com os animais também serão apresentadas as estruturas e tecnologias existentes para a criação de suínos, muito importantes nos dias de hoje. “Estaremos apresentando as estruturas desde a creche até a terminação. O ambiente será muito especial e próprio para que os visitantes tenham uma ideia de como as granjas são estruturadas. Será uma atração muito especial”, aponta Oldemar.
Já o responsável pelo setor de fomento de suínos da Copagril, Osni Tessari, acredita que o contexto que será apresentado neste ano se adéqua melhor a realidade do município. “É muito importante, especialmente para os granjeiros do município e região, conhecerem as novas tecnologias que estão no mercado em termos de estrutura para a criação dos animais. Elas devem ser agregadas na propriedade e através desta amostra todos terão conhecimento das novidades que estão no mercado. Os visitantes também  poderão visualizar como a atividade da suinocultura está se desenvolvendo”, ressalta Osni.
A programação da Expo Pecuária e a programação completa da Expo Rondon pode ser acessada através do site www.exporondonmcr.com.br, no item “A Expo Rondon” e depois, “Programação”.




Integrantes da CCO e parceiros da Expo Pecuária estiveram visitando as instalações do pavilhão que vai abrigar os animais para acertar os últimos detalhes para a feira. Fotos: Ademir Herrmann


Fonte: ACS/PM/MCR/PR

terça-feira, 15 de julho de 2014

CHARGE



As coligações

No traço de Rafael Balbueno, as coligações frankenstein

COLIGAÇÕES FINAL (1) (447x500)

FONTE: http://jornalismob.com/2014/07/11/charge-coligacoes-frankenstein/ - ACESSO EM 15/07/2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

EXPORONDON 2014


DIREITOS HUMANOS - GALEANO



Eduardo Galeano: "Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?"

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças

Por Eduardo Galeano


Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

eduardo galeano gaza israel
Eduardo Galeano: “Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latinoamericanas que Israel assessorou”

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.
Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.
Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?
O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.
E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?
Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.
Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinas, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antisemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

FONTE: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/eduardo-galeano-israel-gaza-direito-de-negar-todos-os-direitos.html - ACESSO EM 14/07/2014

domingo, 13 de julho de 2014

E A FRONTEIRA?*



QUESTÃO INDÍGENA NO BRASIL


indígenas

Guaranis resistem a preconceito enquanto exigem demarcações no Paraná

Intolerância contamina população de Guaíra e Terra Roxa, na fronteira com Paraguai; ao retomar territórios, índios tentam restituir aos filhos o direito à terra dos avós
por Tadeu Breda, da RBA publicado 11/07/2014 10:13, última modificação 11/07/2014 18:03
 
Tadeu Breda
Anatálio

Líder do Tekoha Jevy, Anatálio relata ameaças de morte nas ruas e hostilidades pelo rádio
Guaíra (PR) – O coração de Amélia disparou ao perceber o carro preto se aproximar lentamente e frear a seu lado. “Não, nem conheço vocês”, responderia, assustada, depois de um dos ocupantes baixar o vidro escuro e mandá-la entrar. A jovem de 19 anos tentou escapar, mas não conseguiu. “Estava de salto e não pude correr”, conta, com a voz baixa e as mãos a amarrotar um pedaço colorido do vestido. “Ele pegou meu cabelo, tapou minha boca e me pôs pra dentro.”
Ao sequestro seguiram-se agressões e abusos sexuais. Amélia, nove meses depois, ainda não consegue verbalizar. Repete apenas “judiaram muito de mim” para descrever como sofreu nas mãos de três homens, rodando pelas ruas com o som no último volume. “Tentei quebrar o vidro com meu sapato, chutando, mas um deles pegou minha perna e sentou em cima”, relata. “O outro me segurava e tapava minha boca para eu não gritar. O que estava dirigindo tinha um revólver.”
Ao examiná-la, os médicos não encontraram vestígios que ajudassem a identificar os agressores. A memória de Amélia, abalada, tampouco contribuiria: a jovem nunca tinha visto os criminosos, e jamais conseguiria retratá-los com exatidão.
A mensagem deixada, porém, Amélia não esquece: “Fala pra Funai que nós vamos acabar com eles”, disseram, ao soltá-la num matagal, três horas depois. O recado convenceu seus parentes e amigos – e as autoridades – de que o sequestro não se tratou de um delito comum.
De pele morena, cabelos negros lisos e longos, não raro adornados com penas coloridas, ela carrega inconfundíveis traços indígenas. Amélia pertence à comunidade Guarani que vive nos arredores de Guaíra e Terra Roxa, pequenos centros urbanos de uma região agrícola do oeste do Paraná que faz divisa com Mato Grosso do Sul e fronteira com o Paraguai.
Seu irmão Inácio Martins, é cacique da aldeia Tekoha Marangatu, retomada pelos índios da região em 2004. Mora e estuda lá. Pelas manhãs, trabalha como estagiária no escritório da Coordenação Técnica Local que a Fundação Nacional do Índio (Funai) mantém na cidade desde 2012. Seu rapto ocorreu no trajeto entre a aldeia e a sede do órgão, pouco depois das 7h, horário em que ela todos os dias deixa sua casa caminhar por 40 minutos até o estágio.
“Eles sabiam quem eu sou.”

Fronteira de crime

Fundada há 63 anos, Guaíra não é pacata como sugerem sua população de 30 mil moradores, as ruas tranquilas, revoadas de andorinhas e orelhões com a forma de animais à beira da extinção. O Mapa da Violência 2013, elaborado pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfiz, coloca Guaíra como sétima cidade mais violenta do Brasil, a segunda do Paraná, com uma taxa de 110,2 homicídios ao ano em cada 100 mil habitantes.
Guaíra também foi palco de uma das maiores barbaridades brasileiras. Em 2008, 15 pessoas foram mortas e oito ficaram feridas após homens encapuzados invadirem uma favela e abrirem fogo. O episódio ficou conhecido como a “maior chacina da história do Paraná”, e integra listas de crueldades ao lado dos massacres do Carandiru, em São Paulo, e da Candelária e de Vigário Geral, no Rio de Janeiro.
Tadeu Breda Brincadeira
Menina guarani pedala pelo Tekoha Jevy numa tarde de domingo
O subtenente Romualdo Amorim trabalhou durante cinco anos como policial militar no município, hoje comanda o batalhão de Terra Roxa e é categórico ao diagnosticar a origem dos assassinatos: “Nosso problema é a fronteira e o crime organizado”, define, munido da experiência de quem integrou forças especiais de repressão ao contrabando, roubo de veículos e tráfico de drogas e armas.
“Normalmente são execuções provocadas por acertos de contas”, comenta, lembrando que existe uma “alta concentração de barões do crime” no departamento paraguaio de Canindeyú e na cidade de Salto del Guairá, no outro lado do rio. “Membros de facções brasileiras vivem foragidos por lá.”
A violência local convive com uma vocação econômica agrícola, baseada em pequenas e médias propriedades. Por onde quer que se chegue, a cidade se mostra rodeada de lavouras. No final de março, seu entorno estava tomado por plantações de milho.
Juntas, Guaíra e a vizinha Terra Roxa colheram colheram 390 mil toneladas do grão em 2012, segundo números do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e produziram 120 mil toneladas de soja no período. Recorrendo principalmente a sementes transgênicas, agricultores da região cultivaram, em 2012, mais de 160 mil hectares de milho e soja, e colheram um faturamento de R$ 250 milhões. Em Guaíra e Terra Roxa também se plantam mandioca e trigo, e criam-se bovinos, suínos e aves.
A qualidade do solo do oeste do Paraná e sua intensa conversão ao agronegócio colocou nas alturas o preço das propriedades rurais. Levantamentos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), órgão do governo estadual com escritório em Guaíra, mostram que o alqueire (cerca de 2,4 hectares ou dois campos de futebol) é negociado por até R$ 100 mil.
“O oeste do Paraná tem a maior cadeia produtiva do frango e é um dos maiores produtores de milho e soja do país. E Guaíra, obviamente, está inserida nesse contexto”, define o prefeito da cidade, Fabian Vendruscolo (PT). “Nossas terras são muito produtivas. Por isso, uma demarcação indígena é tudo o que não queremos.”

Genocídio silencioso

Não há informações precisas sobre quantos guaranis vivem nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. ONGs que atuam na região estimam em torno de 1.800. O Censo do IBGE identificou em 2010 pouco mais de 700, e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, atesta a presença de 1.300.
Os guaranis da região estão espalhados por 13 aldeias: oito em Guaíra, cinco em Terra Roxa. A maioria fundada nos últimos quatro anos, em terras que os índios afirmam terem vivido seus pais e avós – e eles próprios, quando jovens ou crianças.
Outras, ainda segundo os indígenas, têm sido ocupadas permanentemente. É o caso da aldeia Tekoha Porã, que fica na periferia de Guaíra e está prestes a ser engolida pelo avanço do asfalto. Aos 96 anos, seu cacique, Cláudio Barros, mal consegue caminhar. Alega nunca ter saído dali e relata ter trabalhado com erva mate e testemunhado a passagem da Coluna Prestes (1925-1927).
Divulgação aldeiasguairaterraroxa.jpg
Distribuição geográfica dos treze tekohas em Guaíra e Terra Roxa
Um relatório produzido pelo antropólogo Ian Packer, do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), sustenta que os guaranis do oeste paranaense sofreram um intenso processo de “esbulho territorial” ao longo do século 20, e que esse processo foi “conduzido sob a égide de um sistemático descumprimento da legislação indigenista e de um genocídio silencioso”.
Segundo Packer, as violações cometidas contra os índios da região foram “acobertadas” pelos dois regimes autoritários vividos pelo país nos últimos 80 anos: o Estado Novo (1937-1945) e a ditadura civil-militar (1964-1985). Leia mais aqui.
Seu estudo reúne referências históricas, documentos e entrevistas com anciãos guaranis e procura demonstrar que a presença indígena em Guaíra e Terra Roxa não é recente – nem a localização de suas aldeias, aleatória.
Tadeu Breda Tekoha Jevy
Com plantações de mandioca e milho, Tekoha Jevy está ameaçada por construção de porto
O antropólogo sustenta que uma das principais características do povo guarani é a mobilidade de seus membros pelos diversos lugares que ocupam tradicionalmente. “Há uma circulação constante de famílias e indivíduos”, explica Packer, que, no entanto, não fala em nomadismo. “São colonizadores dinâmicos”, prefere, salientando que taxá-los como nômades tem sido uma estratégia para anular suas relações com a terra e seus direitos sobre ela.
“Os grupos são autônomos para escolher seus lugares de ocupação, e estabelecem seus assentamentos segundo critérios ecológicos, como a presença de recursos naturais, e sociológicos, conforme suas redes de parentesco”, anota. “Manter certa distância entre si é também uma forma de evitar conflito entre núcleos familiares.”
A liberdade para se estabelecer em diferentes pontos de um amplo território explicaria as razões que levam os guaranis do oeste paranaense a transpor limites com Mato Grosso do Sul e Paraguai. “Para eles, são fronteiras artificiais, que lhe foram impostas num passado relativamente recente”, diz o antropólogo, lembrando que a divisão dos Estados nacionais do Cone Sul é fenômeno posterior à presença – e à formação cultural – dos guaranis.
Packer lembra que a presença indígena em Guaíra e Terra Roxa num passado recente é atestada por relatos de alguns exploradores enviados em missões oficiais do governo federal para mapear a região. Um deles foi o tenente-coronel José de Lima Figueiredo, que, em 1937, percorreu as margens do Rio Paraná. Em seu livro de memórias, o militar faz referências à “existência de silvícolas”, denunciada por “velhas canoas” e “malocas”, e descreve a frustração por não conseguir estabelecer contato com alguns deles: “Mal chegávamos, fugiam para a mata, abandonando o que estavam fazendo”, anota.
Há ainda registros documentais e testemunhais de uso de mão de obra indígena em condições análogas à escravidão para construção de postos militares, colheita da erva-mate e abertura de primeiras estradas.
O relatório assinala que políticas indigenistas também serviram para retirar os guaranis do oeste do Paraná. Uma das estratégias do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), por exemplo, era conduzi-los à reserva de Rio das Cobras, em Laranjeiras do Sul (PR), criada em 1901 para abrigar membros da etnia Kaigang. “É uma extrema violência e imprudência juntar num mesmo espaço dois grupos inimigos, de tradições e línguas diferentes”, argumenta o antropólogo.
Tadeu Breda Assunção Benitez
Cacique Assunção Benitez conta sobre chegada violenta de colonos
Criada em 1967 para substituir os desmandos do SPI, a Funai também ajudou no êxodo guarani durante a ditadura. Por exemplo, negando-se a emitir documentos aos índios em suas aldeias no oeste paranaense. Quando se viam precisados de RG e certidões, tinham que requisitá-los nas reservas de Porto Lindo, em Japorã (MS), e Jaguapiré, em Tacuru (MS), onde eram instados a permanecer.
Outro acontecimento que prejudicou os guaranis de Guaíra e Terra Roxa foi a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu (1975-1982). O empreendimento teria provocado uma onda de regularização fundiária na região, procedimento necessário para indenizar agricultores que haviam se instalado nas terras prestes a serem alagadas. “O evento Itaipu serviu para que a anormalidade fundiária reinante na região em função do avanço descontrolado da colonização fosse regularizada às pressas pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra)”, assinala Ian Packer.
Os índios, porém, foram preteridos. O governo militar vetou demarcações nas faixas de fronteira por razões de segurança nacional. E adotou os chamados “critérios de indianidade”, que desconsiderou a presença de guaranis e reduziu o número de famílias indígenas passíveis de compensações.
Apesar de localizar-se em Foz do Iguaçu (PR), Itaipu impactou diretamente a região. As inundações foram tão avassaladoras que desapareceriam com as Sete Quedas, conjunto de cataratas que despencavam por degraus rochosos. Guaíra, “lugar intransponível” em guarani, deve seu nome ao extinto turbilhão.
Trinta anos depois da inauguração, em 1984, Itaipu rechaça ter contribuído para a expulsão dos guaranis. “As comunidades indígenas foram devidamente indenizadas e reassentadas sob a orientação da Funai”, explica a assessoria de imprensa da usina, em nota. “As áreas adquiridas representam muitas vezes o tamanho da área ocupada pelas comunidades quando da formação do reservatório.”
No entanto, o relatório de Packer faz referência a um memorando interno escrito em 1987 pelo então diretor jurídico de Itaipu, Clóvis Ferro, em que admite, para seus superiores, que as compensações foram tímidas: “O pleito dos índios não é desarrazoado, de um lado; de outro, é evidente que o relatório sobre o qual se baseou Itaipu não é veraz”, argumenta.
Tadeu Breda Ancião
Com 96 anos, Cláudio Barros é mais velho guarani de Guaíra
Por tudo isso, e após anos de pesquisa, Packer rebate com veemência acusações de que os guaranis de Guaíra e Terra Roxa sejam paraguaios ou sul-mato-grossenses. E critica a ideia de que jamais viveram no oeste paranaense. Pelo contrário, defende, são remanescentes das famílias que sobreviveram ao esbulho territorial iniciado em meados do século 20. “Parte delas jamais abandonou e Outra parte retornou na última década depois de um período de exílio em que, fugindo das perseguições, se deslocaram para aldeias do Paraguai, interior do Paraná ou Mato Grosso do Sul.”

‘Está aumentando índio aqui’

“Rapaz, não posso conversar com você agora”, afirma ao telefone o agricultor Roberto Weber. “Tenho de sair voando para levar um carregamento de agrotóxico.” Depois de algumas tentativas, Weber finalmente atende o celular. “Amanhã também não dá. Passarei a semana viajando.” Dez dias depois, de volta a São Paulo, nova tentativa. “Agradeço seu interesse, mas andei dando uma olhada no seu site e achei meio tendencioso”, justificou. “Conversar com você não vai me ajudar. Então, acho melhor deixarmos as coisas assim. Obrigado.” E desligou.
Além de ser dono de terras no oeste do Paraná, Roberto Weber é presidente da Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (Ongdip), criada em março de 2013 como resposta dos produtores rurais ao que consideram uma “onda de invasões” às fazendas. A Ongdip mantém estreita relação com o Sindicato Rural de Guaíra. Em telefonema ao presidente da entidade, Silvanir Rosset, este sugeriu: “Ligue para o senhor Weber.” Ao saber da recusa do colega, Rosset saiu-se com uma evasiva válida apenas para aquela ocasião de abril. “Tenho de declarar meu imposto de renda.”
Weber e Rosset lideram as vozes contrárias à demarcação de terras indígenas. E são eles – Weber, sobretudo – que defendem a posição dos agricultores em assembleias, eventos sociais e na imprensa.
Em junho do ano passado, o Jornal Nacional deu destaque a um relatório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) dizendo que a Funai estava querendo demarcar “terras sem índios” em Guaíra e Terra Roxa. A estatal viria a público imediatamente para admitir que assuntos antropológicos estão fora de sua alçada, mas ainda assim Weber apareceu diante das câmeras confirmando a tese. “Está aumentando índio aqui, estão vindo do Paraguai. São paraguaios.”
A Band também se interessou pelo tema. Em março, uma equipe da TV Tarobá, afiliada da emissora, foi conduzida pelo presidente da Ongdip a aldeamentos localizados em suas terras. “Por medida de segurança, estamos apenas passando às margens de uma invasão”, explicou a repórter, resguardada dentro da caminhonete do agricultor. “A gente não pode parar porque os índios são agressivos.”
Além de conceder entrevistas críticas à Funai e aos índios, Ongdip e Sindicato Rural estão à frente de campanhas para convencer cidadãos, empresários, lojistas, políticos e, claro, produtores rurais sobre as “consequências desastrosas” da demarcação e seus impactos sobre a economia local. Aparentemente, estão conseguindo.
Na noite de 17 de março, o jornal local O Presente noticiou que “centenas de pessoas” atenderam ao chamado das entidades e se reuniram em Guaíra para participar de um “fórum de esclarecimento das demarcações no Paraná”. Na realidade, como o periódico estamparia em sua manchete, tratava-se de um encontro de “lideranças” para se posicionar contra a concessão de terra aos guaranis.
A assembleia lotou o anfiteatro da Universidade Paranaense. Weber e Rosset estavam presentes ao lado dos prefeitos de Guaíra, Fabian Venduscolo (PT), e de Terra Roxa, Ivan Reis (PP). O deputado federal Dilceu Sperafico (PP-PR), da bancada ruralista no Congresso, também compareceu. Em pauta, um rotundo “não” às ambições indígenas, e a convicção de que as regras para demarcação de terras devem ser modificadas imediatamente.
O comício ocorreria na esteira de uma temporada difícil para os índios. No ano passado, era comum ver pelas ruas de Guaíra faixas com dizeres “Demarcação indígena não combina com ordem e progresso” assinadas pelo sindicato de agricultores.
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Carro com adesivo anti-dermarcação (detalhe) nas ruas de Guaíra
Carros circulavam com adesivos com mensagens como “Minha terra, minha vida. Não à demarcação indígena injusta. Juntos Paraná e Mato Grosso do Sul”. Para-brisas e latarias também apareceram adornados com lemas do tipo: “Verdade, alimento e união: base de uma nação. Confisco não”, slogan acompanhado pela palavra “Funai” marcada por um xis vermelho.
Em 14 de março, Ongdip e Sindicato Rural realizaram protesto na ponte Ayrton Senna, que cruza o Rio Paraná em direção ao Mato Grosso do Sul e ao Paraguai. Aproveitaram veículos trafegando em velocidade reduzida oferecendo adesivos e distribuindo panfletos. Um deles trazia a foto aérea de um lugar não identificado para ilustrar a “diferença” entre uma área indígena e uma fazenda: a propriedade rural aparece bem-cuidada e cultivada; a reserva da Funai ostenta um viçoso matagal.
Apócrifo, o texto contrapõe a contribuição de produtores e indígenas para o bem-estar da nação. Enquanto o agronegócio cultiva 57 milhões de hectares e colhe 180 milhões de toneladas de grãos, respondendo por 13% do PIB, os índios disporiam de 113 milhões de hectares para produzir nada, tampouco empregos e renda.
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Faixa afixiada nas cercanias da rodoviária pelo Sindicato Rural de Guaíra
No verso, destaque para os “100 mil hectares” que o governo federal estaria querendo destinar aos índios no oeste do Paraná. Segundo o informativo, a Funai presenteará aos guaranis a faixa territorial de 230 quilômetros entre Guaíra e Foz do Iguaçu. E o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à igreja católica, e ONGs financiadas com dinheiro internacional promovem, diz o folheto, “invasão de terras produtivas e legais” com o intuito de “manchar nossos campos de sangue”.
O pleito dos agricultores foi parar nas redes sociais. No Facebook, proliferam mensagens de ódio. Uma delas, postada em 26 de março de 2013 na página da comunidade Agricultores Guaíra, dizia que os índios “vão tudo em contêiner de volta ao Paraguai”. Havia ainda conselhos aos moradores: “Vamos ensinar nossos cachorros a comer índio em vez de ração, um a cada dois dias já está bom”.
Em abril, um internauta garantia que os guaranis “só querem dinheiro, iPhone 5 e luxo”, e outro conclamava: “Fora Funai, fora índios, fora tudo que impede o Brasil de produzir e se desenvolver.” No dia 5 daquele mês, um jovem cravou: “Índios filhos da puta. Capa e depois mata um por um”.
A área de comentários do site de notícias Portal Guaíra também virou receptáculo de intolerância no início do ano passado. “Pra que eles querem essas terras? Só sabem ficar enchendo a cara”, escreveu um leitor. Outro recomendava: “Se querem mordomia, que trabalhem para isso”. Ou: “São índios, mas querem viver como classe média. Não temos mais nem direito de ir e vir por medo desses bugres”. E também: “Lugar de índio é no mato, não em cidade e em terras produtivas”.
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Comentário contrário à presença guarani no oeste do Paraná
“Eu vejo os guaranis acuados”, relata uma moradora da cidade que repudia as manifestações antiindígenas. “Eles não têm direito de ir ao mercado sem o povo ficar comentando. As crianças vão à escola e são discriminadas. Teve professor que mandou um índio voltar pra casa e tomar banho.”
Outro morador diz que falar em apartheid “seria exagero”, mas admite que até pessoas que não seriam afetadas pela demarcação se posicionam contra. “Há uma intolerância generalizada”, analisa, também sem se identificar. “A histeria generalizada incute preconceito nas pessoas”.
A campanha teve efeitos práticos – e trágicos – para além da tela do computador.
Anatálio Ortiz, cacique da aldeia Tekoha Jevy, ocupada em 2010, conta que se acostumou a ouvir hostilidades nas ruas e nos programas de rádio. Quando caminha pela cidade, diz, não é raro que motoqueiros passem por ele a toda velocidade, xingando, gritando para que desapareçam. O cacique também já ouviu várias vezes uma frase que começa aparentemente simpática: “Vai sair demarcação pra você, índio”, mas explica: “Só que tá falando de túmulo, cemitério, que vou morrer e terei minha terra.”
O cacique Ílson Soares relata que já foi seguido por uma caminhonete enquanto pedalava entre o centro de Guaíra e a aldeia Tekoha Y'hovyterra. Também já cruzou com motorista que, ao vê-lo, sacou de uma arma e atirou para o alto. “Outro dia, eu caminhava pela rua e dois adolescentes vinham na direção contrária. Quando cruzaram comigo, levantaram a camisa e me mostraram um revólver: ‘Aqui pra você, índio’”, acrescenta Ílson. “Se ameaça matasse, a gente já estava tudo morto.”
Alguns guaranis, porém, perderam a vida de maneira trágica durante os períodos de maior tensão. É difícil estabelecer uma relação direta entre as mortes e o clima de enfrentamento, mas, segundo algumas lideranças, as hostilidades estão na raiz de algumas fatalidades ocorridas na região.
Tadeu Breda Reza
Costumes são preservados pelos guaranis de Guaíra e Terra Roxa
Em dezembro de 2012, uma idosa foi atingida por um veículo em alta velocidade nas proximidades da rodoviária. O motorista fugiu sem prestar socorro. Os guaranis lembram que alguns carros passam perigosamente próximos dos índios por ruas e estradas.
Em novembro do ano passado, um guarani conhecido como Bernardino Ortega foi assassinado com um tiro nas redondezas da aldeia Tekoha Porã, na periferia de Guaíra. Segundo a versão oficial, havia se envolvido em briga de bar – parentes garantem que ele vinha sendo ameaçado durante todo o dia.
Entre 2012 e 2013, ao menos três guaranis cometeram suicídio nas aldeias do oeste paranaense. Todos haviam sofrido algum tipo de hostilidade antes de tirarem a própria vida. “Aqui, os níveis de suicídio indígena não são tão altos como no Mato Grosso do Sul”, compara o subtenente Romualdo Amorim, comandante da Polícia Militar em Terra Roxa. “Mas, quando você desfaz deles, dizendo que não prestam pra nada, alguns internalizam a ofensa e não conseguem lidar com a humilhação.”
Um dos índios que decidiram acabar com a própria vida, ainda adolescente, era constantemente chamado de “invasor” pelos colegas da escola. Outro havia ouvido de uma assistente social que jamais conseguiria emprego e que seria melhor se morresse de uma vez.
As hostilidades também atingiram funcionários do escritório da Funai. Em fevereiro, o antropólogo Diogo Oliveira, um dos técnicos do órgão indigenista, pediu transferência após ser informado que sua cabeça estava a prêmio. Antes de saber que havia se transformado em possibilidade de renda para os pistoleiros da fronteira, Diogo havia sido ameaçado várias vezes na rua. Numa delas, um motorista abriu o vidro do carro, mostrou uma arma e disse: “Tá vendo, vamos acabar com todo mundo.” Outra vez, um cidadão entrou na sede da Funai e o advertiu: “Vou perder a cabeça com você.”
Outro indigenista, que prefere não se identificar, mandou a enteada e os dois filhos para morar longe do conflito. “Eu mesmo já pensei em sair de Guaíra, mas só vou quando se a coisa azedar de vez.” Para amenizar a perseguição, Diogo retirou o adesivo da Funai da caminhonete que utiliza. Mas admite a pouca eficácia da estratégia: seu rosto e sua compleição física são conhecidos por todo mundo. “Já cansei de ser xingado de ‘Funai filho da puta’ na rua”, diz. “Também costumam passar de carro ou moto gritando: ‘Vai morrer, Funai!’” O funcionário conta que abandonou o hábito de ir a restaurantes. E contabiliza episódios em que foi destratado na farmácia, na padaria e seguido pela rua.
Entre ameaças, agressões, hostilidades e mortes, a tensão foi se agravando até o sequestro seguido de abusos sofrido pela jovem Amélia. A partir daí, os ânimos parecem ter se amainado. “Acho que perceberam que estavam indo longe demais”, avalia Diogo. Mas, entre os guaranis e seus poucos apoiadores na cidade, ninguém acredita que a sociedade guairense tenha tomado consciência sobre os direitos indígenas e mudado sua opinião sobre as demarcações.

Um quadro muito negativo

O procurador da República Henrique Gentil Oliveira encontrou um cenário de “muito litígio” entre índios e produtores rurais quando desembarcou em Guaíra em abril de 2013 para trabalhar no escritório local do Ministério Público Federal (MPF). Uma de suas primeiras atitudes foi conhecer a situação dos guaranis, já que uma das missões da procuradoria é assegurar o cumprimento das garantias constitucionais dos povos indígenas.
Na companhia de um colega e de funcionários da Funai, entrou em contato com caciques e visitou as aldeias da região. “Verificamos que os índios viviam em condições complicadas. A maioria não recebia água potável, não tinha eletricidade ou acesso a moradia. A alimentação era precária. Enfim, era um quadro muito negativo”, relata.
Tadeu Breda Tekoha Porã
Tekoha Porã é aldeia mais antiga e das mais pobres de Guaíra
Foram produzidos relatórios sobre as 13 aldeias de Guaíra e Terra Roxa. Em junho de 2013, publicaram tudo na internet, proporcionando notícias inéditas sobre as condições degradantes em que vivem os guaranis da região. Também começaram a agir institucionalmente para que seus direitos básicos fossem minimamente assegurados pelo poder público municipal, estadual e federal. Ao menos 45 procedimentos administrativos foram instaurados.
“Buscamos fornecimento de água, energia e cestas básicas, auxílios para moradia e inscrição nos programas de transferência de renda”, continua Henrique. “Houve progressos: boa parte das casas já tem acesso a água e luz elétrica, por exemplo. Mas as condições de vida estão longe de ser aceitáveis.”
Querelas jurídicas impedem que os índios se beneficiem de alguns de serviços públicos, como construção de escolas ou crédito para plantio. “Ao menos oito possuem litígio possessório. Como estão em áreas formalmente pertencentes a outras pessoas, e há ordens de reintegração de posse, isso acaba sendo uma dificuldade.”
Henrique acredita que o trabalho do MPF foi fundamental para distender os ânimos na cidade. Governos começaram a prestar mais atenção aos guaranis e a Justiça Federal, a reprimir arroubos racistas. “As postagens preconceituosas na internet já não ocorrem com tanta intensidade”, analisa o procurador. “A circulação de panfletos apócrifos também diminuiu.”
O MPF de Guaíra recebeu no ano passado mais de 100 comunicações de crime de intolerância: gente que compilou mensagens de ódio dentro e fora das redes sociais, e as encaminhou à procuradoria. Além de funcionários da Funai e ONGs, moradores revoltados com a campanha difamatória ajudaram a detectar possíveis criminosos.
“Instauramos vários inquéritos”, afirma Henrique, revelando que é preciso cautela ao tipificar o crime de racismo. “É delicado distinguir onde termina a opinião e onde começa o delito. Houve pessoas ouvidas pela Polícia Federal, algumas foram denunciadas à Justiça e estão respondendo a processo.”

Batalha antropológica

Em 17 de fevereiro, a Funai publicou no Diário Oficial da União portaria instituindo um Grupo Técnico (GT) de quatro membros para “realizar os estudos complementares de natureza antropológica, cartográfica e ambiental necessários à identificação e delimitação das áreas ocupadas pelos guaranis no município de Guaíra e Terra Roxa”. A determinação retoma uma portaria anterior, de fevereiro de 2009, que já havia nomeado especialistas para analisar as reivindicações. Nenhum relatório foi apresentado – e o processo não andou.
Em maio de 2013, uma determinação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, paralisando todas as análises demarcatórias no país, ajudou a jogar para mais longe uma possível concretização das demandas indígenas no oeste do Paraná. A decisão foi tomada pouco depois do assassinato de um terena em Sidrolândia (MS), há 500 quilômetros de Guaíra e Terra Roxa, mas afetou os guaranis. Em fevereiro, a Funai só instaurou o novo GT obrigada por decisão judicial.
Composto por dois antropólogos e dois geógrafos, o grupo teria 12 dias para realizar pesquisas de campo, e mais 130 para finalizar o relatório. As diligências ainda não começaram, mas a iminência de sua chegada voltou a acirrar os ânimos.
Uma grande assembleia organizada pelo Sindicato Rural de Guaíra e pela Ongdip em 17 de março foi um exemplo de como a nova portaria mexeu com os produtores. Proprietários também contrataram antropólogos que produzam estudos em sua defesa. Ao menos seis especialistas trabalham na confecção do laudo, sob coordenação de Antônio Pimentel Pontes Filho, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e dono da Pontes Consultoria & Pesquisa, com sede em Toledo (PR).
As pesquisas tiveram início em março em basicamente duas frentes. Uma, orientar e ajudar a compreensão dos produtores rurais sobre o processo demarcatório. Outra, reunir documentos, depoimentos e qualquer informação relevante para que os agricultores comprovem a posse legal das terras que ocupam. “Da mesma maneira que os índios dizem para a Funai que aquelas terras são deles, os agricultores dizem que eles é que são os donos”, explica Pontes. “Eles possuem documentos com mais de 50 anos, e agora estão se sentindo lesados em seus direitos.”
“Da mesma maneira que os índios dizem para a Funai que aquelas terras são deles, os agricultores me falam que eles é que são os donos da terra”, explica Pontes. “As famílias possuem documentos com mais de cinco décadas, chegaram lá décadas atrás, algumas há muito mais tempo, e agora estão se sentindo lesadas em seus direitos.”
Tadeu Breda B-A-BÁ
Escola improvisada no Tekoha Y'hovy ensina o idioma guarani às crianças
O antropólogo conta que o objetivo é apresentar as perícias favoráveis aos produtores durante o prazo estabelecido na legislação para que o relatório da Funai seja contestado. Caso não obtenham sucesso, o material será reaproveitado em futuras ações judiciais. “Eu vou sugerir aos agricultores o que eles podem ou não usar juridicamente, analisar se têm documentações que podem ser apresentadas pelos advogados”, diz Pontes.
Caso não obtenham sucesso, o material será reaproveitado em futuras ações judiciais. “É uma questão que normalmente se resolve nos tribunais”, prevê Pontes. “Eu vou sugerir aos agricultores o que eles podem ou não usar juridicamente, analisar se têm documentações que podem ser apresentadas pelos advogados.”
De acordo com o prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo, os proprietários da região estão investindo “recursos de alta monta” na contratação do estudo. Porém, se recusou a falar em valores. O antropólogo responsável também se negou a entrar em detalhes financeiros sobre o trabalho – e se ofendeu com a pergunta.
“Os agricultores poderiam estar preocupados apenas em produzir, mas estão tendo que gastar dinheiro para se defender das demarcações”, reclama o prefeito, ele mesmo membro de uma família de fazendeiros cujas terras estão parcialmente ocupadas pelos guaranis.

À procura de um caminho

De acordo com o prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo, os proprietários da região estão investindo “recursos de alta monta” na contratação do estudo. O antropólogo responsável não quis dar detalhes financeiros sobre seu trabalho – e se ofendeu com a pergunta. “Os agricultores poderiam estar preocupados apenas em produzir, mas estão tendo de gastar dinheiro para se defender das demarcações”, reclama o prefeito, ele mesmo membro de uma família de fazendeiros cujas terras estão parcialmente ocupadas pelos guaranis.
Assim como os agricultores, o prefeito alega que não havia índios na cidade. “Nasci aqui e vou completar 50 anos vivendo aqui. Não tenho lembrança de vê-los. Se houve indígenas nos últimos 100 anos, nós nem os considerávamos indígenas. Para nós, eram paraguaios que moravam em Guaíra”, argumenta.
Vendruscolo lembra que, caso demarque terras na região, o governo federal estaria repetindo uma injustiça histórica. “Há 30 anos fomos convocados pela União para perder as Sete Quedas”, lamenta, recordando que as inundações promovidas por Itaipu prejudicaram o turismo e a economia da cidade. “Nunca recebemos a devida compensação. Agora, querem novamente intervir no território municipal.”
Tadeu Breda Protesto
Às vésperas da Copa, guaranis adequam slogans que ficaram comuns nas capitais
O prefeito revela que desde então Guaíra está à procura de um “novo caminho para o desenvolvimento”, e não aceita que o crescimento econômico seja posto em risco.
Vendruscolo aposta num projeto conhecido como Plataforma Logística de Guaíra. Incluído no plano diretor em 2008, a plataforma prevê a construção de um porto comercial no Rio Paraná, numa região que já abriga o aeroporto municipal e a rodovia BR-272.
“É o lugar ideal para escoar a produção regional, e ficará completo quando o governo federal trouxer uma ferrovia”, acrescenta. “Estamos dialogando com investidores desde 2007, mas um grupo de guaranis decidiu entrar na área e estão ameaçando inviabilizar o projeto, estratégico para o município.”
Vendruscolo se refere a Tekoha Jevy, uma das maiores e mais prósperas aldeias da região. Lá, os indígenas mantêm grandes plantações de mandioca e milho, além de roçados de abóbora e feijão. A reportagem esteve em abril no território que abriga cerca de 300 pessoas. Havia uma enorme porção de terra arada e preparada, esperando a chegada das sementes. A construção de uma escola era finalizada.
A possibilidade de que o porto naufrague por causa da ocupação indígena não é o único motivo de tensão para o prefeito. Ele teme “enfrentamentos civis indesejáveis” caso a demarcação deixe de ser apenas uma reivindicação dos guaranis e comece a sair do papel.
O prefeito anuncia que a demarcação de terras a partir da desapropriação dos agricultores – com uso da Força Nacional, se necessário – jamais será aceita pela população. “Mais de 90% é contra. Se houver desintrusão, haverá conflito. Não se pode assegurar direitos para os índios retirando direitos dos proprietários.”
Vendruscolo, porém, não deseja expulsar os guaranis. “Já são cidadãos do município”, adianta. “Enquanto a situação não se resolve, passamos a distribuir 160 cestas básicas por mês, fizemos documentação para 200 índios serem incluídos no Bolsa Família e colocamos 200 crianças indígenas nas escolas municipais.”
Na visão do prefeito, a melhor solução para o impasse se esconde na riqueza gerada pelas turbinas de Itaipu. “A usina poderia comprar terras e construir reservas”, propõe, lembrando que Guaíra é um dos 16 municípios lindeiros ao lago da hidrelétrica. “Itaipu já tomou atitudes semelhantes em Diamante D’Oeste (PR) e São Miguel do Iguaçu (PR). Como a usina tem duas áreas ocupadas pelos guaranis em Guaíra e Terra Roxa, esse pode ser o meio correto para resolver a questão.”
Tadeu Breda Atentos
Jovens guaranis anotam histórias contadas pelos mais velhos à Comissão da Verdade
Em nota, Itaipu adianta que não pretende seguir o conselho: “Temos dialogado com Funai, prefeitura, governo do estado e outras instituições no sentido de colaborar para uma solução pacífica da questão. Não cabe, no entanto, a Itaipu, enquanto entidade binacional, a responsabilidade de aquisição de áreas para formação de aldeamentos indígenas, o que é de competência dos governos centrais de ambos os países por meio de seus órgãos constituídos para tal fim”.
Pese à negativa da usina, para o prefeito o maior entrave ainda é a Funai. Talvez por isso já tenha se deixado fotografar na companhia de agricultores ao lado de uma faixa com o tradicional lema do ruralismo nacional: Ou o Brasil acaba com a Funai, ou a Funai acaba com o Brasil.
“O povo quer resolver o problema dos índios. E os índios aceitam propostas que não passem pela demarcação”, garante Vendruscolo, citando iniciativas frustradas da prefeitura em construir casas populares para 88 famílias guaranis no perímetro urbano da cidade. “Nada funciona, porque a Funai dificulta.”
“São palavras ao vento”, rebate Diogo Oliveira, antropólogo que trabalhou por dois anos no escritório que o órgão indigenista mantêm na cidade. O servidor afirma que nunca recebeu propostas objetivas da prefeitura durante todo o tempo em que esteve em Guaíra. “O que temos de concreto são 400 famílias guaranis em situação de vulnerabilidade, aguardando ser atendidas pelo Estado brasileiro.”
Há cerca de quatro anos, o choque de interesses no oeste do Paraná inaugurou novo capítulo em uma história que pode parecer recente, mas remonta ao passado. E cujo futuro, se pacífico ou sangrento, ninguém arrisca prever. Ou quase ninguém.
“Se houver demarcação, a coisa vai ferver. E pode até ter conflito”, diz um dos funcionários da Funai. “Mas depois os índios vão ter acesso à terra e parte desse deserto químico, essas plantações cheias de agrotóxicos que vemos ao redor da cidade, vai virar uma mata. Com a floresta regenerando, talvez a população não veja mais os indígenas de maneira negativa. Principalmente as gerações mais jovens.”

E a fronteira?

Para o prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo, pode ser uma grande irresponsabilidade demarcar terras indígenas na fronteira com o Paraguai. “As autoridades estão há anos tentando combater a entrada do contrabando, do tóxico e do armamento”, explica, sugerindo que, com a demarcação, os índios poderão entrar e sair do país sem qualquer problema. “Há 30 mil guaranis no departamento paraguaio de Canindeyú. Imagina o descontrole fronteiriço que uma demarcação pode ocasionar?” Vendruscolo não acusa diretamente os indígenas como potenciais agentes do crime organizado na região, mas pondera: “Na fronteira é tudo mais tenso e complexo.”
A legislação brasileira, porém, não veda a demarcação de terras indígenas em zonas de fronteira. Essa determinação foi ratificada em outubro de 2013 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) durante julgamento dos embargos declaratórios relativos à Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. O território ocupa uma ampla faixa fronteiriça entre Brasil e Venezuela.
Em 2009, o STF, por recomendação do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, impôs 19 condicionantes para aceitar a demarcação proposta pela Funai e homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. Uma delas diz que “a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal na área indígena, no âmbito de suas atribuições, fica garantida e se dará independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai”.
Ao ratificar a validade das condicionantes, o ministro Luís Roberto Barroso, relator dos embargos, decidiu que os 19 itens são aplicáveis apenas à Terra Indígena Raposa Serra do Sol. “As decisões do STF não possuem sempre e em todos os casos caráter vinculante”, reconheceu. Mas ponderou: “Tendo a Corte enunciado sua compreensão acerca da matéria, é apenas natural que esse pronunciamento sirva de diretriz para as autoridades que venham a enfrentar novamente a questão.”
O procurador da República em Guaíra, Henrique Gentil Oliveira, acredita que o recente acórdão do STF basta para que novas demarcações ocorram em áreas fronteiriças – inclusive no oeste paranaense. “Seguindo essa linha, com Exército e Polícia Federal podendo entrar na área, não entendo que uma demarcação aqui na fronteira traria problemas para a segurança nacional.”

 *Título editado. 
FONTE: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/07/guaranis-do-parana-resistem-a-preconceito-enquanto-exigem-demarcacoes-na-fronteira-com-paraguai-6739.html?fb_action_ids=658405550914957&fb_action_types=og.likes -Acesso em 11/07/2014

sexta-feira, 11 de julho de 2014

EXPO'RONDON 2014




Artistas rondonenses estão entre os destaques artísticos da Expo Rondon 2014


Além de músicos de renome nacional a Expo Rondon 2014, que acontece de 24 a 27 de julho, também terá apresentações de artistas locais, afim de incentivar e mostrar o potencial existente no município.

Na Casa Cultural de Marechal Cândido Rondon estarão se presentando a Banda Broadcasters, no dia 24, que interpreta músicas de rock clássico.

No dia 25, durante a tarde, estarão se apresentando integrantes do projeto de Arte Circense da Escola de Artes, grupos de Folclore Germânico, Coro Municipal Juvenil e Projeto Danças Urbanas. A noite é a vez da Banda Rock Brazu e da Banda Baleia Minimalista, com estilo musical de rock, e Storehouse, que apresentam clássicos do rock'n'roll.

No dia 26, o CTG Tertúlia apresenta Invernadas Artísticas, e retornam também as apresentações de Folclore Germânico e Projeto Danças Urbanas. A noite a dupla Talkin Blues apresenta músicas com o objetivo de difundir o Blues e suas vertentes mais diretas.

Para o domingo a tarde acontecerá a apresentação da Orquestra Municipal de Sopros, da Orquestra de Viola Caipira Comitiva Marechal, e do Grupo Anti Stress, com músicas gaúchas, fandangueiras e nativas.

Já na arena de shows, no dia 25, após o show de Humberto Gessinger, é a vez do show do rondonense Bill com sua Banda, que promete animar o público interpretando músicas de variados gêneros.

No dia 26, após o show de Hugo e Tiago, será a vez da dupla rondonense Cleber e Jorgito movimentar a arena de shows, animando o público presente madrugada adentro.

A programação artística completa da Expo Rondon 2014 está disponível no site www.exporondonmcr.com.br.

FONTE: ACS/PMMCR/PR/BR