sábado, 19 de março de 2016

CURDISTÃO


Como é Ser Mulher no País mais Democrático do Mundo*

"Aqui não há eleições para presidente; não há necessidade. O poder é exercido por assembleias de bairros por consenso e participação direta."
Moças do YPJ rindo. Ainda acho incrível como podem manter um comportamento tão feliz apesar do que lhes é pedido. Elas são realmente inspiradoras e me considero um dos poucos muito afortunados que compartilha com elas.

Numa entrevista com uma miliciana das YPJ, unidades de proteção curda da mulher, se perguntou se ela não tinha medo de ir para a guerra. “Medo?”, Respondeu surpresa. “O medo é para as mulheres ocidentais em suas cozinhas.”


“AQUI NÃO HÁ ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE; NÃO HÁ NECESSIDADE. O PODER É EXERCIDO POR ASSEMBLEIAS DE BAIRROS POR CONSENSO E PARTICIPAÇÃO DIRETA.”
Quando li que havia uma área do Oriente Médio, onde as mulheres tinham o mesmo estatuto que os homens, não podia acreditar. O típico exagero de propaganda revolucionária, pensei. Meu ceticismo natural, me obrigou a vir ver por mim mesmo.
Rojava, parte do também chamado Curdistão sírio, é provavelmente o país mais democrático do mundo. Aqui não há eleições para presidente; não há necessidade. O poder é exercido por assembleias de bairros por consenso e participação direta.

Estes conjuntos são agrupados numa confederação de municípios, condados e, finalmente, cantões. Os conjuntos são considerados legítimos apenas se tiverem pelo menos 40% de cada sexo.
Cada um destes níveis tem seus ministérios específicos ou comissões: ecologia, economia, indústria, esporte. Há também um grupo específico para as minorias étnicas e religiosas, que têm uma representação mínima garantida. E, claro, há também uma dedicada às mulheres.

Além disso, todos os cargos administrativos, seja um ministério, prefeito ou presidente de uma comunidade de vizinhos, são duais, sempre compostos por uma mulher e um homem.
Finalmente, as mulheres no Curdistão sírio têm as suas próprias instituições, totalmente autônomas, tanto na sociedade civil (Yekîtiya Star, Jinen Ciwan, na foto) e o exército (YPJ).
Esta situação improvável, impossível há cinco anos, existe graças ao trabalho árduo do movimento de libertação curdo.
Por seu lado, o PKK tem mais de quatro décadas organizando a resistência curda contra o Estado turco, um aliado do Estado islâmico.
Seus férreos valores ecológicos, feministas e democráticos, baseados na ecologia social e municipalismo libertário de Murray Bookchin, e forjado nas montanhas de neve de Bakur, são agora a inspiração para a revolução de Rojava.
De acordo com o líder do PKK Abdulah Ocalan, “sem a libertação das mulheres não pode haver libertação da sociedade”.
Em Rojava, o movimento das mulheres não é explicitamente definido como feminista. Em vez disso, eles criaram a “ginologia”, o estudo da mulher, que busca escapar do dogmatismo e do positivismo, que muitas vezes contaminam este debate, mas é profundamente política desde a sua própria existência.
Tendemos a pensar que a Europa é a panaceia social, o topo do feminismo, o auge dos direitos humanos, o paraíso dos oprimidos. Acostumados a ensinar, esquecemos de aprender.
Na Espanha, dizem que não há democracia, porque a comparamos (ainda) com a era de Franco. A gente se conforma com viver numa ditadura melhor do que a anterior. Estamos acostumados a viver com medo em nossas cozinhas, mas Rojava nos demostra que outro mundo é possível.
Então, é agora? É Rojava a sociedade ideal e utópica pela qual lutamos tantos séculos? Por fim a conseguimos?
O bom sonho contrasta com a dura realidade ao nível da rua: para além das instituições revolucionárias nas vidas privadas de muitas famílias, continua a dominar a lógica patriarcal. O papel opressivo dos homens é mais bem passivo, e são principalmente as mulheres que se reprimem umas as outras, perpetuando papéis de submissão e decência através da pressão social.
A outra grande questão não resolvida é o caso dos homossexuais, trans, etc. No momento, é um assunto completamente tabu, uma caixa esperando para ser aberta. Devemos também falar sobre questões como o aborto, a prostituição ou a infidelidade, mas isso eu deixo para outra ocasião.
Tantos séculos de dominação e assimilação pelo fundamentalismo religioso não se eliminam de um só golpe, mas a semente está lá, e se enraizou com força. O povo da Rojava está ciente de que a verdadeira revolução vai ser feita pela próxima geração.
Eles sabem que quanto maior a escola, menores são as prisões, e estão fazendo todos os esforços para criar estruturas educacionais livres para que este não seja apenas um experimento social. Perwerde, perwerde, perwerde.


Este é o fruto mais doce das revoltas de 2011, erradamente chamadas de Primavera Árabe. O Curdistão é apenas o começo. Tudo que precisa para realizar o seu (nosso) sonho democrático é ser deixado em paz.

Jin, Jiyan, Azadi.
Tradução: Diego Weissel Rovira
ET.: As imagens foram cedidas para publicação por Rojava Plan
Também pode lhe interesar (link externo): “A revolução de Rojava é uma revolução das mulheres” – Melike Yasar
* O Curdistão não existe como país. Mantivemos o texto original para não desconfigurar a matéria, anexando mais dados gerais sobre o assunto. Abaixo:
É uma região cultural e geográfica majoritariamente populada pelos curdos. Com cerca de 500.000 km² concentra-se, em sua maior parte, naTurquia, e o restante distribui-se entre IraqueIrãSíriaArmênia eAzerbaijão. Seu nome, de origem persa, significa "terra dos curdos"[3] e foi cunhado em 1150 pelo sultão seljúcida Sanjar para designar a parte do Irã ocidental povoada pelos curdos. 
Atualmente os curdos são a mais numerosa nação sem Estado no mundo. São 26 milhões de pessoas, na sua maioria muçulmanossunitas, que se organizam em clãs e, em algumas regiões, falam o idioma curdo. Suas maiores cidades ão MossulIrbilKirkuk,SaqqezHamadãErzurum e Diyarbakır.
A partir de meados do século XX, ocorrem rebeliões curdas na Turquia e no Iraque. O projeto de um Estado curdo tem opositores dos governos da região, que reprimem com violência os separatistas.
Sob o comando de Öcalan, o PKK iniciou em 1984 a luta armada contra o governo turco que não reconhece a existência da etnia curda e proíbe seu idioma. O PKK matou 30 turcos em 25 anos. Os guerrilheiros contam com o apoio do governo sírio e mantêm bases no Irão e no Iraque. A intensificação das ações do PKK quase provocou uma guerra entre Turquia e Síria, no final de 1998. Para evitar o conflito, os sírios retiram o apoio aos rebeldes e expulsaram Öcalan, que fugiu para a Federação Russa e tentou obter asilo político na Itália, sem êxito. Em fevereiro de 1999, Öcalan foi preso no Quênia, onde se refugiara na embaixada da Grécia.
Julgado na Turquia, Öcalan jurou fidelidade ao Estado turco e anunciou o fim da guerrilha do PKK, mas foi condenado à morte em junho. A sentença foi ratificada pela Suprema Corte de Apelações, em novembro. Há pressões contrárias à aplicação da sentença e a União Europeia (UE) deixou claro que a execução de Öcalan pesará na inclusão ou não da Turquia no bloco, cujos integrantes não adotam a pena capital.
A direção do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anuncia, em fevereiro de 2000, o fim da luta armada contra o governo da Turquia, em apoio às posições de seu principal líder, Abdullah Öcalan, condenado à morte pela justiça turca. Mas forças turcas continuam atacando bases do PKK no vizinho Iraque. Cerca de 40 mil pessoas já morreram no Curdistão turco devido ao conflito.
O conflito entre o governo turco e a guerrilha curda estende-se com frequência ao Curdistão iraquiano. Após a Guerra do Golfo (1991) foi criada uma zona de segurança no norte do Iraque para proteger os curdos que se rebelaram contra Saddam Hussein. Forças turcas têm invadido a região com o pretexto de destruir as bases do PKK lá instaladas. A última onda de incursões ocorreu em fevereiro e março de 2000, apesar da decisão do PKK de depor as armas.

Fonte: http://ecoviral.org/como-e-ser-mulher-no-pais-mais-democratico-do-mundo-revolucao-em-rojava-kurdistao-sirio/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Curdist%C3%A3o

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