sábado, 12 de março de 2016

MÚSICA X MULHERES



Papo Musical

AS MULHERES SILENCIADAS NO UNIVERSO DA MÚSICA CLÁSSICA

Reprodução

GYOVANA_CANEIRO


Nada mais apropriado do que, na semana do “Dia internacional da mulher”, falar do quanto a mulher foi perseguida e silenciada no universo da música clássica. Embora a música fosse vista como um “atrativo a mais” para as mulheres “de boa família”, exclui-las de atividades musicais profissionais era algo considerado completamente normal até muito pouco tempo. Num passado bem próximo, orquestras como a Filarmônica de Berlim, a Filarmônica de Viena e a Filarmônica Tcheca não permitiam a entrada de mulheres em seu corpo efetivo.
Em 1982 a clarinetista alemã Sabine Meyer (1959) foi aprovada, em audição feita atrás de um biombo, como membro efetivo da orquestra Filarmônica de Berlim, ela seria a primeira mulher na história daquele conjunto, mas numa votação dos próprios músicos ela acabou não sendo aceita com 73 votos contrários e 4 favoráveis. Assustadoramente, em pleno século 20, a grande maioria dos músicos de Berlim rejeitou uma das melhores instrumentistas simplesmente por ser mulher. Felizmente, atualmente a situação já é diferente.
Outro preconceito existente no mundo musical é entre mulheres compositoras. Um triste exemplo deste preconceito é da judia alemã Fanny Mendelssohn (1805-1847). Irmã do afamado compositor Felix Mendelssohn (1809-1847), Fanny foi, em alguns aspectos, mais talentosa do que seu famoso irmão. No entanto, teve suas ambições tolhidas pela família, inclusive pelo próprio irmão, sendo obrigada a casar e desistir de suas ambições musicais.
Um trecho da carta de Felix Mendelssohn a sua mãe, também pianista, falando a respeito da irmã Fanny Mendelssohn comprava esse preconceito: 
“Pelo que eu sei de Fanny eu diria que ela não tem inclinação e nem talento para a composição. Para uma mulher, ela já sabe a respeito de música o suficiente. Ela administra sua casa e sua família e não se preocupa com o meio musical, e, com certeza, ela não coloca estas preocupações à frente de suas preocupações domésticas. Publicar suas obras só perturbaria estas suas preocupações, e eu não posso dizer que aprovaria isso”.
Felix Mendelssohn
Outro preconceito existente é em relação às maestrinas. Por muito tempo isso foi considerado algo grotesco e as mulheres eram ridicularizadas e humilhadas por almejarem essa posição. Felizmente, os tempos mudaram e hoje mulheres estão a frente de grandes orquestras. A regente titular, desde 2012, da orquestra de São Paulo (OSESP) é a estadunidense Marin Alsop (1956). 
Outra vítima do preconceito contra mulheres foi a musicista Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935).  No Brasil de outrora, Chiquinha lutou bravamente por tudo!  Foi a primeira mulher a reger uma orquestra, a primiera mulher a trabalhar tocando piano em lojas de música. Compositora da primeira marchinha de carnaval “abre alas”, nunca teve medo. Brigou pelos direitos autorais, pelo fim da escravidão, pela proclamação da República. Uma grande mulher merecedora de todas as homenagens.
Assim se expressou Chiquinha Gonzaga:

“Quando estreei como compositora de teatro musicado, a imprensa não sabia como me tratar: maestra? Será lícito afeminar esse termo? Perguntaram. Fui a primeira mulher a reger orquestra no Brasil, ou melhor, em língua portuguesa.  (...) Foi preciso muita coragem, e, graças a Deus, ela nunca me faltou. Trabalhei muito. Fui eu só a mulher que escreveu para o teatro, eu só, sem ter ido estudar na Europa, sem amparo de governos, só e com a minha força de vontade. Fiz o que tinha que ser feito. Se serei lembrada, não sei, que importa? (...) Hoje e sempre: liberdade com dignidade através do trabalho, muito trabalho” 

Chiquinha Gonzaga.
Homenageando todas as mulheres que de alguma forma foram silenciadas ouviremos o de Fanny Mendelssohn Hensel o Trio Op 11 para violino, violoncelo e piano, publicado na Alemanha após sua morte. 
Trio Op 11

Fanny Mendelssohn Hensel(1805-1847)
Publicado, 1850 Leipzig - Alemanha
I. Allegromolto vivace
II. II. Andante expressive
III. III.Lied. Allegretto
IV.  IV. Finale. Allegretto moderato
*Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, mestre em Música na contemporaneidade, doutoranda em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa - Portugal. Promove Séries de Concertos em Goiânia. (www.concertosemgoiania.com)

Fonte: http://ludovica.opopular.com.br/blogs/papo-musical/papo-musical-1.862967/as-mulheres-silenciadas-no-universo-da-m%C3%BAsica-cl%C3%A1ssica-1.1046948

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