Conservação da natureza nas cidades: o que o Parque Ibirapuera tem com isso?
Recentemente fui questionada sobre qual seria a importância ambiental do Parque Ibirapuera dentro da cidade de São Paulo. Essa é uma boa pergunta, pois creio que muitos reconhecem sua importância social, associada à cultura e lazer, mas nem sempre a importância ambiental de áreas verdes como essas estão claras para a sociedade.
Em primeiro lugar, é importante fazer uma distinção entre os conceitos de Parque Urbano, que é o caso do Ibirapuera, e Parques Nacional, Estadual e Natural Municipal, que podem ocorrer em meio urbano, mas são unidades de conservação. Digo isso pois há alguma confusão entre esses conceitos.
Um Parque Urbano é uma área verde maior do que uma praça ou jardim público, e tem função ecológica, estética e de recreação – este é o caso do Ibirapuera e de outros Parques Urbanos no Brasil, como o Parque do Carmo em São Paulo, o Parque da Redenção em Porto Alegre e o Parque Barigui em Curitiba.
Já uma unidade de conservação da categoria Parque tem como objetivo principal a conservação da biodiversidade, podendo serem realizadas pesquisas e atividades de recreação e turismo ecológico. Alguns exemplos desse caso são o Parque Nacional da Tijuca e o Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio de Janeiro; o Parque Estadual da Cantareira, em São Paulo; e o Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo, também em São Paulo.
O Parque Ibirapuera não foi criado com a intenção de ser uma área de conservação ambiental, mas sim de ser um espaço destinado ao desenvolvimento de atividades culturais de recreação ao ar livre, tais como os famosos Hyde Park, em Londres, e Central Park, em Nova York, que inclusive inspiraram a transformação daquele espaço em uma área semelhante.
Na verdade, toda a região onde está localizado o Parque era, originalmente, uma área úmida, e na década de 1920 foram realizados plantios de eucaliptos no local com a finalidade de auxiliar na drenagem do terreno. Certamente do ponto de vista estritamente ambiental o ideal seria a manutenção das características originais desse terreno, mas considerando o contexto histórico da época e os outros usos previstos para a área, isso não ocorreu. Do ambiente original que ocupava a região ficou o nome do Parque – Ibirapuera significa “árvore apodrecida” em tupi-guarani.
No entanto, mesmo com o ambiente original alterado, hoje podemos considerar o Ibirapuera uma importantíssima área verde da cidade de São Paulo, extremamente relevante do ponto de vista ambiental e da manutenção da qualidade de vida dos moradores da região e de seus usuários.
Do ponto de vista ambiental, é possível enumerar uma série de aspectos que ressaltam os valores e serviços prestados por essa área, entre eles:
I) o Parque pode ser considerado um reduto para a fauna e flora. A Prefeitura de São Paulo considera o Ibirapuera o Parque Urbano mais bem estudado da cidade, sendo que já foram identificadas 163 espécies de animais, sendo 142 só de aves;
II) é um espaço livre de impermeabilização, o que auxilia na drenagem e infiltração da água, e a controlar enxurradas e inundações;
III) auxilia no controle da poluição atmosférica;
IV) auxilia no controle da poluição sonora;
V) contribui para a regulação microclimática, tornando o clima da vizinhança muito mais ameno.
Alguns desses aspectos que eu citei estão diretamente associados à qualidade de vida dos moradores da região e usuários. Além disso, a própria descontinuidade da malha urbana, que contribui para a diminuição da “poluição visual”, pode ser considerada um aspecto que contribui para o bem-estar da população.
Mas a importância ambiental do Parque Ibirapuera vai além das questões que comentei acima. O Parque promove oportunidades de recreação em contato com a natureza para a população, e é um verdadeiro laboratório ao ar livre que permite o desenvolvimento de atividades de educação ambiental com escolas e com o público em geral. Pelo fato de ser uma área verde imersa em uma grande metrópole, ele tem a possibilidade de ser um espaço de interação entre uma quantidade enorme de pessoas que vivem nas suas proximidades ou que o visitam. Mesmo que muitas dessas pessoas procurem o Parque com a finalidade de desenvolvimento de atividades esportivas, culturais, etc… elas acabam se sensibilizando com a importância dessa e de outras áreas verdes, e compreendem melhor a relevância da conservação de áreas naturais seja nas cidades, seja em locais mais remotos.
Claro que o Parque Ibirapuera não pode ser comparado aos parques, reservas biológicas, estações ecológicas, entre outras categorias de unidades de conservação que temos em nosso país no que se refere à proteção de remanescentes de vegetação nativa, recursos hídricos e conservação da biodiversidade, e isso pelo simples fato de que esse não é o seu objetivo principal. Mas o Ibirapuera, ou Ibira, para os íntimos, certamente está entre os mais importantes Parques Urbanos do Brasil, pelo seu tamanho, localização e quantidade de visitas que recebe. Além disso, essa área pode ser considerada estratégica para a conservação da natureza, pois há uma legião de usuários e fãs do Ibira que, em alguma medida, está mais preparada para sair em sua defesa e, quem sabe, para defender os interesses de outras áreas naturais em nosso país.
Por fim, fica a reflexão de que esses espaços, em conjunto com outras áreas protegidas, pequenas praças, parques lineares e a própria arborização urbana criam um ambiente mais favorável à manutenção da biodiversidade urbana. Áreas como essa não são apenas desejáveis em nossas cidades, mas são imprescindíveis se quisermos oferecer cidades mais amistosas para as pessoas e para a fauna e a flora que ainda restou.
* Título editado
Fonte: http://ipe.org.br/blog/conservacao-da-natureza-nas-cidades-o-que-o-parque-ibirapuera-tem-com-isso/
* Título editado
Fonte: http://ipe.org.br/blog/conservacao-da-natureza-nas-cidades-o-que-o-parque-ibirapuera-tem-com-isso/
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