quinta-feira, 30 de agosto de 2018

ÍNDIOS DO BRASIL


305 etnias e 274 línguas: estudo revela riqueza cultural entre índios no Brasil



  • – por João Fellet – BBC Brasil em Washington
  • Há mais indígenas em São Paulo do que no Pará ou no Maranhão. O número de indígenas que moram em áreas urbanas brasileiras está diminuindo, mas crescendo em aldeias e no campo. O percentual de índios que falam uma língua nativa é seis vezes maior entre os que moram em terras indígenas do que entre os que vivem em cidades.
    As conclusões integram o mais detalhado estudo já feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os povos indígenas brasileiros, baseado no Censo de 2010 e lançado no inicio do mês de junho (2017).
    Segundo o instituto, há cerca de 900 mil índios no Brasil, que se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Os dados fazem do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta. Em comparação, em todo o continente europeu, há cerca de 140 línguas autóctones, segundo um estudo publicado em 2011 pelo Instituto de História Europeia.
    No “Caderno Temático: Populações Indígenas”, o IBGE faz um mapeamento inédito sobre a localização desses povos e sua movimentação ao longo das últimas décadas.
    O estudo diz que, entre 2000 e 2010, os percentuais de indígenas brasileiros que vivem nas regiões Sul e Sudeste caíram, enquanto cresceram nas outras regiões. A região Norte abriga a maior parcela de índios brasileiros (37,4%), seguida pelo Nordeste (25,5%), Centro-Oeste (16%), Sudeste (12%) e Sul (9,2%).
Entre 2000 e 2010, também caiu o percentual de indígenas que moram em áreas urbanas, movimento contrário ao do restante da população nacional.
‘Retomadas’
Segundo a pesquisadora do IBGE Nilza Pereira, autora do texto que acompanha o estudo, uma das hipóteses para a redução no percentual de indígenas no Sul, Sudeste e em cidades são os movimentos de retorno a terras tradicionais.
Nas últimas décadas, intensificaram-se no país as chamadas “retomadas”, quando indígenas retornam às regiões de origem e reivindicam a demarcação desses territórios. Em alguns pontos, como no Nordeste e em Mato Grosso do Sul, muitos ainda aguardam a regularização das áreas, em processos conflituosos e contestados judicialmente.
Em outros casos, indígenas podem ter retornado a terras que tiveram sua demarcação concluída. Hoje 57,7% dos índios brasileiros vivem em terras indígenas.
Outra possibilidade, segundo Pereira, é que no Sul, Sudeste e nas cidades muitas pessoas que se declaravam como indígenas tenham deixado de fazê-lo.
Ainda que sua população indígena esteja em declínio, a cidade de São Paulo ocupa o quarto lugar na lista de municípios brasileiros com mais índios, com 13 mil. Parte do grupo vive em aldeias dos povos Guarani Mbya nos arredores da cidade, em territórios ainda em processo de demarcação.
O ranking é encabeçado por São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas. O município abriga 29 mil indígenas e foi o primeiro do país a aprovar como línguas oficiais, além do português, três idiomas nativos (tukano, baniwa e nheengatu).
O estudo mostra como morar numa terra indígena influencia os indicadores socioculturais dos povos. Entre os índios que residem nessas áreas, 57,3% falam ao menos uma língua nativa, índice que cai para 9,7% entre indígenas que moram em cidades.
Mesmo no Sul, região de intensa colonização e ocupação territorial, 67,5% dos índios que vivem em terras indígenas falam uma língua nativa, número só inferior ao da região Centro-Oeste (72,4%).
A taxa de fecundidade entre mulheres que moram em terras indígenas também é significativamente maior que entre as que vivem em cidades. Em terras indígenas, há 74 crianças de 0 a 4 anos para cada 100 mulheres, enquanto nas cidades há apenas 20.
Para Nilza Pereira, do IBGE, ao mostrar detalhes sobre indígenas de diferentes pontos do país, o estudo será útil para o planejamento de políticas públicas diferenciadas para esses povos. Os dados também foram usados na elaboração de vários mapas, que compõem o “Atlas Nacional do Brasil Milton Santos”.
Cultura indígena
Indígenas vêm retornando às regiões de origem para reivindicar demarcação de territórios – foto: thinkstockphotos/BBC Brasil
O ativista indígena Denilson Baniwa, cofundador da Rádio Yandê, diz à BBC Brasil que o estudo ajuda a combater a falta de conhecimento sobre os povos indígenas no Brasil.
Baniwa, que mora no Rio de Janeiro e é publicitário, diz se deparar frequentemente com pessoas que acham que “o indígena ainda é aquele de 1500”. Segundo o ativista, muitos questionam por que ele se considera indígena mesmo falando português ou usando o computador em seu trabalho.
“Respondo que cultura não é algo estático, que ela vai se adaptando com o tempo. E pergunto a eles por que não vestem as mesmas roupas usadas pelos portugueses em 1500, por que não falam aquele mesmo português e por que não usam computadores de 1995.”
Cofundador da Rádio Yandê, Denilson Baniwa – foto: Arquivo Pessoal
Para Baniwa, há ainda grande desconhecimento sobre as enormes diferenças culturais entre os povos indígenas brasileiros. Ele exemplifica citando dois povos de sua terra natal (a região do rio Negro, no Amazonas), os baniwa e os tukano.
“Comparar um baniwa a um tukano é como comparar um francês a um japonês. São povos com línguas, hábitos e características físicas bastantes distintas, e isso porque vivem bem próximos. Imagine a diferença entre um baniwa e um kaingang, um povo lá do Rio Grande do Sul?”
Ao mesmo tempo em que combate o preconceito contra indígenas que, como ele, moram em cidades, Baniwa afirma que cada povo deve ser livre para decidir como quer se relacionar com o resto da sociedade.
“Se um povo entender que o contato com o mundo moderno não será benéfico e que prefere ficar mais isolado em sua terra, vamos lutar para que essa decisão seja respeitada.”
Fonte: BBC Brasil
Fonte: https://www.revistaprosaversoearte.com/305-etnias-e-274-linguas-estudo-revela-riqueza-cultural-entre-indios-no-brasil/

TEATRO

Revisitando Sartre



Sinopse |
Entre 4 paredes, texto original de Jean-Paul Sartre, escrito em 1944. É marcado pelo existencialismo do autor, tão conhecido pela frase "O inferno são os outros", dita pela personagem Garcin. O espetáculo é ambientado em um único cenário. A peça se passa no inferno - mas não com a visão "clássica' que estamos acostumados, com demônios, punições e outros estereótipos.
Os personagens são levados a um salão sem janelas, iluminado todo o tempo, onde enclausurados, são condenados a uma "vida sem interrupções". A peça, em um ato, foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial e conta com três personagens: Garcin, Estelle e Inês. Os três personagens morreram e chegam ao inferno.
Garcin, um escritor, queria ser um herói, mas foi covarde. Inês, homossexual, funcionária dos correios, é agressiva e procura reforçar o sofrimento dos outros. Confinados nesse ambiente único, sem espelhos, as três personagens são obrigados a se ver através dos olhos dos outros. Inês tenta conquistar Estelle, que, por sua vez, mostra interesse por Garcin. À medida que a convivência se torna insuportável, conclusões e reflexões são jogadas na mesa. O inferno são os outros!
▪DATA: 11/Set
▪Horário: 20h
▪Local: Salão do Alemão - Parque de Exposições
▪Classificação Indicativa: 14 anos. É importante considerar esta informação.
▪Duração Espetáculo: 50 min.
▪Bate-papo com atores após a realização do espetáculo: 30 a 40 min. - Presença não obrigatória.


✅ Entrada Franca!!
▪Ingresso Social: Pedimos uma contribuição voluntária de 1kg de alimento não perecível (não obrigatório). Trocar com uma hora de antecedência do espetáculo, no local, na bilheteria.

▪Mais informações/agendamento de grupos: |45| 3220-5473 ou 98812-1959 (WhatsaApp) com Andressa Moraes.

BRASIL ELEIÇÕES 2018



PSOL e PSTU são partidos com mais diversidade racial; Novo é o com menos

Nas Eleições 2018, maioria dos candidatos é branca, apesar da maioria dos brasileiros ser parda; quatro partidos não tem nenhum candidato indígena


Homem negro com bandeira do Brasil (Wavebreakmedia/Thinkstock)



São Paulo – Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2016 mostram que o Brasil é mais pardo do que branco.
Dos 205,5 milhões de brasileiros, quase metade (46,7%, ou 95,9 milhões de pessoas) se declara pardo, enquanto um número  levemente menor (44,2% do total, ou 90,9 milhões de pessoas) se declara branco.
Já a população de pessoas que se declaram negras cresceu para 8,2% do total e totaliza 16,8 milhões de brasileiros.
Essas proporções, contudo, não se refletem entre aqueles que disputam as vagas nas eleições de 2018 para representar o povo brasileiro.
Do total de 28.254 candidaturas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 52,58% são de brancos, 35,52% são de pardos e 10,83% são de negros. Ainda há 0,61% que se declaram amarelos e 0,47% que se declaram indígenas.
1 entre 3 partidos (12 do total de 35) tem menos negros, proporcionalmente, entre suas candidaturas do que na população.
Mas, no balanço geral, a representação aumenta: são 10,82% de candidatos negros, até acima dos 8,2% de negros na população.

Diversidade

Levantamento de EXAME entre os 28.254 candidatos e 35 partidos cadastrados para a eleição mostra quais são as siglas com maior e menor diversidade racial na disputa. PSOL, PSTU, PT, PCdoB e Rede se destacam positivamente.
PSOL tem o maior número absoluto de candidatos negros: são 298. Proporcionalmente, é o terceiro com mais candidatos negros: 22,54% de um total de 1.322 candidatos.
Também é o partido com mais candidatos indígenas: 27. Proporcionalmente, é o terceiro partido com mais representação indígena: 2,04% do total.
Já o PSTU é, proporcionalmente, o partido com mais representantes negros: 42,18% do seu total de 211 candidatos. Também é o segundo, proporcionalmente, com mais candidatos indígenas: 3,31% (ou 7 candidatos).
A primeira colocação nesse quesito é do PCB, onde os indígenas representam 5,4% do total de 92 candidatos.
Todos os partidos têm menos candidatos pardos que brancos, ou seja: nenhum deles reflete a proporção nacional. Nenhum, tampouco, tem maioria negra.
Apenas dois partidos atingiram algo que poderia ser chamado de “equidade racial”: o PSTU e o PSC.
O PSTU tem o mesmo número de candidatos brancos e negros: 89 cada. Já o PSC tem o mesmo número de candidatos brancos e pardos: 380 cada.
Por sua vez, o PHS chega muito perto da equidade entre brancos e pardos, com proporção de 44,91% e 44,41%, respectivamente.

Partidos com mais candidatos negros (total e proporcional)

#PartidoNúmero de candidatos negros
1PSOL298
2PT275
3PCdoB182
4Rede125
5PRP114
6Patriotas109
#PartidoProporção de candidatos negros
1PSTU42,18%
2PCdoB22,89%
3PSOL22,54%
4PT21,53%
5PCB19,56%
6PMB18,85%
Proporção na população: 8,2%


Partidos com mais candidatos indígenas (total e proporcional)

#PartidoNúmero de candidatos indígenas
1PSOL27
2PT14
3Rede10
4PCdoB9
5PSTU7
5PHS7
#PartidoProporção de candidatos indígenas
1PCB5,4%
2PSTU3,31%
3PSOL2,04%
4Rede1,19%
5PCdoB1,13%
6PT1,09%
Proporção na população: 0,47%

Os mais brancos

Na outra ponta da tabela, o Partido Novo (do candidato à Presidência João Amoêdo) é o partido mais branco e menos diverso dessas eleições.
É o partido com o maior proporção de representantes brancos (84,54% do total de 414 candidatos) e menor proporção de representantes negros (apenas 1,2% do total, ou cinco candidatos). Com 13,28% de candidatos pardos, é o segundo partido com menos representantes nesta categoria.
O Novo também é um dos únicos quatro partidos que não tem nenhum candidato indígena, junto com PCO, PMN e PROS. Todos os outros 31 partidos tem ao menos um.
Outro partido que se destaca pela falta de diversidade racial é o PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro. O partido é o segundo com menor proporção de candidatos negros: 4,93% do total, ou 74 negros entre seus 1.499 candidatos.
O PSDB do presidenciável Geraldo Alckmin vem logo atrás, com a terceira menor proporção de candidatos negros: 5,87% do total, ou 55 dos 936 candidatos.
PSDB e MDB (antigo PMDB) se destacam no top 6 entre os partidos com mais brancos e no top 6 entre os partidos com menos negros.
Veja quais são os partidos com mais brancos e com menos negros candidatos:

Partidos com mais candidatos brancos (proporcional)

#PartidoProporção de candidatos brancos
1Novo84,54%
2PCO68,2%
3PSD66,08%
4PP63,66%
5MDB63,01%
6PSDB62,65%
Proporção na população: 44,2%

Partidos com menos candidatos negros (total e proporcional)

#PartidoTotal de candidatos negros
1Novo5
2PCO15
3PCB18
4PSD42
5PTB43
6PPS44
#PartidoProporção de candidatos negros
1Novo1,2%
2PSL4,93%
3PSDB5,87%
4PSD6,08%
5MDB6,21%
6PTB6,7%
Proporção na população: 8,2%

Partidos com menos candidatos indígenas 

PartidoNúmero de candidatos indígenas
1NovoZero
2PCOZero
3PMNZero
4PROSZero
5DEM1
6PMB1
7PP1
8PR1
9PRP1
10PSDB1
Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/psol-e-pstu-sao-partidos-com-mais-diversidade-novo-e-o-menos-diverso/

VIOLÊNCIA CONTRA INDÍGENAS



Polícia Militar do MS retira à força Guarani Kaiowá de retomada em Caarapó






Vídeo mostra helicóptero da Polícia Militar atacando acampamento e uma tropa de choque avançando contra indígenas da área no sul do Mato Grosso do Sul. Um indígena está desaparecido.

Um grupo de Guarani Kaiowá foi expulso da retomada Guapo´y de forma violenta, neste domingo (26 de agosto), em Caarapó, sul do Mato Grosso do Sul, segundo denúncia do Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas.

Eles ocupavam a fazenda Santa Maria desde 2016, quando a terra indígena Amambaipeguá foi declarada pela Fundação Nacional do Índio (Funai). No final de semana, eles seguiam pelo terreno, quando foram surpreendidos por um helicóptero com as inscrições da Polícia Militar, que atirou contra eles e provocou focos de incêndio no local, como pode se ver no vídeo divulgado pelo comitê.

Após o sobrevoo, uma tropa que seria formada por policiais miliares sem identificação entraram na área e retiraram os indígenas à força, como mostra o outro vídeo, publicado no Facebook. Segundo o Centro Indigenista Missionário, Ambrósio Alcebide está desaparecido desde então. O Ministério Público Federal foi acionado.

Tropa avança contra acampamento dos Guarani Kaiowá (Comitê de Solidariedade aos Povos Indígenas)
Os indígenas já vinham sofrendo pressão desde o início do ano, quando uma decisão pela 1ª Vara Federal, em Dourados, exigia a reintegração de posse do local e de outras duas retomadas, Pindo Roky e Nhamoi Guavirarí. Minutos antes da ação da Polícia Militar, o STF reverteu a decisão.

As três retomadas acontecem em uma região de constante tensão entre indígenas e fazendeiros. No dia 14 de junho de 2016, na reserva Tey’ikue, também em Caarapó, em 14 de junho de 2016, fazendeiros e seu jagunços, encapuzados, armados e equipados com retroescavadeiras e caminhonetes, mataram o agente de saúde Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza com um tiro no abdômen e no tóraz, além de ferirem outros seis indígenas, entre eles uma criança de 12 anos. O crime continua sem solução.

“A violência das forças de repressão forçaram o recuo da retomada. Porém, a corajosa luta dos Guarani e Kaiowá mantém viva a resistência, pelo direito ao Tekoha”, finaliza o vídeo do Comitê.
O De Olho entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul pelo telefone disponível no site, mas não obteve retorno.




Fonte: https://deolhonosruralistas.com.br/2018/08/27/policia-militar-do-ms-retira-a-forca-guarani-kaiowa-de-retomada-em-caarapo/

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA


Juízes terão 1º curso sobre violência obstétrica no Brasil 






Quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Fonte: Com informações do CNJ e Humanitas.
A capacidade de um juiz proferir uma sentença justa está diretamente relacionada com sua compreensão da realidade social e individual da pessoa que ele está julgando. É por esse motivo que racismo estrutural, patriarcalismo, machismo, heteronormatividade, lgbtfobia e todo tipo de preconceito são questões tão crônicas e nocivas à justiça, pois impedem que o julgador desenvolva empatia por aqueles que são diferentes dele, impedem que ele  “se coloque no lugar” de quem julga e compreenda as questões sensíveis das pessoas em cujas vidas ele está interferindo diretamente. 
É por esse motivo também que o primeiro curso sobre violência obstétrica para juízes, que será oferecido pela Escola Superior da Magistratura do Amazonas (Esmam), é uma ótima notícia – principalmente se considerarmos que casos de violência obstétrica geralmente são julgados por homens, devido a subrepresentação de mulheres na magistratura. 
Recusa de atendimento, procedimentos médicos desnecessários, imposição de cesária, agressões verbais, impedimento de a gestante escolher a forma e o local em que o parto ocorrerá e a proibição da entrada do acompanhante no momento do parto normal são algumas das situações que configuram violência obstétrica. O termo se refere aos diversos tipos de agressão a mulheres gestantes, seja no pré-natal, no parto ou pós-parto.
Este é o primeiro curso sobre violência obstétrica credenciado pela Enfam (Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados), no Brasil, e está sendo oferecido pela Escola da Magistratura do Amazonas, o que nos orgulha muito. Teremos a participação de magistrados da Justiça estadual e também membros da Defensoria Pública, Ministério Público, OAB, além de médicos e enfermeiros. A capacitação com todos esses profissionais vai enriquecer os debates em sala de aula, cada um acrescentando suas experiências diárias em relação ao tema.
Comentou o diretor da Esmam, desembargador Flávio Pascarelli, explicando que esse tema foi escolhido para aperfeiçoar o exercício profissional dos magistrados em relação aos processos judiciais envolvendo mulheres vítimas de violência obstétrica. 
Mas o assunto ainda é muito novo no âmbito jurídico. Os processos que chegam ao Judiciário Estadual nem são classificados como violência obstétrica, uma vez que a tabela estatística elaborada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e usada pelos tribunais na formatação dos dados dos processos não possui essa classificação. Parte deles é registrada como “erro médico”, ou como “responsabilidade civil”, “dano”, “lesão”, e até mesmo, nos casos que envolvem convênio e/ou hospitais particulares, “direito contratual” e “direito do consumidor”.
Isso, somado ao fato de que não há uma lei específica que traga uma definição jurídica do que é violência obstétrica no Brasil, ajuda a demonstrar o quanto o judiciário está despreparado para reconhecer e lidar com a questões.


Dor além do parto
Sofrer algum tipo de violência obstétrica é realidade para 1 em cada 4 mulheres no Brasil, segundo um estudo de 2010 realizado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC) intitulado “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”. 
Segundo reportagem do Laboratório de Jornalismo Convergente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os principais casos de violência Obstétrica são: 
Violência por negligência –  Negar atendimento ou impor dificuldades para que a gestante receba os serviços que são seus por direito. Essa violência ocasiona uma jornada de busca por atendimento durante o pré-natal e por leito na hora do parto. Ambas são bastante perigosas e desgastantes para a futura mãe. Também diz respeito a privação do direito da mulher em ter um acompanhante, o que é garantido por lei desde de 2005.
Violência Física – Práticas e intervenções desnecessárias e violentas, sem o consentimento da mulher, como a aplicação do soro com ocitocina, lavagem intestinal (além de dolorosa e constrangedora, aumenta o risco de infecções), privação da ingestão de líquidos e alimentos, exames de toque em excesso, ruptura artificial da bolsa, raspagem dos pelos pubianos, imposição de uma posição de parto que não é a escolhida pela mulher, não oferecer alívio para a dor, episiotomia sem prescrição médica, “ponto do marido”, uso do fórceps sem indicação clínica, imobilização de braços ou pernas, manobra de Kristeller (procedimento banido pela Organização Mundial de Saúde, em 2017). A cesariana também pode ser considerada uma prática de violência obstétrica, quando utilizada sem prescrição médica e sem consentimento da mulher. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior percentual de partos realizados por cesárea no mundo: enquanto a OMS orienta uma taxa ideal entre 25 e 30%, a realidade brasileira aponta que 55,6% dos partos são realizados com essa prática. O percentual é ainda mais alto na medicina privada, na qual 85,5% dos partos são feitos a partir de cesariana, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Violência verbal – Comentários constrangedores, ofensivos ou humilhantes à gestante, seja a inferiorizando por sua raça, idade, escolaridade, religião, crença, orientação sexual, condição socioeconômica, número de filhos ou estado civil, seja por ridicularizar as escolhas da paciente para seu parto, como a posição em que quer dar à luz.
Violência Psicológica – Toda ação verbal ou comportamental que cause na mulher sentimentos de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, medo, instabilidade emocional e insegurança.
Violência obstétrica em casos de abortamento – Embora seja muito aliada ao parto em si, mulheres que sofreram um aborto também podem ser vítimas de violência obstétrica. Isso pode acontecer de diversas maneiras: negação ou demora no atendimento, questionamento e acusação da mulher sobre a causa do aborto, procedimentos invasivos sem explicação, consentimento ou anestesia, culpabilização e denúncia da mulher.
É importante salientar que a violência não parte apenas do médico obstetra. Ela pode ser cometida por toda a equipe de saúde e até por recepcionistas e pela administração do hospital.
O curso
O curso será ministrado pela Artemis, organização não-governamental com sede em São Paulo e custeado pelo Humaniza Coletivo Feminista, associação sem fins lucrativos com sede em Manaus e será dividido em quatro módulos:
Fisiologia Básica e recomendações nacionais e internacionais, envolvendo questões como os aspectos psicossociais da gravidez e as intervenções comuns no parto, indicações e contraindicações de cesariana, mortalidade materna e relacionamento médico-paciente;
Sensibilização e os conceitos de violência obstétrica, as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), os direitos humanos, os conceitos de violência física, verbal e moral no atendimento obstétrico, e de indução da vontade (cesariana eletiva);
A legislação brasileira sobre violência obstétrica;
A prática jurídica nos casos de violência obstétrica (o acolhimento da mulher vítima de violência obstétrica, tipificação, plano de parto, uso extrajudicial do plano de parto, prescrição, autores e réus, Justiça Especial Cível versus Justiça comum, Direito do Consumidor, dano moral, jurisprudências, direito comparado e doutrinas, perícias); 
Por Daniel Caseiro.
Fonte: http://justificando.cartacapital.com.br/2018/08/23/juizes-terao-1o-curso-sobre-violencia-obstetrica-no-brasil/