segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

CULTURA

 

O jardim florestal com 500 plantas comestíveis que requer apenas algumas horas de trabalho por mês


 

sábado, 26 de dezembro de 2020

REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL

 

Terras da reforma agrária vão parar na mão de políticos*

Declarações de bens de candidatos mostram que eles acumulam terras em assentamentos, a maior parte deles na Amazônia, especialmente em locais com altos índices de desmatamento


Terras em assentamentos de reforma agrária apareceram nas declarações de bens de centenas de candidatos a prefeito nas eleições de 2020. Seriam eles políticos camponeses, que utilizam as propriedades para subsistência? Não exatamente. Os assentamentos são áreas públicas, algumas delas frutos de desapropriações, entregues em projetos de democratização do acesso à terra pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ou por seus similares, nos governos federal e estaduais. Um levantamento inédito feito pelo portal De Olho nos Ruralistas na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), divulgado com exclusividade por EL PAÍS, mostra que alguns desses candidatos declaram oficialmente que acumulam patrimônio milionário, diversos lotes em assentamentos —o que contraria o princípio distributivo da reforma agrária— e fazendas tradicionais, adquiridas regularmente no mercado.

Parte expressiva dessas terras fica nos nove Estados que compõem a Amazônia Legal: Mato Grosso, os sete estados da região Norte e a maior parte dos municípios do Maranhão. Foi essa região a escolhida, por governos de diferentes orientações políticas, para que pequenos produtores tivessem acesso à terra. E é nela que os políticos ostentam as terras como propriedades quaisquer. A pesquisa mostra que esses candidatos nasceram em vários pontos do país e têm ali seu Eldorado político— em meio a terras concebidas para terem função pública, e não para servirem à especulação imobiliária.

Nada menos que 895 imóveis em assentamentos foram declarados por 35 candidatos a prefeito, 38 candidatos a vice e 822 candidatos a vereador. Entre os 35 que tentam ser prefeitos, ao longo de todo o Brasil, 15 (43%) declararam possuir terras da reforma agrária na Amazônia Legal. O percentual nessa região entre os que buscam as vice-prefeituras (39%) e as Câmaras Municipais (42%) são similares. A proporção é três vezes maior que aquela entre o total de municípios da Amazônia Legal (772) e o total de municípios do país (5.570). A história de cada um desses candidatos confirma a tendência de concentração de território e renda entre políticos —com as terras da reforma agrária transformadas em instrumentos de enriquecimento.

Propriedades

Candidato à reeleição em Novo Santo Antônio, (MT), eleito com 49,13% (681 votos), o goiano Adão Soares Nogueira possui quase 5 milhões de reais. Mesmo assim ele tem terras no Projeto de Assentamento (PA) Macife I. Não um lote, mas quatro. Somente essas propriedades ultrapassam os 3 milhões de reais, conforme ele informou à Justiça Eleitoral. Conhecido como Adão Belchior, esse político do DEM nascido em Paranã, hoje um município do estado do Tocantins, viu o patrimônio saltar de 3,5 milhões de reais, quando assumiu a prefeitura, há quatro anos, para 4,9 milhões de reais.
O município na região do Araguaia foi construído em território Xavante, nas margens do Rio das Mortes. Possui 2.000 habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de 15,2 milhões de reais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas três vezes superior ao patrimônio do prefeito. O PIB per capita é de 6.840 reais. As terras entregues pelo poder público para a produção de camponeses viraram fazendas nas mãos de Belchior. Mais de 3 milhões de reais de sua riqueza — em terras que somam 582 hectares — são frutos de assentamentos. Não do que ele produz ali, apenas do preço das terras. Os assentamentos federais são de responsabilidade do Incra, criado na ditadura militar, em 1970. Alguns estados têm órgãos com a mesma função.
O acúmulo de imóveis da reforma agrária nas mãos de um único dono é visto como uma distorção do sistema. “Na melhor das hipóteses são assentamentos antigos, já bastante descaracterizados”, diz Pedro Martins, assessor jurídico da ONG Terra de Direitos na Amazônia. No caso de Adão Belchior, que acumula também terras que não eram da reforma agrária, a produção se destina à pecuária: o político goiano tem 499 cabeças de bois da raça nelore, avaliadas por ele em 1 milhão de reais. Isto localizado em um dos 267 municípios que mais desmatam no Brasil, aqueles do Arco do Desmatamento.
Outra assentada com patrimônio milionário no Arco do Desmatamento é a paranaense Carmelinda Leal Martins Coelho (DEM), prefeita de Carlinda, no norte do Mato Grosso. Entre os 2,88 milhões de reais declarados ao TSE estão 226.000 de quatro lotes no assentamento Carlinda. O próprio município nasceu de um assentamento, em 1981. Não é algo incomum na Amazônia: em Manicoré, município do sul do Amazonas que também está entre os que mais desmatam no Brasil, um projeto do Incra no quilômetro 180 da Transamazônica é hoje um vilarejo, o distrito de Santo Antônio do Matupi, um polo de expansão de madeireiros na região.
A situação em Carlinda já causava preocupação no professor Damião de Souza Ramos em 2009. Criado no assentamento, ele apontava no site Só Notícias a transferência das terras para latifundiários: “Existem linhas inteiras divididas entre dois proprietários, outras com blocos de 6, 5 e 4 sítios por proprietários”. Em 2006, na primeira eleição que disputou, a prefeita de Carlinda dispunha de 1,94 milhão de reais. Nascida em Assis Chateaubriand, no Paraná, mas radicada no Mato Grosso, a milhares de quilômetros, a candidata à reeleição pelo DEM é dona de um rebanho de 566 cabeças de boi, declaradas por 1,48 milhão de reais.

Migração para o mercado

Um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro explica que diferentes tipos de assentamento formaram diferentes perfis de beneficiários da reforma agrária. “Existem projetos desde o governo João Goulart, no início dos anos 1960”, observa. Ele foi o primeiro presidente a criar assentamentos como conhecemos, embora a entrega de grandes áreas para empresas de colonização já fossem uma prática comum, em especial no Mato Grosso. Muitos projetos foram criados, em especial na Amazônia, durante a ditadura que derrubou Goulart, sem levar em conta a necessidade dos assentados. Alguns valorizavam a capacidade econômica de quem recebia os lotes, beneficiando pessoas do sul do Brasil — e não camponeses pobres da Amazônia.
Gilmar estima que existam cerca de 1 milhão de assentados no Brasil, dos quais 400 mil fazem parte da base do MST, contrário à política de distribuição de títulos de propriedade. “Defendemos que os assentados devem receber termos de uso, com direito de hereditariedade, não que possam ser donos e vender as terras”, afirma. “Para nós, elas são um bem público comum”. O movimento teme que essas propriedades voltem ao mercado e sirvam à especulação imobiliária. “Com a desindustrialização que o Brasil vive nos últimos tempos, o capital se concentra no rentismo, no comércio e nas grandes propriedades rurais destinadas à produção de commodities”, diz.
O prefeito eleito de Alto Paraíso, em Rondônia, João Pavan (DEM) declarou dois lotes no Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) Marechal Dutra, em Ariquemes. Com outros imóveis urbanos e rurais, Pavan —mais um paranaense, de Astorga— declarou 525.000 reais em bens. O projeto de colonização entregava lotes de 100 hectares em meados dos anos 1970. O objetivo era incentivar a produção de café. Em outro PAD incentivava-se o cultivo de cacau. O senador Confúcio Moura (MDB-RO), duas vezes governador de Rondônia, declarou em 2018 ter quatro lotes no PAD. Nascido em Goiás, ele declarou quase 4,3 milhões de reais em bens. As quatro terras de 629 hectares no PAD foram registradas por 60.000 reais. Os dois lotes de Pavan, por 13.000. Alto Paraíso também está no Arco do Desmatamento.
Outros dois proprietários de terras em áreas de reforma agrária disputaram a prefeitura de Bom Jesus do Araguaia, no nordeste do Mato Grosso. O prefeito Ronaldo Rosa de Oliveira, o mato-grossense Rone do Murerê (DEM), e o vice-prefeito, Marcilei Alves de Oliveira, o goiano Mansão (PSB), foram eleitos em 2019, numa eleição suplementar feita após a cassação de Joel Ferreira (PSDB) e Edmárcio Moreira da Silva (PRP), acusados de comprar votos. Rone e Mansão decidiram se enfrentar. O patrimônio de 878.000 reais de Rone inclui um terreno no PA Macife, novamente ele, avaliado em 400.000 reais, e duas terras em Bom Jesus do Araguaia. Em 2019, ele foi acusado por vereadores de usar servidores da prefeitura em uma reforma na sua casa. Seu oponente Mansão declarou 1.186.102,67 de reais em bens e, assim como Rone, tem uma propriedade no PA Macife, de 700.000. Mais 229 cabeças de gado, avaliadas em 239.793 reais. Mansão venceu a eleição. 
Mais dublês de pecuaristas e assentados tentaram ser prefeitos no Mato Grosso. Em Novo São Joaquim, outro município formado em território Xavante, o agricultor Antônio Augusto Rodrigues (PSB) informa que o terreno de 34,81 hectares no PA Santo Idelfonso vale 600.000 reais. O projeto de assentamento foi criado em 1977, durante o governo Ernesto Geisel. Conhecido como Alemão Roque e nascido no município, Rodrigues declarou ao TSE um total de 1,27 milhão de reais, o que inclui a fazenda e 296 cabeças de gado. A média de bois por brasileiro é de pouco mais de uma cabeça por pessoa. Em entrevista por telefone, Alemão Roque afirmou que é assentado pelo Incra e que continua morando no Pará, mais precisamente no sítio Santa Augusta. “Estou no assentamento desde o começo”, afirmou. “Em 1996 começou a luta pela terra e em 1998 eu fui para lá, quando fiz 18 anos”. O candidato argumenta que sua parcela de terra não tem mais ligação com o Governo. “Fui um dos primeiros titulados. Venceu o prazo das regras vigentes, pedi a baixa da cláusula resolutiva e hoje meu lote é quitado”. Quanto às cabeças de gado, ele justifica que adquiriu ao longo dos últimos 21 anos. “A gente trabalha com arrendamento. Eu arrendo outras terras."

Estímulo à aquisição

A advogada Maíra de Souza Moreira, da ONG Terra de Direitos, diz que as alterações de legislação a partir de 2017 — início da gestão de Michel Temer (MDB), após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) — abriram margem para uma nova concentração de terras da reforma agrária e a regularização de fazendas localizadas em terras públicas. “Antes, a lei impedia a alienação das terras antes de dez anos de permanência. Agora, pode ser feita logo após a quitação”, diz. Isso facilita a reinserção precoce das terras no mercado e barra as famílias que realmente precisam se consolidar no campo. “A lei também facilita a regularização, de forma individualizada, de propriedades em terras públicas”, afirma.
Aos poucos essa lógica se expande pelas bordas da Amazônia. Em Cruzeiro do Sul, no Acre, na fronteira com o Peru, Adonis Francisco de Almeida, o Sargento Adonis (PSL), informou ao TSE possuir quatro terrenos rurais no Projeto de Assentamento Dirigido Santa Luzia, onde vivem 885 famílias, segundo o Incra. As quatro propriedades somam 334 hectares. Em duas delas ele informou ao TSE ter escritura pública, oriunda de inventário. Nas outras duas ele seria “posseiro de boa fé”, ou seja, diz que se apropriou de forma legítima, para subsistência, de um bem público. O patrimônio total do policial, que inclui 90 cabeças de gado, é de 1.152.000 de reais. Mais um assentado milionário.
Foi no PAD Santa Luzia que o PM fez seu maior evento de campanha. “Vamos libertar Cruzeiro do Sul de cem anos de escravidão política”, discursou. O assentamento foi criado no início dos anos 1980, nos últimos anos da ditadura, quando ainda se falava em “colonização” — termo com viés racista que ainda faz parte do nome do Incra. Com o ciclo da borracha em decadência, o desmatamento foi uma das principais alternativas utilizadas pelos assentados.
No Pará, um dos estados que mais desmatam no Brasil, o município de Eldorado dos Carajás ficou conhecido pelo massacre de dezenove membros do MST, no dia 17 de abril de 1996, durante operação da PM, que saiu em defesa de fazendeiros da região. A data motivou a criação do Dia Mundial da Luta pela Reforma Agrária. É ali que o prefeito Celio Rodrigues da Silva, o Celio Boiadeiro (MDB), tentou a reeleição com um patrimônio de 1,67 milhão de reais. Uma de suas propriedades fica “na área do Incra”, no PA Água Fria. E o que o candidato nascido em Arinos (MG) produz ali? Gado: ele informa ter 200 cabeças de boi, no valor de 400 mil reais — o preço de 2.000 por cabeça é o mais comum entre candidatos pecuaristas de todo o Brasil.

“Estado deveria intervir”

Para o advogado Carlos Frederico Marés de Souza Filho, professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), os dados são impressionantes. “Quem trabalha com a questão agrária desconfia que alguns assentamentos não funcionam, não dão certo”, diz o jurista, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA). “Há interesses econômicos por trás. Mas, quando a gente vê no concreto, fica pensando como eles declaram”. As informações no TSE são as mesmas que os políticos entregam à Receita Federal, com os valores originais dos bens. Muitos números, atualizados, são até dez vezes maiores.
Marés vê duas hipóteses para que tantos candidatos acumulem terras da reforma agrária. A primeira: eles realmente são assentados. “Outros compraram depois a gleba, porque ninguém recebe dois lotes. Ainda que fosse assentado em um, comprou outro no processo”. Isso indica uma reforma agrária malfeita. “Quando as políticas públicas não são adequadas, a terra volta a se concentrar”. A outra hipótese explica os milionários: eles são pessoas de fora dos assentamentos, que simplesmente compram os lotes. “Demonstra uma situação pior: políticas públicas débeis e erradas”.
Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) durante o segundo Governo de Fernando Henrique Cardoso, Marés lembra que a concentração de fazendas nas mãos de políticos sempre foi comum no país, pois a terra é uma reserva de capital. “Tem uma grande vantagem ser prefeito: você faz estradinha, arruma a estrada que já existe, faz asfalto... Isso vai valorizando a terra”, diz. “O prefeito também tem o poder de conseguir obras públicas estaduais e federais, através de seus deputados. É um bom negócio. Escandaloso, mas um bom negócio”.
Em São Geraldo do Araguaia, no Pará, o pecuarista maranhense Regivaldo Pereira da Costa (MDB) possui um lote de 173,7 hectares no que ele chama de Fazenda Nova Esperança — na verdade uma terra em assentamento, no PA Gameleira, declarada por 360 .000.  Não se elegeu, mas entre suas propostas para a prefeitura estão o projeto “Vicinal Bonita”, para deixar as estradas vicinais trafegáveis e seguras, e o programa “Estrada Legal”, para manutenção de estradas na zona rural.
Segundo Carlos Marés, a reforma agrária mal feita gera uma reconcentração de terra: “O dinheiro público faz um baita investimento para melhorar as condições de vida das pessoas e aí se reconcentra. É um sinal de que a política foi totalmente ineficaz. Não toda a reforma agrária, mas a política que levou a isso. O Estado deveria intervir”.

Esta matéria faz parte de uma série de reportagens produzida pelo site De olho nos ruralistas, um observatório do agronegócio e das políticas ruralistas no Brasil. A série foi produzida com o apoio do Amazon Rainforest Journalism Fund (Amazon RJF), em parceria com o Pulitzer Center.

* Editado

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-11-12/terras-da-reforma-agraria-vao-parar-na-mao-de-politicos.html?ssm=FB_CC&fbclid=IwAR0FBfLQ3fPjW1HYpTE8arg6z_-QJNNmRRgB5evOf-7axlOrlxiSIAdOsgk

sábado, 14 de novembro de 2020

ELEIÇÕES MUNICIPAIS NO BRASIL

 



País tem o triplo de candidatos e candidatas trans que há quatro anos, de partidos da esquerda à direita. Curitiba é a única capital com uma mulher trans na disputa pela prefeitura, do PSOL. Já no Espírito Santo, candidata bolsonarista do PMB tenta se eleger na região metropolitana de Vitória



ISADORA RUPP



Majoritariamente branca e masculina. Esse é o retrato da política brasileira, historicamente. Mas, nas eleições municipais 2020, uma série de candidaturas espera mudar esse cenário. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 49,9% dos candidatos no Brasil se declararam pretos ou pardos neste pleito. Há neste ano ainda um número recorde de pessoas transgêneros que concorrem a uma vaga seja para prefeituras ou para as câmaras de vereadores. São mais de 270 candidaturas de pessoas trans confirmadas ―em chapas de partidos da esquerda à direita―, mais que o triplo de 2016, quando 89 pessoas trans concorreram.

Em Curitiba (PR) ―oitava cidade mais populosa do Brasil, com quase dois milhões de habitantes―, é a primeira vez em que uma mulher trans concorre a uma cadeira no Executivo. Aos 68 anos, a psicanalista e socióloga Letícia Lanz, do PSOL, tenta se eleger prefeita da capital paranaense, encabeçando uma chapa 100% feminina, com a advogada Giana de Marco como sua vice. É a única candidata trans a disputar uma prefeitura nas capitais brasileiras.

É mineira, mas há 25 anos escolheu o município sulista para viver ao lado da esposa, a psicóloga Ângela Autran, com quem é casada há 43 anos e com quem tem três filhos e cinco netos. Tem entre as principais propostas promover o que chama de “economia do cuidado”, que inclui destinar imóveis abandonados para abrigar pessoas em situação de rua e produzir um modelo urbano que privilegie a periferia, e não só o centro da cidade e os bairros nobres de Curitiba. “Minha proposta é que se tenha uma vida mais gregária e coletiva. Nós vivemos uma crise de coletividade, as pessoas estão desamparadas e desacolhidas”, diz. Na capital do Paraná, das 16 chapas que concorrem ao Palácio 29 de Março, seis são encabeçadas por mulheres.

Ao contrário de uma carta divulgada por militantes do partido em julho, que falava em um “programa local de enfrentamento à burguesia”, Lanz defende o diálogo. “A visão da mulher é lúdica. Do homem, é bélica. Enfrentamento é uma palavra machista. O núcleo político e econômico é o osso que os homens não querem largar e por isso é muito difícil para as mulheres penetrarem, especialmente uma mulher trans, que é a quinta pessoa depois de ninguém”, reflete a candidata, que também é a especialista em gênero e sexualidade e mestre em sociologia.

Administrar conflitos é parte importante da vida da candidata que, embora se identificasse com o feminino desde criança, iniciou a transição de gênero após os 50 anos. “Vivi um conflito grande e se não fosse o feminismo eu estaria presa no armário até hoje", conta. Ter sobrevivido a um infarto, em 2008, fez com que Lanz consolidasse a vontade de viver como mulher, o que ela já cultivava desde a infância. “A transição foi muito dura, a vida toda eu tinha sido uma pessoa muito aberta, e minha esposa também. Sempre cultivamos uma visão boa da vida mas não é fácil sobreviver em uma sociedade encaixotada.” Ela recorda, por exemplo, que é recente a decisão que deixou de considerar uma doença a transgeneridade. Somente em 2018 a OMS retirou a transexualidade da lista de doenças mentais da Classificação Internacional de Doenças (CID). A pandemia de covid-19 não a impediu de buscar votos nas ruas, ainda que paramentada com máscara e protetor facial.

Essa também é a primeira eleição municipal da história do Brasil em que candidatas e candidatos trans podem optar pelo nome social nas urnas. Não fosse uma regulamentação aprovada há dois anos os eleitores de candidatos e candidatas trans talvez não reconheceriam o nome dos postulantes ao lado da foto na hora de votar. A mudança, entretanto, era uma reivindicação antiga de movimentos sociais, como observa Ana Cláudia Santano, professora de Direito e pesquisadora do Observatório de Direito Eleitoral da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Pela falta de regulamentação, não se usava o nome social e acontecia o constrangimento público do nome civil com uma foto não condizente na urna", explica a pesquisadora. Ao menos 165 postulantes optaram pelos nomes sociais ao invés dos nomes civis em 2020, todos eles para o Legislativo.

Candidaturas trans de esquerda, centro e direita

Do MDB, representante mor do chamado Centrão, a estreante Aghata Ferreira, 37 anos, (foto abaixo)concorre a uma vaga a vereadora na cidade de Criciúma, em Santa Catarina. Cabeleireira e estudante de pedagogia, ela se dedica a trabalhos sociais há 20 anos, o que será a sua pauta central se eleita. Quando o partido lhe fez o convite, ela decidiu que era a oportunidade de poder contribuir para desenvolver políticas públicas para a área. “Uma andorinha sozinha não faz verão. Quando o MDB veio fazer o convite, conversamos e eles me deixaram bem à vontade. Queremos fazer um time com ideias novas. Eu não tenho nem direita nem esquerda, eu luto pelo social, que é a base de tudo. Como que uma criança que mora em uma casa que o pai e a mãe estão desempregados vai conseguir ir para a escola?”, indaga Aghata, que é também secretária de diversidade do partido em Criciúma.


No Espírito Santo, uma chapa de mulheres transgênero concorre pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB), ideologicamente alinhado à direita, à prefeitura de Cariacica, cidade com quase 390.000 habitantes na região metropolitana de Vitória. Bianca Biancardi, 52 anos, e a vice, Josi Milagre, se identificam com o ultraconservador presidente Jair Bolsonaro, a quem a candidata apoiou no segundo turno das eleições em 2018 sobretudo pela bandeira de luta contra a corrupção. Na avaliação dela, as declarações transfóbicas do mandatário brasileiro estão no passado. “Sou eleitora do Bolsonaro e me sinto representada por ele. A gente vivia em uma política muito corrupta. Isso me desanimava. As declarações homofóbicas que ele fez, todos sabem, estão no passado”, afirma Bia (como prefere ser chamada), empresária e proprietária de um salão de beleza na cidade há 35 anos.

A oportunidade que a candidata teve de trabalhar em um salão de beleza aos 17 anos, poucos anos depois de começar a se identificar com o gênero feminino, é algo que lhe é muito caro. Poder trabalhar formalmente, salienta, é fundamental para evitar que pessoas trans tenham que recorrer à prostituição para sobreviver. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) estima que 90% das pessoas trans recorrem, ao menos uma vez na vida, à atividade no Brasil. “São meninas abandonadas pela família, que largam a escola e que não estariam na rua se tivessem oportunidade”, opina a candidata.

Bia elogia o trabalho da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, para melhorar a empregabilidade da população trans. “Ela tem esse projeto de capacitar as meninas trans na área de tecnologia, que é algo que eu quero copiar para Cariacica. O que é bom precisa ser copiado.” Recentemente, a candidata fez uma denúncia à ministra por ter sido excluída pela bancada evangélica do município de um evento eleitoral. “E isso aconteceu por eu ser uma mulher transgênero. Sou cristã católica e mesmo assim fui excluída”, lamenta.


Em meados de outubro, participantes de um seminário online sobre as eleições promovido pela Aliança Nacional LBGBT+ foram vítimas de zoombombingOu seja, o evento foi invadido e, na tela, foram inseridas mensagens e imagens de cunho nazista e discriminatórias. “Isso denota que mesmo que essas candidaturas cheguem elas também são mais atacadas. O status quo fica sensível a qualquer tipo de movimentação que venha com a intenção de alterá-lo”, frisa a professora Ana Cláudia Santana.

Presidenta da Antra, Keila Simpson reforça que o aumento da participação da população trans na política está relacionado à urgência em combater a violência contra mulheres e homens transgêneros no Brasl. O país lidera um triste ranking da ONG Transgender Europe de países que mais matam pessoas trans. Apenas em maio deste ano ocorreram 38 assassinatos. “Isso fez com que as pessoas começassem a lutar nos partidos políticos para conseguir achar um caminho para minorar isso. Há um despertar político das pessoas trans. Os corpos trans já são políticos por natureza, mas disputar uma eleição é uma vitória contra tudo e todos, de uma população relegada à margem."

Na análise de Keila, o espaço para pessoas trans é distinto em cada município, o que explica a adesão a partidos de ideologias tão distintas. “Obviamente, para nós, optar pela direita e extrema direita é uma surpresa, mas a gente não condena. Provavelmente foi aquele o espaço que se abriu e elas agarraram a oportunidade”. Como plano futuro, a Antra pretende realizar cursos e seminários de formação política. “Instruídas, informadas e sabedoras das ideologias de cada legenda a pessoa poderá compreender o espectro político. Se quer ser de direita, esquerda ou centro é uma decisão pessoal. Queremos formar um coletivo de pessoas ainda mais fortalecidas para disputar futuras eleições."

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-11-12/pais-mais-transfobico-do-mundo-brasil-tem-recorde-de-candidaturas-de-pessoas-trans-em-2020.html?fbclid=IwAR3iFROEqsgOWpE_eeUmyzuEkuPQwcQN7BBcKplnNHdgi8AyAyyYS8i1t_M


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

MULHERES QUE REFLORESTAM

 


Comunidades indígenas estão reflorestando os Andes

Iniciativa visa recuperar as florestas mais altas do mundo.


Conservar o que ainda existe e restaurar o que foi derrubado. É este o trabalho que vem sendo realizado por povos tradicionais no Peru que estão plantando queuñas (Polylepis spp.) – uma espécie nativa que cresce nas áreas mais altas da Cordilheira dos Andes.

Alcançando até 5.000 metros acima do nível do mar, as queuñas já foram devastadas por queimadas e pastagens, mas com o projeto “Ação Andina” ganhou novo vigor. 

Por meio da Asociación Ecosistemas Andinos (ECOAN), a iniciativa realiza ações diversas. Anualmente ocorre, por exemplo, o festival Queuna Raymi em que jovens, crianças e idosos sobem as montanhas para realizar o plantio coletivo. Mais de 100 mil árvores queuñas já foram plantadas em um único dia. 

A grande meta desta iniciativa é chegar a 1 milhão de hectares preservados, sendo que meio milhão só será possível com o reflorestamento e o outro meio milhão se dará pela proteção da floresta remanescente em seis países: Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Juntos eles formam a chamada América Andina. 

A Ação Andina tem como modelo outro projeto de reflorestamento comunitário, realizado nos Andes, que resultou no plantio de 1,3 milhão de árvores.

Benefícios

Além de remover gás carbônico, as queuñas absorvem grandes quantidades de água, contribuindo para a segurança hídrica das vilas nas montanhas e protegendo o solo de deslizamentos. A floresta também captura e armazena a água do gelo derretido dos Andes, liberando-a lentamente para as comunidades. Isso ajuda inclusive durante a estação seca.

Toda a água armazenada pela floresta ainda alimenta a Bacia Amazônica, que nasce justamente nos Andes Peruanos.


A floresta ainda é refúgio de diversas espécies selvagens e em risco de extinção. 

“Recuperar as florestas significa garantir o futuro das culturas indígenas”, afirma Constantino Aucca Chutas, líder indígena e presidente da ECOAN. A Global Forest Generation, parceira do projeto, acredita que regenerar esses ecossistemas florestais será essencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.


Fonte: https://ciclovivo.com.br/planeta/meio-ambiente/indigenas-reflorestando-andes/?fbclid=IwAR25paEcc_5RVlLWfUNvqVskx2tvucaollfLodWp2SFrbQzMXbACeWVaBCA

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

CULTURA INDÍGENA E TECNOLOGIA

 


Cunhaporanga, a indígena brasileira que está conquistando milhões de seguidores

Maira Godinho, conhecida como Cunhaporanga, decidiu usar as redes sociais para mostrar ao mundo o dia a dia dos Tatuyo




Maira Gomez Godinho, mais conhecida como Cunhaporanga, decidiu compartilhar nas redes sociais como é o dia a dia da comunidade Tatuyo. Para isso, ela e o irmão instalaram uma antena na região da aldeia e a jovem de 21 anos começou a dividir em seus perfis no Tik Tok e Instagram o cotidiano da família e amigos.

Com mais de 2 milhões de seguidores no Tik Tok e 300 mil no Instagram, Cunhaporanga está difundindo com todas estas pessoas as tradições do seu povo, com destaque para as comidas típicas, atividades econômicas como a agricultura e artesanato, o uso de plantas medicinais e os objetos naturais que fazem parte da vestimenta e rotina de sua família e amigos.





“Tenho muito o que agradecer, pelo apoio e carinho de todos que me seguem. Quero seguir publicando meus vídeos e fotos”, contou ela em entrevista ao jornal A Crítica. Recentemente ela recebeu o selo azul na rede Tik Tok, graças ao grande número de seguidores. E também ganhou seu próprio filtro com pinturas tradicionais indígenas.


Nos seus vídeos no Tik Tok, Maira ensina palavras em diferentes línguas indígenas e responde à perguntas dos seguidores sobre os hábitos e tradições de seu povo, usando as redes sociais para promover a diversidade cultural, interesse e respeito pelos povos indígenas.


Fonte: https://ciclovivo.com.br/vida-sustentavel/cunhaporanga-a-indigena-brasileira-que-esta-conquistando-milhoes-de-seguidores/?fbclid=IwAR2wCBJGnakaMKt1VpsJMrQB6NNfUkalgQP-DTotOWVa-PhxVaZsFPHEMWM

terça-feira, 8 de setembro de 2020

CORONAVÍRUS


Brasil registra 10 mil novos casos e 310 mortes por covid-19

Total de infecções chega a 4.147.794, e o de óbitos sobe para 126.960, segundo balanço oficial. Cifras reportadas em feriados costumam ser mais baixas, já que equipes de notificação funcionam em escala reduzida.


Brasil é o terceiro país do mundo em números de caso

O Brasil registrou mais 10.273 casos confirmados de covid-19 e 310 mortes em 24 horas, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Ministério da Saúde divulgados nesta segunda-feira (07/09). O balanço eleva o total de infecções para 4.147.794 e o total de óbitos para 126.960.

As cifras reportadas no fim de semana e feriados, porém, costumam ser mais baixas, já que equipes responsáveis pela notificação funcionam em escala reduzida. Diversas autoridades e instituições de saúde alertam ainda que os números reais de casos e mortes devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação. 

Ao todo, 3.355.564 pacientes se recuperaram da doença, e 665.270 estão em acompanhamento, segundo o Ministério da Saúde. O Conass não informa número de recuperados.

São Paulo é o estado brasileiro mais atingido pela epidemia, com 857.330 casos e 31.377 mortes. O total de infectados no território paulista supera os registrados em praticamente todos os países do mundo, exceto Estados Unidos (6,2 milhões), Índia (4,2 milhões) e Rússia (1 milhão). Ou seja, se São Paulo fosse um país, seria o quinto mais afetado do planeta.

A Bahia é o segundo estado brasileiro com maior número de casos, somando 271.963, seguida de Minas Gerais, com 236.012 infecções, e Rio de Janeiro, com 233.052. Além destes quatro estados, Ceará e Pará também ultrapassaram a marca de 200 mil casos da doença.

Já em número de mortos, o Rio é o segundo estado com mais vítimas, somando 16.593 óbitos. Em seguida vêm Ceará (8.566), Pernambuco (7.721), Pará (6.257), Minas Gerais (5.851) e Bahia (5.693).

A taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes é atualmente de 60,4 no Brasil – cifra bem acima da registrada em países vizinhos como a Argentina (22,16) e o Uruguai (1,30). O número brasileiro também supera o dos Estados Unidos, o país mais atingido do mundo, que tem taxa de mortalidade de 57,75.

O Brasil se aproxima de nações europeias duramente atingidas, como o Reino Unido (62,63) e a Espanha (62,69), cujas taxas praticamente se estabilizaram nos últimos meses. O Brasil é atualmente o sexto país do mundo em relação à taxa de mortalidade pela doença.

Nesta segunda-feira, a Índia superou o Brasil e se tornou o segundo país com mais casos de covid-19 em todo o mundo, em meio a recordes diários de novas infecções no país sul-asiático. Só está atrás dos Estados Unidos, que registraram mais de 6,2 milhões de casos e mais de 189 mil mortes.

Ao todo, mais de 890 mil pessoas morreram em decorrência do vírus no planeta. Depois de EUA e Brasil, os maiores números absolutos de mortes se concentram no Índia (71 mil), na México (67 mil), e no Reino Unido (41,6 mil).

CN/ots

Fonte: https://www.dw.com/pt-br/brasil-registra-10-mil-novos-casos-e-310-mortes-por-covid-19/a-54846067?fbclid=IwAR04k0TA9w4mgpFWqj-tx_H-zR42Ena_eMTqKrNTa3FW2Y0DrKJIMr-zRpY

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

POLÍTICA

 

RETORNO AO PASSADO

Reforma administrativa leva Brasil de volta ao período de cargos como moeda de troca

Dieese alerta que fim da estabilidade abrirá espaço para Bolsonaro promover perseguição política contra servidores públicos




São Paulo – A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma administrativa, encaminhada pelo governo Jair Bolsonaro ao Congresso, faz o Brasil voltar ao período anterior à Constituição Federal de 1988, transformando cargos públicos em moeda de troca política.

Na análise do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, a proposta do Bolsonaro enviada nesta quinta-feira (3) dá ao governo federal uma “centralização de poder enorme”, capaz de criar e destruir cargos públicos, o que coloca em risco a estabilidade do Estado.

“Para a organização do Estado moderno, a separação dos poderes é fundamental. Por isso cargos são criados no Legislativo e os servidores possuem estabilidade, para que as políticas de Estado atravessem governos, que só duram quatro anos”, explicou o especialista, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (4).

Perseguição política

PEC do governo federal acaba com a estabilidade para novos servidores. Além disso, o texto extingue promoções automáticas e diversos benefícios, que compensam a falta de reajuste salarial.

Por outro lado, o projeto não atinge magistrados, parlamentares, militares e membros do Ministério Público, ou seja, as categorias que têm maior remuneração e benefícios no serviço público.

Fausto Augusto lembra que o fim da estabilidade dará a Bolsonaro a possibilidade de promover perseguições políticas. No começo de agosto, o Ministério da Justiça elaborou um “dossiê” com nomes de servidores antifascistas e encaminhou para diversas instituições, inclusive às polícias.

“Esse governo tem promovido perseguições políticas e o presidente prometeu tirar todos os comunistas do Estado. Esses ‘comunistas’, na visão do governo, serão demitidos por opinião política. Ou seja, é uma busca de centralização de mais poder para o presidente da República”, criticou.

Fragilização do Estado

O diretor técnico do Dieese acrescenta ainda que o fim das promoções automáticas precarizam mais os servidores. Ele explica que os “benefícios” são compensações aos não reajustes salariais. “Parte significativa dos servidores passa anos sem reajuste e, quando há reorganização das carreiras e para compensar as perdas salariais, criam esses abonos e formas de remuneração.”

Além disso, Fausto Augusto Junior afirma que a PEC fragiliza o Estado e o acesso da população aos serviços sociais, que estão na mira da privatização. “Esses servidores atingidos serão nossos professores, médicos, assistentes sociais, ou seja, quem não é prioridade para o governo”, acrescenta.

De acordo a PEC, só serão atingidos pela reforma administrativa os novos contratados. Entretanto, o especialista alerta que essa nova legislação está ligada à reforma trabalhista de Paulo Guedes. “O governo quer propor a carteira de trabalho verde-amarela, com menos direitos. Quando o governo fala que os servidores serão contratados no regime CLT, mas de qual CLT estão falando? A atual ou a rebaixada? Isso é perigoso”, questionou.

Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2020/09/reforma-administrativa-cargos-moeda-troca/?fbclid=IwAR2cmaPk2Snao--ch0PytkXZk6ArLE3ElQ8XUW5Pveq-M67xIcl5NVfRnkQ