segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Linha de financiamento para a agricultura de baixo carbono tem pouca procura


 

Apesar dos juros baixos e das boas condições de pagamento, há R$ 3 bilhões parados no banco

por Luciana Franco 
 
 
 
Projetos que contemplam o cultivo de florestas terão prazo de 12 anos no Programa ABC


O agrônomo Luciano de Camargo Orlando acumula vasta experiência no desenvolvimento de projetos de agricultura sustentável. Apesar disso, não conseguiu acessar os recursos do Programa ABC, criado em 2010 para estimular a agricultura de baixo carbono, que oferece neste ano R$ 3,1 bilhões para agricultores e pecuaristas que se interessem em reduzir as emissões de gás carbônico de suas propriedades.

O ABC, em tese, contempla projetos de plantio direto na palha, integração lavoura-pecuária-floresta, tratamento de resíduos animais, fixação biológica de nitrogênio e recuperação de áreas degradadas. Mas na prática tem sido difícil fazer esse dinheiro chegar ao bolso do produtor. Entre as dificuldades enfrentadas por Orlando – e por centenas de produtores rurais – destacam-se principalmente a falta de conhecimento da linha e a inabilidade dos agentes financeiros em operá-la. De maneira quase silenciosa, o Ministério da Agricultura apoia a agricultura sustentável desde 2005, com programas que foram evoluindo até chegar ao ABC.

O primeiro foi o Programa de Integração Lavoura Pecuária (Prolapec), que contava com R$ 150 mil por produtor e juros de 8,75% ao ano. Em 2007, essa iniciativa se transformou no Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável (Produsa), no valor de R$ 300 mil por produtor e taxas de 6,25% ao ano. Foi essa linha que em 2010 se tornou o ABC, que oferece R$ 1 milhão por produtor a taxas de 5,5% por ano. “Mas, nos últimos seis anos, tentei a aprovação de 40 projetos nessa área e apenas um foi aprovado”, conta Orlando, que presta consultoria para agricultores do oeste da Bahia e de Goiás. As constantes dificuldades enfrentadas para a aceitação no sistema financeiro, na avaliação do consultor, fizeram com que os agricultores se desinteressassem em obter esse tipo de crédito. Na avaliação de Ronaldo Trescente, da empresa Campo Consultoria e Agronegócios, há pouca divulgação desse crédito. “Além disso, a dificuldade do agente financeiro em operar a linha impede a aprovação do crédito”, avalia.

“É comum que os gerentes deixem de lado os papéis carimbados pelo governo federal, com juros de 5,5% ao ano, e ofereçam aos correntistas dinheiro de custo mais alto, de 7% ao mês”, avalia. O Banco do Brasil responde atualmente por 80% da oferta de recursos para o setor rural, mas em qualquer banco público ou privado é possível acessar linhas de financiamento da agricultura. Trescente aponta ainda outro problema comum na aprovação do crédito: a falta de conhecimento dos índices da agropecuária.

“O agente financeiro, em geral, é um economista, e como tal desconhece os índices rurais, portanto, se, por exemplo, receber um projeto que prevê quatro cabeças de boi num hectare e compará-lo aos índices oficiais do governo, que apontam como média no Brasil 0,7 cabeça por hectare, ele não aprovará o projeto, por acreditar que o indicador apresentado é elevado demais. Questões como essa travam a análise”, explica Trescente. Outros pontos que contribuem para que o Projeto ABC não decole são as altas garantias que o banco exige, que devem somar o dobro do valor emprestado, e a falta de técnicos capacitados para elaborar um projeto e dar assistência ao produtor rural.

Do lado de dentro da porteira, o entrave é o fato de o agricultor brasileiro ter investido na agricultura especializada. “Para muitos produtores que se especializaram na monoatividade, diversificar é complexo”, afirma Trescente.

Não foi para o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, que adotou a integração lavoura-pecuária há nove anos na propriedade que mantém em Baldim (MG). “Há anos estou tentando ampliar”, afirma Paolinelli, que em 2010 entrou com pedido de financiamento pelo Programa ABC no Banco do Brasil. O projeto foi um dos poucos aprovados no país e os recursos foram liberados em julho deste ano. Além do R$ 1 milhão obtido no banco, o produtor vai aplicar mais R$ 400 mil em recursos próprios. Os benefícios da integração ele enumera sem dificuldade: “A terra fica muito melhor, com mais matéria orgânica, mais fertilidade, menos erosão e mais absorção de água”.



Fonte: Alerta do Google - integração lavoura pecuária orgânica/ http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI270208-18283,00- LINHA+DE+FINANCIAMENTO+PARA+A+AGRICULTURA+DE+BAIXO+CARBONO+TEM+POUCA+PROCUR.html

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