terça-feira, 8 de janeiro de 2013

COMUNICAÇÃO


Democracia na comunicação e necessidades revolucionárias

 


Podemos identificar três eixos básicos de sustentação da hegemonia das classes dominantes, hegemonia esta que mantém os trabalhadores alienados do produto de seu trabalho e da realidade mais profunda das causas históricas e atuais da opressão que sofre. E é na transformação dialética – concomitante e dialógica – desses três eixos que reside a possibilidade de mudança nas injustas e violentas estruturas da sociedade atual.
Revoluçao
O primeiro desses eixos é o Estado tal como se apresenta – assim foi construído – neste momento histórico. Um Estado controlado pelos especuladores e por conglomerados internacionais, imediatamente seguidos pelas grandes empresas nacionais; um Estado que, ao invés de atuar como um contrabalanço que reduza a situação de exploração, em defesa dos trabalhadores e das inevitáveis vítimas do sistema, posiciona-se ao lado dos opressores, e usa de suas instituições – a polícia, em especial – não para atacar a pobreza, mas para atacar os pobres.
O segundo eixo é a “empresa”, o que na situação atual quer dizer basicamente empresa privada, voltada apenas ao lucro, obtido através da exploração feroz da mão de obra trabalhadora. A “empresa” não é o pequeno negócio, que luta para sobreviver, mas justamente seus grandes inimigos: os conglomerados, as grandes corporações, representadas fundamentalmente por empreiteiras, fábricas de automóveis, indústria farmacêutica, indústria armamentícia, etc.
O terceiro eixo, e é este o que aqui, de acordo com as propostas deste artigo, mais nos interessa, é o aparelho ideológico: as igrejas, a indústria cultural, a educação formal e os grandes meios de comunicação – grandes enquanto empresas, não enquanto meios de comunicação, e aqui cabe destacar que é também a partir de seu caráter de “empresa”, mas de empresas especiais, que se organizam alguns dos instrumentos do aparelho ideológico da dominação.
A modernização do capitalismo tem levado à constante adaptação do Estado às novas necessidades exigidas dele como aparelho de sustentação. A social democracia é o exemplo mais bem acabado, e talvez ainda mais o seja a social democracia brasileira representada pelos três primeiros governos do PT no nível federal. Fenômeno semelhante acontece com as empresas, que respondem com perspicácia às novas necessidades e às novas exigências dos trabalhadores: a “qualidade no trabalho” é algo cada vez mais constante nos discursos e nas cartilhas, ainda que a precarização esteja presente em diversos setores da economia de forma extremamente agressiva e de forma menos aparente quando se fala, por exemplo, em contratos de pessoas jurídicas para contratação de pessoas físicas.
Ainda assim, esses obstáculos à transformação estrutural – o Estado tal como hoje se apresenta e as grandes empresas privadas – poderiam ser mais facilmente atacados através da apropriação, pela maioria da população, da realidade objetiva que a cerca, sem liberdade, sem autonomia, sem direito ao produto do próprio trabalho, sem poder de decisão e de expressão. E isso só pode acontecer a partir da refundação dos espaços de comunicação. Daí a importância de democratizar-se a comunicação, de destruir o atual modelo excludente para construir um novo modelo inclusivo, democrático, horizontal e popular.
O aparelho ideológico dominante foi o que mais modernizou-se com a modernização do capitalismo, foi o que mais aperfeiçoou-se para continuar oferecendo doses diárias de alienação – de afastamento do conhecimento da realidade e, como consequência obvia, da intervenção sobre ela. A mídia oligárquica constrói consensos, transforma conceitos forjados por ela própria em obviedades, traveste de natural o que é cultural e histórico e, como tal, transformável pela ação dos homens. E não faz isso sob a égide de um jornalista, de um editor, mas de um modelo que, tal como foi formado e do modo como está distribuído, só pode atuar dessa forma e com essa consequência: a manutenção da divisão e da apatia nos setores sociais potencialmente transformadores.
Uma revolução – entendida como mudança nas estruturas políticas, sociais e econômicas – não se faz de uma hora para outra, mas com a tomada de consciência da existência de condições objetivas – exploração econômica, opressão política – e, assim, com a criação paulatina de condições subjetivas – noção de classe e vontade de modificar as condições objetivas identificadas. Um dos avanços fundamentais, nesse sentido, é a mudança do modelo de mídia.
Com uma mídia democrática, horizontal e plural, mais e mais informações passam imediatamente a circular e a realidade aproxima-se das pessoas e aproxima uma das outras. Ao mesmo tempo, a participação do povo organizado em espaços midiáticos constrói cidadania, pois trabalhando coletivamente e formulando informações sobre sua própria realidade os indivíduos também se veem obrigados a refletirem sobre ela e, consequência da união entre reflexão e formulação, também atuam sobre essa realidade, transformando-a e abrindo a possibilidade de novas transformações em outras estruturas. É por tudo isso que a mídia dominante e as oligarquias que ela representa temem tanto uma mudança no modelo de comunicação. E é exatamente por isso que precisamos construí-la.




FONTE: http://jornalismob.com/2013/01/07/a-democracia-na-comunicacao-e-as-necessidades-revolucionarias/#comment-15878

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