Democracia na comunicação e necessidades revolucionárias
Podemos
identificar três eixos básicos de sustentação da hegemonia das classes
dominantes, hegemonia esta que mantém os trabalhadores alienados do
produto de seu trabalho e da realidade mais profunda das causas
históricas e atuais da opressão que sofre. E é na transformação
dialética – concomitante e dialógica – desses três eixos que reside a
possibilidade de mudança nas injustas e violentas estruturas da
sociedade atual.
O primeiro
desses eixos é o Estado tal como se apresenta – assim foi construído –
neste momento histórico. Um Estado controlado pelos especuladores e por
conglomerados internacionais, imediatamente seguidos pelas grandes
empresas nacionais; um Estado que, ao invés de atuar como um
contrabalanço que reduza a situação de exploração, em defesa dos
trabalhadores e das inevitáveis vítimas do sistema, posiciona-se ao lado
dos opressores, e usa de suas instituições – a polícia, em especial –
não para atacar a pobreza, mas para atacar os pobres.
O segundo
eixo é a “empresa”, o que na situação atual quer dizer basicamente
empresa privada, voltada apenas ao lucro, obtido através da exploração
feroz da mão de obra trabalhadora. A “empresa” não é o pequeno negócio,
que luta para sobreviver, mas justamente seus grandes inimigos: os
conglomerados, as grandes corporações, representadas fundamentalmente
por empreiteiras, fábricas de automóveis, indústria farmacêutica,
indústria armamentícia, etc.
O terceiro
eixo, e é este o que aqui, de acordo com as propostas deste artigo, mais
nos interessa, é o aparelho ideológico: as igrejas, a indústria
cultural, a educação formal e os grandes meios de comunicação – grandes
enquanto empresas, não enquanto meios de comunicação, e aqui cabe
destacar que é também a partir de seu caráter de “empresa”, mas de
empresas especiais, que se organizam alguns dos instrumentos do aparelho
ideológico da dominação.
A
modernização do capitalismo tem levado à constante adaptação do Estado
às novas necessidades exigidas dele como aparelho de sustentação. A
social democracia é o exemplo mais bem acabado, e talvez ainda mais o
seja a social democracia brasileira representada pelos três primeiros
governos do PT no nível federal. Fenômeno semelhante acontece com as
empresas, que respondem com perspicácia às novas necessidades e às novas
exigências dos trabalhadores: a “qualidade no trabalho” é algo cada vez
mais constante nos discursos e nas cartilhas, ainda que a precarização
esteja presente em diversos setores da economia de forma extremamente
agressiva e de forma menos aparente quando se fala, por exemplo, em
contratos de pessoas jurídicas para contratação de pessoas físicas.
Ainda assim,
esses obstáculos à transformação estrutural – o Estado tal como hoje se
apresenta e as grandes empresas privadas – poderiam ser mais facilmente
atacados através da apropriação, pela maioria da população, da
realidade objetiva que a cerca, sem liberdade, sem autonomia, sem
direito ao produto do próprio trabalho, sem poder de decisão e de
expressão. E isso só pode acontecer a partir da refundação dos espaços
de comunicação. Daí a importância de democratizar-se a comunicação, de
destruir o atual modelo excludente para construir um novo modelo
inclusivo, democrático, horizontal e popular.
O aparelho
ideológico dominante foi o que mais modernizou-se com a modernização do
capitalismo, foi o que mais aperfeiçoou-se para continuar oferecendo
doses diárias de alienação – de afastamento do conhecimento da realidade
e, como consequência obvia, da intervenção sobre ela. A mídia
oligárquica constrói consensos, transforma conceitos forjados por ela
própria em obviedades, traveste de natural o que é cultural e histórico
e, como tal, transformável pela ação dos homens. E não faz isso sob a
égide de um jornalista, de um editor, mas de um modelo que, tal como foi
formado e do modo como está distribuído, só pode atuar dessa forma e
com essa consequência: a manutenção da divisão e da apatia nos setores
sociais potencialmente transformadores.
Uma
revolução – entendida como mudança nas estruturas políticas, sociais e
econômicas – não se faz de uma hora para outra, mas com a tomada de
consciência da existência de condições objetivas – exploração econômica,
opressão política – e, assim, com a criação paulatina de condições
subjetivas – noção de classe e vontade de modificar as condições
objetivas identificadas. Um dos avanços fundamentais, nesse sentido, é a
mudança do modelo de mídia.
Com uma
mídia democrática, horizontal e plural, mais e mais informações passam
imediatamente a circular e a realidade aproxima-se das pessoas e
aproxima uma das outras. Ao mesmo tempo, a participação do povo
organizado em espaços midiáticos constrói cidadania, pois trabalhando
coletivamente e formulando informações sobre sua própria realidade os
indivíduos também se veem obrigados a refletirem sobre ela e,
consequência da união entre reflexão e formulação, também atuam sobre
essa realidade, transformando-a e abrindo a possibilidade de novas
transformações em outras estruturas. É por tudo isso que a mídia
dominante e as oligarquias que ela representa temem tanto uma mudança no
modelo de comunicação. E é exatamente por isso que precisamos
construí-la.
FONTE: http://jornalismob.com/2013/01/07/a-democracia-na-comunicacao-e-as-necessidades-revolucionarias/#comment-15878
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