quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

COMUNICAÇÃO



Democracia na comunicação e necessidades revolucionárias – parte II

 


Destacamos, no artigo anterior, a possibilidade de utilizar a democratização da mídia como um caminho revolucionário. Entendemos que este eixo – o aparato ideológico e, mais especificamente, a comunicação – dialoga com outros dois (o Estado burguês e as grandes empresas privadas), enquanto sustentáculo de um sistema que precisa ser derrubado, e é por isso que precisa ser atacado e radicalmente modificado. É a desconstrução dialógica destes três eixos e sua reconstrução sob outros paradigmas – Estado, empresas e comunicação controlados pelo povo – a mais profunda motivação das lutas pela democratização da mídia.
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Dito isso, como, então, atacar a esse eixo comunicacional / ideológico / discursivo? E como reconstruí-lo? Trata-se, novamente, de movimentos dialógicos, dinâmicos e dialéticos, entre o trabalho de produção informativa nas bases e a crítica ao discurso alienante – afastado da realidade – da mídia dominante; entre a organização da mídia contra-hegemônica e seu fortalecimento, e a pressão sobre o governo federal no sentido de atuação estatal nos aspectos legais e institucionais – incluindo a redistribuição total das verbas de publicidade; e, finalmente, entre a destruição do modelo midiático atual, oligárquico, autoritário e excludente, e a construção de um novo modelo, popular, democrático e plural.
Em relação à dinâmica trabalho de produção informativa nas bases x crítica ao discurso alienante da mídia dominante, é uma questão de orientação ética e de percepção de mundo que deve nortear o trabalho da mídia contra-hegemônica. Comunicadores independentes ou veículos alternativos que trabalham apenas por seu próprio fortalecimento nada têm de contra-hegemônicos, na medida em que apenas reproduzem, em um grau menor e com menos potencial, as práticas da mídia oligárquica. Mesmo que as informações prestadas dialoguem com a realidade de forma mais próxima, e mesmo que o discurso esteja coberto por uma capa alternativa ou de esquerda, não se pode ser efetivamente contra-hegemônico – e, por conseguinte, de esquerda – sem ir além do próprio umbigo, sem pensar a comunicação de forma solidária e sem perceber que não adianta produzirmos nossas próprias informações se todos não têm o mesmo direito.
O segundo diálogo que apresentamos aqui como fundamental se dá na dualidade organização da mídia contra-hegemônica x pressão sobre o governo federal. Ao mesmo tempo em que é preciso construir linhas de unidade em direção ao fortalecimento da mídia alternativa, não se pode perder de vista a necessidade de exercer constante pressão sobre as entidades e os personagens políticos responsáveis por agir diretamente sobre o modelo midiático.
A unidade na diversidade é fundamental, pois algumas pautas e objetivos são comuns, incluindo a “questão da mídia”, o que desemboca na construção de debates a respeito dessa temática e na atuação conjunta de pressão e exigência, por todos os meios, de absorção dessa pauta pelo governo federal e pelas demais instâncias dos poderes representativos – Executivo e Legislativo – e de entendimento, pelo Judiciário, da necessidade de mudanças profundas para que a democracia possa avançar. Essas pressões serão melhor exercidas se conseguirmos construir unidade, sem perder a rica diversidade que os vários meios de comunicação alternativos podem e devem apresentar – construindo pontes entre as realidades específicas com o sentido de enxergar e jogar luz sobre a realidade geral da mídia contra-hegemônica, da conjuntura midiática, e da sociedade como um todo.
O último ponto que levantamos foi a dialética destruição do modelo midiático atual, oligárquico, autoritário e excludente x construção de um novo modelo, popular, democrático e plural. Conforme afirmamos na descrição do último ponto, é preciso também aqui lembrar a importância de unir o específico ao geral, quer dizer, construir a percepção de que, concomitantemente à tarefa de informação e produção de conteúdo factual ou de reportagem, deve-se manter viva a visualização de que o problema do jornalismo e da comunicação atual não é apenas de conteúdo, mas de orientação geral, ou seja, não é específica e casual, mas fundamentalmente estrutural. É a prática geral, o modus operandi, o habitus o que acaba por formular o discurso elitista, alienante, omisso e mentiroso da velha mídia. E esse modus operandi não tem outra origem que não o modelo vertical e autoritário em que está organizada a comunicação. O discurso é apenas a ponta do iceberg, para usar uma imagem óbvia, mas eloquente.
Então, ao mesmo tempo em que se busca formas de destruição do atual modelo, é impreterível construir um novo paradigma para tornar-se a base sobre a qual se assente a nova mídia. E esse novo paradigma tem de ser oposto ao velho, ou seja, popular, democrático e plural, passando por uma mídia comunitária forte, assim como por uma mídia sindical atuante e unitária e outros setores de mídia popular igualmente representativos.
Para construir caminhos – e caminhar – em direção à democratização da comunicação como práxis revolucionária, são basilares os três pontos de diálogo referidos acima, como também é fundamental o diálogo imediatamente superior, entre os três pontos. São, todos eles, condições para que a substituição do velho modelo midiático não seja interrompida ou corrompida em favor de uma mudança parcializada e incompleta, e, como tal, insuficiente para as necessidades revolucionárias que se apresentam.

FONTE: http://jornalismob.com/2013/01/08/democracia-na-comunicacao-e-necessidades-revolucionarias-parte-ii/

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