Democracia na comunicação e necessidades revolucionárias – parte II
Destacamos, no artigo anterior,
a possibilidade de utilizar a democratização da mídia como um caminho
revolucionário. Entendemos que este eixo – o aparato ideológico e, mais
especificamente, a comunicação – dialoga com outros dois (o Estado
burguês e as grandes empresas privadas), enquanto sustentáculo de um
sistema que precisa ser derrubado, e é por isso que precisa ser atacado e
radicalmente modificado. É a desconstrução dialógica destes três eixos e
sua reconstrução sob outros paradigmas – Estado, empresas e comunicação
controlados pelo povo – a mais profunda motivação das lutas pela
democratização da mídia.
Dito isso,
como, então, atacar a esse eixo comunicacional / ideológico /
discursivo? E como reconstruí-lo? Trata-se, novamente, de movimentos
dialógicos, dinâmicos e dialéticos, entre o trabalho de produção
informativa nas bases e a crítica ao discurso alienante – afastado da
realidade – da mídia dominante; entre a organização da mídia
contra-hegemônica e seu fortalecimento, e a pressão sobre o governo
federal no sentido de atuação estatal nos aspectos legais e
institucionais – incluindo a redistribuição total das verbas de
publicidade; e, finalmente, entre a destruição do modelo midiático
atual, oligárquico, autoritário e excludente, e a construção de um novo
modelo, popular, democrático e plural.
Em relação à dinâmica trabalho de produção informativa nas bases x crítica ao discurso alienante da mídia dominante,
é uma questão de orientação ética e de percepção de mundo que deve
nortear o trabalho da mídia contra-hegemônica. Comunicadores
independentes ou veículos alternativos que trabalham apenas por seu
próprio fortalecimento nada têm de contra-hegemônicos, na medida em que
apenas reproduzem, em um grau menor e com menos potencial, as práticas
da mídia oligárquica. Mesmo que as informações prestadas dialoguem com a
realidade de forma mais próxima, e mesmo que o discurso esteja coberto
por uma capa alternativa ou de esquerda, não se pode ser efetivamente contra-hegemônico – e, por conseguinte, de esquerda
– sem ir além do próprio umbigo, sem pensar a comunicação de forma
solidária e sem perceber que não adianta produzirmos nossas próprias
informações se todos não têm o mesmo direito.
O segundo diálogo que apresentamos aqui como fundamental se dá na dualidade organização da mídia contra-hegemônica x pressão sobre o governo federal.
Ao mesmo tempo em que é preciso construir linhas de unidade em direção
ao fortalecimento da mídia alternativa, não se pode perder de vista a
necessidade de exercer constante pressão sobre as entidades e os
personagens políticos responsáveis por agir diretamente sobre o modelo
midiático.
A unidade na
diversidade é fundamental, pois algumas pautas e objetivos são comuns,
incluindo a “questão da mídia”, o que desemboca na construção de debates
a respeito dessa temática e na atuação conjunta de pressão e exigência,
por todos os meios, de absorção dessa pauta pelo governo federal e
pelas demais instâncias dos poderes representativos – Executivo e
Legislativo – e de entendimento, pelo Judiciário, da necessidade de
mudanças profundas para que a democracia possa avançar. Essas pressões
serão melhor exercidas se conseguirmos construir unidade, sem perder a
rica diversidade que os vários meios de comunicação alternativos podem e
devem apresentar – construindo pontes entre as realidades específicas
com o sentido de enxergar e jogar luz sobre a realidade geral da mídia
contra-hegemônica, da conjuntura midiática, e da sociedade como um todo.
O último ponto que levantamos foi a dialética destruição
do modelo midiático atual, oligárquico, autoritário e excludente x
construção de um novo modelo, popular, democrático e plural.
Conforme afirmamos na descrição do último ponto, é preciso também aqui
lembrar a importância de unir o específico ao geral, quer dizer,
construir a percepção de que, concomitantemente à tarefa de informação e
produção de conteúdo factual ou de reportagem, deve-se manter viva a
visualização de que o problema do jornalismo e da comunicação atual não é
apenas de conteúdo, mas de orientação geral, ou seja, não é específica e
casual, mas fundamentalmente estrutural. É a prática geral, o modus operandi, o habitus o que acaba por formular o discurso elitista, alienante, omisso e mentiroso da velha mídia. E esse modus operandi
não tem outra origem que não o modelo vertical e autoritário em que
está organizada a comunicação. O discurso é apenas a ponta do iceberg,
para usar uma imagem óbvia, mas eloquente.
Então, ao
mesmo tempo em que se busca formas de destruição do atual modelo, é
impreterível construir um novo paradigma para tornar-se a base sobre a
qual se assente a nova mídia. E esse novo paradigma tem de ser oposto ao
velho, ou seja, popular, democrático e plural, passando por uma mídia
comunitária forte, assim como por uma mídia sindical atuante e unitária e
outros setores de mídia popular igualmente representativos.
Para
construir caminhos – e caminhar – em direção à democratização da
comunicação como práxis revolucionária, são basilares os três pontos de
diálogo referidos acima, como também é fundamental o diálogo
imediatamente superior, entre os três pontos. São, todos eles,
condições para que a substituição do velho modelo midiático não seja
interrompida ou corrompida em favor de uma mudança parcializada e
incompleta, e, como tal, insuficiente para as necessidades
revolucionárias que se apresentam.
FONTE: http://jornalismob.com/2013/01/08/democracia-na-comunicacao-e-necessidades-revolucionarias-parte-ii/
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