quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

COMUNICAÇÃO



Democracia na comunicação e necessidades revolucionárias – parte III


Conforme afirmamos nos dois artigos recém publicados neste espaço (AQUI e AQUI), a democratização da comunicação possui grande potencial revolucionário, na medida em que o aparelho ideológico é um dos sustentáculos básicos da estrutura capitalista (os outros são o Estado burguês e as grandes empresas privadas). Nas transformações – dialéticas – necessárias para a mudança de sistema, então, o desmonte do sustentáculo ideológico – mídia, igrejas, educação formal, etc – é condição sine qua non, e, já que a comunicação é uma necessidade humana – e um direito usurpado – é preciso reconstruir o aparato midiático a partir de uma orientação popular, democrática, horizontal e plural.
A inversão do modelo midiático e as ações que convergem em sua direção (como explicitadas no artigo mais recente) faz-se necessária não apenas enquanto instrumento de transformações mais profundas no âmbito nacional, mas também como pressuposto de qualquer luta internacionalista séria.

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Temos visto recentemente na América Latina a ascensão de governos de esquerda e centro-esquerda. Estes – em cada uma de suas ações progressistas –, e aqueles – em todos os seus movimentos – são atacados de forma visceral pela mídia dominante. Falo especificamente do Brasil, mas o conceito pode ser generalizado sem grande prejuízo de exatidão. O capitalismo moderno é fundamentalmente internacional, determinados padrões são seguidos globalmente, e a orientação da mídia burguesa hegemônica pouco difere de um lugar para o outro. Sua função é a mesma: a conservação do poder oligárquico através da alienação, do afastamento do povo em relação à realidade objetiva que o cerca.
Os exemplos dos governos de Hugo Chávez, na Venezuela, Evo Morales, na Bolívia, e Rafael Correa, no Equador, são os mais recentes, mas Cuba, assolada pelo criminoso bloqueio econômico estadunidense desde 1962, sofre também desde lá com um bloqueio igualmente agressivo, venenoso e danoso: o bloqueio midiático. Agressivo, venenoso e danoso não só a Cuba, mas a todas as nações do mundo, a todos os povos do planeta, atingidos em seu direito à informação, ao conhecimento e à realidade – e à ação sobre ela.
Revoluções não podem ser exportadas, mas o exemplo internacional de transformações ajuda a desnaturalizar a realidade, ajuda a entendê-la como cultural, histórica, e passível das mudanças que a humanidade desejar, sejam elas quais forem. O conhecimento sobre realidades diferentes, sobre lutas populares travadas em todo o mundo, servem diretamente às causas nacionais, como estímulo, como demonstração de que utopias são diferentes de ilusões. Utopias são situações ainda não alcançadas, mas alcançáveis, que podem vir a ter lugar na História. Em alguns lugares, certas utopias já foram alcançadas, e outras estão mais próximas de realizarem-se por conta do entendimento de que podem efetivar-se desde que atuemos de forma organizada nessa direção. É essa possibilidade de mudança que a mídia oligárquica quer esconder quando mente, distorce ou omite informações sobre o que se passa à nossa volta.
Em momento algum Cuba desrespeitou a soberania estadunidense ou as escolhas de qualquer povo do mundo. É atacada – inclusive pela mídia hegemônica – não por ser uma ameaça direta, mas por configurar uma ameaça simbólica enquanto exemplo de que tudo pode ser diferente, especialmente nos países subdesenvolvidos. A trajetória da Revolução Cubana e mesmo de Cuba pré-59 deixa à mostra os males causados pelo capitalismo nas relações internas e por sua expressão internacional, o imperialismo, ao mesmo tempo em que explicita as soluções e os avanços decorrentes da soberania nacional e popular, as transformações possíveis quando o povo toma em suas mãos os rumos de seu país. Algo semelhante acontece na Venezuela, na Bolívia e no Equador, e, em menor grau, na Argentina – por exemplo com a Ley de Medios.
No mesmo sentido mas com direção oposta caminha costumeiramente a cobertura relacionado ao aparato estatal capitalista. Nas Ditaduras Militares que se espalharam pela América Latina nos anos 1960 e 70, por exemplo, a mídia dominante foi importante instrumento de sustentação de regimes políticos que sequestraram, torturaram e assassinaram enquanto suas práticas econômicas contribuíam para o quadro de pobreza que veio a ter seu auge no período neoliberal dos anos 1990. Também novos golpes das oligárquicas incomodadas por avanços populares, golpes abertos ou “brancos”, como em Honduras e no Paraguai, a mídia corporativa local e internacional cumpre o papel de referendar os governos golpistas e omitir os interesses estrangeiros constantemente envolvidos nessas situações. O mesmo aconteceu no golpe sofrido por Hugo Chávez na Venezuela em 2002, prontamente derrotado pela mobilização popular apesar da participação direta da mídia privada venezuelana na tentativa de derrubada do presidente.
A sensação – real – de pertencimento confere aos oprimidos um maior potencial de luta na medida em que a revolta latente ganha consistência e, com a identificação com o coletivo – os trabalhadores – rompe o isolamento e enterra o constrangimento de se sentir sozinho, isolado na indignação.
Ao mesmo tempo em que bloqueia as informações sobre os avanços populares pelo mundo, a mídia oligárquica procura criar falsas rivalidades e fortalecer as já existentes, escondendo o fato de que a mesma opressão sofrida pelos trabalhadores aqui também é vivida logo ali, dividindo a humanidade entre países “distantes” quando, na realidade, a maior distância está entre opressores e oprimidos de todo o mundo.
A partir de todas essas observações, fica clara mais uma situação que torna tão urgente a democratização da comunicação onde esta puder acontecer e o enorme potencial revolucionário desse tipo de transformação. A construção de revoluções nacionais passa pela consciência do internacionalismo revolucionário e pela noção de que o isolamento reduz a possibilidade de aprofundamento de mudanças em qualquer país, enquanto a multiplicação de revolucionários e revoluções leva a um efeito cascata, desde que as informações sobre os avanços consigam circular.

 Fonte: http://jornalismob.com/2013/01/09/democracia-na-comunicacao-e-necessidades-revolucionarias-parte-iii/

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