terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ALIMENTAÇÃO


ONU recomenda mudança global para dieta sem carne e sem laticínios

INT 4441725759 3f96c02dc2Foto ilustrativa / reprodução internet.

Uma mudança global para uma dieta vegana é vital para salvar o mundo da fome, da escassez de combustíveis e dos piores impactos das mudanças climáticas, afirmou hoje um relatório da ONU. Na medida em que a população mundial avança para o número previzível de 9,1 bilhões de pessoas em 2050 e o apeite por carne e laticínios ocidental é insustentável, diz o relatório do painel internacional de gerenciamento de recursos sustentáveis do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP).
Diz o relatório: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam sustancialmente devido ao crescimento da população e do consumo de produtos de origem animal. Ao contrário dos que ocorre com os combustíveis fósseis, é difícil procurar por alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução substancial nos impactos somente seria possível com uma mudança substancial na alimentação, eliminando produtos de origem animal”.
O professor Edgar Hertwich, principal autor do relatório, disse: “Produtos de origem animal causam mais danos do que produzir minerais de construção como areia e cimento, plásticos e metais. A biomassa e plantações para alimentar animais causam tanto dano quanto queimar combustíveis fósseis”.

A recomendação segue o conselho de Lorde Nicholas Stern, ex-conselheiro do governo trabalhista inglês sobre a economia das mudanças climáticas. O Dr. Rajendra Pachauri, diretor do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), também fez um apelo para que as pessoas observem um dia sem carne por semana para reduzir emissões de carbono.

O painel de especialistas categorizou produtos, recursos e atividades econômicas e de transporte de acordo com seus impactos ambientais. A agricultura se equiparou com o consumo de combustível fóssil porque ambos crescem rapidamente com o desenvolvimento econômico, eles disseram.

Ernst von Weizsaecker, um dos cientistas especializados em meio ambiente que coordenaram o painel, disse: “A crescente riqueza econômica está levando a um maior consumo de carne e laticínios – os rebanhos agora consomem boa parte das colheitas do mundo e, por inferência, uma grande quantidade de água doce, fertilizantes e pesticidas”.

Tanto a energia quanto a agricultura precisam ser "dissociadas" do crescimento econômico porque os impactos ambientaris aumentam grosso modo 80% quando a renda dobra, afirma o relatório.

Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo da UNEP,afirmou: “Separar o crescimento dos danos ambientais é o desafio número um de todos os governos de um mundo em que o número de pessoas cresce exponencialmente, aumentando a demanda consumista e persistindo o desafio de aliviar a miséria e a pobreza".

O painel, que fez uso de diversos estudos incluindo o Millennium Ecosystem Assessment (avaliação do ecosistema no milênio), cita os seguintes itens de pressão ambiental como prioridade para os governos do mundo: mudanças climáticas, mudanças de habitats, uso com desperdício de nitrogênio e fósforo em fertilizantes, exploração excessiva dos oceanos e rios por meio da pesca, exploração de florestas e outros recursos, espécies invasoras, fontes não seguras de água potável e falta de saneamento básico, exposição ao chumbo, poluição do ar urbano e contaminação por outros metais pesados.

A agricultura, particularmente a carne e os laticínios, é responsável pelo consumo de 70% de água fresca do planeta, 38% do uso da terra e 19% da emissão de gases de efeito estufa, diz o relatório, que foi liberado para coincidir com o dia Mundial do Meio Ambiente no sábado.
Ano passado, a Organização de Alimentos e Agricultura da ONU (FAO) disse que a produção de alimentos teria de aumentar em 70% para suprir as demandas em 2050. O painel afirmou que os avanços na agricultura serão ultrapassados pelo crescimento populacional.
O professor Hertwich, que é também diretor de um programa de ecologia industrial na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, disse que os países em desenvolvimento, onde se dará grande parte do crescimento populacional, não devem seguir os padrões de consumo ocidentais: “Os países em desenvolvimento não devem seguir nossos modelos. Mas cabe a nós desenvolver tecnologias em, digamos, energia renovável e métodos de irrigação.”

Fonte: Brasil em Pauta / Guardian
Fonte: http://www.olharanimal.org/consumo/907-onu-recomenda-mudanca-global-para-dieta-sem-carne-e-sem-laticinios Acesso em 02/02/2015



Cowspiracy: O documentário que anda a fazer veganos vai ser exibido em Lisboa

São vários os relatos pelo mundo de pessoas que viram o filme e decidiram mudar a alimentação, não para proteger animais, mas para salvar o planeta. O apresentador português João Manzarra é um deles.

"O 'Cowspiracy' pode ser o mais importante filme feito para inspirar a salvação do planeta", disse o realizador do "The Cove"
©D.R.

Comer animais pode ser mais prejudicial para o planeta do que tomar duches longos e conduzir carros poluentes. A pegada ecológica causada pela agricultura animal, e ainda pouco conhecida, é o tema de “Cowspiracy”, cuja estreia em Portugal acontece no sábado, 10 de janeiro, às 11h00, no cinema do Saldanha Residence, em Lisboa. A sessão, que inclui debate com os realizadores e mostra de gastronomia, esgotou em poucos dias, pelo que foi adicionada uma nova data para o dia seguinte.
O ‘Cowspiracy’ pode ser o mais importante filme feito para inspirar a salvação do planeta“. O elogio é forte, mais ainda porque veio de Louie Psihoyos, realizador de “The Cove” (“A Baía da Vergonha” é o título em português), documentário norte-americano sobre a caça de golfinhos no Japão e que venceu o Óscar de melhor documentário em 2010.
O título do filme realizado por Kip Andersen e Keegan Kuhn é um trocadilho entre as palavras vaca (cow) e conspiração (conspiracy), mas “Cowspiracy” tem mais a ver com factos do que com teorias da conspiração, factos que mostram a existência de um problema maior do que todas as vacas que habitam a Terra: a pegada ecológica causada pela criação de animais para alimentação. A partir daí, os realizadores questionaram várias Organizações Não Governamentais (ONG) ambientalistas, como a Greenpeace, sobre porque é que a questão não está a ter a atenção que merece. As reações compiladas no filme surpreendem.
Os vários casos de pessoas por todo o mundo que deixaram de comer carne, ou que renunciaram aos produtos de origem animal, podem fazer com que “Cowspiracy” pareça mais uma ação para proteger os direitos dos animais, mas não, não restem dúvidas: este é um filme ambientalista. Se não sabia que 51% das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa são causadas pela pecuária e atividades relacionadas (dados do Worldwatch Institute), eis a razão por que os realizadores decidiram avançar com as filmagens.
Fiquei chocado por aos 29 anos de idade estar completamente deslocado do problema principal de insustentabilidade do planeta”, disse o apresentador João Manzarra ao Observador. “O documentário é muito factual, trata de problemas reais e devastadores que não são tratados nem pela maioria das ONG, e que são ignorados pela maioria das pessoas”. Em Portugal, João Manzarra é o exemplo mais mediático da influência de “Cowspiracy”. “Vi-o no dia 19 de novembro e fui confrontado com toda a sua informação no voo entre Amesterdão e Lisboa”, contou. “Quando terminou comprometi-me a não alimentar mais a criação de gado até surgir um contraditório convincente para os problemas expostos no filme, o que não aconteceu até hoje”.
Desde então que o apresentador se tornou vegano, ou seja, não consome nenhum produto de origem animal, seja carne, peixe, laticínios ou ovos. O adeus ao sushi foi difícil, mas a derradeira prova foi a venda da sociedade na Petisqueira Matateu, que abriu em 2013, no Estádio do Restelo. Terminou assim o confronto de consciência. Mas começou também o julgamento público. “Jamais esperei o tamanho do impacto que esta decisão pessoal causou. Recebi os maiores elogios e as maiores ofensas de toda a minha vida, as pessoas têm uma ligação emocional muito forte ou com os animais ou com o sabor deles”, disse.
O passo seguinte foi contactar os realizadores, no sentido de transmitir que o esforço e o trabalho colocados na realização da narrativa tinha atravessado o Atlântico até Portugal e que tinha “mudado consciências”. Rita Silva, presidente da ONG portuguesa ANIMAL, também já tinha mostrado interesse em exibir o filme em Portugal, por isso os realizadores puseram os dois em contacto e assim foi possível organizar os dois visionamentos em Lisboa.
“Enquanto profissional da área senti que o documentário estava muito bem conseguido, é inteligente e factual. Acho que eles são heróis”, disse ao Observador Rita Silva, que já conhecia Kip Andersen e Keegan Kuhn. Dedicada à causa animal há 11 anos e vegana há uma década, Rita Silva acreditou sempre que “Cowspiracy” teria uma boa adesão do público português, mas confessou que não imaginava que “fosse tão grande”. A visibilidade que João Manzarra tem dado nas redes sociais ajudou. “O facto de ele ter partilhado uma coisa que mexeu com ele, sem impor nada, fez com que as pessoas ficassem muito mais ligadas a isto. É importante que as pessoas vejam o filme pelo filme e que quaisquer mudanças que façam seja pelas razões certas”, defendeu.
Mudanças. Depois do visionamento, Rita Silva quer ver resultados e, para isso, organizou um debate, no qual os realizadores do filme, Kip Andersen e Keegan Kuhn, vão participar por videoconferência. “Que seja esclarecedor e imparcial, que se encontrem soluções e que se explique como agir localmente” são os frutos que João Manzarra espera que nasçam da conversa. No espaço do cinema vão estar também algumas bancas de comida “para desmistificar o que as pessoas têm como uma coisa complicadíssima, que é não comer animais”, adiantou.
Os bilhetes para a primeira sessão já esgotada custavam 6,50 euros cada. Para a sessão extra de dia 11 de janeiro, também às 11h00, custam 4 euros, valor menor que se justifica pela ausência de debate e de degustação de produtos de origem vegetal que vai ter lugar no dia 10. Todo o dinheiro dos bilhetes reverte a favor da causa: 25% da receita será entregue à Animals United Moviment Films & Media e 75% à ANIMAL.
Para quem não conseguir ir ao cinema, o documentário também pode ser visto no site oficial por menos de 10 dólares (cerca de 8 euros, à taxa de conversão atual).

Fonte:  http://observador.pt/2015/01/05/cowspiracy-o-documentario-que-anda-a-fazer-veganos-vai-ser-exibido-em-lisboa/ Acesso em 02/01/2015

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