sábado, 23 de abril de 2016

CIÊNCIA




Maior repatriação de fósseis do país revela história das espécies marinhas

Mais de metade do território brasileiro estava debaixo d’água há 400 milhões de anos

POR O GLOBO
 
Trilobitas: Espécie de crustáceo estava entre as poucas predadoras nos mares brasileiros - Divulgação/Museu Nacional
RIO — Quatrocentos milhões de anos atrás, quando metade do território do país estava coberto por grandes mares rasos, invertebrados como caramujos, estrelas do mar, moluscos e corais dominavam as regiões alagadas. Boa parte do que sabemos sobre este cenário muito anterior aos dinossauros, que surgiram 200 milhões de anos depois, é conhecido graças a 700 quilos de vestígios coletados pelo geólogo e paleontólogo americano Kenneth Edward Caster em bacias sedimentares brasileiras na década de 1940 e levados para a Universidade de Cincinnati (EUA). O material chega ao Museu Nacional/UFRJ, sua nova casa, até o fim do mês. Esta é a maior repatriação de fósseis já realizada no Brasil, como antecipou a coluna de Ancelmo Gois.
Outro marco inédito na transferência da Coleção Caster, como as peças são chamadas, foi a ausência de intermediários policiais entre a universidade americana e o museu brasileiro. Normalmente órgãos como a Polícia Federal, o FBI e a Interpol são acionados para combater o trafico ilegal de fósseis.
— Foi um processo simples porque Caster levou as peças para os EUA com autorização do governo brasileiro. Após sua morte, em 1992, ninguém continuou suas pesquisas. Então, quando pedimos a coleção, a Universidade de Cincinnati aceitou doá-la — explica Sandro Marcelo Scheffler, professor do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional. — Ainda não sabemos quantos fósseis receberemos, porque nunca catalogados. Depois deste levantamento, vamos incorporá-los às nossas exposições.
O paleontólogo americano percorreu grande parte do Brasil entre 1944 e 1947, quando foi professor da USP. Percorreu grande parte do país, trabalhando principalmente nas bacias sedimentares de Piauí, Paraná e Amazonas. Boa parte das peças encontradas era do Período Devoniano (entre 415 milhões e 360 milhões de anos atrás). Cerca de metade do território continental era coberto por mares rasos, onde os invertebrados marinhos se proliferaram praticamente sem predadores — as espécies mais perigosas, e já extintas, eram parentes distantes do polvo, os nautiloides; e de crustáceos, os trilobitas. Os fósseis são de animais que ficaram presos em sedimentos no fundo da água, que transformaram-se em rochas.
— A vida no planeta se resumia a algumas plantas pequenas e primitivas. Entre os animais, havia apenas artrópodes, como aranhas e insetos — conta Scheffler. — Também existia uma grande variedade de peixes, mas o registro das espécies ainda é precário. Os primeiros vertebrados terrestres surgiram somente milhões de anos depois.
À época, o território brasileiro estava integrado ao supercontinente de Gondwana, que abrangia as atuais América do Sul, África, Antártica, Índia e Austrália. Segundo Scheffler, o Brasil estava muito mais próximo ao Polo Sul e, por isso, tinha um clima que oscilava entre temperado e glacial.
— Alguns fósseis eram encontrados somente no atual território do país, indicando que eram espécies endêmicas, mas outros foram registrados também em localidades como a África do Sul, o que seria um sinal de que os continentes já estiveram unidos — destaca Scheffler. — Caster foi um defensor da teoria das placas tectônicas, conhecida desde o início do século XX, mas ainda muito contestada na década de 1940.
De acordo com Scheffler, a volta da Coleção Caster ao Brasil era negociada há três anos e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio (Faperj):
— Infelizmente não teremos os recursos que gostaríamos, porque as agências de fomento aos estudos científicos não estão pagando como devem. Mas isso não vai paralisar nosso trabalho.

Fonte: http://googleweblight.com/?lite_url=http://m.oglobo.globo.com/&lc=pt-BR&s=1&m=998&host=www.google.com.br&ts=1461341271&sig=APY536xjlCo0Thl8c3zMfLFw58F_x7PY5Q

Colaboração: Angela Pellin

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