quarta-feira, 30 de novembro de 2011

POESIA/B. BRECHT



Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nòs
De quem depende que ela acabe? Também de nòs
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

Os policiais que nos policiam



Por Julio Delmanto, em Outras Palavras

   Com a escolha de um dos líderes do massacre do Carandiru para comandar a ROTA, as palavras de Mano Browm ficam ainda mais atuais: “Adolf Hitler sorri no inferno”

   Há alguns dias postei aqui um texto sobre os juízes que nos julgam. Segundo a Lei de Murphy, o que pode dar errado dará, e o que está ruim pode piorar. Ok, Murphy, você venceu. Nas edições da Folha e do Estadão de hoje (textos completos aqui) sai a estarrecedora notícia de que o novo comandante da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), setor mais assassino e racista de uma das polícias mais assassinas e racistas do mundo, agora será comandado pelo tenente-coronel Salvador Modesto Madia.

   A notícia chocou até o direitoso Estadão, que explica: “Madia não é qualquer réu no processo. Depois do coronel Ubiratan Guimarães — absolvido da acusação de ser responsável por 102 das 111 mortes –, Madia e outros 28 policiais são acusados de matar 76 presos no Pavilhão 9 do presídio, que ficava no Carandiru, zona norte de São Paulo”.

   Muitos comentários poderiam ser feitos sobre esta escolha, que diriam muito sobre a Justiça brasileira, o governo paulista e nossa “democracia”, mas creio que os fatos falam por si só. Não é porque não é surpreendente que deixa de ser revoltante. Em homenagem à escolha, lembro aqui de duas músicas, Diário de um Detento e Haiti, salientando as ainda atuais palavras de Mano Browm: “Adolf Hitler sorri no inferno!”.
 
Fonte: http://agencianota.blogspot.com/

E por aqui? Como será?

Bradesco aliado a Sérgio Cabral ataca os servidores do Estado do RJ


   A parceria entre o governador Sérgio Cabral e o banco BRADESCO para o depósito do salário dos servidores estaduais, foi permeado por uma série de irregularidades. Todo o esquema foi montado para induzir o servidor a acreditar que era obrigatório a abertura de uma conta corrente.

   Todos os servidores ativos, aposentados e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro receberam, junto com o seu contracheque de julho, entregue no início de agosto, uma carta que informava e afirmava que o Banco Bradesco venceu em processo licitatório realizado pelo Estado em maio de 2011, ganhando a gestão com exclusividade do pagamento dos funcionários estaduais.  Este contrato assinado entre o Bradesco e o governo do estado prevê o pagamento dos salários dos servidores por este banco entre os anos de 2012 e 2015. Informava também que até o fim deste ano, o repasse do dinheiro ao funcionalismo segue sendo feito pelo Itaú.  Isto significa que até o salário de dezembro de 2011, pago no inicio de janeiro de 2012, será depositado e pago pelo Banco Itaú. No texto da carta não fica claro que os primeiros pagamentos no Bradesco só ocorrerão a partir de fevereiro de 2012.

   Desta forma os servidores começaram a ser convocados para comparecerem aos postos de atendimento montados pelo Bradesco para oficializar uma “conta salário” e desta forma receber seus salários, aposentadorias e pensões.

   Porém tanto a carta enviada pelo governo, quanto às informações contidas no site das diversas secretarias de estado ou do Banco Bradesco não informa com exatidão o procedimento a ser feito.  O Bradesco e o governo do estado passaram a afirmar que os servidores deverão abrir uma conta para o recebimento de seus salários a partir de janeiro de 2012.

   A partir desta forma de procedimento e com tal afirmação o Bradesco induziu milhares de servidores a abrir uma conta corrente em sua instituição.  E não só isso. Induziu uma mudança de domicílio bancário.  Ou seja, apoiando-se no fato de vencer a licitação e com a conivência do governo do estado, o Bradesco praticou e segue praticando um ato de estelionato contra os servidores estaduais do Rio de Janeiro, seus direitos e benefícios.

   A “conta salário” foi criada em 2006 pelas Resoluções CMN/BACEN 3.402/06 e 3.424/06 e faz parte de um amplo pacote elaborado pelo Banco Central garantindo-se ao trabalhador, e não ao empregador, a escolha da instituição financeira com a qual ele manterá relações comerciais (domicílio bancário).  Nem Sérgio Cabral ou o Bradesco pode obrigar o servidor a mudar seu domicílio bancário ou abrir uma conta corrente.
 
   O benefício trazido pela “conta-salário” é a possibilidade de o servidor transferir o seu salário para outra conta diferente daquela aberta pelo governo, sem precisar pagar tarifa por isso.

   A indicação da conta a ser creditada deve ser comunicada por escrito à instituição financeira, em caráter de instrução permanente. A instituição é obrigada a aceitar a ordem no prazo máximo de cinco dias úteis contados da data do recebimento da comunicação.  Também após a formalização do pedido ao Bradesco, os salários devem ser transferidos para o banco escolhido pelo servidor, no mesmo dia do crédito, até as 12h.   Este documento deve ser produzido pelo servidor em três vias originais, ficando duas com o banco de preferência do servidor e a terceira protocolada no Bradesco (Baixe aqui o modelo).  Anexado a este documento deve estar uma cópia da identidade e do CPF.  Neste momento o Itaú já possui um modelo pronto e fornece ao servidor que procurar qualquer uma de suas agências.
 
   Qualquer servidor que se sentir lesado com os procedimentos adotado pelo Bradesco pode encerrar a conta criada neste processo e exigir a portabilidade bancária.  Basta seguir o procedimento descrito acima e desta forma manter seu atual domicílio bancário.
 
   O mesmo ocorre com os servidores do Município do Rio de Janeiro que foram obrigados a se transformarem em correntistas do Banco Santander.  Também naquele momento feriram-se os direitos e benefícios daqueles servidores.  O procedimento apontado aqui é válido para todos a partir de janeiro de 2012.  Data limite dada pelo Banco Central para que as instituições financeiras se adéqüem a aqui citada resolução. Procure o banco de sua preferência, abra a conta corrente e apresente ao Santander o documento que citamos neste texto.
 
Posted: 28 Nov 2011 12:04 PM PST
Fonte: http://agencianota.blogspot.com/

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Poesia/DRUMMOND



Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

Unioeste conquista mais um curso de Medicina

:
Na tarde da última quarta-feira (23) o governador do Estado do Paraná, Carlos Alberto Richa, assinou decreto de implantação do curso de Medicina na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Câmpus de Francisco Beltrão. A solenidade da assinatura ocorreu no Auditório I do Campus de Francisco Beltrão.

Na ocasião o governador destacou que a implantação do curso de Medicina no Câmpus da Unioeste em Francisco Beltrão possibilitará o avanço na qualidade de vida da população de toda a região sudoeste do Estado. “O compromisso do Governo do Estado é atender a todas as demandas, e isso estamos fazendo de forma organizada, buscando investir da melhor maneira possível os recursos públicos visando o desenvolvimento de todas as regiões do Paraná”, disse o governador. Ao discorrer sobre a atuação que vem desenvolvendo a frente do governo do Paraná, Richa enfatizou que a criação do curso de Medicina representa um marco no processo de valorização da população regional, possibilitando formar profissionais para atuar na área médica, bem como a oferta de maior qualidade na saúde de todos que serão beneficiados com os serviços prestados pelo hospital regional que logo se transformará em hospital escola.

O reitor da Universidade, Alcibiades Luiz Orlando, agradeceu ao governador pela decisão em implantar o curso de Medicina no Câmpus de Beltrão e destacou o que isso representa para o avanço e crescimento social de toda a região sudoestina. O reitor lembrou que “o Sudoeste do Paraná conta com uma história de desafios e conquistas que marcaram e continuam marcando a trajetória de crescimento e desenvolvimento de toda a população. Graças à articulação do setor empresarial e político e a sensibilidade do Governo do Estado, o Sudoeste registra mais uma conquista que marcará a história da Unioeste e da região”.

A partir de agora a Unioeste aguarda a autorização do Governo do Estado para abertura de concurso público para professores e agentes universitários e concentra os esforços na obtenção de recursos para investimentos na infraestrutura necessária para que o curso possa abrir vagas aos candidatos o quanto antes. Entre os recursos, a Universidade aguarda a liberação do Ministério da Saúde de R$ 12 milhões, oriundos de emenda parlamentar da bancada paranaense que serão utilizados para obras e aquisição de equipamentos para o curso de Medicina. A proposição da emenda foi feita em 2010 pelos deputados Assis do Couto, Nelson Meurer e Alceni Guerra.

Fonte: ACS

Rocinha: uma favela conveniente à classe média. Entrevista especial com José Cláudio Alves


“O Rio de Janeiro permite tiro de fuzil em favela, mas não permite mais tiros de fuzil nas ruas da Zona Sul”, declara José Cláudio Alves à IHU On-Line, referindo-se à ocupação da Rocinha nos últimos dias. Para ele, a ocupação anunciada aconteceu porque a “Rocinha é uma das favelas de grande expressão no cenário do Rio de Janeiro, porque está na fronteira entre a área da Zona Sul e a área que vai para a Zona Oeste, para a Barra da Tijuca, para São Conrado. Atrás da Rocinha também tem a Gávea, então, a favela fica localizada numa das áreas mais ricas da cidade. Portanto, jamais seria feita uma ocupação usando a mesma lógica que se utilizou no Alemão”.

Na avaliação do sociólogo, a Rocinha é diferente das demais favelas do Rio de Janeiro porque é formada por uma população nordestina que tem presença muito forte em toda a área da Zona Sul. “A Rocinha expressa o interesse racial da classe dominante daquela região, que tem preferência por ter, dentro de seus prédios, pessoas brancas”, aponta.

Para o sociólogo, a prisão do traficante Nem é estratégica, mas ele continuará controlando o tráfico de dentro do presídio. “Ele vai ser penalizado e sabe disso, mas, por outro lado, ele também sabe que a sua liderança será preservada até porque, para que a estrutura que está montada na Rocinha se mantenha, é preciso realizar um acordo com ele. A intenção da polícia agora é ocultar o tráfico de droga, de armas sob um manto de uma pacificação da polícia”, avalia.

Na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line, Alves questiona a estrutura policial, fala dos desafios das UPPs e dos acordos estabelecidos entre os traficantes e os policiais. E questiona: “O que mudou nesse país desde 1960? Uma juíza foi assassinada recentemente e um deputado estadual tem que sair do país para poder sobreviver”. E responde: “Hoje nós temos uma estrutura democrática, legítima, eleita, fazendo algo muito mais grave, muito mais intrincado e percolado do que a ditadura foi capaz de fazer”.

José Cláudio Souza Alves é graduado em Estudos Sociais pela Fundação Educacional de Brusque. É mestre em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio e doutor na mesma área pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como o senhor analisa a anunciada ocupação da Rocinha e a forma como a favela foi ocupada? A ocupação foi anunciada pelo fato de a Rocinha estar localizada entre bairros de classe média?

José Claudio Alves – Naquela época, quando houve a invasão do Complexo Alemão, a polícia já havia anunciado a possibilidade de ocupar a Rocinha. Naquele momento eu disse que a ocupação não aconteceria da mesma forma que aconteceu no Alemão, ou seja, como uma construção político-midiática, com o uso de armamento de guerra, com tanques passando por cima de carros, com o Exército entrando nas ruas, etc.

A Rocinha é uma das favelas de grande expressão no cenário do Rio de Janeiro, porque está na fronteira entre a área da Zona Sul e a área que vai para a Zona Oeste, para a Barra da Tijuca, para São Conrado. Atrás da Rocinha também tem a Gávea, então, a favela fica localizada numa das áreas mais ricas da cidade. Portanto, jamais seria feita uma ocupação usando a mesma lógica utilizada no Alemão. Não é possível fazer o mesmo tipo de ocupação porque a classe média não permite. Além disso, o Estado e os grupos políticos não possuem interesse em promover tal tipo de ação, porque isso assustaria os moradores da Zona Sul. Lembre-se que o Rio de Janeiro permite tiro de fuzil em favela, mas não permite mais tiros de fuzil nas ruas da Zona Sul.

Segurança pública diferenciada

A questão da segurança pública tem tratamento diferenciado para cada segmento social, e a Rocinha expõe demais a Zona Sul para que se possa fazer a mesma coisa que se fez no Alemão. Por isso a ocupação da favela foi anunciada e não houve confrontos, tiroteios. A ocupação está sendo negociada há muito tempo. Há um acordo progressivo de reestruturação do crime naquela comunidade para viabilizar os interesses do tráfico, que vai continuar. A favela permite o acesso às drogas por parte da classe média da Zona Sul, de São Conrado, da Barra. Artistas e músicos consomem drogas dentro da Rocinha, e a favela é uma das áreas mais seguras para consumo de drogas no Rio de Janeiro, porque ninguém importuna a Rocinha. Há muitos anos se estabeleceu o turismo dentro da favela e lá também existem mais de 200 ONGs que têm um histórico de relação com a Zona Sul, com a sociedade, com a classe média, com a classe artística.

Apesar de a favela ter sido ocupada, isto não significa que a comunidade mais pobre da Rocinha não vá sofrer as mesmas consequências que a comunidade do Alemão sofreu. Depois da ocupação da favela, foram encontradas inúmeras armas que haviam sido enterradas pelos traficantes. É claro que a polícia sabia onde estava esse material, porque isso faz parte do acordo entre a polícia e os traficantes. O problema é que as armas, como aconteceu no Alemão, podem vir a ser comercializadas.

IHU On-Line – Pode nos contar a história da Rocinha, que é considerada por muitos pesquisadores a maior favela da América Latina? Como a favela surgiu e se modificou ao longo dos anos? E o que diferencia a Rocinha das demais favelas?

José Claudio Alves – A Rocinha é uma favela muito específica. Ela não tem, como na maioria das comunidades do Rio de Janeiro, muitos habitantes negros. Há uma maciça presença de nordestinos brancos, principalmente cearenses. Essa população nordestina tem uma presença muito forte em toda a área da Zona Sul, porque eles trabalham para a classe média. A Rocinha expressa o interesse racial da classe dominante daquela região, que tem preferência por ter, dentro de seus prédios, pessoas brancas. Isso está expresso na composição étnica da comunidade da Rocinha. Os moradores da favela trabalham como garçons, atuam na construção civil, prestam serviços de jardinagem, etc. Há uma relação direta dessa população com a mão-de-obra local. No Alemão, a maioria da população é negra e trabalha na periferia, nos lugares em que a classe média não vê problema nenhum em deixar o negro e o pobre trabalhando.

Dentro da Rocinha se constituiu um grande comércio em termos de restaurantes, lojas, prestação de serviços. A população da Zona Sul tem acesso também a tais espaços. Ao longo do tempo, a Rocinha também foi se constituindo uma área de interesse de várias ONGs para implantar seus projetos. Atuam na comunidade ONGs sérias, que tem de fato uma relação com a população, mas inúmeras delas estão vinculadas a outros interesses políticos e econômicos. A família Andrea Gouvêa tem sua base dentro da Rocinha por causa de interesses políticos. Existe um livro chamado Sorria, você está na Rocinha, do Julio Ludemir, que retrata essa situação. Ele morou na Rocinha e teve que sair da favela porque, se não saísse, seria morto pelas ONGs. No livro ele retrata todo este universo de interesses de grupos não governamentais.

No início dos anos 2000 aconteceu um confronto aberto entre policiais e traficantes dentro da Rocinha e a mídia toda do Rio de Janeiro veiculou isso. A Rocinha foi mencionada na mídia internacional. O confronto se estendeu para a autoestrada da Lagoa/Barra, onde circula a classe média com poder aquisitivo elevado. Depois disso, não houve mais confrontos porque a população rica da região não pode se sentir ameaçada. Afinal de contas, matar pobre favelado no Alemão não tem problema nenhum. Agora, atingir o interesse privado, a individualidade blindada que está circulando livremente, é inaceitável.

Depois desse acontecimento, retomou-se o debate sobre a remoção de favelas, e eu fui para a Rocinha conhecer a história daquela comunidade. É uma história surreal. Dois grupos estavam em confronto. De um lado, estava o Comando Vermelho, que anteriormente dominava a comunidade e, de outro, os Amigos dos Amigos, que hoje controla o crime organizado na região. Na época, o traficante líder na Rocinha havia saído da prisão e, na ocasião, o Bope entrou na comunidade obrigando os traficantes que estavam lá a entrarem em confronto com a polícia. Toda a atenção dos traficantes se voltou para o confronto com esta operação militar. Enquanto isso, por trás da favela, pela estrada da Gávea, entrava na Rocinha um comboio do traficante que havia sido libertado. Esse comboio passou por inúmeros carros do aparato policial e ocupou a favela pelo outro lado. A partir disso, percebe-se que essa foi uma operação casada para garantir a reestruturação do tráfico dentro da favela, de acordo com os interesses do aparato policial que esteve vinculado a isso.

Os moradores contam essa história e dizem que, na favela, ocorrem inúmeras negociações e “jogadas” que envolvem muito dinheiro, e afirmam que há uma relação direta da comunidade com a Zona Sul e a Zona Oeste rica da cidade. Essa situação precisa ser compreendida para entender o que está acontecendo na Rocinha neste momento. Essa facção, que em função de um acordo entrou na Rocinha no início dos anos 2000 para controlar a favela, permanece fazendo acordos e negociando a sua continuidade na comunidade, sem ferir os interesses dos vários grupos envolvidos, sobretudo, os interesses do próprio aparato policial que está ali comprometido.

IHU On-Line – Quem é o traficante Nem? O que a prisão dele significa e como o senhor avalia a exibição do traficante como troféu por parte da polícia?

José Claudio Alves – Há alguns meses Nem estava retornando do Vidigal com um comboio de traficantes – ele ia com frequência para o Vidigal participar de festas –, quando aconteceu um confronto entre policiais militares e traficantes. Os traficantes se alojaram dentro de um Hotel próximo à Barra da Tijuca, e a classe média ficou em pânico. A mídia veiculou a notícia de que um número grande de traficantes participou da operação, mas um jornalista do jornal O Globo investigou o caso e descobriu que a operação dos policiais não tinha sido autorizada pelos superiores. A partir dessa situação, percebemos que os policiais foram ao encontro do Nem para obter mais dinheiro. Há uma prática muito comum no Rio de Janeiro em que policiais sequestram traficantes e depois pedem resgate por eles. A meu ver, era essa a operação que iria ocorrer ali. Esse fato já revela que havia um acordo entre a polícia e os traficantes.

O Nem tem peso no Rio de Janeiro porque ele está em uma favela estratégica, que consome muita droga e gera bastante dinheiro. Ele nunca vai expor toda a estrutura do tráfico, porque isso faz parte do jogo. Ele vai ser penalizado e sabe disso, mas, por outro lado, ele também sabe que a sua liderança será preservada até porque, para que a estrutura que está montada na Rocinha se mantenha, é preciso realizar um acordo com ele. A intenção da polícia agora é ocultar o tráfico de drogas, de armas sob um manto de uma pacificação da polícia. A polícia tem interesse em preservá-lo, em expor somente o necessário para que todos o vejam como o grande criminoso. Ele é o cara que vai, de dentro da estrutura penitenciária do estado do Rio de Janeiro, comandar o tráfico na Rocinha para que acordos construídos anteriormente sejam mantidos.

O Nem é mais um refém dessa estrutura, assim como os policiais envolvidos em interesses de banqueiros, empresários, artistas que querem ter acesso às drogas. Os policiais e os traficantes são meros vigilantes dos interesses desse imenso comércio do tráfico de drogas. A manutenção desse sistema gera dividendos para os interessados. O Nem e esse aparato policial que faz essa operação ficcional geram um simbolismo que convence a população e faz com que a sociedade acredite que, de fato, a Rocinha será algo melhor e diferente. Não é isso que vai acontecer. A Rocinha viverá agora uma nova fase, a qual não irá alterar a situação de pobreza, sofrimento e de dependência do tráfico.

IHU On-Line – Como acontece esse acordo entre traficantes e a polícia para a ocupação da Rocinha? E que acordos acontecerão daqui para frente?

José Claudio Alves – Ninguém faz ata desses acordos. Eles são verbais e aqueles que estão na ponta do sistema fazem com que eles vigorem. As lideranças das comunidades é que têm peso nessas negociações, além de representantes de políticos. Não sei dizer quem são as pessoas que atualmente estão negociando. Por enquanto não é possível saber essas informações. Só será possível ir à Rocinha mais tarde, quando a “poeira baixar”.

Quem está dando as ordens na Rocinha agora é o aparato policial. É claro que inicialmente a comunidade fica aliviada, porque sabe que não irão acontecer confrontos nos próximos meses, mas isso não resolve a situação.

IHU On-Line – Quais serão os desafios das UPPs na Rocinha e no Vidigal?

José Claudio Alves – O primeiro desafio é superar a questão da policização, entender que essa polícia não é o principal agente identificado nessas comunidades. Precisaria se estabelecer um diálogo com a comunidade, assim como compreender a história dessas favelas. Seria fundamental dar voz para as lideranças da comunidade para que elas possam ser atores de sua própria transformação, da sua própria realidade política. Tinha que alterar essa dependência que a comunidade tem com o tráfico de drogas e de tudo que está associado ao tráfico.

Para mudar essa realidade, é preciso implementar várias políticas articuladas entre si, especialmente na área da educação. As famílias precisam receber acompanhamento psicológico e social. Seria fundamental gerar renda nessas comunidades para não fazê-las depender do dinheiro do tráfico. Além de oferecer acesso a transporte, seria necessário urbanizar urbanizar as favelas para que elas não sejam um ambiente degradado.

Na Rocinha e no Alemão existem áreas ambientais extremamente degradadas e não há nenhum projeto de recuperação ambiental para essas áreas. A transformação de tais comunidades demandaria um investimento muito alto por parte do Estado. Entretanto, o Estado quer ganhar dinheiro, não investir. Os governos têm interesse nos megaeventos que vão ocorrer no Rio de Janeiro e, portanto, não deixaram de investir no Porto Maravilha, que é uma área estratégica que envolve todo o setor financeiro e imobiliário do Rio de Janeiro, para investir recursos na Rocinha.

As UPPs são insignificantes porque ocupam apenas 70 das mil comunidades existentes no Rio de Janeiro. As UPPs entram em áreas estratégicas para o Estado. A zona oeste é distante de tudo, e é o local mais degrado do Rio de Janeiro. Campo Grande, Santa Cruz, Bangu, Realengo, Padre Miguel são as áreas mais violentas, juntamente com o subúrbio. Para investir em segurança, é fundamental repensar a cidade.

IHU On-Line – Como o senhor avalia a recente saída de Marcelo Freixo do Brasil por causa de ameaças de morte?

José Claudio Alves – Marcelo levou à condenação vários envolvidos com o crime e com as milícias. Ele tem poder para interferir, assim como a juíza Patrícia Acioli tinha. A mídia disse que Patrícia Acioli tinha a mão pesada, mas não é nada disso. Ela apenas cumpria sua função como juíza: condenava e julgava as pessoas de acordo com os seus crimes. O que o Marcelo está fazendo é dever de todo deputado estadual do Rio de Janeiro. A saída dele do país foi determinante para ele sobreviver. É deplorável que uma sociedade como a do Rio de Janeiro tenha que assistir a isso.

A rede é tão complexa e tão grande, que quem mexe numa ponta dessa rede poderá ser atingido e morto por outro grupo. Quando entrevistei a promotora pública Tânia Maria de Sales Moreira, que já faleceu, ela estava investigando o caso das mães de Acari, que estavam tentando descobrir o paradeiro dos corpos de onze filhos que desapareceram de uma festa. Ela descobriu que um dos envolvidos no assassinato dos jovens tinha envolvimento com roubo de carga, e que um grupo de extermínio chamado Cavalos Corredores também estava envolvido nos assaltos. Ora, esse grupo cometeu a chacina de Vigário Geral alguns anos depois, em 1993. Tânia me disse que, se eles tivessem avançado na investigação das mães de Acari, Vigário Geral não teria acontecido, porque os Cavalos Corredores teriam sido desarticulados. No Rio de Janeiro há uma rede complexa do crime. Marcelo puxou uma ponta dessa rede, assim como a Patrícia Acioli puxou outra. Só que ao mexer em alguma ponta desta teia, mexe-se com a rede inteira, e a exposição de quem faz isso é imensa. As pessoas não sabem por quem serão atingidas.

Ele agiu corretamente ao sair do país por alguns dias. Marcel Freixo hoje é uma das pessoas que mais luta pelos direitos humanos no Brasil, mas, infelizmente não podemos contar com a estrutura do poderes Judiciário, Legislativo e Executivo. É mais fácil para o Marcelo fazer denúncias internacionais, porque elas geram uma repercussão dentro do país e levam a população e as autoridades a fazerem modificações.

O que mudou nesse país desde 1960? Uma juíza foi assassinada recentemente e um deputado estadual tem que sair do país para poder sobreviver. Hoje nós temos uma estrutura democrática, legítima, eleita, fazendo algo muito mais grave, muito mais intrincado e percolado do que a ditadura foi capaz de fazer. Ao longo desses 40 e poucos anos transformamos uma estrutura ilegal e criminosa numa estrutura legal, criminosa, com um interferente muito mais profundo. Conseguimos derrubar a ditadura e agora, como derrubar uma estrutura como essa, instalada no Rio de Janeiro?

Assim como o Nem é chave para o acordo da permanência do tráfico na Rocinha, o Marcelo é uma peça-chave para outro grupo dentro dessa cidade. O acordo do Nem é muito mais poderoso e muito mais articulado do que o acordo que rege a permanência do Freixo no Brasil. Os dois representam espaços e projetos da cidade, espaços sociais, concepções políticas, concepções econômicas distintas dentro dessa realidade. Como a situação será organizada daqui para a frente é, ao meu ver, o nosso grande dilema.
(Por Patricia Fachin, Stéfanie Telles e Rafaela Kley)
Enviado ao Pasquim do Oeste p/Walmir Assunção
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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bazar de Natal acontece nesta sexta e sábado em Rondon

A Casa do Artesão, localizada junto a praça Willy Barth, está realizado nesta sexta-feira, dia 25, e neste sábado, dia 26, o "Weihnachtsbasar" (Bazar de Natal). Estão sendo comercializados produtos destinados principalmente a decoração natalina, além de outros. O Bazar começou ontem na sexta-feira,  e segue hoje, sábado, das 9h00 às 18h00.
Já nos dias 21 a 24 de dezembro acontecerá a Feira de Natal, destinada para a venda de presentes de natal.
Os artesãos de Marechal Cândido Rondon convidam a todos a participarem. A Casa do Artesão aceita, inclusive, cartão de crédito.

Foto: Ana Maria de Carvalho
Fonte: Aqui Agora Net

Atrações natalinas em 2011 estarão concentradas junto ao SAAE



A administração municipal está ultimando os preparativos para o Natal 2011. A programação terá início no dia 02 de dezembro e uma das novidades deste ano é a concentração das atrações junto ao SAAE. Além da autarquia, também estarão envolvidos na programação a Secretaria de Cultura e a Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo.
O SAAE vêm se destacando ao longo dos anos pela bela decoração natalina, que, neste ano será incrementada ainda mais e receberá também um palco, onde serão realizadas as apresentações culturais.
O diretor do SAAE, João Marcos Gomes, ressalta que a autarquia está localizada na região central da cidade, facilitando a visitação das pessoas. “Estamos junto ao movimento do comércio. Todos poderão visitar a  decoração e prestigiar as atrações culturais”.
A inauguração da iluminação natalina acontecerá no dia 02 de dezembro, quando haverá um passeio ciclístico organizado pela Secretaria de Esportes, que sairá da Praça Willy Barth, passando pelas principais ruas da cidade, até o SAAE. Na oportunidade, haverá a apresentação de corais. “Estamos preparando uma grande festa. Convidamos a população para que prestigie a decoração natalina”, menciona João Marcos.
A administração municipal também está empenhada na decoração das principais ruas da cidade, que estão recebendo árvores de natal iluminadas além de figuras natalinas. A intenção é formar uma roteiro de visitações no centro da cidade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Toledo promove Concurso de Contos Paulo Leminski

Estarão abertas até dia 9 de dezembro próximo as inscrições para o 22º Concurso de Contos Paulo Leminski 2011, evento realizado em parceria entre o Campus de Toledo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e a Biblioteca Pública de Toledo. O Concurso de Contos Paulo Leminski, desde seu início em 1989, faz parte do Calendário de Eventos Culturais de Toledo e da Unioeste, e tem repercussão na área cultural e literária da cidade, da região e do País.

O Concurso é aberto a todas as pessoas interessadas e cada concorrente poderá participar com apenas um trabalho que ainda não tenha sido premiado em outro concurso ou já publicado em livros, coletâneas ou revistas. O tema é livre e a inscrição gratuita.

As obras deverão ser entregues sob protocolo ou enviadas pelos correios (com registro A.R.), endereçadas à Unioeste/Campus de Toledo, Rua da Faculdade, 645, CEP: 85.903-000, Caixa Postal 320, Toledo - PR., ou para a Biblioteca Pública de Toledo, Avenida Tiradentes, 1165, CEP: 85900-230, Toledo- PR.

Normas

O conto deverá ser apresentado em duas vias, escrito em língua portuguesa ou espanhola, digitado em espaço 1,5, com fonte Arial, tamanho 12, de um só lado do papel, e obedecer a um limite máximo de 20 páginas.

Deverá constar, no interior do envelope que contém o trabalho, outro envelope menor (fechado), contendo em seu interior uma folha na qual constem: título do conto, pseudônimo e nome completo do autor seu endereço, telefone, RG, e-mail e grau de instrução. No entanto, na parte externa desse pequeno envelope, deverão constar apenas o pseudônimo do autor e o título do conto a ser inscrito no concurso.

A Comissão Julgadora, que será composta por cinco ou sete membros, dependendo do número de inscritos no evento, se reúne nos dias 1 e 2 de março de 2012 para avaliação final dos trabalhos, estando prevista para o dia 17 de março de 2012 a solenidade de entrega da premiação.

Premiação

O primeiro colocado receberá prêmio de R$1,8 mil, o segundo R$ 1.350,00, o terceiro R$ 1.000,00 e o quarto colocado - Melhor Conto Toledano: R$ 850,00. A relação dos contos classificados para premiação e os indicados com menções honrosas será publicada nos órgãos de imprensa da região e nos portais web das instituições promotoras do concurso. Posteriormente, a cada período de cinco anos, os contos serão publicados sob forma de coletânea, reunindo os contos premiados e os que tenham recebido menções honrosas.

O resultado do concurso será divulgado na imprensa e na Internet, nos portais oficiais das instituições promotoras do evento, a seguir: http://www.unioeste.br/leminski e http://www.toledo.pr.gov.br. Mais informações poderão ser obtidas na Unioeste - Campus de Toledo pelo telefone (45) 3379-7091, na Biblioteca Pública pelo telefone (45) 3252-6225 ou 3055 8790, pelo correio eletrônico: biblioteca@toledo.pr.gov.br ou concursopauloleminski@toledo.pr.gov.br

Fonte: Assessoria de Comunicação Social

Sobre o Enem: 11 argumentos para (ainda) não adotá-lo *



À luz de discussões sobre as eleições, por exemplo, alguns temas não têm recebido a atenção devida por parte da comunidade acadêmica da Unioeste como um todo: a hipótese de o Enem substituir o vestibular é um deles. Os corredores já consideram a hipótese como fato consumado. Contra a promessa de aportes financeiros para a Universidade caso a adoção seja aceita, algumas inquietações precisam ser expressas.

A primeira (e mais contundente): o Enem continua sendo caso de Ministério Público. Depois que se tornou forma de acesso à universidade e não verificação da qualidade do ensino médio, a cada nova edição, o exame é caso de denúncia de vazamento de questões. Veja-se o caso recente do Ceará. Não importa se foram “apenas” 13 questões e em “um” colégio (será que realmente foi “só” isso?). A questão é que o Enem continua pouco confiável e caso para que o Ministério Público seja acionado todo ano. A própria Unioeste já teve que mudar data de etapa de vestibular por causa dos “descuidos” do MEC/Inep.

A segunda: quem presta o Enem não sabe que conteúdos programáticos farão parte das provas. Frise-se que cabe ao elaborador de questões julgar o que é adequado que o aluno saiba ao final do ensino médio. Como ele pode ser de qualquer lugar do País e não é onisciente para saber se o que vai propor é estudado pelos alunos do País inteiro, é óbvio que pode haver surpresas às quais nenhum aluno pode se antecipar. Considere-se, ainda, a massificação que a atividade produz, evitando que idiossincrasias regionais possam ser trabalhadas. Ou, se são, o resultado é a transformação do particular em universal: pior para aquele que não partilha deste universal: melhor para quem faz parte deste particular.

A terceira: não é de conhecimento público nem quem elabora a prova de redação, nem quem corrige os textos produzidos e, muito menos, quais são os critérios de avaliação usados. No caso da Unioeste, são professores da área de Letras que elaboram a prova e que corrigem os textos e os critérios usados são públicos e conhecidos. Inclusive, são feitos encontros com os docentes do ensino médio para que eles conheçam os tipos de textos que serão cobrados e compreendam os critérios usados. Se as outras IES paranaenses não agem assim, que façam a autocrítica. Considere-se que a banca existe há, pelo menos, 15 anos, durante os quais foram feitos estudos teóricos e exercícios de correção, além de correções efetivas em, no mínimo, 15 vestibulares. A adoção do Enem significa a morte dessa história e de aportes financeiros, mas, sobretudo, do esforço institucional e, principalmente, pessoal para “profissionalizar” uma atividade que, se não for executada com qualidade, compromete a seleção de quem adentra à vida acadêmica. O Enem tem muito a caminhar para atingir este patamar.

A quarta: a argumentação tecida acima se aplica aos elaboradores de prova. Desde que a Unioeste começou a fazer seu próprio vestibular, ela tratou, também, de prepará-los para fazer o trabalho com qualidade. E são quinze anos de atividade continuada. No caso do Enem, que preparo foi dado aos elaboradores de questão, que, aliás, ninguém sabe quem são? Não é possível imaginar que um grupo de elaboradores formado por quem quer que seja tenha maior aproximação com a educação regional do que aquele formado por professores pertencentes ao contexto imediato da universidade. De novo: são anos de trabalho, investimentos financeiros, institucionais e pessoais que são apagados em nome de um exame pouco consolidado e obtuso pedagogicamente. Que esteja apto a medir o conhecimento ao final do nível médio, talvez se deva concordar. Que seja melhor do que o vestibular da própria universidade (e da Unioeste, em especial) para definir quem entrará na vida acadêmica é polêmico: ele tem, no mínimo, uma bela estrada a sua frente.

A quinta: quem está bem informado poderá dizer: mas a Unioeste (e outras IES) não foi chamada para compor o quadro de elaboradores e revisores de questões do Enem? Não é um paradoxo entrar num projeto deste tipo e ser contrária a este exame? Primeiro: o paradoxo está, sim, em afirmar que ela não tem um processo seletivo ajustado, quando é chamada pelo Inep para participar do Enem. Se o seu processo seletivo fosse defeituoso, é de se crer que ela não teria sido selecionada. E quem já recebeu treinamento foi unânime em afirmar que não presenciou nada de novo em relação à metodologia usada pela Unioeste. Segundo: apesar de os contatos terem começado em maio, até hoje, nenhuma IES estadual assinou o termo de convênio com o Inep, por falta de ajuste legal para a parceria acontecer. De fato e de direito, não há parceria formalizada. O paradoxo está, pois, em abrir um edital de chamamento de IES para auxiliar no Enem (o que demonstra que elas são competentes quando se comprometem) e não poder firmar convênio com nenhuma.

A sexta: a forma de chegar ao escore total do aluno, apesar de defensável do ponto de vista matemático ou estatístico, não permite que o próprio candidato possa chegar ao cômputo de pontos atingido. Se ele acertar uma questão que todos acertam, pontua menos; se acertar uma questão que todos erram, pontua mais, desde que acerte as questões menos difíceis, pois, se isto acontecer, considera-se que “chutou” a resposta. Mas ele não tem acesso a este tipo de informação: ele recebe uma pontuação fechada e, para ele, incompreensível. A TRI (Teoria de Resposta ao Item), portanto, mais do que auxiliar a tornar o exame mais transparente, é um elemento complicador que não permite que o candidato saiba se a pontuação recebida está correta. Na Unioeste, com cada questão tendo um valor absoluto e não relativo ou calculado por um “desvio padrão” (critério que já foi usado e abolido pela pouca transparência da sua aplicação), cada candidato sabe a pontuação que fez e pode, com dados concretos, reclamar, se julgar que a universidade se equivocou no cálculo de seu escore.

A sétima: na Unioeste, no dia em que se aplicam as provas, publicam-se os gabaritos provisórios para que o candidato saiba que respostas eram esperadas. O Enem também o faz, mas, no caso da Universidade, a publicação se dá para que o candidato tenha direito a recurso, se julgar que alguma questão ou resposta foram indevidamente produzidas: o princípio não se aplica ao exame do Inep. O princípio em uso, portanto, é o de que o elaborador de questões é infalível e o aluno sempre está equivocado. Sabe-se que o elaborador não é capaz de prever todas as possibilidades de leitura da questão que está propondo e que o aluno, às vezes, tem razão na reclamação: mas esta é silenciada, no caso do Enem. O dogma da justiça do direito de contraditório, simplesmente, não é respeitado pelo Enem.

A oitava: o Enem permite que o aluno se inscreva para cursos distintos de diferentes universidades, permitindo que, em face das suas condições materiais, tenha mobilidade. Ora, entre alguém com pouca condição financeira e alguém com muita, não é difícil perceber que terá uma mobilidade maior aquele com mais estrutura. Trocando por miúdos: o exame parece (sem pretender que esteja em jogo uma teoria da conspiração) ter como resultado o benefício daqueles que podem se deslocar do Sul para o Norte ou vice-versa, em detrimento daqueles que ficam obrigados a fazer a “opção” apenas pela instituição que está perto de si. No limite, parece possível afirmar que se está permitindo que as universidades públicas sejam postas a serviço dos que têm maior poder de mobilidade (financeira) do que outros.

A nona: a Unioeste acumulou, ao longo de quinze anos ou mais, um know-how sobre a realização do vestibular que, há muito tempo, permite que se faça, se precisar, uma devassa na condução dos trabalhos e do processamento dos resultados, tendo atingido um patamar de lisura, transparência e seriedade inegáveis, além de uma infraestrutura material que exigiu investimentos financeiros de monta considerável ao longo do tempo. Inclua-se, sobretudo, o saber técnico e humano adquirido, que permitiu, inclusive, que, há dois anos, a Universidade passasse a fazer concursos externos, tendo realizado, em dois anos, 14 concursos, todos com resultados homologados pelas instituições contratantes. É mais uma parte da história que se apagaria com a adoção do Enem, desconsiderando-se o potencial construído laboriosamente.

A décima: mais do que uma proposta de caráter pedagógico e de melhoria do ensino superior, o Enem (até pela sua natureza – ele não foi feito para isso) parece se destinar muito à legitimação de um exame de avaliação do ensino do médio. Parece óbvio que estas duas ordens de problemas não podem ser misturadas. Uma coisa é avaliar o que se sabe ao final do ensino médio; outra é selecionar as pessoas que entrarão na universidade, com tudo que isso implica. Enfatize-se: o Enem não é o melhor processo de seleção para o ensino superior. Se o MEC tem como objetivo melhorar a qualidade do ensino médio, ele deveria fazê-lo por meio das medidas necessárias para saneá-lo: e não à custa de um pacto da universidade com uma política de governo e não de estado. Considere-se, ainda, o custo astronômico da aplicação do exame, com investimentos pesadíssimos de recursos públicos: da ordem de milhões. Contam, neste caso, inclusive, os valores nada desprezíveis de destinação de aportes financeiros para as IES que adotarem o Enem (e só para elas). Apenas isto deveria bastar para que a Unioeste fosse contra a proposta. Por que não se destina estes recursos às IES, mesmo que elas não adotem o Enem? Esta, acredito, é uma boa questão.

A décima primeira: apesar da reticência com relação à reserva de vagas como política compensatória, hoje, entendo e defendo que ela se mantenha. Foi por meio dela que filhos de pobres passaram a fazer Medicina, por exemplo, na Unioeste. Se o Inep tiver ao seu encargo distinguir quem são os 40% de cotistas que entrariam na Unioeste, tem-se um problema, dado que outras IES não têm a mesma política: e a falta de lógica poderia emperrar o processo. O Inep ainda não lida bem com dados absolutos: que dirá com quantidades relativas. Se ficar ao encargo da própria universidade fazer esta seleção, então, que fique ao seu encargo efetuar a seleção toda: em todos os seus momentos e etapas.

Este texto é de responsabilidade individual, embora, na sua argumentação, constem não só posicionamentos e pontos de vista pessoais. Se a Unioeste entender que deve adotar o Enem em lugar do vestibular que o faça, mas que esta decisão seja tomada após debates amplos de todos os segmentos acadêmicos. Se a alteração de resolução de um tema qualquer é assunto partilhado com todos os colegiados, este tema não deveria ser tão somente para a decisão de um conselho que, parece, não ter, no momento (haja vista o silêncio que imperou na última reunião do COU), os elementos necessários para representar a vontade da Unioeste. A sugestão é de que o encaminhamento se dê no sentido de um debate com a magnitude e a amplitude que o tema exige e que, inclusive, tome-se a decisão após uma consulta acadêmica (votação). O bom senso manda que, entre o certo e o duvidoso, fique-se com o certo.

Penso poder sugerir algumas alternativas para que o Enem seja contemplado, caso seja benéfico para a instituição a sua adoção. O Enem poderia ser usado como bonificação, com a adição de pontos ao escore do candidato. Poderia, ainda, ser usado, como acontece hoje, para o preenchimento das vagas ociosas que remanescem após o encerramento das chamadas de matrícula. Poderia, por fim, substituir a primeira etapa do vestibular, ficando a Unioeste com a segunda etapa, porque ela corresponde às provas de conhecimentos específicos e de redação. Esta última forma seria, no limite, a que menos prejuízo traria (porém, mais do que as outras duas) para a história institucional, financeira e pessoal que cerca o vestibular da Unioeste. Como substituição global do vestibular da Unioeste, acho que a adoção do Enem é uma iniciativa apressada e pouco refletida pela comunidade acadêmica (como um todo).

* João Carlos Cattelan
Professor de Letras – Graduação/Rondon – Mestrado/Cascavel
Diretor de Vestibular de 2006 a 2011
Coordenador Geral de Concursos e Processos Seletivos



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estudantes do campus da Unioeste elegem nova direção do DCE neste dia 10




Acontece nesta quinta-feira, 10, a eleição da nova diretoria do Diretório Central de Estudantes do campus da Unioeste de Marechal Cândido Rondon. Duas chapas concorrem aos cargos, tendo dois acadêmicos do curso de História encabeçando cada uma delas.
 A chapa 1 é encabeçada pelo acadêmico do 3º ano Guilherme Dotti Grando, sendo formada ainda por Lucas Schwengber, do 3º ano de Agronomia para o cargo de vice-presidente; Gabriel Cainã Clazer Alano, do 2º ano de Direito para primeiro secretário geral; Douglas Cristian Coelho do 3º ano de Geografia para 2º secretário geral; Eduardo Schulz Mittanck, do 3º ano de Zootecnia para 1º tesoureiro; Jeferson Rodrigo Gremaschi, também do 3º ano de Zootecnia para 2º tesoureiro; Drederson Marcos Celiberti Fernandes do  3º ano de Educação Física para secretário de Esportes e Lazer; Renan Brito Freiberger do 3º ano de Letras para secretário de Cultura e Mayara Regina Fagundes, do 2º ano de História como suplente.
A chapa 2 é encabeçada pelo atual presidente do DCE, Emerson Luiz Wesseling, tendo como vice Anderson Luis Heling do curso de Agronomia. Leo Brusch, do curso de Letras, Mateus Rodrigues Fontes, de Geografia, Maiko Rodrigo Defrey do curso de História, Evandro Augusto de Souza Oliveira, de Ciências Contábeis, André Rento Rinaldi, de Agronomia, Priscila Wunder Meller, de Administração, Edimar Rodrigo Rossetto, de Geografia, Everaldo Link de Administração e Douglas Luis Wrasse, de História compõem o restante da chapa concorrendo para os cargos de secretários, tesoureiros, secretário de ciências agrárias, de Ciências Sociais Aplicadas, de Ciências Humanas, Educação e Letras, secretário de Esporte e Lazer e, secretário de Cultura, respectivamente.
A votação está acontecendo durante todo o dia de hoje no campus da Unioeste, sendo que dentre as propostas de ambas as chapas estão a luta pela efetiva implantação do Restaurante Universitário e da Casa do Estudante, além de outras.


 Ontem, dia 09, aconteceram os debates entre os candidatos na saguão principal do campus.