sexta-feira, 15 de maio de 2015

CRÔNICA: Servidores X Governo DO PARANÁ: Bonde Desgovernado

Luciano Egidio Palagano*
Frase que explica a concepção de Democracia da maioria dos políticos:
“Democracia é quando eu mando em você,
ditadura é quando você manda em mim.”
(Millôr Fernandes)


Hoje, 15/05, o Campus da UNIOESTE de Marechal Cândido Rondon foi palco de mais um protesto dos servidores estaduais.
Um dia depois do governo estadual anunciar que encerrou as negociações com os sindicatos que representam as diversas categorias em greve no estado do Paraná, o campus de Marechal Cândido Rondon da Unioeste foi palco de mais um protesto que unificou professores e funcionários da UNIOESTE e da Rede de Educação Básica.
O protesto ocorreu durante a realização de uma das mesas do XV Seminário de Extensão da Unioeste, que começou ontem 14/05, os manifestantes fizeram uma recepção ao Deputado Federal Evandro Roman (PSD) em um ato de repúdio à defesa que o mesmo fez na Câmara dos Deputados em Brasília dos atos do Governo Estadual, relacionados aos fatos ocorridos no dia 29/04.
Na mesma mesa também deveria ter estado presente o atual Secretário de Esportes do Paraná, Douglas Fabrício, que, segundo informações, não se fez presente por motivos de saúde.
Logo na chegada já foi possível ver o constrangimento do deputado quando o mesmo se deparou com o cemitério simbólico em frente da Biblioteca do Campus.
Dep. Evandro Roman (PSD) e Assessor
chegando no XV SEU. Ao fundo: cemitério da gestão Richa
Imagem: Luciano Egidio Palagano
Assim que o mesmo se dirigiu à mesa e iniciou sua fala, os manifestantes (vestidos em trajes de luto, com a boca tapada por tiras escuras e segurando cartazes) deram as costas ao deputado esvaziando a plateia e se posicionando ao lado do cemitério entoando o grito “Fora Beto Richa”.
Enquanto os manifestantes se posicionavam ao lado do cemitério e a plateia ficava cada vez mais vazia, era perceptível a preocupação e o constrangimento do parlamentar com o ato, uma vez que volta e meia, durante a sua fala, ele inseriu algum termo de homenagem à educação e aos professores, aparentemente tentando mediar a tensa situação que se verificava no momento.
Após a fala do deputado, foi aberto um espaço para questionamentos e apesar da temática da mesa não ser a greve dos servidores e nem mesmo os fatos ocorridos no dia 29/04, foi este o tema que dominou o debate.
A professora Aparecida Darc (comando de greve da UNIOESTE) fez uma fala ao deputado no sentido de que o protesto realizado naquele momento não era uma questão de vontade, mas sim de necessidade e de que a fala do professor coordenador da mesa (Professor Luís Peres – Ed. Física), que colocou que o parlamentar havia conseguido recursos para a Universidade, e a atuação do parlamentar com relação aos fatos do dia 29/04 e de todo o processo de mobilização era no minimo contraditório.
O deputado ao responder a professora colocou que não era de esquerda e nem de direita, e que defendia o direito de greve, mas que era preciso também defender a ordem instituída.
Servidores segurando faixa da manifestação
Imagem: Luciano Egidio Palagano

Um terceiro questionamento foi feito ao parlamentar pelo integrante da rede estadual de educação básica, Maicon Palagano, que mencionou que o atual chefe da casa civil do Paraná (Eduardo Sciarra - PSD) que é do mesmo partido de Evandro Roman, enquanto deputado votou contra a penalização do trabalho escravo. E que, já que o deputado em sua fala se dizia a favor do movimento dos servidores, por que ele, na qualidade de Deputado Federal, também não denunciava o Governo Estadual à PGR à exemplo dos Deputados Ivan Valente, Chico Alencar, e Jean Willys (PSOL). Ao responder o questionamento do servidor, o parlamentar apenas disse que, como os deputados mencionados são de extrema esquerda (na avaliação do parlamentar) ele não entraria neste assunto.
Mas, talvez dentre todos os questionamentos, aquele que mais tenha se destacado (devido a polêmica resposta dada pelo parlamentar) tenha sido o do Professor do curso de História da Unioeste, Gilberto Calil que também integra o comando de greve da UNIOESTE. O mesmo questionou o deputado sobre a sua afirmação de não ser nem de esquerda e nem de direita, e sim a favor do povo (sentido genérico).
Servidores aguardando a chegada do Dep. Evandro Roman
Imagem: Luciano Egidio Palagano
O professor questionou o deputado sobre esta afirmação, e colocou que historicamente o agrupamento politico que sempre trouxe este discurso de não ser esquerda e nem direita foi o fascismo**. Ao responder o professor, Evandro Roman reiterou a posição anterior, dizendo novamente que defendia o povo e não era nem de esquerda e nem de direita e que se isso fosse ser fascista ele não via nenhum problema nisso.
Após este debate, a situação se manteve tensa até o final da mesa, onde na saída do deputado alguns de seus assessores ensaiaram um bate boca com alguns manifestantes um pouco mais exaltados.
Enfim, o ocorrido hoje na Unioeste serviu como uma mostra sobre a atual situação do Estado do Paraná, pois na reunião do Conselho Estadual da APP juntamente com o Comando Estadual de Greve da entidade ficou deliberada a continuidade da greve apesar das ameaças do governo, assim como também deliberaram pela continuidade as várias assembleias das entidades representativas dos professores e servidores das IES, além da SANEPAR, que ao que tudo indica começa uma paralisação no próximo dia 19/04. Desta forma, a partir da semana que vem, caso o governo não tenha um insight de habilidade politica para atuar junto ao movimento grevista, se configura a construção de uma greve geral dos servidores estaduais no estado.
Dep. Evandro Roman é recepcionado por manifestantes.
Imagem: Luciano Egidio Palagano
Acontece que, aparentemente o governo vai na contramão desta necessária habilidade, pois ontem uma das medidas do mesmo foi fechar a mesa de negociação.
Fica então a pergunta: como resolver o atual impasse, se por parte do governo não existe a possibilidade de diálogo? Ao que parece o governo tomou uma posição e quer enfiar a mesma “goela abaixo” dos servidores, nada surpreendente para uma gestão que fez o uso de tamanho aparato policial no dia 29/04, na intenção de impedir os servidores de participarem da sessão que votava a mudança na PRPrevidência.
Este impasse em que se encontra o estado, e que já acumulou desde ações que beiraram o ridículo como deputados chegando na ALEP em um camburão e trágicas como o “Massacre no Centro Cívico” parece estar longe de ser resolvido. O bonde continua acelerando cada vez mais, e ao que parece, segue Desgovernado.

* Bacharel e Licenciado em História, correspondente do Jornal Pasquim do Oeste e colaborador do projeto Brasil de Fato Paraná
** O fascismo é um movimento político e social que nasceu na Itália pela mão de Benito Mussolini na sequência da Primeira Guerra Mundial. Trata-se de um movimento totalitário e nacionalista, cuja doutrina (e as similares que se desenvolvem noutros países) recebe o nome de fascista.
O fascismo surgiu como terceira via perante as democracias liberais (como a norte-americana) e o socialismo (a URSS). Para além do regime de Mussolini na Itália, são considerados fascistas os da Alemanha de Adolf Hitler e da Espanha de Francisco Franco.
O fascismo baseia-se num Estado todo-poderoso que diz encarnar o espírito do povo. A população não deve portanto procurar nada fora do Estado, que está nas mãos de um partido único. O Estado fascista exerce a sua autoridade através da violência, da repressão e da propaganda (incluindo a manipulação do sistema educativo).
O líder fascista é um maioral que está acima dos homens comuns. Mussolini denominava-se como Il Duce, que deriva do latim Dux (“General”). Trata-se de lideranças messiânicas e autoritárias, com um poder que se exerce de maneira unilateral e sem consultar (pedir a opinião) quem quer que seja.
Na Alemanha, o fascismo está associado ao nazismo. Este movimento teve uma forte componente racial, que promulgava a superioridade da raça ariana e procurava exterminar as restantes colectividades, como os judeus, os ciganos e os negros.
O neofascismo e o neonazismo repetem atitudes dos movimentos originários (violência, autoritarismo), apesar de negarem ou minimizarem os crimes cometidos por esses grupos ao longo do século XX.

Leia mais: Conceito de fascismo - O que é, Definição e Significado http://conceito.de/fascismo#ixzz3aFRo5nyH

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