terça-feira, 30 de julho de 2013

PLANOTEC BIODIGESTORES


ASTRONOMIA



Para quem quiser visualizar a Estação Espacial Internacional (ISS):
Além de seguir as instruções da foto, olhe hoje às 19 horas 28 minutos para a direção que fica a esquerda de Vênus.
Vênus é aquela estrela (que não é uma estrela, é um Planeta) brilhante que esta a aparecendo logo após o Pôr do Sol nesta época do ano.




Colaboração: Luciano E. Palagano

OPINIÃO



Dr. Rosinha: Quando o comportamento da mídia é criminoso

publicado em 30 de julho de 2013 às 10:47


Presos e torturados para confessar assassinato que não cometeram

Mídia: comportamento criminoso

por Dr. Rosinha, especial para o Viomundo

No texto (Viomundo) “Carla Hirt: Baleada, agredida e acusada de formar quadrilha”, assinado pelo Azenha, registra-se que O Globo de 25/07/2013 traz a manchete: “Agente da Abin e mulher foram presos participando de quebra-quebra”. A partir daí, passa a contar a sua versão, sem dar oportunidade de defesa aos acusados ou de apresentar outra história que não a inventada pelo jornal.
Infelizmente esse comportamento de O Globo não é isolado, faz parte do cotidiano da maioria dos jornais, pasquins e jornalecos por esse nosso Brasil a fora. Também é comportamento de parte das rádios e TVs, principalmente se o cidadão ou a cidadão foi preso ou presa. Se for pobre, pior.
Recentemente, assombrou o país o caso dos quatro jovens torturados aqui no Paraná. Foram submetidos às mais violentas torturas para confessar que haviam cometido estupro coletivo seguido de homicídio. Era a polícia incompetente querendo provar competência e agilidade na suposta solução de mais um ato de violência contra a mulher (estupro seguido de homicídio).
Mas como os jovens presos são pobres, além da tortura física, sexual e psicológica a que foram submetidos nas delegacias, também houve “tortura midiática”. Os meios de comunicação acusaram e ao mesmo tempo, sem nenhuma investigação, condenaram esses jovens.
Por esta condenação midiática, semana passada (23/7) dei entrada de um pedido de providências junto ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Ministério Público (MP) do Paraná. O pedido solicita que os dois órgãos investiguem a cobertura feita por veículos de comunicação acerca do assassinato da adolescente Tayná Adriane da Silva, 14, ocorrido no fim de junho, em Colombo, região metropolitana de Curitiba.
No dia 28/6, a Polícia Civil do Paraná apresentou à imprensa quatro homens presos pelo crime, com a seguinte chamada: “Policiais do Alto Maracanã prendem quarteto que violentou e matou garota de 14 anos”. A manchete vinha acompanhada de fotos em alta resolução, que seriam imediatamente reproduzidas por inúmeros veículos de comunicação em todo o país. “Os criminosos chegaram a vestir a menina novamente após violentá-la e matá-la”, prosseguia o texto, que em nenhum momento citava a condição de suspeitos dos presos.
Em minha representação, observo que a superexposição dos acusados e a antecipação de um juízo de culpabilidade feriram o princípio da dignidade humana e os direitos fundamentais à presunção de inocência, à honra, à imagem, à integridade física e moral.
Defendo que tanto os torturadores quanto os veículos de mídia precisam ter suas condutas investigadas. Peço a investigação da RPC-TV (afiliada da Rede Globo), a TV Globo, a TV Colombo, a TV Band Curitiba, a RIC TV (afiliada da Rede Record), a Rede Massa (afiliada do SBT), a Rede Record e o jornal “Tribuna do Paraná”, que na chamada de capa chama-os de “perversos e covardes” (http://drrosinha.com.br/dr-rosinha-denuncia-cobertura-da-midia-sobre-o-caso-tayna-ao-ministerio-publico/).
Remeto ao Ministério Público Estadual e Federal vídeos coletados em que os quatro acusados são classificados como “bandidos”, “vagabundos”, “indivíduos da mais alta periculosidade”, “monstros”, “seres malignos”, “psicopatas criminosos”, “malditos”, “com sangue ruim”, entre outros adjetivos.
Além de acusar, julgar e condenar os rapazes, alguns veículos de comunicação levantaram ainda uma discussão sobre a pena que deveria ser aplicada aos acusados, incitando contra eles o ódio da população. Cito como exemplo o apresentador Paulo Roberto Galo, da Rede Massa, no programa televisivo “Tribuna da Massa” que chega a perguntar a seus telespectadores o que deveria ser feito com “esses caras”. E sugere: “Corta? Capa? Mata? Pena de morte?”.
Uma inocente foi assassinada e quatro homens foram torturados pela polícia e pela mídia, pois o tratamento dado a eles foi para marcá-los para sempre.


* Dr. Rosinha, médico pediatra é deputado federal (PT-PR) e presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. No twitter: @DrRosinha

Mais: http://www.viomundo.com.br/denuncias/carla-hirt-baleada-agredida-e-acusada-de-formar-quadrilha.html

Fonte: http://www.viomundo.com.br/denuncias/dr-rosinha-quando-o-comportamento-da-midia-e-criminoso.html

segunda-feira, 29 de julho de 2013

MATERIAL RECICLÁVEL



Catadores: trabalhadores em busca de reconhecimento e dignidade


Quanto vale o trabalho de quem recolhe o teu lixo? 
Quanto deve ganhar quem cuida dele?
O mesmo que quem cuida da sua saúde, da sua educação, da sua habitação, ou lhe traz informação? 
Qual é o valor que tem para a sociedade quem separa o lixo que ela produz?  



        São 47 os associados da Cooperagir, cooperativa que reúne os catadores de materiais recicláveis no município de Marechal Cândido Rondon, cujos cerca de 47 mil habitantes produzem, mensalmente, é bem provável que mais do que as 98 toneladas  de material coletado pelos catadores.  Eles são 47, mas seus rendimentos sustentam pelo menos 196 pessoas, segundo os cálculos da coordenadora executiva da cooperativa Margareth Hofstaetter . Ela estima que cada família seja composta por quatro pessoas, no mínimo.

        O fato é que eles trabalham com o consumo da sociedade, e, por isso, hoje são cada vez mais necessários. São os processadores do nosso lixo. Os coletores do nosso lixo. Invisíveis para a maioria.        Pois esta gente invisível tem ganho um pouquinho de visibilidade nestes tempos de posicionamentos politicamente corretos com relação ao meio ambiente e à destinação do lixo que a sociedade moderna produz.

       No oeste do Estado do Paraná vem surgindo, aos poucos, um movimento bem moderno. Moderno no sentido de que traz a premissa de uma rede coletora para uma região que pode estar produzindo cerca de 200 toneladas/mês de material reciclável. 

Depósito de admissão do material: o material trazido pelos caminhões é depositado neste local e vai sendo empurrado para a parte coberta, aos fundos.
Sob essa cobertura, os sacos que contem os resíduos são abertos e lançados no funil, que conduz a uma esteira, num pavimento abaixo.
Nesta esteira ocorre a classificação e separação dos diversos materiais
Os materiais separados são acondicionados em sacos, "bags" ou caem nos carrinhos de mão, com os quais são transportados para a prensa.
Quando se separou uma quantidade razoável de cada material, a mesma é compactada por meio de uma prensa hidráulica, para otimizar o armazenamento e o transporte
O papelão separado...
é prensado, reduzindo consideravelmente o seu volume





 
Assim, está pronto para o transporte por parte dos compradores.


























Sucata separada e pronta para a venda: não passa pela prensa.
Garrafas PET acondicionadas em "bags".
 
O projeto elaborado por Margareth e financiado pela Fundação Banco do Brasil, Petrobrás, BNDES, Ministério do Trabalho e Emprego e Secretaria Nacional de Economia Solidária, garantiu à rede três novos caminhões, dois furgões e um de carroceria, para integrar a produção dos municípios vizinhos e os profissionais envolvidos na coleta do material reciclável. A questão neste momento é a manutenção destes veículos , o custo operacional deles. 


Margareth Hofstaetter: "...estamos buscando uma solução conjunta como os municípios."
Segundo Margareth Hofstaetter, em Marechal Rondon, a Cooperagir conta com uma colaboração financeira, de R$ 18 mil mensais que auxilia nos gastos de manutenção, motorista e pagamento de impostos do caminhão existente, assim como outras despesas administrativas da cooperativa. Neste sentido, para efetivação da rede, se tem buscado sensibilizar os prefeitos dos municípios integrantes, no intuito de alertá-los para a importância de um real dimensionamento da coleta de material reciclável em suas cidades e da necessidade da valorização dos profissionais que nela atuam, na medida em que seu trabalho evita que tais materiais acabem nos já problemáticos aterros sanitários. 
No caso do consórcio que está sendo implantado para o gerenciamento dos resíduos sólidos, busca-se uma solução para resolver a situação de maneira conjunta, visto que os municípios envolvidos produzem em torno de 200 toneladas de resíduos/dia.

Fundada em 2008, a cooperativa é exemplo de gestão e renda para seus associados que percebem mensalmente cerca de R$ 800,00. Conta com um caminhão que uma das quatro equipes opera para o recolhimento do material nas empresas e funciona em uma situação um tanto quanto precária no que se refere a infraestrutura para a separação do material, local onde atua outra equipe.  As outras duas equipes atuam no trabalho de porta em porta com os carrinhos e na separação do material junto à Usina de Reciclagem. 

Falta Conscientização 

Mas muito mais pessoas poderiam atuar no setor, além das famílias dos 47 associados, não fosse ele tão estigmatizado pela sociedade, que, por ora,ainda não se conscientizou do valor, nem do montante do lixo que produz, e, muito menos, dos estragos que ele pode causar se não tiver a destinação correta.


Fotos: Cesar R. Scheffler




 








quinta-feira, 25 de julho de 2013

O SOLO E AS ÁGUAS NAS CIDADES



VOCÊ QUER MESMO SALVAR UM CÓRREGO?



TEXTO E FOTOS: CESAR ROBERTO SCHEFFLER

Quando se trata de estabelecer áreas de proteção ambiental em torno de córregos, no seio de uma cidade, não basta cercar as áreas supondo que, desta forma, permanecerão intocadas e recuperar-se-ão espontaneamente.
APP separada da urbanização por um muro: sem transição, 
chega até este toda a infraestrutura, inclusive as galerias
pluviais. Mas para onde vão essas águas?
Isso porque a urbanização continua exercendo pressão sobre elas, de várias formas. Geralmente tornam-se espaços da clandestinidade, terra de ninguém, onde as pessoas procuram driblar as leis por meio de diversas práticas mais ou menos condenáveis; deposita-se toda espécie de materiais indesejados, restos de poda, caliça da construção civil, móveis e objetos velhos; e surgem frequentadores que raramente demonstram alguma preocupação ambiental, ou mesmo o conhecimento do propósito para o qual tais áreas são destinadas, que é o da preservação.
            Juntam-se a estas ocorrências as torrentes inevitáveis que desembocam nestas nascentes e fundos de vale por ocasião das chuvas, pelo simples fato de que este é o caminho natural das águas, submetidas exclusivamente à ação da gravidade. Provindo diretamente das ruas, a enxurrada causa diversos prejuízos às matas ciliares, derrubando árvores e abrindo largos sulcos cujo solo removido é descarregado nas nascentes e córregos.

Processo erosivo recente, causado pelo
 escoamento superficial das águas de ruas e calçadas
Processo erosivo com cerca de duas décadas, causado pelo escoamento das águas concentradas em galerias pluviais. Note-se que a manilha de 1m de diâmetro está a cerca de 3m acima do fundo da voçoroca

             Escoando pelo sistema de drenagem pluvial, a água chega quase instantaneamente, cada vez mais caudalosa em virtude da crescente impermeabilização das áreas adjacentes. O resultado são picos poderosíssimos de vazão que provocam erosão em escala difícil de estimar para aqueles que nunca presenciaram a “cabeça d’água”.
             Ainda as galerias pluviais, não sendo impermeáveis, atuam como drenos nas regiões por onde passam, acelerando o escoamento das águas do lençol freático. Desta forma influenciam o regime hídrico dos cursos d’água concentrando as vazões em curtos períodos imediatos às chuvas. 

Direto na fonte

A degradação do solo, das matas ciliares e da água em função das precipitações, é um problema comum nos fundos de vale urbanos e reflete diretamente nos segmentos, econômico, social e político, se não de forma imediata, em longo prazo. As soluções são tecnicamente possíveis, mas exigem a participação popular, o que requer trabalhos de conscientização e educação ambiental, juntamente com políticas apropriadas de incentivo ou restrição. Isso porque são transtornos que originam-se no âmbito privado, com a impermeabilização excessiva dos lotes urbanos.
 Sistema de coleta, filtragem, armazenamento e aproveitamento d'água pluvial
Não seria exagero afirmar que, tendo o direito de uso sobre uma determinada parcela de solo, o proprietário deve ser responsável direto pela gestão das águas pluviais que incidem sobre seu lote. Não se trata de onerar o contribuinte, pois a boa gestão da água das precipitações pode ser encarada como fonte de recursos.
Através do emprego de cisternas é possível reduzir em muito a quantidade de água que sai de uma determinada parcela de solo urbano, evitando o desperdício de água que pode ser empregada em diversas atividades domésticas. Restaria então, ao poder público, lidar apenas com os fluxos decorrentes da impermeabilização dos espaços que estão diretamente ao seu encargo, tais como as ruas e praças.


Possibilidades técnicas para os espaços públicos

As normas técnicas para a execução de obras de drenagem em rodovias representam um manancial de ideias, quando a intenção é minimizar o potencial erosivo das enxurradas. Apresentam soluções de eficácia comprovada por séculos de utilização e passíveis de cálculo preciso.
Exemplo de escada dissipadora

Uma destas é a escada hidráulica, um dissipador de energia que tem sido usado há, no mínimo, 3.300 anos.
Nela, a dissipação de energia é um fenômeno caracterizado pela transformação da energia cinética contida no escoamento das águas, em energia de turbulência e, em seguida, em energia térmica devido ao efeito da agitação interna do fluido. Esta transformação é obtida com maior intensidade quando se desenvolve no escoamento o ressalto hidráulico (ondulação turbulenta resultante da passagem brusca do escoamento em regime rápido, a montante, para um regime lento a jusante). Sua eficiência, quando corretamente dimensionada e construída, varia de 77% a 95%.

Representação dos fluxos d’água em ressaltos
 hidráulicos com variados graus de eficiência


Uma destas é a escada hidráulica, um dissipador de energia que tem sido usado há, no mínimo, 3.300 anos.
Representação de bacia dissipadora sem alargamento do canal
          Isoladamente, ou em associação com a referida escada, podem ser empregadas bacias dissipadoras, que empregam o mesmo princípio do ressalto hidráulico e, em alguns casos, também reduzem a velocidade do fluxo pelo alargamento do canal de escoamento.
         Outra possibilidade, embora polêmica, é o emprego dos reservatórios de retenção e extravazão, aplicados no sentido de distribuir as vazões de pico em intervalos de tempo maiores, por meio de represamento temporário. Nos primeiros (on line), todo o fluxo de água passa por dentro do reservatório ao passo que os segundos (off-line) só captam o excesso de água e operam em paralelo ao rio ou canal pluvial. 

 
Representação de reservatório duplo off line



            Na construção de um reservatório deve se levar em conta:

-O volume necessário calculado com base na taxa de permeabilidade, cobertura vegetal, área de captação e inclinação das vertentes.
-O dispositivo de descarga, responsável pela restrição da vazão de saída. Determina o acúmulo temporário d’água durante os períodos em que a vazão de entrada apresenta maior magnitude.
-Um vertedouro, que permite a extravazão do reservatório em caso de precipitação superior à que serve de base ao projeto.


Os reservatórios de retenção poderiam ser facilmente obtidos pela execução de diques estratégicamente colocados na desembocadura de grotas e voçorocas bem como na saída de bacias naturais no próprio leito dos córregos. Tais intervenções, resultam pouco agressivas fazendo bom uso do relevo acidentado que é marcante em grande parte dos fundos de vale incrustados na malha urbana dos municípios do Oeste do Paraná.  E talvez fossem bem aceitas pelos órgãos de fiscalização e controle ambiental caso estas áreas se destinassem à educação ambiental, fechando o ciclo com benefícios para a população.

Parques

A idéia de empregar parques urbanos de lazer ou criar parques exclusivamente para a finalidade de Educação ambiental não é uma novidade. Existem várias experiências no Brasil, espalhadas em cidades como São Paulo-SP, Vitória-ES, Maceió-AL e, como naturalmente não podemos deixar de citar, Curitiba-PR. Nesta última existem experiências de recuperação de nascentes e cursos d’água com prioridade para a educação ambiental, como é o caso do Bosque Reinhard Maack, que abre ao público em geral apenas em feriados e finais de semana. No restante dos dias fica disponível apenas para a visitação por turmas escolares, visitas sujeitas a agendamento. Conta com uma única trilha, bem delineada e sinalizada, permanecendo o restante da área praticamente intocado.

Vista de um fragmento da trilha no Bosque Reinhard Maack, Curitipa-PR

           Parte-se da suposição de que seja mais positivo para a conservação da área integrá-la na cidade e na vida dos cidadãos. Disponibilizando uma forma de lazer salutar, que envolve os moradores próximos, tende a modificar-se sua relação com o lugar, que passa a ser protegido ao invés de desprezado e até agredido. Mudança que pode se refletir sobre os demais aspectos do ambiente natural e urbano, pela consciência de que nossas ações influenciam o entorno imediato, a cidade, a região, e reiteradas por grande parte da população humana, o mundo.
       O fato é que a beleza e a tranqüilidade proporcionadas por estes ambientes ao citadino tendem a sensibilizar muito mais do que qualquer campanha de educação e permitem experiências diretas muito esclarecedoras.
Vista de uma área de preservação sob ameaça, no centro de Marechal Cândido Rondon-PR. Montagem fotográfica


Os parques com visitação restrita e gestão cuidadosa são, provavelmente, a melhor alternativa para a conservação de Áreas de Preservação Permanente já englobadas pelo ambiente urbano. Podem servir à pesquisa e ao ensino, trazer mais segurança a população e propiciar uma opção sustentável de lazer à população. Prestam-se muito bem às áreas já urbanizadas. Mas e quanto ao futuro? A cidade vai continuar se expandindo.
 
Outras imagens da mesma APP. Belezas ignoradas pela maioria da população
  
Interpolando

Uma das propostas referentes ao assunto sugere a interpenetração entre cidade e campo. Desenvolvida por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Berkeley, Califórnia, encabeçados pelo Austríaco Christopher Alexander, esse padrão de ocupação sugere que a cidade não se desenvolva como urbanização compacta, mas em ramais lineares com largura não superior aos 2 Km. Assim, a cidade poderia desenvolver-se atingindo grandes proporções e possuindo um centro bem definido assegurando, no entanto a proximidade de zonas rurais de configuração espacial semelhante à dos espaços urbanos. Os espaços urbanos ocupariam as partes mais altas do relevo e as áreas rurais desenvolvendo-se nos fundos de vale.

Esse padrão de ocupação proporciona inúmeras vantagens. Aproxima o cidadão urbano do ambiente natural. Garante o fornecimento de produtos rurais sem a necessidade de atravessadores e grandes deslocamentos, melhorando os preços para consumidor e produtor, ao passo em que estimula o estreitamento das relações entre estes, humanizando-as. Contribui para a proteção dos mananciais, e salienta a condição dos agricultores como prestadores de serviços ambientais sujeitos a gratificação.  Evita a incidência de problemas típicos das urbanizações convencionais, tais como enchentes e todos os prejuízos sociais, ambientais e econômicos delas decorrentes. Minimiza os impactos da impermeabilização e reduz os gastos com a infraestrutura de escoamento pluvial e drenagem urbana.

Em poucas palavras e por inúmeras razões, colabora no desenvolvimento de ocupações e modos de vida mais sustentáveis.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

BIODIGESTORES


 


Minimizando séculos de passivos ambientais

 

 A implantação de biodigestores em propriedades rurais e indústrias no Brasil tem, ainda, um enfoque muito mais econômico que ambiental. Especialistas afirmam, inclusive, que a tecnologia pode solucionar também boa parte dos problemas de saneamento no Brasil, como o tratamento de esgoto sanitário.


Tecnologias que reduzem impactos ambientais  

A notória má gestão dos resíduos da criação de aves e suínos, principalmente, e, em menor proporção de gado leiteiro, ou pouco evoluída no tratamento de efluentes das indústrias de alimento, gerou, e ainda vem gerando, um enorme passivo ambiental. Mas nas últimas décadas, e aos poucos, algumas empresas têm se especializado em tratar os efluentes oriundos da agropecuária e das indústrias de alimentos.

Tecnologia que reduz impactos ambientais 

De que serve a tecnologia senão para minimizarmos o impacto da nossa existência sobre o planeta. Diversas empresas, muitas delas “incubadas” através de convênios entre universidades e centros ou parques tecnológicos, vêm ocupando um mercado criado pela atual legislação brasileira e pela crescente conscientização ambiental, fatos que tem levado algumas indústrias a desenvolver atividades no sentido de quantificar a vazão e determinar a composição dos seus efluentes. Entretanto, apesar do evidente ganho ambiental que tais iniciativas propiciam a todos os seres vivos, o grande motivo para a atual “febre” da construção de biodigestores, principalmente os que processam dejetos industriais, é financeira mesmo. Em pouco tempo o investimento é coberto pela economia de recursos como lenha, por exemplo.

Segundo dados obtidos no site de uma das empresas que atua na construção e manutenção de biodigestores industriais e agropecuários, com clientes em vários estados do Brasil (veja Box), somente uma fecularia atendida pela empresa no município de Terra Roxa, está tendo 70% do cavaco poupado e 25.000 toneladas equivalentes em CO2 evitadas ao ano com o uso do biogás.
Nas granjas produtoras de suínos e aves, e, nas pequenas propriedades produtoras de leite, os ganhos também são evidentes, embora na indústria eles sejam muito mais consideráveis no aspecto econômico. 

Granja Miotto, em Palotina/Pr
No mundo, China e Costa Rica são os grandes destaques no tratamento de efluentes das indústrias de alimentos através da biodigestão, com produção de biogás para geração de energia elétrica e térmica. Mas há experiências exitosas no mundo todo com dejetos de animais e da agricultura na Europa e no Oriente Médio, e, também de dejetos das cidades nos EUA e África.



Como funciona


Fecularia Lopes - Icaraíma/Pr


O biodigestor anaeróbico é um equipamento usado para o processamento de matéria orgânica, seja de fezes e urina, entranhas de animais descartadas em frigoríficos e sobras vegetais da produção agrícola. Ele funciona como um reator químico, onde as reações acontecem de forma biológica, ou seja, são realizadas por bactérias que digerem matéria orgânica em condições anaeróbias (ausência de oxigênio).
Os biodigestores permitem que o dejeto seja tratado e transformado em biogás, utilizado para a produção de energia e biofertilizante. Além da economia, de energia e biofertilizantes, a tecnologia impede que os dejetos de animais sejam jogados no meio ambiente sem tratamento, contaminando nascentes e lençóis freáticos. Assim, o uso dos biodigestores evita a poluição do meio ambiente com os dejetos orgânicos, especialmente das águas, que tradicionalmente são o seu principal destino, mas também do solo, pois entre outras coisas, reduz significativamente o espaço utilizado para seu tratamento, se levarmos em consideração outros métodos, como as lagoas facultativas, por exemplo.
O digestor anaeróbio produz dois produtos. O biogás, que é uma mistura de gases – cerca de 75% de metano e 25% de CO2 e fertilizantes de ótima qualidade, bem melhores que os químicos, muitas vezes líquidos, misturados à água, mas em alguns processos também sólidos.
A captura do gás metano gera créditos de carbono, com valor de mercado entre os países desenvolvidos e mais poluidores do planeta. Mas a maior parte das pesquisas sobre biodigestores ainda se relaciona à agropecuária, à criação de aves e suínos. 



Empresas


Há, no mercado, empresas atuando na implantação de kits prontos de pequenos biodigestores, verticais ou de lona, para pequenas propriedades e, também na construção de biodigestores gigantes, utilizando-se da mesma técnica. As facilidades de financiamento através de programas como o Pronaf Eco e Programa ABC garantem de 100% do valor financiado com prazos e carência atrativos.

Desta forma encontram-se a venda biodigestores de 10 metros cúbicos e menos de 10 metros quadrados, com produção média de 3 a 5m³ de biogás por dia ou 5 botijões de 13 quilos por mês, e, com uma expectativa de produção de biofertilizantes na faixa de 60 quilos de uréia, 60 quilos de super triplo e 25 quilos de cloreto de potássio. É um sistema destinado a pequenas propriedades e atende cerca de 50 suínos com peso médio de 70 quilos ou 10 bovinos com peso médio de 400 quilos.
O kit básico para instalação e uso do biogás fornecido por uma destas indústrias é composto do kit de instalação (tubulação de biogás, conexões e manômetro), medidor de produção de biogás, bomba de sucção do biogás, purificador de 4 Litros, fogão de duas bocas especial para biogás, balão de armazenamento do biogás de 2 m³ e biodigestor de 10 m³. 
Há também os gigantes, como os construídos por uma empresa do Oeste Paranaense que projeta e executa obras na área de tratamento biológico de efluentes industriais, com objetivo principal de recuperar biogás para geração de energia térmica e elétrica. Aí a produção de biogás é exponencialmente maior. Para se ter uma ideia do número de indústrias que tem investido neste setor a empresa, que não é única na área, tem cerca de duas dezenas de obras previstas para 2013.



Tido como um dos maiores do mundo, o biodigestor construído pela empresa no município de Guaíra, também no oeste do Paraná, tem cerca de 10 mil metros quadrados e está proporcionando uma redução de emissão de aproximada de 30.000 toneladas de CO2 equivalente e redução em 80% no consumo de lenha.

“É claro que nem todas as obras são deste porte. Há os biodigestores construídos em granjas, por exemplo, cuja capacidade pode girar em torno de 1.200m³”, esclarece Eduardo Ferreira, engenheiro agrônomo e sócio da empresa. 




Uma experiência modelo




Algumas iniciativas, como o Condomínio de Agroenergia para Agricultura Familiar da Microbacia do Rio Ajuricaba, foram implantados com apoio oficial de empresas de geração de energia, como a Itaipu Binacional e sua Plataforma de Energias Renováveis. A localidade de Linha Ajuricaba fica no interior do município de Marechal Cândido Rondon, oeste paranaense. É composta quase que totalmente por pequenas propriedades, a maioria produtoras de leite e fica às margens do reservatório da usina de Itapu.

Os passivos ambientais decorrentes de cinco décadas de uso da terra e nenhuma preocupação com os dejetos das atividades agropecuárias começaram a ser corrigidos por volta de 2005 dentro das atividades propostas pelas iniciativas previstas pela Itaipu Binacional para a Bacia do Paraná III, através do Programa Cultivando Água Boa.

Em 2009 iniciou-se a implantação do Condomínio de Agroenergia, nos moldes dos desenvolvidos na Alemanha, através de uma parceria entre o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), Companhia Paranaense de Energia (Copel) Prefeitura Municipal de Marechal Cândido Rondon, Embrapa, Movimento Nacional dos Pequenos Agricultores (MPA), Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI) e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e os próprios produtores.

O objetivo do projeto foi implantar uma referência concreta para a agroenergia na agricultura familiar e desenvolver os critérios para sua sustentação econômica, ambiental, social  e energética.  O projeto contempla a instalação de 34 biodigestores e 22 km de gasodutos ligados a uma microcentral termelétrica.

Entretanto, por ora nem todos os produtores integrados instalaram os equipamentos para a utilização do biogás em suas propriedades, principalmente em função dos custos que podem chegar a R$ 800,00. Da mesma forma, ainda não comercializam assim o excedente para a Companhia de Energia do Estado. 


Biodigestores para tratar esgoto sanitário das cidades

O biodigestor é uma tecnologia simples e de baixo custo para tratar dejetos orgânicos, incluindo esgoto. Para Moacir Araújo, especialista em engenharia hidráulica e saneamento, o Brasil erra ao buscar uma solução de universalização do tratamento do esgoto através da construção de grandes estações de tratamento e redes coletoras. Para ele, isto é um equívoco, já que o custo é extremamente elevado, estimado em R$ 150 bilhões, não previstos, por enquanto, no orçamento público.Segundo ele afirma em entrevista ao site de jornalismo e sustentabilidade Envolverde (http://envolverde.com.br/sociedade/brasil-sociedade/biodigestor-pode-solucionar-parte-do-problema-de-saneamento-basico-no-brasil), “para um país onde 95% dos municípios são pequenos, com população de até cem mil habitantes, existem alternativas melhores. Uma delas, que eu chamo de ganha-ganha, é o biodigestor.”

De acordo com ele, a tecnologia conta com o apoio do Ministério das Cidades, mas não há levantamentos sobre quais e quantos municípios adotam esse tipo de solução. Moacir Araújo conta ainda que as pesquisas desenvolvidas, por exemplo, pela Escola de Engenharia da USP de São Carlos, e por algumas empresas da área, recebem reconhecimento internacional. “As pesquisas e as aplicações têm demonstrado tecnologias eficazes para tratamento do esgoto sanitário por meio do biodigestor e, ainda, no fim do processo, com a oportunidade de gerar energia”, explica Araújo. 
Uma alternativa para o uso do biogás resultante do tratamento de efluentes urbanos é o seu emprego para a secagem do próprio lodo oriundo do tratamento. O gás proveniente da operação de um digestor tipo UASB (sigla inglesa que denomina os reatores anaeróbios de fluxo ascendente através de uma manta de lodo), seria suficiente para a secagem do excesso de lodo produzido pelo mesmo, conforme demonstram vários estudos de viabilidade. O resultado seriam plantas de tratamento mais compactas: um reator como estes, de fluxo rápido e retenção eficiente dos agentes biológicos, proporciona bons resultados na redução da carga orgânica com tempos de detenção muito curtos, necessitando de área útil bastante inferior à dos modelos horizontais; o emprego do metano evitaria o dispêndio de espaço com leitos de secagem convencionais.