sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

RÁDIO DIFUSORA DO PARANÁ





MEIO AMBIENTE



Desertificação: 'por que este assunto não está na capa dos jornais?'

Um solo produtivo leva de três mil a 12 mil anos para a sua formação, e o aumento da desertificação no mundo desmascara a 'eficiência' do agronegócio.


Najar Tubino

Mídia Ninja


É uma decisão da ONU, que desde 2013 também definiu o dia 5 de dezembro como o dia mundial do solo. Em maio, entre os dias 4 e 7, ocorrerá a Conferência Internacional do Solo na Albânia com o lema: “O solo sustenta a vida: muito lento para formar, rápido demais para perder”. Um centímetro de solo demora entre 100 e 400 anos para se formar, e os pesquisadores calculam que um solo produtivo dentro da normalidade leve de três mil a 12 mil anos para a sua formação. Mesmo assim, a ONU calcula que até 2050 o mundo perderá um Brasil inteiro em solo, ou seja, 849 milhões de hectares. São 12 milhões de hectares por ano. O que é mais importante: somente 5 a 10% dessa terra chegam ao mar. Onde fica o restante? No leito dos rios, no lago das represas, tanto de abastecimento de água, como das hidrelétricas, nos córregos, nos afluentes. Como dizem os chineses: os rios do planeta estão empanturrados.
 
O secretário executivo da Convenção das Nações Unidas contra a desertificação, o africano Luc Gnacadja, do Benin, pergunta: por que este assunto não está na capa dos jornais? Simples, porque a mídia tradicional não trata de assuntos importantes realmente, a não ser com um viés conservador, sempre a favor do mercado. Tratar do solo, portanto, poderá desmascarar a eficiência do agronegócio, cuja receita de monoculturas é a mesma no mundo. Mas aí temos as previsões para o aumento da população e as necessidades de alimentação, o que reforça a prática destrutiva do modelo industrial de produção de alimentos. Temos que crescer 50% até 2050, dizem eles. Isso significa algo como 175 a 200 milhões de novos hectares.
A degradação avança em todo o mundo
A matemática é simples: se nada for feito para deter a erosão e o desmatamento, os dois principais fatores da degradação dos solos, em 20 anos teremos perdidos mais 240 milhões de hectares, calculando 12 milhões ao ano, como faz a ONU. Em 1991, 15% das terras cultiváveis do planeta estão se degradando, agora são 24%. Eram 110 países que sofriam com o problema da erosão e com o aumento da desertificação, agora são 168.
“-Veja o caso da África, cita o secretário da Convenção contra a Desertificação, que é o continente mais vulnerável à seca e à degradação dos solos. A situação atual aponta para 45% do solo afetado pela degradação e admite-se que dois terços podem ser perdidos até 2025”, diz Luc Gnacadja.
Ele completa: “até agora a resposta humana à degradação dos solos e ao avanço da desertificação tem sido derrubar mais área de floresta para aumentar a fronteira agrícola”.
Mundo urbano não discute o rural
Um texto sobre outra conferência – em Brasília, entre os dias 25 a 27 de março- cita alguns argumentos sobre a importância do solo:
“- Os solos constituem insumo fundamental para o desenvolvimento humano. Nenhum país consegue desenvolver-se plenamente sem acesso a esse recurso natural e as suas riquezas são incalculáveis. Em interface com a atmosfera, a hidrosfera, a biosfera e a litosfera o solo é responsável pelos principais processos biogeoquímicos que garantem a vida na Terra, estoca a água e recicla nutrientes, protege contra enchentes, sequestra carbono e abriga 25% da biodiversidade”.
Ocorre que o mundo atual é urbano, digital, eletrônico e não comporta espaço nem discussão sobre assuntos considerados rurais, do campo, de outra esfera. A não ser quando da realidade bate a porta e começa a sumir a água das torneiras e, de repente, milhões ficarão sem água, como acontecerá em 2015 em São Paulo. É o que diz um trabalho divulgado pela The Nature Conservancy sobre o problema da falta de água nas grandes cidades.
Detonaram o mato dos mananciais
Se 14,3 mil hectares dos 493,4 mil hectares que formam os sistemas Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga e Rio Grande fossem reflorestados com mato nativo, isso diminuiria em 568,9 mil toneladas de sedimentos que são jogados nos cursos d’água, que alimentam os reservatórios.
“- A sedimentação tem impacto direto na quantidade e na qualidade da água dos mananciais. Isso ocorre porque não há cobertura vegetal ao redor dos rios e das represas. O solo exposto, além de sofrer erosão e não absorver a água das chuvas provoca o escoamento da terra para os corpos d’água, assoreando o leito e diminuindo a vida útil dos reservatórios”, como explica Samuel Barreto, coordenador do Movimento Água para São Paulo.
A região dos mananciais já perdeu 70% da mata nativa para a pecuária e agricultura. Os números levantados pela organização não governamental SOS Mata Atlântica são piores – só restam 488km2, ou seja, 21,5%. Não se trata de uma novidade brasileira. A erosão na China já consumiu 19% da área agrícola e os números apontam para descarga de terra superior no rio Yang-Tsé, o maior da Ásia, superior as dos rios Nilo e Amazonas juntos – três bilhões de toneladas ao ano.
O tempo passa, as cidades inflam, os rios são empanturrados não somente de terra, de solo perdido, juntamente com seus nutrientes e dos fertilizantes químicos, mas também de esgoto e lixo de todo tipo. É uma situação vergonhosa o que acontece no Brasil, onde o tratamento de esgoto ainda não é considerado uma prioridade, mesmo com verbas federais autorizadas. O conto do vigário de políticos sem compromisso com a população não combina com obras que ficam embaixo da terra. Hoje, ao se fazer uma pesquisa sobre assoreamento de rios e represas no país, o resultado é revoltante. Sem exceções, todos os principais rios brasileiros estão assoreados e entupidos de esgoto e lixo. Seus afluentes, córregos e nascentes foram detonados, sem mato para proteção. Tudo em nome do progresso e da modernidade, que fede com os excrementos de milhões de pessoas.
Colapso do sistema público de água
Em 2015, justamente quando o assunto solo poderá ganhar as páginas da mídia ordinária, o país será usado como exemplo do que pode ocorrer na maior metrópole, a falta de água nas torneiras paulistas. O Centro de Desastres Climáticos, do INPE calculou as estimativas de chuvas até abril – mesmo com fevereiro acima da média-, além do que a SABESP retira do sistema Cantareira. E a previsão é que o sistema seca em julho. No início de dezembro passado ocorreu um encontro na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, sobre as perspectivas de abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo. O professor Pedro Luiz Cortês, da Uninovo, coordenador do encontro, disse:
“- Temos um sistema cada vez mais suscetível a eventos climáticos, como secas prolongadas, além do consumo cada vez mais intenso. Desde 2012 sabíamos que entraríamos num regime de falta de chuvas. O governo deveria vir a público apresentar os cenários com os quais está trabalhando”.
Outro comentário, agora do professor Reginaldo Berto, do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas, da USP:
“- É preciso se preparar para o colapso do sistema público de abastecimento a partir de abril de 2015”.
 
Enquanto isso, a mídia ordinária faz uma contagem regressiva ao contrário, dando uma falsa impressão à população de que as coisas estão melhorando: chegou a 8,9% e continua subindo. O Sistema Cantareira, assim como outros sistemas de abastecimento, começou a entrar em colapso ao longo dos últimos anos. A essência do problema é que a classe política conservadora não considera o ambiente como parte da vida e do suporte da vida, além de combater as mudanças climáticas, como se fosse ideia de comunista. E, por essa e outras, que o país, que tem água doce em grande quantidade, dará um exemplo ao contrário ao mundo. Claro, que tudo ainda depende da decisão técnica do governador paulista.       


Fonte: http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FMeio-Ambiente%2FDesertificacao-por-que-este-assunto-nao-esta-na-capa-dos-jornais-%2F3%2F32899

links relacionados: http://m.estadao.com.br/noticias/geral,desertificacao-ameaca-producao-de-alimentos-diz-onu,44333,0.htm


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

AULAS NAS RUAS, NÃO NAS ESCOLAS!



50 mil professores e servidores do Estado do Paraná acompanham encontro do governo Beto Richa com a comissão de greve da APP nesta manhã


Início da concentração dos professores e servidores do interior do estado na praça Santos Andrade, em Curitiba, no início da manhã de 25/02/2015  (Foto: Luciano E. Palagano)


Cerca de 50 mil professores, segundo a APP sindicato, e demais servidores da educação do estado do Paraná  se reuniram em três pontos diferentes da cidade para se encontrarem na praça Tiradentes e, de lá, rumarem para o Centro Cívico, com o objetivo de acompanhar a reunião entre representantes do governador Beto Richa e a comissão de negociação da greve dos professores e servidores do Paraná, no Palácio do Iguaçu. Outra reunião está agendada para o Palácio das Araucárias com o Fórum dos sindicatos dos servidores.
Mais de um milhão de alunos da rede estadual de ensino estão sem aulas, por conta das medidas propostas pelo governo estadual para conter os gastos neste início de ano, motivo pelo qual a manifestação deve passar também pela Secretaria da Fazenda. Veja abaixo panfleto da APP sobre os motivos do movimento:




O movimento grevista atinge também as universidades estaduais, antes mesmo do início do calendário letivo. Os reitores estiveram ontem reunidos com o governador Beto Richa e devem ter liberados hoje, 25/02, os recursos previstos para o custeio das instituições. A assessoria do Palácio Iguaçu informou também que o governo estaria liberando o terço das férias dos professores e servidores.
As manifestações de hoje contam com representantes dos 29 núcleos regionais de educação, assim como dos 15 sindicatos dos servidores públicos estaduais.

Reportagem: Luciano Egicio Palagano - de Curitiba/PR




domingo, 22 de fevereiro de 2015

PISARAM NO ACELERADOR DA HISTÓRIA?*




Por: Luciano Egídio Palagano



Quando os trabalhadores se unificam eles conquistam vitórias nunca antes imaginadas. Um exemplo disso, é o atual processo de paralisação dos servidores do estado do Paraná. Quem garantiria ou apostaria há seis meses atrás, que os servidores entrariam em uma greve unificada e ocupariam a Assembleia Legislativa do Estado durante dois dias? Que  não seriam tirados de lá a força, saindo vitoriosos e de cabeça erguida? E que por duas vezes conseguiriam impedir o parlamento estadual de votar uma comissão geral, sepultando assim o regime de urgência do pacote de austeridade fiscal encaminhado pelo governo estadual do PSDB à Assembleia?
Se alguém, há seis meses atrás, me garantisse que tudo isso iria acontecer eu não acreditaria. Isso, por mais fé que eu tenha na classe trabalhadora. Mas, os fatos e o desenrolar dos acontecimentos mostraram que isso foi, sim, possível. Mais uma vez temos uma prova de que as condições materiais são determinantes  no rumo da História. Medidas que mexeram, ou pretendem mexer nas condições de sobrevivência de trabalhadores de diversas categorias, fizeram com que estes, antes em estado de latência, se movimentassem para a luta.
Hoje, dia 21 de Fevereiro, a greve dos profissionais da educação básica do Paraná completa 13 dias, e o Conselho Estadual do Sindicato da Categoria (APP – Sindicato) esta reunido para deliberar sobre os possíveis rumos da greve, e ao que tudo indica (a reunião ainda não terminou no momento em que redijo estas palavras) a greve deve continuar, e a hipótese de uma assembleia para debater a proposta do governo nem mesmo deve ser cogitada, uma vez, ao que parece, o próprio conselho irá refutar a proposta.
Além dos servidores da educação básica, nestes 13 dias que se completam desde o dia 09 de Fevereiro (primeiro dia de greve da categoria) várias outras categorias aderiram ao movimento: servidores da saúde, trabalhadores do ensino superior, de todas as universidades do estado, agentes penitenciários, Defensoria Pública e agora, mais recentemente, os servidores do Departamento de Transito do Estado (DETRAN/PR).
Ao que tudo indica, “muita água ainda vai rolar” no Paraná nos próximos dias, as greves não estão arrefecendo, pelo contrário, estão ganhando mais força a cada dia, e o processo de greve acaba por ser um catalizador que eleva o nível de consciência politica das categorias em luta.
Ninguém sabe ainda o que pode ocorrer, nem mesmo eu, que também sou parte de uma das categorias em greve, tenho uma visão clara do futuro deste processo.
A única coisa que todos concordam é: Estamos vivenciando um momento único na História do Paraná, e ao que parece alguém resolveu pisar no acelerador da História. Resta saber quem vai conseguir acompanhar esta aceleração, se o governo, se as direções sindicais, ou talvez a própria classe trabalhadora, reciclando antigas formas de luta, e inventando novas ferramentas e métodos de organização.
O tempo passa, e ao que parece no Paraná ele resolveu passar de maneira acelerada, pelo menos esta é a impressão de quem se encontra no “olho do furacão”, e mesmo assim tenta visualizar os fatos a partir de um ângulo externo.


*Luciano Egidio Palagano
Bacharel e Licenciado em História
Servidor da Secretária de Educação do Estado do Paraná
Correspondente do Pasquim do Oeste online e da Revista “Thelema”
Colaborador do Brasil De Fato – Paraná.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

TRANSGÊNICOS

Monsanto revela que milho transgênico pode fazer mal à saúde

O milho, um dos alimentos mais antigos da história da humanidade, atualmente tem a maior parte da sua produção destinada, no Brasil, ao consumo animal. Apenas cerca de 15% é para o consumo humano.
O problema em torno deste alimento, defendido por conter vitaminas A e do complexo B, proteínas e minerais como o ferro, fósforo, potássio e cálcio, tem fundamento na utilização do grão transgênico.
Um artigo publicado no International Journal of Biological Sciences mostrou que o consumo da semente modificada tem efeitos negativos principalmente sobre fígado e rim, órgãos ligados à eliminação de impurezas.1
Embora suas propriedades nutricionais sejam mantidas, [referência retirada]#, o estudo francês revelou que os grãos do milho transgênico apontam claros sinais de toxidade. O biólogo molecular Gilles-Eric Séralini e sua equipe puderam divulgar a pesquisa depois que um decisão judicial obrigou a Monsanto revelar sua própria análise dos grãos que manteve em sigilo impedindo que a informação se tornasse pública.
Os franceses então divulgaram a comparação dos efeitos das sementes MON 863, NK 603 e MON 810 sobre a saúde de mamíferos, sendo as duas últimas permitidas no Brasil, bem como sementes resultantes do seu cruzamento.
No caso do NK 603, os dados apontam perda renal e alterações nos níveis de creatinina no sangue e na urina, que podem estar relacionados a problemas musculares. É por esse motivo que os pesquisadores destacam que o coração foi afetado nos ratos alimentados com esta variedade. O quadro para o MON 810 não muda muito. Embora os machos em geral demonstrem maior sensibilidade a tóxicos, foram as fêmeas que apresentaram ligeiro aumento do peso dos rins, que pode corresponder a uma hiperplasia branda, geralmente presente quando associada a processos imunoinflamatórios.
Os autores do artigo publicado no International Journal of Biological Sciences concluíram que os dados sugerem fortemente que estas três variedades de milho transgênico induzem a um estado de toxicidade, que pode resultar da exposição a pesticidas (glifosato e Bt) que nunca fizeram parte de nossa alimentação.
A Comissão Técnica de Biossegurança, a CTNBio, informa que “o milho NK603 é tão seguro quanto às versões convencionais”, que a modificação genética “não modificou a composição nem o valor nutricional do milho”, que “há evidências cientificas sólidas de que o milho NK 603 não apresenta efeitos adversos à saúde humana e animal” e que “o valor nutricional do grão derivado do OGM referido tem potencial de ser, na realidade, superior ao do grão tradicional”. A CTNBio também avalia que no caso do MON 810 “os efeitos intencionais da modificação não comprometeram sua segurança nem resultaram em efeitos não-pretendidos” e que a “proteína é tóxica somente para lagartas”.
Acrescentamos ao artigo publicado originalmente no site do MST, o Manual do Consumidor, elaborado pelo Greenpeace:

Fontes: MST e Greenpeace
# – Segundo a assessoria de comunicação do médico Durval Riba-Filho, mencionado no artigo publicado pelo MST, que manteve contato telefônico com a Redação da Revista ecoLÓGICA hoje (28/04), o médico nunca concedeu tal entrevista.


RÁDIO EDUCADORA/ATLÂNTIDA




ÁGUA: DIREITO OU MERCADORIA*



Brasil exporta cerca de 112 trilhões de litros de água doce por ano


Atuação no mercado de commodities coloca em pauta a exportação indireta de recursos hídricos

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Contêineres saem diariamente de portos na costa brasileira abarrotados de carne bovina, soja, açúcar, café, entre outros produtos agrícolas exportados para o mundo. Mas dentro deles há um insumo invisível, cujo valor ultrapassa cálculos estritamente econômicos. Ao longo do ano, o Brasil envia ao Exterior cerca de 112 trilhões de litros de água doce, segundo dados da Unesco — o equivalente a quase 45 milhões de piscinas olímpicas ou mais de 17 mil lagoas do tamanho da Rodrigo de Freitas. Tantos litros são o total dos recursos hídricos necessários para produzir essas commodities. E colocam o país como o quarto maior exportador de “água virtual”, atrás apenas de Estados Unidos (314 trilhões litros/ano), China (143 trilhões litros/ano) e Índia (125 trilhões litros/ano). A exportação desse recurso, ainda que indiretamente, tende a crescer num cenário de escassez global, pressionando o país a pensar em políticas públicas voltadas à gestão hídrica.A posição do Brasil no alto do ranking não se deve tanto ao desperdício da água ou à falta de produtividade nas atividades agropecuárias do país, mas principalmente a um fenômeno global de escassez dos recursos hídricos. Num momento em que países como Malta e Kuwait têm 92% e 90%, respectivamente, de “água virtual” importada em seus produtos, o Brasil, com disponibilidade hídrica e territorial, tende a ganhar relevância. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2007 e 2010, as commodities avançaram de 41% para 51% no total de produtos vendidos pelo país ao exterior.
As Nações Unidas (ONU) estimam que, até 2025, cerca de dois terços da população mundial estarão carentes de recursos hídricos, sendo que cerca de 1,8 bilhão enfrentarão severa escassez de água. Na metade do século, quando já seremos 9 bilhões de habitantes do mundo, 7 bilhões enfrentarão a falta do recurso em 60 países. A água, portanto, já é motivo de conflitos em várias regiões do mundo.
— A alocação dos recursos hídricos, além de ambiental, é uma questão econômica, porque quando a água é escassa é preciso destiná-la para onde haverá maiores benefícios para a sociedade. Mas sendo a água um bem público, o mercado não é o único determinante. A água deve ser usada para produzir alimentos para a população, para culturas ligadas a biocombustíveis ou para plantações de commodities para exportação? Isso é uma escolha política — aponta Arjen Hoekstra, criador do conceito de “pegada hídrica” e autor de diversos estudos sobre água virtual numa parceria entre Unesco e a Universidade de Twente.
Recursos hídricos sem preço
Um dos principais parceiros comerciais do país, a China possui 6% da água doce do planeta e já sofre com uma escassez do recurso, aliada a uma redução das terras agricultáveis — desde 1997, o país já perdeu 6% de sua área cultivável devido à erosão e urbanização. No Brasil, o cenário é outro: o país dispõe 40% de terras aráveis, abriga 12% da água doce do planeta e recebe chuvas abundantes durante o ano em mais de 90% do território — ainda que numa distribuição hídrica desigual, com um semiárido de água escassa.
— O Brasil não tem dependência de irrigação, precisa apenas administrar a água da chuva. Não há também a questão populacional, com uma competição entre agricultura e cidades. E enquanto na China há 250 mil unidades agrícolas, no Brasil são apenas 5 mil — enumera Marcos Jank, professor da Esalq-USP e especialista em agronegócio.
A crescente demanda por alimentos de um país que pretende crescer 7,5% este ano provocou uma disparada nos preços das commodities brasileiras. Em 2011, a soja, principal produto exportado a Pequim, teve o preço elevado em 31,6%. A China também foi o principal destino das exportações brasileiras, totalizando US$ 44,3 bilhões no ano passado.
— A tendência de queda dos preços das commodities foi revertida nesta última década com a escassez de água e degradação dos solos mundialmente. E a China foi a principal responsável por essa uma mudança no padrão de comércio — afirma Jank. — O Brasil tem tudo para aproveitar isso, mas hoje a agricultura brasileira está se tornando um negócio de alto custo devido às taxas de câmbio, juros altos e problemas de infraestrutura. São problemas domésticos que estão tirando a possibilidade de usar melhor o boom asiático a nosso favor.
A soja brasileira exportada sustenta, sob a forma de ração, boa parte do rebanho bovino da China, que tem aumentado exponencialmente seu consumo de carne. Segundo projeção da “Economist”, o consumo de carne bovina na China entre 1985 e 2009 demandou em recursos hídricos o equivalente ao uso anual de água em toda a Europa.
Água sustentável
A pegada hídrica têm ajudado a mudar o entendimento de que a água é algo finito e gratuito. O desafio agora, segundo especialistas, é melhorar a precisão dos números para, assim, adotar o conceito no comércio formal.
— Atualmente, ninguém paga o preço total pelo consumo de água. A escassez e a poluição precisam ser incluídas no preço das commodities. Isso criaria um incentivo para consumir e poluir menos. Mas as legislações também podem ser melhoradas e em alguns produtos pode ser útil incluir o uso de água sustentável no rótulo — sugere Hoekstra.
A Austrália, sexto maior exportador de água virtual (89 trilhões de litros por ano), segue um modelo de distribuição de recursos hídricos inovador. Foi o primeiro país a instaurar um sistema de comércio da água em 1982: o governo define uma parcela a ser usada pelos agricultores, que podem vender parte dessas licenças de uso que acreditam estarem excedentes. As transações pelos direitos de uso da água no país movimentaram US$ 1,5 bilhão entre 2010 e 2011, segundo dados divulgados pela Comissão Nacional de Água em dezembro passado. Hoje, o sistema passa por uma reforma para reduzir distorções de mercado e dar mais transparência às negociações.
Críticos afirmam que o modelo de privatização dos recursos hídricos deixa os agricultores sujeitos às flutuações de mercado. O australiano Mike Young, do Instituto de Meio Ambiente da Universidade de Adelaide e autor do capítulo sobre água do estudo ONU para a Rio+20, acredita que este sistema é capaz de mensurar de forma eficiente o recurso e garantir a sua preservação.
— Assim como a Austrália, o Brasil tem muita água, portanto está em vantagem em termos de usar este recurso de modo inteligente para produzir a maior quantidade de bens possível. O futuro do manejo da água está na alocação deste recurso e não em tentar quantificar precisamente quanta água está incluída nas commodities exportadas — defende Young. — De fato, precisamos encontrar meios mais eficientes de usar a água, mas não é preciso ficar preocupado com quanta água é usada em cada produção se o governo estabelece um sistema de alocação. É preciso entender que o comércio cria grandes oportunidades de negócios.
No Brasil, a cobrança pelo uso da água na irrigação de plantações funciona através de um sistema de outorgas, dada por órgãos gestores estaduais ou pela Agência Nacional de Águas, quando o recurso hídrico é de domínio da União. O sistema, vigente desde 1997, ainda enfrenta desafios, já que a fiscalização do uso da água no setor agrícola é mais difícil do que em áreas urbanas e industriais, mais concentradas territorialmente.
— O controle dos recursos naturais vai se tornar mais complexo no século XXI porque o uso se tornará mais competitivo. O Brasil ainda tem uma área de expansão agrícola, então o país precisa se planejar para as próximas décadas de modo que o crescimento da área irrigada seja sustentável — prevê Mônica Porto, engenheira ambiental da Politécnica da USP. — Não há nada de errado em o Brasil exportar água através das commodities se há essa disponibilidade hídrica. A forma como isso é gerenciado internamente é o que importa, através do controle do uso e do aumento de produtividade.
Escolhas políticas
A escassez de água em alguns países, de fato, pode levar a escolhas políticas para restringir a exportação de alimentos. O governo de Israel, por exemplo, desencoraja a exportação de laranjas — tradicionalmente cultivadas com um sistema de irrigação pesado —, para evitar que grandes quantidades de água virtual sejam exportadas para diferentes partes do mundo.
Mesmo no Brasil, abundante de recursos hídricos, precisa levar em conta o uso de água nas culturas diante de uma distribuição desigual em seu território. Menos povoada, a Região Amazônica concentra a maior parte da água superficial do país, enquanto a populosa Região Sudeste tem disponível 6% do total da água doce. No semiárido nordestino, os rios são pobres e temporários, o que acaba criando uma pluviosidade baixa.
— A pegada hídrica tem que ter relação com o local onde é produzida a cultura agrícola. Produzir uma pecuária leiteira no Agreste Nordestino vai demandar muito mais água do que fazer o mesmo no Centro-Oeste, onde a pluviosidade é muito maior — afirma o engenheiro ambiental Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado da WWF Brasil. — Mas além do viés da localização é preciso ter em conta a própria produção, buscando gastar cada vez menos água bruta para fabricar o mesmo produto.
A otimização pode acontecer através de técnicas de irrigação mais eficientes, como o uso de gotejamento em vez de jatos d’água; o melhoramento de sementes para o plantio em regiões com menos disponibilidade de água; e desenvolvimento de técnicas de contenção da água da chuva. Estima-se que o setor agrícola já contribua atualmente com 92% do consumo total de água no país.
Apesar de a produtividade agrícola no Brasil ter apresentado grandes avanços — com um crescimento de 3,6 % ao ano, segundo estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2011—, especialistas afirmam que é preciso melhorar o diálogo com o setor. A conturbada discussão do Código Florestal no Congresso dá indícios deste desafio.
— Ainda não avançamos o suficiente na discussão entre o setor ambiental e agrícola para que se possa ter um entendimento comum de que um necessita do outro. Precisamos produzir, mas para realmente tirar proveito da exportação de commodities precisamos entender a água como um insumo de produção. O Brasil quer ter no futuro a seca de um Centro-Oeste americano ou preservar este recurso no aspecto de insumo para produção? Essa é uma pergunta que veio para ficar e que vai se tornar cada vez mais frequente daqui para frente — aposta Becker.
* Título editado
Fonte: http://jornaldehoje.com.br/brasil-exporta-cerca-de-112-trilhoes-de-litros-de-agua-doce-por/   por:  

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

PARANAENSES DÃO LIÇÃO DE CIDADANIA AO BRASIL



Em mobilização histórica, professores e servidores estaduais conseguem adiar votação de "pacotaço" do governo. 

Mas greve continua pelo pagamento das férias e manutenção da previdência.

Lição de cidadania: Praça Nossa Senhora da Salete na manha da sexta-feira, 13/02/2015, depois de quatro dias abrigando mais de 20 mil professores e servidores. 

 Classificados pelo governador Beto Richa de baderneiros, depois de acampar e abrigar-se por 4 dias na Praça Nossa Senhora da Salete, defronte ao Centro Cívico, os professores e servidores da educação do Estado do Paraná proporcionaram ao Brasil um belo exemplo e uma magnífica imagem de cidadania e responsabilidade social, para acrescer àquelas que mostraram o seu poder de mobilização.  

Foto: Bruno Covello




noticia/2015/02/manifestantes-invadem-patio-da-alep-e-governo-pede-retirada-de-pacotaco.html









































Nesta sexta-feira, 13, depois de todos os confrontos de ontem, 12/02, que vem sendo identificados como “a Batalha da Assembleia”, a praça amanheceu limpa e em completa normalidade para o uso dos cidadãos curitibanos, embora professores ainda continuem acampados no local. Situação, aliás, que deve permanecer inalterada durante os feriados de carnaval, segundo disse em rede estadual, Hermes Silva Leão, diretor presidente da APP Sindicato. Ou, até que o governador os chame para negociar a pauta de reivindicações do movimento.


Plenário da Assembleia também resultou intacto. Não será preciso reconstruir...




O plenário da Alep, igualmente ocupado pelos professores e servidores, também ficou impecável, visto que não houve “quebra-quebra” e, assim, nada tendo que ser “reconstruído”, como sugeriu um blogueiro político paranaense, que também anunciou em primeira mão a colocação de vidros entre o plenário e as galerias. Veja em: http://www.fabiocampana.com.br/page/2/





















Ao final então, do que se pode considerar o primeiro tempo do jogo de braço que se estabeleceu entre os servidores e o governador do Estado do Paraná por 4 dias, fragorosamente perdido pelo governo, o líder deste na Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Luiz Claudio Romanelli, dizia que o governador havia decidido retirar os famigerados projetos do “pacotaço” paranaense. Ao mesmo tempo, o governador dizia que a decisão havia sido tomada pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ademar Traiano, embora circulasse até pelas redes sociais um documento do secretário chefe da Casa Civil endereçado à presidência da Casa, solicitando a retirada do projeto, mas sem assinatura.

Com uma base parlamentar de mais de 80% dos 54 deputados da Alep, o governo paranaense subestimou o poder de mobilização dos seus servidores contra as medidas que ele deseja adotar para sanear as finanças do Estado. As aulas nem chegaram a começar na rede estadual de ensino do Estado Paraná. E, o que ele conseguiu com a tentativa da manobra parlamentar de transformar o plenário em comissão geral, foi a real perspectiva e a iminência de uma greve geral no funcionalismo do Estado, envolvendo educação, saúde, e segurança talvez, já que as mulheres dos policiais militares se juntaram aos professores, na mobilização desta semana na Alep.

Deputados reunidos no restaurante da Assembleia Legislativa, em sessão plenária...

...e dentro do camburão da Polícia Militar, antes de cortarem a cerca. Vandalismo de quem?

O governador conseguiu muito mais. Conseguiu colocar quase todos os deputados da casa num camburão blindado, danificou o patrimônio público, cortando cercas, no intuito de fazer adentrar os deputados nas dependências da Alep, cujos acesso estavam bloqueados pelos manifestantes, e fazer acontecer a sessão plenária que votaria seus projetos, a revelia das mais de 20 mil pessoas que lá fora se encontravam se posicionando contra ele. E a maioria dos deputados paranaenses se dispuseram a protagonizar uma imagem emblemática, correndo pelos jardins da casa, fugindo de professores, que ficará na história do Estado. Algo como a cavalaria de Álvaro Dias em 1988.



Servidores do MPU em protesto na ponte Ayrton Senna, entre os estados Paraná e Mato Grosso do Sul. A manifestação foi organizada pelo Núcleo de Assis Chateubriand, com o apoio de Terra Roxa, Jesuitas, Nova Aurora, Formosa d'oeste, Tupâssi, Palorina, Toledo, MCrondon, Mercedes e Guaíra. Mais de 300 pessoas participaram da manifestação na manhã desta sexta-feira,13. Para amanhã estão previstas novas manifestações em Toledo. E, para a próxima quarta-feira, em Guaíra, defronte a Câmara de Vereadores.



Esvaziada a Alep, a greve continua e com indicativos de se transformar num movimento geral do funcionalismo público paranaense, que se soma a outros nacionais (108 núcleos do Ministério Público da União estão em greve há 9 dias). Universidades Estaduais, Hospitais Universitários e outros órgãos também decretaram greve nesta semana, até porque, o governo parece não ter desistido de buscar a aprovação dos projetos.







As manifestações continuam por todo Estado. Pontes são fechadas, ruas nas cidades do interior são ocupadas por professores e servidores no intuito de informar e esclarecer a população sobre os objetivos e motivos da greve e do movimento. 











Fontes Diversas
Com a colaboração de Luciano Palagano e Nino Willemann