quarta-feira, 17 de junho de 2015

DAVID HARVEY/GEOGRAFIA HUMANA


DAVID HARVEY | GEÓGRAFO BRITÂNICO 

“O que aconteceu em junho de 2013 no Brasil ainda não acabou”

Estudioso crê que protestos podem gerar forças à esquerda, mas teme sectarismos


A multidão de jovens que se aglomerava na última terça-feira na porta do Sesc Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, poderia dar a impressão de que alguma grande banda descolada se apresentaria em breve. Mas a grande atração do dia era o geógrafo marxistaDavid Harvey (Kent, 1935), professor de antropologia da Universidade da Cidade de Nova York (Cuny), que veio ao Brasil para participar do Seminário Internacional Cidades Rebeldes, promovido pela Boitempo Editorial. Na programação, quatro aulas de introdução a sua obra ministradas pelos principais nomes da geografia, do urbanismo e da filosofia do Brasil, como Raquel Rolnike Erminia Maricato.
Apresentando a edição traduzida de sua obra “Paris, capital da modernidade”, que chega agora às livrarias brasileiras, o próprio Harvey tomou o palco naquela tarde para apresentar sua análise de como a exclusão promovida pela urbanização de massa nas cidades desencadeia o descontentamento e as revoltas populares. E, como em alguns casos, a consequência se dá nos cenários políticos. Foi assim na Paris de 1848, analisada por ele em seu livro, na Baltimore de 1968 pós-morte do líder negro Martin Luther King, também estudada por ele, e na “pandemia de revoltas populares” vividas nos últimos anos em países como Espanha (com o movimento dosIndignados), Turquia (com os jovens em defesa do parque Gezi) e o Brasil, com as revoltas de junho de 2013, que teve seu auge há exatos dois anos neste dia 13, quando o ato, em São Paulo, foi reprimido violentamente pela polícia, deixou centenas de feridos, e incendiou os protestos pelo país.
Dois dias depois de sua palestra, um otimista Harvey conversou com o EL PAÍS sobre esses movimentos e suas consequências.
Pergunta. Na sua palestra você fez um paralelo entre os distúrbios de Baltimore após a morte de Luther King, em 1968, e os ocorridos em 2015, após a morte de Freddie Gray pela polícia. Como esses episódios tão distantes no tempo são semelhantes?
Resposta. Em 1968, basicamente, estávamos lidando com a situação do surgimento do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. O movimento de massa que havia lá era organizado de uma forma muito poderosa. No final dos anos 1960, isso começou a ficar muito perigoso para a estrutura política de poder e o perigo foi aumentando porque estava emergindo uma conexão entre a marginalização racial e a distinção de classe. E, quando você coloca raça e classe juntas, é como uma dinamite. Foi isso que os Panteras Negras fizeram e eles eram, basicamente, perseguidos e mortos. Malcolm X e Luther King foram mortos. De forma muito simplificada, uma força política muito poderosa foi suprimida. A resposta, em algum nível, foi que alguma pressão teve que ser retirada da repressão sofrida pelos negros. Então, seguimos por um número de anos em que a classe média negra, educada, pode desabrochar. É uma minoria, mas ainda assim importante. E chegamos ao ponto de termos um presidente negro saindo disso. 
Mas a distinção de classe sempre esteve lá e a camada mais pobre da sociedade americana continua sendo negra ou hispânica. Não é por acaso que elas ainda vivem sob os mesmos tipos de condição, de repressão e isolamento. Em alguns aspectos, vivem em situação pior que a que viviam no final dos anos 1960 porque os trabalhos industriais, decentes, desapareceram agora. Então, quando uma nova fase de distúrbios aconteceu em 2015, o que vimos foi uma revolta dessa população contra sua condição de vida. O que é verdade em todos os eventos urbanos que vimos ao redor do mundo recentemente é que o gatilho da revolta, em muitos casos, é a morte de jovens negros pela ação policial. Mas a situação não tomaria as dimensões que tomou não fosse a existência desse amplo senso de descontentamento e alienação, que está bastante espalhado na comunidade. Todo esse descontentamento aparece após um incidente como esse. Então, não é possível dizer que é por causa desse incidente que a revolta acontece, mas por causa das condições de vida daquela população naquele momento histórico.
P. Esse gatilho da violência policial apareceu em diversas outras ocasiões. Aqui no Brasil, na Turquia, na Espanha. Os protestos começam pequenos, segmentados, a polícia age com violência e eles se tornam algo grande. Por que?
As pessoas se sentem trancadas em sua parte da cidade e há essas comunidades muradas onde elas não podem ir. Muitas pessoas sentem que a cidade está sendo tirada delas
R. É muito difícil dizer porque acontece. A maioria de nós, inclusive eu, ficamos bastante surpresos com o que aconteceu, por exemplo, emFerguson, no Missouri, onde um protesto de rua é seguido por uma força policial que parece que está invadindo o Iraque. E que, de fato, usou o equipamento militar do Iraque na rua, contra uma população civil que está simplesmente protestando, de forma legítima. O que acontece é que há uma intenção crescente de militarizar o descontentamento popular. E receber o descontentamento popular com repressão. Isso é legitimado, cada vez mais, por essa retórica antiterrorismo, essa mentalidade antiterrorista de que todos que não estão agindo em conformidade com o sistema são potencialmente terroristas. Há essa mentalidade e a tendência de usar a força policial, e usá-la instantaneamente, para conter o descontentamento. O movimento Occupy, de Nova York, que era muito pequeno e, em muitas maneiras, até inocente, foi recebido por uma feroz repressão policial. E todos ficaram se questionando porque. No Brasil, assim como em Istambul, a violência da resposta policial se tornou parte do problema e criou uma guerra urbana, entre as forças militares e os manifestantes, que também se tornaram cada vez mais sofisticados para lutar batalhas de rua.
P. Essa resposta pode ser um sinal de que os Estados não estão conseguindo compreender o que de fato está acontecendo?
R. Acho que há uma distância em relação ao povo e aos sentimentos do povo. Parte do que está movendo a raiva da população é a sensação de que não há de fato uma democracia, canais reais de consulta e de engajamento ao processo político. O Estado e um pequeno grupo de líderes de negócios poderosos tomam decisões sobre a construção de um novo estádio de futebol, ou outros megaprojetos. Há um sentimento de alienação do processo político. E isso constrói uma importante base para a frustração e a raiva. Pessoas alienadas tendem a ser muito passivas até que alguma coisa aconteça e elas se tornem bravas. E aí se começa a ver protestos desse tipo, seguidos dessa repressão. Vimos isso em muitas cidades.
P. As próprias condições de vida e o processo de urbanização também contribuem?
R. Acho que como residente de uma cidade, eu sempre gostei de me sentir confortável na rua que eu vivo, de saber que eu tenho algo a dizer sobre a vida diária que se passa ao meu redor, e de ser capaz de desfrutar dessa vida. As pessoas não têm o tempo para desfrutar a vida. Esse tempo é tomado por uma série de demandas, como obrigações familiares e todo o resto. As pessoas estão estressadas. E pessoas estressadas tendem a ser revoltadas com as condições da vida. Ao mesmo tempo, elas se encontram frequentemente exploradas. Eu falo para os meus estudantes: ‘vocês podem não sentir isso na força de trabalho, mas e a companhia telefônica te explora? A empresa de cartão de crédito te explora?’ E eles dizem: ‘sim, sim! O proprietário do meu apartamento subiu o aluguel em mais de 30%!’ A vida é impossível. As pessoas vão a um trabalho, que muitas vezes sentem sem significado. Há uma lacuna de significado na vida. Há um descontentamento geral com as condições. E, ao mesmo tempo, elas pensam: ‘não há motivos para eu votar, se eu votar eles vão continuar fazendo a mesma coisa do mesmo jeito, não vão me consultar’. Há uma alienação com o processo político. Somando a isso, a segregação entra no quadro. As pessoas se sentem trancadas em sua parte da cidade e há essas comunidades muradas onde elas não podem ir, todos esses locais proibidos onde as pessoas não podem circular ao invés de a cidade ser um ambiente aberto, onde as pessoas podem circular, interagir.
P. Como o centro das cidades, que expulsam as populações pobres por se tornarem cada vez mais caros?
R. Muitas pessoas sentem que a cidade está sendo tirada delas. Que a cidade que antes elas sentiam ser delas, de alguma forma está sendo roubada delas. O que é interessante é que esse era um dos grandes sentimentos que existia já na comunidade de Paris em 1871, de que a reconstrução da cidade em volta de coisas muito burguesas forçou a massa da população para os subúrbios. Então vemos esses movimentos em que as pessoas, de forma revolucionária, tentam retomar a cidade.
P. Como em Istambul, como o parque Gezi, aqui no Brasil, com oOcupe Estelita...
R. Sim, passei uma manhã muito agradável com eles em Recife, aliás.
P. A área, no fim, deve mesmo se tornar empreendimento imobiliário.
R. As pessoas vão lá e lutam e é muito raro que elas de fato ganhem. Mas o outro sinal importante de tudo isso, que foi verdade aqui no Brasil, em 2013, é que quando algo que emerge em uma só cidade acaba contagiando outras cidades paralelamente é um sinal importante de que há algo errado com toda a forma como o processo está funcionando. São as pessoas dizendo: ‘temos que mudar o processo radicalmente’.
Há essa mentalidade antiterrorista de que todos que não estão agindo em conformidade com o sistema são potencialmente terroristas e a tendência de usar a força policial, e usá-la instantaneamente, para conter o descontentamento
P. E como mudar? Aqui no Brasil o aumento da tarifa desencadeou os protestos em várias cidades. Diferentes demandas surgiram, mas não vivemos uma mudança política como ocorreu na Espanha, com oPodemos, ou na Grécia, com oSyriza. Por acha que isso aconteceu?
R. Eu não sei. É algo que eu gostaria de saber de você. Acho que a questão que eu perguntaria é: tem certeza de que nada mudou? As pessoas vão para as ruas, a memória daquilo não desaparece da noite para o dia. Neste momento, provavelmente, tudo está um pouco confuso pelos protestos liderados pela ala da direita [contra a presidenta Dilma Rousseff] e ninguém sabe qual a forma política que os protestos de esquerda vão tomar. Ainda não se produziu um Podemos, um Syriza. Na Turquia, esse processo também promoveu um novo partido político, que é o curdo HDP, que foi eleito agora para o Parlamento e evitou que o presidente reescrevesse a Constituição para ter poderes absolutos, o que foi um momento importante para a democracia do país e que não teria acontecido sem o chamado processo Gezi [em referência à revolta gerada pela intenção de construir um shopping no local do parque Gezi]. Aqui, eu acho que o problema é que vocês têm a Dilma e o PT no poder. O PT se tornou mais neoliberal, está implementando uma série de políticas de austeridade e ninguém se sente animado a apoiar isso, a ir às ruas e apoiar Dilma e as políticas de austeridade. As pessoas gostariam de sair às ruas e apoiar algo diferente. Mas, no momento, esse algo diferente não existe. Pode vir no futuro, quem sabe. Eu suspeito que vai emergir.
P. Seria possível, a essa altura, o PT voltar a ser o que era?
R. O PT poderia mudar. Mas a gente vê exemplos de outros países, como a Inglaterra, onde o Partido Trabalhista mudou para ser um partido mais radical e a resposta foi negativa. Eu suspeito que para o PT não vai ser mais possível. Isso iria requerer uma grande revolução dentro do partido. Há outros partidos de esquerda menores que tendem a ser mais sectários e que poderiam se unir, como aconteceu com o Syriza, em uma força política mais coerente. Nesse caso, eles com certeza invocariam o espírito de junho de 2013, sendo a base do que eles gostariam de fazer. Acho que o aconteceu em junho de 2013 ainda não acabou e as consequências ainda estão para ser conhecidas.
P. O Estado pode agir para mudar o que tem provocado esse descontentamento geral?
R. Depende da base social do aparato estatal. O aparato estatal tem uma burocracia que tende a operar de uma maneira própria, independentemente do poder político. Essa burocracia é mais alinhada com o que os desenvolvedores querem. Quando se trata de um poder com uma base política muito forte, então o lado político tende a ser mais combativo contra os grandes projetos. Pode parar alguns dos megaprojetos, começar a se colocar em parceria com os movimentos sociais. Então, um movimento de bairro que está demandando melhorias na qualidade de vida poderá achar um Estado que é parceiro, em oposição a um contra o qual ele tem que entrar em confronto. Será muito interessante de ver o que vai acontecer em Madri e em Barcelona, por exemplo, onde duas prefeitas foram eleitas com base em uma força social que dizia que é preciso fazer alguma coisa diferente. E vamos ver o quanto o que elas conseguem fazer é, de fato, diferente. Vimos em Nova York, um prefeito mais inclinado à esquerda sendo eleito. Mas, até agora, ele ainda não foi capaz de fazer muito porque os poderes financeiros o pararam.
P. Temos um processo parecido em São Paulo, com o prefeito Fernando Haddad. Como consequência, parece que houve um afastamento dos movimentos sociais que o apoiaram.
Essa abertura para a esquerda na política é muito mais difícil e as pessoas, às vezes, têm que deixar de lado as suas visões sectárias e dizer: ‘ok, é mais importante ser solidário do que estar certo’
R. É sempre muito difícil manter essa conexão viva. O prefeito se transformar no parceiro dos movimentos sociais é sempre um pouco perigoso porque as pessoas que financiam as eleições não vão mais financiar aquele prefeito. É assim que a política local é dada. Mas, por outro lado, se os movimentos sociais são fortes e poderosos o suficiente, eles podem garantir a eleição do prefeito. É assim que a luta de classe pode começar a retomar as coisas. Los Angeles e Seattle estão agora demandando um salário mínimo para todos os que trabalham naquelas cidades. O salário mínimo federal é de 7 dólares a hora e eles estão elevando para 15, progressivamente. É a cidade se movendo porque a população decidiu eleger pessoas progressistas. E para eles continuarem a ser reeleitos, eles têm que continuar fazendo coisas progressistas, como isso de elevar o salário mínimo.
P. Você, então, parece otimista em relação a esses movimentos ao redor do mundo.
R. Acho que coisas interessantes estão acontecendo no momento, como o que aconteceu em Barcelona, como o que aconteceu em Madri, em Los Angeles, em Seattle. Há muitos movimentos acontecendo no momento. Passamos por dez anos em que não houve nenhum movimento nessa direção. Agora há um movimento que está indo na direção certa e que tende a se fortalecer e ir para algum lugar.
P. Mas você também destacou na sua palestra que a falha desses movimentos pode dar espaço para o fortalecimento da extrema direita.
R. Acho que essa é a outra possibilidade. E é por isso que eu acho que é crucial para as pessoas começarem a reconhecer que esse é um momento histórico importante, que essa abertura para a esquerda na política é muito mais difícil e as pessoas, às vezes, têm que deixar de lado as suas visões sectárias e dizer: ‘ok, é mais importante ser solidário do que estar certo’.



Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/13/politica/1434152520_547352.html

sábado, 6 de junho de 2015

LEI DO USO DE AGROTÓXICOS



Cascavel sanciona lei que restringe o uso de agrotóxicos


A lei regulamenta o uso de agrotóxicos e proíbe sua utilização nas proximidades de escolas, Centros Municipais de Educação Infantil, núcleos residenciais e unidades de saúde.

Do Paulo Porto

O prefeito Edgar Bueno (PDT) sancionou a Lei 6.484, de 25 de maio de 2015, que regulamenta o uso de agrotóxicos e proíbe sua utilização nas proximidades de escolas, Centros Municipais de Educação Infantil, núcleos residenciais e unidades de saúde. De autoria do vereador Paulo Porto (PCdoB), a lei foi publicada em diário oficial no dia 29 de maio.

A proposta é fruto de um longo debate entre o mandato do parlamentar junto aos educadores, movimentos sociais do campo, 10ª Regional de Saúde do Estado e o Ceatox (Centro de Assistência em Toxicologia) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

A médica Lilimar Mori, que colaborou com o processo de redação do projeto, acompanhou a sessão na Câmara que aprovou o projeto de lei. “Quando se fala dos limites seguros para impedir a contaminação por agrotóxicos, não existe margem razoável”, explicou. A médica esclareceu que além dos casos de intoxicação aguda, que são claramente identificáveis, existe a contaminação crônica, cujos efeitos podem aparecer após 20 anos e sobre os quais pouco ainda se sabe.

Os efeitos dos agrotóxicos são sentidos por todos os consumidores de alimentos e também nos animais. Além disto, as pulverizações contra a dengue e o uso de produtos químicos nas madeireiras são grandes causadores de contaminação.

Para Paulo Porto, é papel do poder público criar políticas de controle, regulação e proibição dos agrotóxicos, visto o alto índice da utilização e de casos de intoxicações em nossa região. “A exposição dos alunos do campo aos agrotóxicos é uma realidade nos distritos de Cascavel, temos como exemplo a Escola Zumbi dos Palmares, as escolas de São Salvador, Jangada Taborda, do reassentamento São Francisco, locais onde foram registradas intoxicações e também prejuízo na produção de alimentos orgânicos”.

O substitutivo fez algumas adequações técnicas-legislativas ao PL 142. Apesar da Lei 3.494, de 2002, já tratar especificamente sobre a pulverização aérea, o vereador esclarece que a nova proposta tem como objetivo ampliar o controle, vedando também o manejo e utilização terrestre nos perímetros de escolas municipais, colégios, CMEIs, UBSs ou USFs.

Além disso, o projeto prevê obrigatoriedade da implantação de barreira verde no perímetro limite da propriedade em toda a extensão de divisa com a unidade educacional ou de saúde, algo ausente na legislação específica sobre a pulverização por aeronaves. A barreira não adentrará os limites do terreno da escola.

Uma emenda à matéria também foi aprovada em plenário. De autoria de Paulo Porto e Nei Haveroth, a emenda define um limite de 300 metros de distância dos estabelecimentos e 50 metros caso o produtor implante uma barreira verde nas divisas com as escolas, postos de saúde e núcleos residenciais. Também foi definido que o

Poder Público deve realizar campanhas de conscientização sobre o assunto.

Dados

Enquanto a média nacional de consumo de agrotóxicos por ano é de 7 litros por pessoa, segundo relatório divulgado neste mês pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), na região Oeste o consumo é de 12 litros por ano. Segundo dados da 10ª Regional, entre 2007 e 2014, foram registrados 3.229 casos de intoxicação, sendo que 645 notificações em decorrência do uso de agrotóxicos agrícolas, raticidas e agrotóxicos domésticos, o que representa 20% do total de intoxicações.

A maior parte desses registros aconteceu em Cascavel, com 2.433 casos, equivalente a 75,3%. A pulverização aérea representa 25,5% dos casos de intoxicação por agrotóxicos. Entre 2007 e 2014, a 10ª Regional registrou um total de 35 óbitos por intoxicação, sendo 12 deles em virtude da utilização destes produtos.

O uso de agrotóxicos no Paraná cresceu 20%, entre 2008 e 2011, segundo o Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). O Estado consome por ano 96,1 milhões de quilos de agrotóxicos, que representa mais de 9 quilos por hectare de área plantada, três vezes mais que a média nacional.

Esses números se acentuam no Oeste do Estado. Em Cascavel, por exemplo, a quantidade de tóxicos nas plantações é de 23 kg por hectare ano. “Apesar do crescimento do uso de agrotóxicos, a produção neste período se manteve praticamente estável. Ou seja, está se utilizando mais veneno para produzir a mesma quantidade de comida”, comentou Paulo Porto.

Além da contaminação direta dos alimentos, os agrotóxicos são a segunda maior causa de contaminação dos recursos hídricos no país, atrás somente do despejo do esgoto doméstico.

Fonte: http://www.mst.org.br/2015/06/05/sancionada-lei-que-restringe-uso-de-agrotoxicos-em-cascavel.html em 5 de junho de 2015 13h17

sexta-feira, 5 de junho de 2015

MST NAS CIDADES



Comuna Urbana completa 10 anos como símbolo habitacional e integração social

Localizada na grande São Paulo, a Comuna Urbana Dom Hélder Câmara foi a primeira experiência do MST nas áreas urbanas.


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Por Maura Silva
Da Página do MST

Na cidade de Jandira uma bandeira do MST está fincada como símbolo da unificação do campo e da cidade.

Ali, a propriedade como forma de inibir a mercantilização da conquista coletiva segue como horizonte para um dos maiores problemas sociais do país: a falta de moradia.

O local é a Comuna Urbana Dom Hélder Câmara, localizada no município de Jandira, na Grande São Paulo, que em 2015 está completando 10 anos de conquista.

A história da Comuna Urbana, no entanto, teve início há 15 anos, quando 250 famílias ocuparam uma área de várzea que passaram a chamar de Vila Esperança.

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Padre João Carlos, um dos idealizadores do projeto.
"A população marginalizada do país é obrigada a colocar a esperança cotidianamente em tudo o que faz, daí o nome Vila Esperança", recorda o Padre João Carlos Pacchin, um italiano radicado no Brasil, membro da Pastoral de Moradia e idealizador do projeto habitacional da Comuna Urbana.

A área alagada, um terreno abandonado que pertence à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), sofria com as constantes cheias do rio Barueri Mirim. Ainda assim, por não ter para onde ir, as famílias insistiam em permanecer no local.

Foram quatro anos de luta e resistência até a chegada do primeiro pedido de despejo.

Naquele momento, os moradores entraram em contato com o MST, que passou a procurar alternativas para as famílias.

Diante da situação enfrentada, ficou claro que o interesse daquela comunidade não era reivindicar um assentamento de Reforma Agrária. Com isso, o Movimento avaliou que os conflitos urbanos deveriam ser enfrentados na própria cidade, e não fora dela.

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A escola da Comuna Urbana foi inaugurada este ano.
Com o processo de despejo sendo levado adiante e a imediata derrubada dos barracos (que aconteceu em novembro de 2005), parte das famílias aceitou fazer uma nova ocupação. Dessa vez não mais de forma espontânea, mas organizado.

As famílias, então, ocuparam um edifício abandonado, que há mais de 30 anos havia sido projetado para ser o Seminário dos Padres Salesianos, mas foi vendido antes da conclusão por falta de recursos.

“A entrada do MST no projeto foi fundamental em termos organizacionais. Não fosse essa parceria não teríamos conseguido um terço do que temos aqui. Hoje todos os moradores daqui entendem o MST como Movimento de luta e levantam essa bandeira dentro e fora da Comuna”, avalia a morada do local Érica Aparecida, integrante do MST e coordenadora do projeto escolar desenvolvido na Comuna Urbana.

Nasce a Comuna

Em 2008 surge oficialmente a “Comuna Urbana Dom Hélder Câmara”. O espaço que antes era fruto de encontros e desencontros entre trabalhadores e trabalhadoras precarizados, se transformou no primeiro projeto urbano de habitação popular no Brasil ligado ao MST.

A Comuna Urbana foi pensada a partir da Comuna da Terra, uma proposta de assentamento próximo a grandes centros urbanos que tem como objetivo integrar num mesmo espaço infraestrutura, acesso à informação, agroecologia e tecnologia.

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Educadoras da Escola da Comuna Urbana.
“A luta entre o campo e a cidade nos faz entender melhor essa luta constante em que vive a população Sem Terra e Sem Teto, sem direito à habitação, uma das necessidades mais básicas do ser humano”, observa Aparecida.

A escolha do nome não foi por acaso. Dom Helder nasceu no Ceará e chegou a ser integralista nos anos de 1930, algo que logo abandonou, e se tornou um defensor incansável dos trabalhadores.

Uma de suas máximas, até hoje repetida nas reuniões e assembleias da comunidade, segundo o Padre José Carlos, ilustra o caráter progressista do projeto.

'Quando dou pão aos pobres me chamam de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista', conta o Padre. “Ele não nos deixa esquecer de onde viemos e aonde queremos chegar", ressalta.

Projeto habitacional

Instalados na ocupação, os moradores conseguiram repasse de recursos do Ministério das Cidades para a compra de um terreno, e assim, colocar em prática um projeto habitacional para as famílias.

Para obter o recurso foi realizado um projeto preliminar pela prefeitura. Segundo o padre José Carlos, o projeto inicial não correspondia com as necessidades dos moradores da ocupação.

Então, quando parte dos recursos e a aquisição do terreno já estavam encaminhados, os Sem Terra da cidade convidaram um coletivo de arquitetura especializado em projetos populares para colaborar nesse processo.
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Mais de 120 crianças de 0 a 12 anos, tanto da Comuna quanto do bairro, estudam na escola.

A consolidação do projeto popular

Pautados na experiência do conceito de Comunas da Terra, já reproduzidas pelo MST, a ideia era combinar no mesmo espaço moradias, horta e viveiro comunitários com bases agroecológicas, creche, padaria comunitária, escola com métodos e projetos pedagógicos próprios e uma arena.

“A nossa ideia foi unir campo e cidade no protagonismo e no processo de construção e organização das lutas contra este modelo social", aponta Aparecida.

“Assim, começamos as construções. Foram anos de luta até a as primeiras estruturas ficarem prontas. Todo o processo contou com a participação dos moradores. Não foi fácil, mas tínhamos um objetivo, e organizados, conseguimos ir adiante”, relembra o Padre José Carlos.

Resultado

Hoje, 10 anos depois, o projeto segue seu curso, com 128 casas, uma creche, uma escola e um berçário, que juntas, atendem mais de 120 crianças de 0 a 12 anos, tanto da Comuna quanto do bairro.

Lá, elas têm aulas de reforço e informática, além de brinquedoteca e atividades de integração. A horta comunitária e a biblioteca estão sendo finalizadas.

A padaria comunitária, projeto antigo dos moradores, deve ficar pronta ainda neste ano.

A Comuna também conta com espaço em que são feitos círculos educativos para pais e familiares.

Neles, os pequenos aprendem desde cedo a reconhecer o meio social em que vivem. Com isso, são levadas a pensar sua realidade de maneira crítica, sendo formadas para lutar contra as injustiças sociais que as rodeiam.

"Em uma cidade como São Paulo, que tem um dos maiores déficits habitacional do mundo, participar da construção de um projeto que deu certo e pode ser a solução para um dos nossos maiores problemas é extremamente gratificante”, aponta Aparecida.

As ações e atividades seguem durante todo o ano, e eventos entre os moradores da Comuna e da região de Jandira garantem a integração entre a comunidade. A festa agostinha, que reúne os moradores da região e desfile de Carnaval, promovido pela Unidos da Lona Preta (escola de samba do MST), é um exemplo dessa interação.
 
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Sobre o futuro

Todavia, muito ainda precisa ser feito na Comuna. O espaço ainda carece de melhorias no sistema de esgoto e, só recentemente, conseguiram regularizar os sistemas de água e luz.

Partes dos projetos iniciais, como uma oficina de costura, uma quadra poliesportiva, quatro áreas de comércio e um anfiteatro, ainda precisam ser finalizados.

Alguns poderão achar que se trata de uma proposta de desenvolvimento local, outros podem achar que estão esboçando estratégias de desenvolvimento para além do capital.

Fato é, que rodeada por condomínios fechados e inserida num processo social de produção, a Comuna Urbana se apresenta como uma forma de repensar a cidade.

Os moradores da Comuna estão desafiando o Estado e provocando a sociedade ao colocar em questão a vida coletiva, a geração de trabalho e renda no espaço de moradia.

Nasce desta iniciativa, portanto, um novo conceito de produção social e produção do espaço urbano, por meio da execução e apropriação do ambiente habitado e do espaço social construído.

Fonte: http://www.mst.org.br/2015/06/03/comuna-urbana-completa-10-anos-como-simbolo-de-politica-habitacional-e-integracao-social.html

DIA DO MEIO AMBIENTE



Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando.
Manoel de Barros




O MEIO AMBIENTE E AS ABELHAS




Sem abelhas não há alimentos












Marcus Eduardo de Oliveira*
 
Artigo publicado em http://www.meioambientenews.com.br
 


A declaração a seguir, proferida na década de 1940, é de Albert Einstein: “Olhem as abelhas, se elas sumirem a humanidade tem um máximo de quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais. A polinização é a grande responsável pela produção de alimentos”.

Há 80 milhões de anos as abelhas desempenham a crucial tarefa de polinizar plantas. A polinização é a transferência de grãos de pólen (gameta masculino) das anteras (órgãos masculinos) de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de outra flor da mesma espécie.

Sem essa transferência, não há a fecundação das plantas e, sem plantas, não há, simplesmente, como alimentar o mundo. Sem esse processo não há a formação das sementes e frutos. 

São as abelhas em seus 55 dias de vida apenas (abelhas operárias) que garantem a diversidade e o equilíbrio do ecossistema.
 
Estudos apontam que 50% da biomassa de uma floresta tropical seja formada por formigas, vespas, abelhas e cupins. Assim como as abelhas, também as formigas exercem fundamental papel no equilíbrio do ecossistema.
Elas influenciam fortemente os ecossistemas, uma vez que são importantes na incorporação de nutrientes ao solo e na sua aeração, atuando ainda como predadoras de outros organismos, permitindo a regulação da diversidade no ambiente. 

O desaparecimento de grande parte de abelhas e formigas poderia anunciar uma catástrofe ambiental.

Especificamente em relação às abelhas, estudos elaborados recentemente por pesquisadores da Universidade de Cornell (EUA) apontam que 1/3 dos alimentos que consumimos são diretamente dependentes do papel delas na natureza.
Além disso, mais de 80% dos alimentos consumidos pela humanidade são polinizados pelas mesmas.
O aumento da quantidade de frutos e sementes em decorrência da polinização permite obter a qualidade de diversos ecossistemas.

Entretanto, a agressão ambiental verificada em escala cada vez mais acentuada atinge em cheio essa riqueza natural.
Pelas mãos dos homens, o desmatamento, a poluição, as queimadas, os incêndios florestais, o uso indiscriminado de agrotóxicos (especialmente quatro tipos deles: imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil) e a ação de meleiros (pessoas habilidosas em encontrar enxames) tem colocado a vida das abelhas em condição de perigo. Sem as abelhas ficaremos sem frutos, legumes, nozes, óleos e algodão.
No tocante aos agrotóxicos, empresas químicas poderosas estão fazendo nos bastidores do poder forte lobby para continuar vendendo esses venenos.

Por conta desses agravantes, nos últimos 15 anos tem-se notado considerável aumento da mortalidade das abelhas, em especial na região sul do país, o que se configura numa situação muito preocupante.
Sem a força retórica da expressão, o certo é que o sumiço das abelhas mudaria completamente todo o ecossistema, afetando significativamente a vida de todos nós.

Como bem aponta Marcelo Boroviak, as abelhas são seres fundamentais para a manutenção da vegetação natural e cultivada, pois contribuem para a perpetuação de muitas espécies nativas e de culturas agrícolas.
Sua preservação é importante devido ao papel fundamental que desempenham na cadeia biológica: fazer a polinização e garantir, dessa forma, a continuidade das espécies de flores de onde insetos e outros animais retiram seu alimento.
O alerta está dado: vamos olhar com mais atenção para isso.

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba

Fonte: http://www.meioambientenews.com.br/conteudo.ler.php?q[1|conteudo.idcategoria]=51&id=8958

quarta-feira, 3 de junho de 2015

LIXO*





Contra desperdício, França aprova lei que obriga supermercados a doar alimentos não vendidos

Firmas deixarão de destruir produtos estocados — e que ainda não tiveram o prazo de validade vencido — sob pena de multa de € 75 mil ou dois anos de prisão


Flickr/CC

Restos também poderão ser reutilizados na agricultura

Com o objetivo de combater o desperdício de comida no país, o Parlamento da França aprovou por unanimidade na noite de quinta-feira (21/03) um projeto de lei que proíbe os supermercados de destruir os alimentos que não foram vendidos.
Com a aprovação, a medida obrigará os supermercados do país a assinar contratos formais com instituições de caridade para que possam doar as sobras de alimentos — que ainda não tiveram o prazo de validade vencido e estão em condições de serem consumidos. A punição para quem descumprir a norma poderá chegar a multa de até 75 mil euros ou dois anos de prisão.
Caso os restos não sejam destinados a esses órgãos, as companhias poderão ainda encaminhá-los para zonas rurais para servir de ração de gado ou como composto orgânico para a agricultura.
Em média, um francês joga fora de 20 a 30 quilos de comida por ano, segundo estimativas do Palácio do Eliseu. Além de não ser sustentável, o problema de desperdício custa até 20 bilhões de euros anualmente para os cofres do país.
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“É escandaloso ver a lixívia [composto químico usado para limpar e dissolver substâncias orgânicas] que está sendo derramada nas caixas de lixo dos supermercados, juntamente com alimentos comestíveis", declarou o idealizador da legislação, o deputado do Partido Socialista Guillaume Garot, que já foi ministro responsável pelo agronegócio entre 2012 e 2014.
Por sua vez, a Federação do Comércio e da Distribuição da França, que representa os supermercados, criticou o projeto. “A lei é incorreta, tanto em seu alvo, quando em seu intuito, já que as grandes lojas representam apenas 5% dos desperdícios de comida”, criticou o diretor do órgão, Jacques Creyssel.

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A nova lei faz parte de um esforço nacional para resolver a questão do desperdício de comida em todo o território francês até 2025. No ano passado, os supermercados do país chegaram a promover uma campanha de consumo de frutas e legumes considerados “feios”, com descontos de até 30% do preço original, já que entre 10% e 30% desses produtos vão para os lixos.
* Com edição gráfica
FONTE: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/40473/contra+desperdicio+franca+aprova+lei+que+obriga+supermercados+a+doar+alimentos+nao+vendidos.shtml