quinta-feira, 20 de junho de 2013

JORNALISMO



Os protestos pelo Brasil e o papel da mídia alternativa

Com o tamanho e a complexidade que tomaram os protestos contra o aumento das passagens, dificulta-se o trabalho de cobertura e, mais do que isso, de compreensão e análise do que está acontecendo e de todas as variáveis agora envolvidas. As manifestações se nacionalizaram, mais de trezentas mil pessoas foram às ruas na última segunda-feira, e a violência policial ganhou o acréscimo da violência de parte dos manifestantes. Junto a isso, movimentos no mínimo suspeitos da direita institucional – caso do governador de São Paulo Geraldo Alckmin – e midiática – Veja, Folha e Globo à frente – tornam tudo ainda mais nebuloso. Qual o papel que se oferece à mídia alternativa dentro desse cenário?

Capa - Imagem - NINJA
Foto: Mídia Ninja

O primeiro desafio é em relação à cobertura. Falta perna para uma cobertura in loco do que acontece em todo o Brasil, por isso a importância de aproximação e conexão constante e vigorosa entre veículos da mídia alternativa espalhados pelo país. A parceria, o trabalho coletivo, sempre defendido como ideal aqui mesmo no Jornalismo B, precisa ser colocado em prática em momentos-chave como este.
Outro ponto, ainda nesse sentido, é a necessidade de trabalhar com a ideia de trazer à tona o que geralmente não aparece na velha mídia: a violência policial, o apoio popular e, especialmente, as questões de fundo. Nesse sentido, a cobertura não pode ser limitar ao relato diário: é fundamental que tenhamos sempre em mente as origens do movimento, o caminho até aqui – que a mídia alternativa, ao contrário dos conglomerados midiáticos, acompanhou em maior ou menor grau desde o início – e as pautas fundantes das mobilizações. Essa lembrança precisa estar presente de forma constante em nosso pensamento e na construção de nosso discurso, levando, consequentemente, a um maior aprofundamento e maior amplitude da compreensão. O que nos leva a outro desafio.
Totalmente vinculado às questões levantadas a respeito da cobertura in loco, coloca-se o segundo desafio: o da análise. E é justamente amparados por essa noção de profundidade, de historicidade, de trajetória e de complexidade que análises cuidadosas podem e devem ser feitas. Estão sendo feitas pela direita, estão sendo feitas pela mídia dominante, e é básico, se queremos ser parte da construção de um movimento que mantenha seu caráter e suas diretrizes originárias (sem que isso queira dizer estagnação), que também façamos as nossas, sob o viés da esquerda. É compreendendo as dinâmicas sociais que podemos agir sobre elas, e isso, nesse caso, aplica-se em dois sentidos: 1) compreender as dinâmicas abre a possibilidade de coberturas mais qualificadas, que, por sua vez, abrem a possibilidade de maior compreensão e análise; 2) a mídia alternativa, como parte constituinte do movimento, pode ajudá-lo a compreender melhor a si mesmo.
Está claro que não é o momento de omitir-se, nem o momento de fugir da análise, nem o momento de contentar-se com o superficial. É preciso ir além, aprofundar a cobertura e a compreensão, de forma dialética, contribuindo, enquanto mídia contra-hegemônica, a um movimento que nasceu contra-hegemônico e que corre o risco de tornar-se reforço das velhas hegemonias. A responsabilidade também é nossa.



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