domingo, 16 de junho de 2013

COMUNICAÇÃO



Gustavo Fruet, os picaretas da informação e o silêncio dos inocentes

Representantes e a categoria dos jornalistas se calam diante da acusação de pagamento de jabaculê na prefeitura

Por Jorge Eduardo Mosquera - Foto Leandro Taques
O primeiro número de A Gralha traz uma entrevista com o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, que os antigos chamariam de bombástica. Afinal, pela primeira vez em muitos anos, uma autoridade do porte de um prefeito retira o véu que encobria um tema considerado tabu tanto na classe política quanto na categoria dos jornalistas (classe é classe; categoria é, digamos, um ramo do mundo do trabalho).

“Cortei todos os prestadores de serviços da imprensa”, disse Gustavo Fruet a este jornal. Recusando-se a citar nomes, denunciou que, nos últimos quatro meses de 2012 – portanto, ainda na gestão de Luciano Ducci –, a prefeitura desembolsou R$ 10 milhões em serviços de comunicação, dos quais tudo ou boa parte havia sido usado para pagar “prestação de serviços” de jornalistas. Seriam estes, em sua avaliação, seus mais ferrenhos críticos, por conta do fim, pelo menos em nível municipal, do que se chama, no jargão e nos dicionários, de jabaculê. No simpático diminutivo, jabá.

A acusação cruzou os corredores de alguns palácios e correu pelas redações. Mas, quando se esperava pronta reação da tal categoria, por meio de seu sindicato ou mesmo da dormida Associação Paranaense de Imprensa, o que houve foi um “pfiu”, como diria o finado Paulo Francis.

Salvo alguma injustiça, pela qual aqui se pede perdão, apenas o bravo Luiz Gonzaga de Mattos, o Gonzagão, o Zaga, jornalista de boa pena, editor e dono do Jornal do Batel, reagiu à acusação. Exigiu, pelo Facebook, que o prefeito aduza à sua acusação os nomes dos beneficiados pelo jabá. Afinal, vai que a prefeitura anuncia em seu jornal. O que há de errado? Trata-se, aí, de relação comercial limpa, isenta de suspeita. Não se pode generalizar. O silêncio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais (existe jornalista amador?) do Paraná e da API, acredita A Gralha, deveu-se mais a timidez ou preguiça do que ao possível rombo no casco da nave jornalística.

É sabido de todos os jornalistas, e é uma erva daninha histórica, que colegas influentes e outros nem tanto recebem um por fora para oferecer proteção, silêncio, loas ao governante, seja ele municipal, estadual ou federal. Qualquer jornalista, de redação e de assessorias oficiais, que já tenha passado dos 30 anos sabe que há colegas que prestam rasteira vassalagem a troco de pecúnia.

É também de conhecimento geral que muitos de seus patrões – muitos, não vamos generalizar – engordam o faturamento de suas empresas com silêncio ou matérias pagas contra e a favor para beneficiar, em seu noticiário, este ou aquele magano da política, do empresariado. Pelo menos não consta, até aqui, que autoridades eclesiásticas tenham escorregado algum por fora para aparecer bem na foto. Imaginem, os mais antigos, D. Pedro Fedalto pagando jabá.

Mas a preguiça do sindicato, como afirmou o Gonzagão, pode levar o leitor a acreditar que todos na brava e indormida imprensa (apud Francisco Camargo) são mimados com propina – ou cargos – para levantar a bola do poderoso de plantão.

Gustavo Fruet teve a coragem não só de cortar o jabá dos “prestadores” como de acusar, publicamente, e em primeira mão por meio de A Gralha, que picaretas lambiam os cofres da prefeitura, via sua Secretaria Municipal da Comunicação Social, principalmente, e outras áreas.

É folclórica, naquela secretaria, a história de dois colegas, das antigas, que levavam bola para falar bem do prefeito de antanho. Certo dia, ao deixarem a sala do secretário da Comunicação, ouviram-se gargalhadas do auxiliar do prefeito. “O que foi, ... inha?”, perguntou-lhe alguém. “Vieram pedir vale do jabá”, respondeu sem fôlego o pagador.

É isso. Se há quem recebe, há quem paga. Acerta o prefeito ao pisar no tubo, tapar o duto, fechar as burras aos jornalistas vigaristas. Cabe agora, aos representantes dos jornalistas, cobrar (opa!) nomes, exigir que se prestem contas de quanto do dinheiro do contribuinte foi parar nas mãos dessa cáfila. Foi em cheque, TED, dinheiro vivo? Qual foi o “serviço” prestado? Cobre-se também o suposto pagador: o ex-prefeito Luciano Ducci e, se for o caso, seus antecessores até os do tempo dos merréis.

Uma sugestão: a Lei de Acesso à Informação pode ser invocada para que, por fim, limpe-se a área. Mexam-se, Sindicato, API, MP.

Em tempo: ... inha já morreu e não pode confirmar essa história. Daí as reticências em respeito à sua memória.

Publicado originalmente em http://www.agralha.com.br/politica-inner.php?id=153&token=b3e3e393c77e35a4a3f3cbd1e429b5dc&fb_comment_id=fbc_1377795359101664_3462_1379380432276490#f4ff25ac4c371e
Acessado em 16/06/2013

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