sexta-feira, 29 de abril de 2016

DIGESTÃO MOLECULAR DE RESÍDUOS SÓLIDOS



Novo tratamento de lixo resulta em água potável, produtos para agricultura e construção civil



O biólogo Guilherme Moraes dos Santos, autor do projeto de Digestão Molecular de Resíduos Sólidos, instalado na empresa Urbam, em São José dos Campos/SP – Brasil - Imagem: Câmara Municipal de Guarulhos (SP/Brasil)
O biólogo Guilherme Moraes dos Santos, autor do projeto de Digestão Molecular de Resíduos Sólidos, instalado na empresa Urbam, em São José dos Campos/SP – Brasil - Imagem: Câmara Municipal de Guarulhos (SP/Brasil)
25/04/2016 - Redação Envolverde
Um novo processo mecânico-químico possibilita a transformação do lixo e chorume (líquido resultante da decomposição) procedentes de residências em uma pasta que pode ser tratada de forma a servir para várias finalidades, a principal delas, água potável. Além da redução em 80% do volume bruto do lixo, outros resultantes são matéria-prima para construção civil, adubo natural e água reutilizável para jardins e limpeza de vias públicas, com pouco trabalho e sem alto custo. Também contempla triagem e desinfecção de recicláveis para comercialização ou retorno à indústria.
O biólogo Guilherme Moraes dos Santos é o idealizador do processo, denominado “Digestão Molecular de Resíduos Sólidos”. Após 12 anos de dedicação, ele conseguiu executá-lo na empresa Urbam, em São José dos Campos (São Paulo, Brasil) onde atua como gerente de projetos especiais. “Toda a estrutura física da matéria, inclusive do lixo, segue um padrão dentro do absoluto controle da luz solar”, afirma o biólogo, explicando que o processo cumpre as leis naturais de desintegração e renovação da matéria na Terra. Ele cita a frase do químico francês Antoine Laurent de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
O intenso mau cheiro do chorume desaparece em poucos minutos de tratamento. “Este processo é uma sinergia química, na qual a molécula de hidrogênio é condicionada em uma escala energética para desintegração e renovação da matéria”, conta o biólogo. Segundo ele, usando a reação de combinação com hidrogênio no chorume, por exemplo, este líquido voltará a ser cristalino e puro. “O hidrogênio, uma molécula muito atuante no planeta, transmuta tudo que não tem utilidade para renovação da vida ou sem funcionalidade ao equilíbrio biológico do solo. Os elementos químicos nocivos tornam-se benéficos”.
Etapas do processo – As etapas envolvidas no processamento envolvem alimentação do reator com resíduos sólidos orgânicos e adição de três componentes enzimáticos. Neste processo ocorre aumento da temperatura até aproximadamente 200º C. O material resultante do reator (motor do processo) é encaminhado para uma peneira de separação entre a parte sólida e parte líquida. É prevista reutilização dos líquidos separados no reator. O material sólido é encaminhado para secagem. Posteriormente pode ser utilizado como fertilizantes e disposto em aterro tendo em vista a redução de volume, entre outros destinos.
O biólogo ainda explica que além de eliminar totalmente o odor, o processo evita gastos milionários para manutenção de aterros sanitários com mantas de alta precisão para conter a contaminação do solo. “A pasta é inerte, o que já justifica a importância deste tratamento dos resíduos que reduz em 80% o volume bruto do lixo”.  Segundo ele, a pasta concentra elementos químicos orgânicos essenciais à cadeia de nutrição do solo, plantas e vida bacteriana da terra. “É vantagem fornecê-la como fertilizante à agricultura para um resultado mais eficiente, preservando fontes de recursos da natureza, em substituição a adubos artificiais altamente impactantes”.
De acordo com Guilherme Santos, esta pasta também pode servir à construção civil, principalmente na confecção de tijolos eficientes e ultraleves para constituir paredes, telhas e artefatos de fundação de edificações. “Isso porque a pasta é constituída por fibras resistentes. Misturada a pouco cimento favorece a produção de materiais resistentes. Este conceito pode permitir soluções práticas para a destinação correta dos resíduos sólidos”, ele acentua.
Conforme o biólogo, os materiais recicláveis que vierem misturados no lixo orgânico podem ser desinfetados para destinação a cooperativas de triagem e venda ou, ainda, serem devolvidos a indústrias na forma de substâncias (borracha, cromo, tinturas, etc). Tais medidas de ‘logística reversa’ estão previstas na Lei Federal 12.305/2010 que versa sobre o Plano Estadual de Resíduos Sólidos no Brasil.

Fonte: http://www.revistaecologico.com.br/noticia.php?id=3983

quinta-feira, 28 de abril de 2016

ASTRONOMIA INDÍGENA



27 de abr de 2016

Astronomia Indígena na Amazônia antecede Galileu, diz pesquisador


Muito antes de Isaac Newton demonstrar que a causa das marés é a atração da Lua, indígenas no Brasil já conheciam a relação




(Portal Amazônia) A astronomia e seus impactos em fatos cotidianos e práticos não é uma prática unicamente do ocidente. Os indígenas já estudavam o movimento dos astros muito antes, para conhecer os períodos de seca e cheia dos rios da Amazônia, assim como, épocas específicas do ano para plantar e colher. Algumas vezes eles estiveram até à frente da ciência.

Em 1632, Galileu Galilei publicou o livro “Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo; ptolomaico e copernicano”. O livro marcou toda a ciência ocidental dos próximos séculos. Nele Galileu afirmava que a causa das marés eram os movimentos rotação e translação da terra, desconsiderando a influência da Lua.

Vinte anos antes, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville passou quatro meses entre os tupinambá do Maranhão, da família tupi-guarani. No seu livro “Histoire de la mission de pères capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisines”, ele conta uma pouco dessa história. Um dos trechos do livro diz que: “Os tupinambá atribuem à Lua ao fluxo e o refluxo do mar e distinguem muito bem as duas marés cheias que se verificam na lua cheia e na lua nova ou poucos dias depois”.

Somente em 1687, setenta e três anos após apublicação de d’Abbeville, Isaac Newton demonstrou que a causa das marés é a atração do Sol e da Lua. Esses fatos mostram que, muito antes da Teoria de Galileu, que não considerava a Lua, os indígenas que habitavam o Brasil já sabiam que ela é a principal causadora das marés.


De acordo com artigo publicado pelo Prof. Germano Afonso, os indígenas já utilizavam os corpos celestes para se localizar. A palavra Itacoatiara, que em tupi e em guarani significa pedra pintada, são rochedos decorados encontrados em algumas regiões. Esses foram os primeiros registros desses povos de eventos astronômicos.

Os indígenas utilizavam a astronomia principalmente para a agricultura. Dessa maneira associavam as estações do ano e as fases da Lua com a biodiversidade local, para determinarem a época de plantio e da colheita, bem como para a melhoria da produção e o controle natural das pragas.

Fonte: http://gaea-astronomia.blogspot.com.br/2016/04/astronomia-indigena-na-amazonia.html


ADEMIR BIER DIA DO TRABALHADOR 2016




MEIO AMBIENTE




As maiores árvores do planeta estão desaparecendo

Desmatamento e mudança climática estão acabando com os exemplares mais antigos de sequoias, eucaliptos gigantes e baobás



Ampliar foto
Algumas das maiores e mais velhas árvores do mundo já estavam no planeta quando a maior parte dos humanos vivia literalmente na Idade da Pedra. Mas um conjunto de ações humanas, como o corte, a degradação de ecossistemas e agora a mudança climática está acabando com os exemplares mais antigos de sequoias, eucaliptos de 100 metros e árvores tão mágicas como o baobá. O pior é que já não existem as condições para que as plantas mais jovens alcancem a altura e a idade de suas antecessoras.
Apesar de existirem muitas espécies de árvores milenares, somente poucas crescem durante séculos até alcançarem os 50, os 100 e até os 115 metros superados por alguns exemplares de sequoia vermelha. Não existe uma categoria bem definida do que os botânicos chamam de LOT, Large Old Trees (Grandes e Velhas Árvores, em inglês). Também não foram fixadas altura e envergadura mínimas para determinar o que é uma árvore grande. Um dado objetivo é o papel central que desempenham em seu ecossistema. E um dado subjetivo é a imponência que inspiram aos humanos.
Publicidad
De modo que recebem a denominação de LOT as duas espécies de sequoia que crescem na costa oeste dos Estados Unidos; o eucalipto da montanha (Eucalyptus regnans) que cresce durante 400 anos até os 100 metros ou mais; e o Petersianthus quadrialatus, uma espécie de árvore rosa que cresce nas Filipinas. Mas também são árvores grandes e velhas os abetos de mais de 50 metros que existem no velhíssimo bosque de Bialowieza (Polônia) e o baobá africano que em algumas espécies chega aos 30 metros de altura e mais de 10 de circunferência. Quase todas elas estão em declínio.
Com exceção de algumas espécies europeias, todas as grandes árvores do planeta estão em declínio
Um estudo publicado em 2013 dava poucas décadas a duas das espécies de baobá presentes em Madagascar. No Parque Nacional de Yosemite (Califórnia, EUA), lar das sequoias e outros gigantes como o pinheiro real americano, que pode alcançar os 70 metros de altura, outra pesquisa mostrou em 2009 que a densidade por hectare dessas grandes árvores se reduziu em 25% desde os anos 30 do século passado. Enquanto isso, a maior árvore floral do mundo, o eucalipto de montanha australiano, passará das 5,1 árvores por hectare que possuía no começo do século a somente 0,7 em 2070.
“O declínio se acelerou em muitos ecossistemas”, diz o ecologista da Universidade Nacional da Austrália, David Lindenmayer. O pesquisador, especializado em grandes árvores, lembra que essas espécies são particularmente suscetíveis às secas, mas também sofreram e ainda sofrem um desmatamento insustentável em muitas áreas. “Em alguns ecossistemas do norte da Europa, ocorreu um aumento, mas partiram de populações muito reduzidas”, acrescenta.
A nova ameaça é o aquecimento global. “A mudança climática leva as condições climáticas a níveis fora da categoria normal do nicho ideal para o crescimento e desenvolvimento da árvore”, explica Lindenmayer. “Por exemplo, a redução das chuvas no sudeste e sudoeste da Austrália fará com que essas grandes e velhas árvores não voltem a alcançar a altura e tamanho que costumavam ter. Em outros casos, as condições da primeira germinação há 500 anos são tão diferentes das atuais que não voltarão a germinar nas mesmas áreas onde agora crescem”, acrescenta.
ampliar foto
Ao menos duas espécies de baobabs que crescem em Madagascar desaparecerão antes de acabar no século. 
O declínio das LOT pode causar efeitos em cadeia. As árvores mais velhas dessas espécies realizam funções fundamentais em seus ecossistemas que os exemplares mais jovens não podem exercer. Os ocos e curvas do eucalipto da montanha são o ambiente no qual nascem, crescem e morrem por volta de 40 espécies de vertebrados, por exemplo. Com o desaparecimento dos baobás de Madagascar, muitas outras espécies vegetais e animais podem segui-los. O desmatamento, tanto de grandes como pequenas árvores, colocou em risco a sobrevivência de pelo menos 500 espécies de mamíferos, aves e anfíbios nesse século, segundo um estudo realizado pela BirdLife.
Mas a relevância dessas árvores quase eternas vai além da ecologia. Muitas delas realizaram missões sociais e até religiosas para as comunidades humanas que viveram sob elas. Em 2014, dois pesquisadores suecos publicaram um estudo sobre a relevância social e cultural das grandes e velhas árvores. Escreveram: “Acreditamos que o reconhecimento das LOT como parte da identidade humana e seu patrimônio cultural é essencial para abordar a questão de seu declínio em todo o planeta”.
Um dos autores do trabalho, a pesquisadora da Universidade de Uppsala, Malgorzata Blicharska, afirma que quase nada foi feito desde então para incluir as dimensões não ecológicas das grandes árvores nas políticas de gestão e conservação. Se essas medidas forem incorporadas explicitamente, “é possível melhorar a conservação das LOT”, diz.
Mas a tarefa não é simples. Atualmente, um grande corte de árvores centenárias, talvez milenares, é preparado em pleno coração da Europa, em Bialowieza, um dos últimos bosques originais que restam no continente. “Até mesmo esse Patrimônio da Humanidade está submetido à pressão, com os agricultores que querem cortar velhos exemplares de picea europeia [uma conífera] por conta de uma praga de escaravelhos da madeira, algo a que as comunidades científicas e conservacionistas locais e internacionais se opõem terminantemente”, diz o professor da Universidade Sueca de Ciências Agrárias, Grzegorz Mikusinski, coautor do artigo sobre as dimensões sociais e culturais das LOT.
Um dos maiores obstáculos para uma política de proteção eficaz é o diferente limite temporal de humanos e das grandes e velhas árvores. Pelo Dia da Terra, Lindenmayer e seu colega da Universidade James Cook (Austrália), Bill Laurence, publicaram na revista Trends in Ecology & Evolution uma série de medidas que já poderiam ser tomadas para salvar as LOT. Mas, como diz Laurence: “Precisamos nos assegurar de que pensamos a longo prazo, para coincidir com a forma como essas árvores existiram durante milhares de anos”.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/22/ciencia/1461312729_887184.html?id_externo_rsoc=FB_CC


DILCEU SPERAFICO DIA DO TRABALHADOR




sábado, 23 de abril de 2016

CIÊNCIA




Maior repatriação de fósseis do país revela história das espécies marinhas

Mais de metade do território brasileiro estava debaixo d’água há 400 milhões de anos

POR O GLOBO
 
Trilobitas: Espécie de crustáceo estava entre as poucas predadoras nos mares brasileiros - Divulgação/Museu Nacional
RIO — Quatrocentos milhões de anos atrás, quando metade do território do país estava coberto por grandes mares rasos, invertebrados como caramujos, estrelas do mar, moluscos e corais dominavam as regiões alagadas. Boa parte do que sabemos sobre este cenário muito anterior aos dinossauros, que surgiram 200 milhões de anos depois, é conhecido graças a 700 quilos de vestígios coletados pelo geólogo e paleontólogo americano Kenneth Edward Caster em bacias sedimentares brasileiras na década de 1940 e levados para a Universidade de Cincinnati (EUA). O material chega ao Museu Nacional/UFRJ, sua nova casa, até o fim do mês. Esta é a maior repatriação de fósseis já realizada no Brasil, como antecipou a coluna de Ancelmo Gois.
Outro marco inédito na transferência da Coleção Caster, como as peças são chamadas, foi a ausência de intermediários policiais entre a universidade americana e o museu brasileiro. Normalmente órgãos como a Polícia Federal, o FBI e a Interpol são acionados para combater o trafico ilegal de fósseis.
— Foi um processo simples porque Caster levou as peças para os EUA com autorização do governo brasileiro. Após sua morte, em 1992, ninguém continuou suas pesquisas. Então, quando pedimos a coleção, a Universidade de Cincinnati aceitou doá-la — explica Sandro Marcelo Scheffler, professor do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional. — Ainda não sabemos quantos fósseis receberemos, porque nunca catalogados. Depois deste levantamento, vamos incorporá-los às nossas exposições.
O paleontólogo americano percorreu grande parte do Brasil entre 1944 e 1947, quando foi professor da USP. Percorreu grande parte do país, trabalhando principalmente nas bacias sedimentares de Piauí, Paraná e Amazonas. Boa parte das peças encontradas era do Período Devoniano (entre 415 milhões e 360 milhões de anos atrás). Cerca de metade do território continental era coberto por mares rasos, onde os invertebrados marinhos se proliferaram praticamente sem predadores — as espécies mais perigosas, e já extintas, eram parentes distantes do polvo, os nautiloides; e de crustáceos, os trilobitas. Os fósseis são de animais que ficaram presos em sedimentos no fundo da água, que transformaram-se em rochas.
— A vida no planeta se resumia a algumas plantas pequenas e primitivas. Entre os animais, havia apenas artrópodes, como aranhas e insetos — conta Scheffler. — Também existia uma grande variedade de peixes, mas o registro das espécies ainda é precário. Os primeiros vertebrados terrestres surgiram somente milhões de anos depois.
À época, o território brasileiro estava integrado ao supercontinente de Gondwana, que abrangia as atuais América do Sul, África, Antártica, Índia e Austrália. Segundo Scheffler, o Brasil estava muito mais próximo ao Polo Sul e, por isso, tinha um clima que oscilava entre temperado e glacial.
— Alguns fósseis eram encontrados somente no atual território do país, indicando que eram espécies endêmicas, mas outros foram registrados também em localidades como a África do Sul, o que seria um sinal de que os continentes já estiveram unidos — destaca Scheffler. — Caster foi um defensor da teoria das placas tectônicas, conhecida desde o início do século XX, mas ainda muito contestada na década de 1940.
De acordo com Scheffler, a volta da Coleção Caster ao Brasil era negociada há três anos e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio (Faperj):
— Infelizmente não teremos os recursos que gostaríamos, porque as agências de fomento aos estudos científicos não estão pagando como devem. Mas isso não vai paralisar nosso trabalho.

Fonte: http://googleweblight.com/?lite_url=http://m.oglobo.globo.com/&lc=pt-BR&s=1&m=998&host=www.google.com.br&ts=1461341271&sig=APY536xjlCo0Thl8c3zMfLFw58F_x7PY5Q

Colaboração: Angela Pellin

sexta-feira, 22 de abril de 2016

CRÔNICA


A chuva púrpura do Caio

Era o auge do Nirvana (ops!), em cujo paraíso contemplávamos as lágrimas de Eric Clapton, onde paradoxalmente se apregoava Faith no More e o tempero ficava por conta dos infernais Red Hot Chilli Peppers, que ainda vivem, como reviveu um ressurreto B-52’s e o que restou de um apocalíptico Genesis.


1, 2, 3, os anos 90 voltaram outra vez. Da esquerda para a direita, como nas últimas duas décadas, Mr. Rogers Nelson, a filha da dona Glória e um ex-portista queridinho da Dinda.
1, 2, 3, os anos 90 voltaram outra vez. Da esquerda para a direita, como nas últimas duas décadas, Mr. Rogers Nelson, a filha da dona Glória e um ex-portista queridinho da Dinda.
por Luciano d’Miguel*
E Raul que achou serem os anos oitenta a tal charrete que perdeu seu condutor. Felizmente, o sangue excessivo em sua corrente alcoólica não o deixou viver para testemunhar o que é a aurora do século XXI. Aliás, já pararam para analisar a produção musical contemporânea, ao menos aquela contemplada pela grande mídia? Tá tranquilo? Tá favorável? Provavelmente a resposta seja um retumbante não.
Mas não para Caio, menino de 23 anos e meio que conheci esta semana enquanto divulgava seu trabalho de DJ num dos coletivos de Foz do Iguaçu, onde perguntei se estava a ganhar cachê e me respondeu negativamente. Ofereci os préstimos de um advogado trabalhista. Perguntou-me o porquê. Disse ter percebido que ele estava sendo explorado pelo consórcio que administra o transporte público, tendo que presentear gratuitamente a todos os passageiros com a música de seu celular. Obra de uma tal MC Melody, cuja versão falsete de “Metralhadora” despertaria até a ira de um morcego, caso estivesse no busão.
Claro que o título da, digamos, canção me deixou um tanto amedrontado, pois era segunda-feira pós-abertura, mas outra, diferente daquela do final dos anos 70. Ironicamente, aquele era o dia da luta antimanicomial no Brasil, mas o que presenciamos em nossos televisores na tarde e noite anteriores, tal e qual umhorrorshow de Anthony Burgess, certamente credenciaria qualquer um dos envolvidos naquela verdadeira sanha em defesa da família a dar entrada num hospício, sem previsão de ter alta. Confesso que quando o delegado Waldyr e os Bolsonaro – pai e filho – miraram em minha direção cheguei a escutar os estampidos.
Seu eco advém dos idos de 1992, época em que tivemos nossa primeira grande catarse política coletiva, pois o primeiro impeachment a gente nunca esquece. Naqueles tempos, nossos ouvidos eram contaminados pela música estadunidense, que dominava 90 por cento da programação da frequência modulada, apesar dos britânicos do The Cure e dos irlandeses do U2.
Era o auge do Nirvana (ops!), em cujo paraíso contemplávamos as lágrimas de Eric Clapton, onde paradoxalmente se apregoava Faith no More e o tempero ficava por conta dos infernais Red Hot Chilli Peppers, que ainda vivem, como reviveu um ressurreto B-52’s e o que restou de um apocalíptico Genesis.  Mesmo com estes grandes a salvar aquela pátria, em que talvez se encaixe Mr. Big (em função do nome), o que imperavam mesmo eram artistas e grupos tipo one way como Sophie Hawkins, Joe Public, London Beat e K.D. Lang, além dos quase famosos do Right Said Fred e dos hoje apagados da memória Erasure, Snap e Technotronic, os pais do “poperô”. Vale destacar que figuram na lista Jon Secada, cubano, e Richard Marx, cuja alcunha não levou ao sucesso junto aos países comunistas do leste europeu. Completam o rol da Billboard: Mariah Carey, Bryan Adams, o inacreditavelmente falecido Michael Jackson (Remember the Time) e Guns N’ Roses, com sua “November Rain”.
É favor não confundir com “Purple Rain”, que recentemente refrescara os ânimos da gigante da mídia tupiniquim um ano antes, quando seu compositor não autorizou os direitos de transmissão de seu show no Maracanã. Mas nestas plagas é mais fácil descreditar um artista por ter pedido mais de cem toalhas brancas em seu camarim, esquivando-se de sua genialidade nada pequena. Prince foi mais um dos bons que desencarnou esta semana, não sem antes nos deixar grande legado com suas “Why You Wanna Treat Me So Bad?”, “I Wanna Be Your Lover”, “When Doves Cry” e “Planet Earth”, além da trilha sonora de Batman.
Para muitos, infelizmente um ilustre desconhecido no país do esquecimento, em que o maior acontecimento político de um ano (quiçá de uma década) foi praticamente invisibilizado pelo hit “Wishing on a Star”, do grupo ianque The Cover Girls, cujo nome dispensa traduções. Não obstante o sugestivo título (pedindo a uma estrela, desejo atendido uma década depois, com a eleição de Lula), a canção marcava as cenas da gloriosa novela “De Corpo e Alma”, em que o pseudo-ator Eri Johnson, na pele de um gótico, idolatrava a imagem da quase santa Daniela Peres, dublê de atriz assassinada a tesouradas pelo também dublê de ator Guilherme de Pádua. Batata!!! A faixa foi catapultada à primeira posição nas paradas de sucesso, tudo isso enquanto Collor pedia tardiamente sua renúncia, Itamar assumia a presidência e o semi-DJ Caio nascia…
*Luciano d’Miguel é jornalista, ator, músico e produtor cultural de formação e profissão.


quinta-feira, 21 de abril de 2016

PEPE MUJICA E O BRASIL