quarta-feira, 28 de abril de 2010

Opinião/O bêbado e a equilibrista

Fiquei pensando se deveria colocar o título acima neste post por bastante tempo, até me decidir. Vocês já devem ter matado, pelo menos, metade da charada. O bêbado é o Lula mesmo, ou melhor o seu governo. Sei que a direita gosta de destilar seu preconceito contra Lula (que, por sua vez, gosta de destilados) acusando-o de consumir mais etanol do que uma Cherokee.

Mas é de outro tipo de bebedeira que eu estou falando. É da embriguez provocada pela sede do poder. O presidente, ébrio do poder que tem, e dos índices de popularidade que desfruta entre as caipirinhas, mas também entre os manhattans, resolveu tomar todas as atitudes que ainda restavam na carta de vinhos e maldades.

O que falar de Belo Monte? Leilão mal-ajambrado, promovido a toque de caixa, a partir de um RIMA desonesto, passando por cima do IBAMA. Mesmo servido acompanhado de doses generosas de dinheiro público, com direito ao nosso choro, não durou 1 dia, quanto mais 18 anos! Como disse em postagem anterior, nenhum capitalista esperto iria engolir um leilão que os obrigasse a ter prejuízo. Era fácil imaginar que os piratas abandonariam o navio, levando junto a garrafa de rum.

Mesmo com este forte indício de que ia dar um Belo Monte de merda, Lula preferiu nos servir mais um coquetel de lulices. As ONGs que são contra estão cheias de tucanos, disse ele. Mas nada disse sobre os movimentos sociais, cheios até a borda de petistas, que vem se manifestando há tanto tempo contra este projeto.

Mas a ressaca pós-leilão foi grande. Só isso pode explicar sua declaração de que “Nós conseguimos, no maior processo de democratização possível, legalizar e fazer o leilão de Belo Monte”. Legalidade construída em cima do desrespeito a liminares, é dose! Falar em democracia quando os movimentos sociais dizem que houve exatamente o contrário, não dá para descer redondo!

Não satisfeito, Lula ameaça construir Belo Monte de qualquer maneira, provavelmente para privatizar depois, e já anuncia que a próxima maldade vai ser o complexo de Tapajós, entre o Pará e o Amazonas. Mas se o Serra ganhar? Sem problemas; o porre será o mesmo. É só uma questão de substituir o rabo-de-galo lulista pelo bloody-mary, bebida mais adequada à sua cara permanente de Tio Funério. Mas, e se a Marina ganhar?

Aí entra a segunda personagem do título do post. Vocês estavam pensando em outra pessoa, né? Mas é Marina, a tal equilibrista que dança na corda bamba com uma sombrinha furada, talvez para, inutilmente, se proteger dos raios (p)solares e do aquecimento global. No final de outubro do ano passado, apenas há 6 meses atrás, a senadora afirmou: “Não há como fugir do aproveitamento energético do rio Xingu”.

Já no dia 15 de abril, semana passada, em um evento no TUCA, em São Paulo, ao ser questionada sobre Belo Monte, Marina respondeu: “Não sou contra e nem a favor. O projeto deve ser objetivo. Do ponto de vista cultural, social e ambiental, o empreendimento deve ser ético e respeitar a diversas culturas da região. Agora, por outro lado, o projeto deve ser feito de uma forma transparente, sem visar o lucro de alguns grupos interessados”. Transcrição longa para ser degustada em pequenos goles. Ops, esqueci que já mudei de personagem!

A resposta de Marina vale por uma apresentação do eco-capitalismo. O começo é emblemático. Não existem questões de princípio no eco-capitalismo. Basta ser objetivo e ético. Ética, Marina, cada um tem a sua. “Estupra, mas não mata”, vociferou certa vez o Maluf, um Paulo que não faz juz ao nome.

“Paulo Piramba”, interromperam os leitores. “Como não existem questões de princípio no eco-capitalismo, sua zebra?”. Vocês tem razão. Mas deixem eu só terminar o raciocínio. O problema de Belo Monte, para a senadora, pelas suas declarações, não é a continuidade de um modelo de pseudo-desenvolvimento criminosamente devastador. É se o projeto vai ser transparente, garantindo que o lucro não seja apropriado por alguns grupos.

Ou seja, o problema de Belo Monte é a sua licitação, que não foi transparente, logo impedindo a lisura do livre mercado. E aí, caro leitor, gentil leitora, chegamos às tais questões de princípio do eco-capitalismo, que na verdade é uma só: garantir o livre e transparente espaço para que o mercado e os capitalistas “com responsabilidade ambiental” possam auferir seus lucros.

Não foi a toa que a pré-candidata defendeu a suspensão do leilão, e não o cancelamento do projeto, em declaração à Veja (bleargh!). Última citação, eu prometo: “Antes que isso(novos questionamentos) aconteça e a gente tenha até algum prejuízo social ou econômico, que a gente faça o adiamento do leilão para poder analisar com acuidade todas as questões que ainda estão colocadas”. Foi ato falho, ou os prejuízos ambientais ficaram de fora por oportuno esquecimento?

E assim vai seguindo a triste história de Belo Monte. De um lado, um presidente ébrio do poder que possui, usando sua popularidade para passar por cima de quem se colocar na sua frente: movimentos sociais, Justiça e o Blog Eu quero meu PSOL de volta. Um faraó esperto que constrói suas pirâmides para aprisionar seus súditos. Do mesmo lado, uma socio-ambientalista que vem se transformando cada vez mais em eco-capitalista, tentando se equilibrar nesta corda-bomba, até que ela exploda.

E, o pior da história, é que neste momento onde a senadora vira as costas para uma visão mais progressista sobre as questões ambientais, é justamente agora que tem gente do PSOL ameaçando apoiá-la. Ôpa, tem mais equilibrista nessa corda!



Paulo Piramba



Sexta-feira, 23 de abril de 2010

Publicado no blogg http://euqueromeupsoldevolta.blogspot.com/

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