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Nas últimas décadas, muitos avanços foram realizados no transporte público brasileiro. A diminuição das emissões de poluentes pelos veículos a partir da criação do Proconve, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, é uma delas. Mas ainda falta muito para que as melhorias alcancem todas as grandes cidades do país e estejam associadas ao avanço nas tecnologias e a uma maior vontade pública para incentivos na área.
Ao traçar um panorama sobre a matriz energética do transporte público urbano, o estudo da NTU lembra que a demanda de energia ainda é muito alta. O Balanço Nacional, de 2007, já mostrava que o setor de transportes é responsável por cerca de 31% do total de energia consumida no país. Quando levada em conta somente a energia produzida por fontes fósseis, como o petróleo, a participação dos transportes sobe para 52%. Comparando os diversos meios, o setor rodoviário absorve 92% da energia gasta, sendo irrisória a participação dos setores ferroviário, hidroviário e aéreo.
Aumento na demanda
Se mesmo com as melhorias feitas a situação já não é lá das melhores, no futuro ela tende a piorar, caso mudanças não comecem a ser implementadas. Em 2030, a estimativa é de que o consumo total de combustível pelo transporte rodoviário triplique em relação ao que é hoje. Em 2005,o montante era da ordem de 50 milhões de toneladas equivalentes de petróleo por ano. Daqui a 20 anos, esse número deve chegar a 150 milhões. Para daqui a duas décadas, é esperado um incremento de 53% no número de viagens no país, a maioria de automóveis.
Isso significa que a poluição jogada no ar pela queima de combustíveis e as doenças decorrentes da má qualidade de ar também tendem a crescer em igual proporção, se os governos locais e empresas responsáveis pela produção e administração do transporte público não começarem a se mexer.
“Os aspectos mencionados convergem para a necessidade de uma nova política nacional de transportes públicos, que busque combinar as melhores alternativas ambientais e energéticas, passando pela análise da distribuição da rede de transportes coletivos e das mais diversas tecnologias de veículos e combustíveis”, diz o relatório.
Alternativas existem, falta vontade
Quando se fala em rede interligada de transportes coletivos e novas tecnologias, não se está tratando do futuro. Com planejamento, ônibus convencionais poderiam ser interligados a veículos BRT (Bus Rapid Transit)- baseado no transporte por corredores -, a metrôs, trens e até o velho conhecido trólebus, bastante viável em cidades de ruas largas e trânsito moderado. Para abastecê-los, diesel de baixo teor de enxofre, biodiesel, gás natural, álcool, hidrogênio e energia elétrica também já estão à disposição, no Brasil ou fora dele.
O trabalho da NTU mostra que tanto o tipo de transporte como o combustível usado existem no mercado, mas que, para que sejam realmente implementados e cada vez mais aperfeiçoados, é preciso que haja interesse. “O setor acompanhou as evoluções da matriz energética, mas todas elas sem resultados expressivos. Na verdade o que a gente sente é a falta de uma política energética mais coerente que possa dar respaldo à mudança de tecnologia”, diz Marcos Bicalho dos Santos, diretor superintendente da NTU.
Segundo Bicalho, a questão do gás natural é emblemática. Menos poluente que o diesel, o gás foi testado várias vezes nos ônibus de transporte urbano, mas todas as experiências feitas até hoje resultaram em fracasso porque a falta de uma política de preços, por parte do governo, não deu segurança para que os operadores investissem na mudança da frota. “Para mudar, precisamos ter o mínimo de segurança de que a política energética vai dar respaldo às tecnologias”, diz.
Copa das esperanças
Em meados de janeiro, o governo federal anunciou que R$ 8 bi dos R$ 20 bilhões destinados ao chamado PAC da Copa vão para obras de mobilidade urbana. A notícia reascendeu os ânimos do setor de transporte público do país, que vê neste evento e nas Olímpíadas de 2016 uma possibilidade de mudança. “Acreditamos que, com a Copa, vai haver um salto no setor. Os eventos [a Copa e as Olimpíadas] acabaram obrigando nossos governantes a tomar uma atitude mais ousada para tentar melhorar o caos urbano que vivemos hoje”, defende Bicalho.
Para o superintendente da NTU, a expectativa é que as melhorias não se restrinjam às 12 cidades-sede dos jogos. “Acreditamos que esse é apenas o pontapé inicial. São 12 cidades agora, mas as outras de médio e grande porte não vão querer ficar pra trás. Passado esse momento de euforia, vai haver uma demanda por parte delas. Os eventos esportivos podem trazer uma nova Era para o transporte coletivo no Brasil”, diz Bicalho, cheio de esperança.
O estudo “Perspectivas de Alteração da Matriz Energética no Transporte Público Urbano por ônibus” pode ser lido na íntegra no site da NTU.
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Cristiane Prizibisczki | Fonte: http://www.oeco.com.br/reportagens |
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