domingo, 12 de fevereiro de 2012

Delegado do DOPS confirma proximidade de Roberto Marinho e Octávio Frias com Ditadura


Vira mês, troca ano, e os assassinos e torturadores da Ditadura Militar brasileira seguem impunes e os arquivos daquele período seguem fechados e a mídia independente continua cobrando do governo ações para reverter esse contexto desolador. Parece que aos poucos, devagar e sempre, as coisas começam a andar, a ministra Maria do Rosário parece verdadeiramente interessada em enfrentar o tema e a Comissão da Verdade dá seus primeiros passos, além da instalação de mini comissões por todo o Brasil.
É nesse contexto, de pequenos avanços, que é publicada uma entrevista da Agência Pública com “um dos poucos delegados do DOPS ainda vivos”, José Paulo Bonchristiano, o Mr. Dops. A Agência tem feito um dos mais importantes trabalhos de jornalismo independente e investigativo no Brasil, tendo publicado com exclusividade, inclusive, alguns documentos referentes ao país liberados pelo Wikileaks.
Na entrevista com o Bonchristiano, além de muitos “casos” contados pelo delegado da Ditadura, fala-se rapidamente sobre as atitudes da mídia naquela época. E aí fica clara uma cumplicidade já denunciada dezenas de vezes, e agora admitida pelo delegado, entre a Ditadura e os barões da mídia. A repórter Marina Amaral escreve: “Roberto Marinho, da Globo, diz [Bonchristiano], ‘passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo’, e ele podia telefonar a Octávio Frias, da Folha de S. Paulo ‘para pedir o que o DOPS precisasse’”.
Um dos entraves que vêm impedindo maiores avanços do Brasil nessa área, deixando o país para trás em relação aos vizinhos latino-americanos, é o fato de que a abertura dessa verdadeira caixa preta, o aprofundamento no tema da Ditadura Militar, envolverá necessariamente muitos empresários e muitas empresas ainda muito prestigiadas atualmente. E com que cara ficarão essas pessoas ao verem expostas suas promíscuas relações com torturadores e assassinos? Como irão lidar com a proximidade de uma lembrança que deve assombrá-las todas às noites? O que será de sua sanidade quando os gritos das salas do DOPS e do DOI-CODI ultrapassarem a fronteira entre seus pesadelos e a realidade objetiva da opinião pública?
Dentre esses empresários, temos, como mostra a entrevista de Bonchristiano, os velhos barões da velha mídia, que são basicamente os mesmos daqueles tempos e de hoje. São donos de conglomerados de comunicação que, como dizia Brizola, “engordaram com a Ditadura”. São “filhotes da Ditadura”, e usam o poder alcançado nos anos de chumbo para continuarem impedindo a gestação da democracia midiática e, a partir dela, de uma democracia real e transparente no que se refere às ações do presente e do passado
do poder.



Fonte: http://jornalismob.wordpress.com/

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