quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

RECLUS, ROUSSEAU, BAKUNIN e SARAMAGO - Para pensar

“Entre nós, revolucionários, um fenômeno deve realizar-se; nós devemos conseguir compreender com perfeita retidão e sinceridade todas as idéias daqueles que combatemos; devemos fazê-las nossas, mas para dar-lhes seu verdadeiro sentido. Todos os raciocínios de nossos interlocutores, retardados pelas teorias ultrapassadas, classificam-se naturalmente em seu verdadeiro lugar, no passado, não no futuro. Eles pertencem à filosofia da história.”

  - Élisée Reclus - Jean Jacques Élisée Reclus1830 —  1905 foi um geógrafo e anarquista francês.

“O primeiro homem que, havendo cercado um pedaço de terra, disse “isso é meu”, e encontrou pessoas tolas o suficiente para acreditarem nas suas palavras, este homem foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassínios, de quantos horrores e misérias não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando os marcos, ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: Livrem-se de escutar esse impostor; pois estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!”

— Jean Jacques Rousseau, O contrato social (1762)

“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.”

— Mikail Bakunin - Mikhail Aleksandrovitch Bakunin18141876teórico político russo, um dos principais expoentes do anarquismo em meados do século XIX.

“Estamos usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando só o que é preciso pensar, o que se nos permite pensar.”

— , José Saramago, José de Sousa Saramago 1922 —  2010 - escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português. Palestra “Literatura e poder. Luzes e sombras”, Universidade Carlos III, Madrid, Espanha (2004)  -

Fonte: http://www.olibertario.org/2010/atualizacao-frases-anarquistas-a-discussao-foi-quente/

CHURRASCARIA DOIS IRMÃOS


Homem inventa máquina que converte plástico em óleo (Man invents machine to convert plastic into oil )

Selecione e abra o link)
http://www.youtube.com/watch?v=qPIHJRIpLRk&feature=player_detailpage
Colaboração: Cesar Scheffler

Fantasmas assassinados e o silêncio da mídia do apartheid


27 fev
Há fantasmas vagando pelo Brasil. Fantasmas sujos, rotos. Fantasmas de dentes estragados, cabelos endurecidos pela poeira que também encarde sua pele. Sim, os fantasmas brasileiros têm pele, e tem olhos cuja superfície exala dor, mas cujas profundezas são de uma alegria quase infantil. Mas são fantasmas. Alguns ainda tentam tornar-se homens, outros já desistiram, e apenas vagam. Solas dos pés cansadas pelo chão, cabeça muitas vezes cansada pelos refúgios químicos mais diversos, de hora em vez os fantasmas precisam atirar-se em algum canto e respirar. É aí que, em segundos, se transformam em homens, visíveis, indesejáveis, apenas para a seguir serem transformados em cadáveres.
No último sábado mais dois fantasmas viveram essa situação. José Edson Miclos Freitas foi transformado em cadáver. Paulo César Maia escapou por pouco. O crime dos dois, que os levou à punição da fantasmagoria, é a pobreza. É a falta de um teto sob o qual tentar se defender da selvageria do individualismo e do ódio à humanidade típicos do sistema capitalista. José e Paulo moravam na rua. José já não mora em lugar algum. Os dois foram incendiados enquanto dormiam, em Santa Maria, cidade satélite de Brasília.
José, Paulo e muitos outros moradores de rua ou de favelas – o que pouca diferença faz para a mente excludente das elites – são assassinados diariamente. Assassinados pelo sistema que exclui, que oprime, que agride, e assassinados pelo setor da mídia que sustenta este sistema e silencia sobre essa violência. O silêncio sobre a existência é uma forma de assassinato das mais cruéis. Pode não matar o corpo, mas mata o sujeito, mata a mente, mata a cidadania – e como existir sem ao menos algum resquício dela?
Se a fantasmagoria não é um problema sistêmico, então vejamos: segundo informou nesta segunda-feira a Telesur, 6500 seres humanos dormem nas ruas de Washington, nos EUA. 1500 são crianças. Por outro lado, é famosa uma frase de Fidel Castro, apoiada pela UNESCO: “Hoje milhões de crianças dormirão nas ruas. Nenhuma delas é cubana”.
Voltando ao Brasil, mas sem perder de vista que as fronteiras – nacionais e sociais – não fazem uns mais ou menos humanos do que outros, não é fácil encontrar, nos grandes portais do país, notícias sobre o assassinato físico de José e o assassinato moral de Paulo. Na noite desta segunda, apenas no G1 o fato estava na capa – o Jornal Nacional também destacou o caso. Folha Online e Estadão Online, por exemplo, não viram relevância.
Como geralmente acontece em casos assim, há também enorme dificuldade em encontrar os nomes dos agredidos. São “moradores de rua”, “indigentes” ou “mendigos” muito mais do que são José e Paulo. São fantasmas sem nome, sem lenço, sem documento e sem voz. José e Paulo não estão sós. Multiplicam-se os incêndios em favelas de São Paulo, as expulsões de comunidades inteiras de suas casas por causa da Copa do Mundo ou por obra de especuladores financeiros que financiam candidaturas políticas. Multiplicam-se assassinatos, multiplica-se a limpeza social em todas as suas correntes. E, na mesma medida, cresce a nuvem de silêncio. A mídia do apartheid social evita fazer relações entre tudo isso, e, no caso mais recente, lembrou o ataque ao índio Galdino, em 1997, como se desde lá a matança houvesse parado.
Na última semana, foi em Belo Horizonte que um homem sem nome morreu. A Folha o batizou de “andarilho”. Sobre José e Paulo, o Correio Braziliense abriu assim uma matéria: “Dois moradores de rua, provavelmente homens (…)”.


Fonte: http://jornalismob.wordpress.com/ em 27/02/2012 - Autor: Alexandre Haubrich

Professor da Unioeste irá ministrar conferências na Europa

O professor Affonso Celso Gonçalves Jr. (foto) do Centro de Ciências Agrárias do Câmpus de Marechal Cândido Rondon da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) embarca no próximo dia 13 de março para a Europa onde ministra conferências e efetiva parcerias científicas na área de Ciências Ambientais.

O convite partiu das instituições portuguesas e espanholas em virtude dos inúmeros trabalhos científicos que o professor Affonso tem realizado nos últimos anos na área de Ciências Ambientais, mais especificamente com relação aos trabalhos de remediação e descontaminação de águas e solos contaminados por agrotóxicos e metais pesados tóxicos.

A equipe, coordenada pelo professor Affonso, conta com a participação de inúmeros acadêmicos de doutorado, mestrado e iniciação científica que, sob sua orientação direta, desenvolvem trabalhos científicos de descontaminação de compartimentos ambientais (águas e solos) utilizando materiais adsorventes alternativos e sustentáveis provenientes de atividades agroindustriais.

Programação

O professor Affonso estará de 14 a 16 de março na Universidade do Porto (Portugal), de 17 a 20 de março na Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) e de 20 a 24 de março na Universidade Técnica de Lisboa (Portugal). Neste período, ele realiza visitas técnicas e ministra conferências nestas universidades sobre o tema “Sistemas de Produção Sustentáveis” ao mesmo tempo em que estará buscando parcerias científicas para futuros projetos.

Já no ano passado, o professor havia sido convidado pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) para visitar a referida Universidade e ministrar algumas conferências com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que financiou aquela missão científica, a qual culminou com a assinatura de convênios e parcerias científicas entre as duas Universidades.

De acordo com o professor Celso Gonçalves, “certamente estas visitas científicas trarão novas parcerias científicas e tecnológicas entre os grupos de pesquisa envolvidos e muitos serão os trabalhos que estarão sendo desenvolvidos como frutos desta experiência, o que refletirá também na formação dos recursos humanos, como mestres, doutores e pós-doutores da Unioeste”.

Fonte: ACS Unioeste
Foto: Divulgação

RÁDIO EDUCADORA AM/ATLÂNTIDA FM


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

POESIAS/VINICIUS DE MORAES


Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

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Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Vinícius de Moraes - 1913/1980 - diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro.


RÁDIO DIFUSORA FM


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pós-Graduação em Agronomia na Unioeste




Coordenador destaca relevância dos cursos de Mestrado e
Doutorado no contexto regional


O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Agronomia – PPGA, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, que completou uma década de existência no ano passado, teve neste mês de fevereiro a defesa da primeira tese de doutorado (foto ao lado).  O curso de Doutorado, implantado em 2009, é voltado para profissionais das Ciências Agrárias e afins, com estudos avançados e atividades de pesquisa relacionadas às áreas multidisciplinares do conhecimento da Produção Vegetal.
         A tese, com o tema “Enraizamento de estacas, sistemas de poda e seleção de cultivares de amoras e framboesas para regiões subtropicais” foi defendida por Marcelo Angelo Campagnolo, tendo na banca avaliadora o orientador, professor doutor Rafael Pio, a pesquisadora doutora Alessandra Maria Detoni, do IAPAR, a professora doutora Fabíola Villa, e, ainda, os professores doutores Vandeir Francisco Guimarães e Cláudio Yuji Tsutsumi, todos do Centro de Ciências Agrárias da Unioeste.
Para o coordenador do PPGA, professor Dr. Vandeir Francisco Guimarães, a implantação do curso de Doutorado na Unioeste em 2009, representou um grande avanço na verticalização do ensino e da pesquisa na região, na medida em que passou a atender não somente aqueles profissionais oriundos do curso de mestrado da própria Unioeste ou de instituições próximas que queriam ampliar seus conhecimentos e se qualificar, mas tornou-se, também, em virtude da qualidade do seu corpo docente, uma das alternativas para acadêmicos e profissionais de outros estados, bem como de países próximos, que hoje procuram a instituição.
Ampliar este intercâmbio entre profissionais e Instituições de outros países, é, segundo o coordenador, um dos objetivos do Programa, que espera também, nos próximos anos, melhorar o atual conceito 4 junto a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O PPGA da Unioeste, campus de Marechal Cândido Rondon conta hoje com 34 alunos matriculados, dentre eles quinze bolsistas da CAPES e dois da Fundação Araucária.



Na solenidade de abertura da primeira defesa do programa, o coordenador Vandeir Guimarães (de pé) apresentou a evolução dos cursos de mestrado e doutorado. Realizada no tribunal do júri do campus rondonense a solenidade contou com a presença do secretário municipal de Agricultura e Política Ambiental de Marechal Cândido Rondon, Urbano Mertz, do diretor do Centro de Ciências Agrárias, professor Ricardo Nunes, do diretor geral do campus professor  Paulo José Koling e do palestrante e orientador Rafael Pio (na sequência, da esq. p/a dir.), assim como de alunos e professores da Instituição



Texto e foto: Ana Maria de Carvalho
Comunicação Social
Unioeste – Campus de Marechal Cândido Rondon
27/02/2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mestrado em Geografia



Inscrições encerram dia 02 de março

Encerram no dia 02 de março de 2012 as inscrições para o processo seletivo do Mestrado em Geografia da Unioeste (Campus de Marechal Cândido Rondon). As inscrições poderão ser feitas pelo correio, via Sedex, e pessoalmente, até o dia 27 de fevereiro, segunda-feira, ou por meio de procuração até 02 de março na secretaria do programa. O período de seleção acontecerá entre os dias 26 a 28 de março, enquanto que o início das aulas está previsto para abril de 2012.
A área de concentração do curso é focada no tema Espaço de Fronteira: Territótio e Ambiente, dividida em duas linhas de pesquisa: Dinâmica Territorial e Conflitos Sociais em Espaço de Fronteira e Dinâmica e Gestão Ambiental em Zona Subtropical. De acordo com o coordenador do curso, professor doutor João Edmilson Fabrini, o espaço de fronteira é abordado na sua dimensão territorial, construída a partir de múltiplas relações políticas, sociais, econômicas e culturais.
E, de acordo com o programa do curso, a dimensão ambiental é abordada a partir da comunicação entre as práticas sociais e a natureza.
A graduação em Geografia ou áreas afins é requisito para a inscrição. Já os documentos necessários para a inscrição são o requerimento inscrição (formulário), uma foto 3x4, cópia autenticada do diploma ou histórico escolar, certificado de conclusão, currículo lattes (documentado), projeto de pesquisa (cópia CD-Rom e impressa) e cópia do RG, CPF, título eleitor, reservista, certidão nascimento ou casamento, folha de identificação do passaporte (estrangeiros).
Maiores informações podem ser solicitadas pelo email: mestradogeografia.mcrondon@gmail.com e rondon.pos.geografia@unioeste.br ou pelo telefone (45) 3284 7914. O endereço postal é Unioeste-Campus de Mal. C. Rondon-Mestrado em Geografia-Rua Pernambuco, 1777, CEP: 85960-000.




Texto: Ana Maria de Carvalho
Comunicação Social
Unioeste – Campus de Marechal Cândido Rondon
23/02/2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

UNIOESTE - Acadêmicos participam de competição internacional




O Grupo Cataratas de Eficiência Energética (GCEE), formado por alunos de Engenharia Elétrica e Mecânica do Câmpus de Foz do Iguaçu da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), com apoio da Itaipu Binacional e Parque Tecnológico Itaipu (PTI), participará de uma competição internacional a Shell Eco-maraton 2012 com o carro de Etanol batizado carinhosamente pelos jovens pesquisadores de “Etanóis”.

O evento será realizado de 29 de março a 1º de abril, nas ruas do centro de Houston (EUA), capital mundial da energia. Promovida desde 2004, a Maratona Universitária da Eficiência Energética é a quarta maior competição do gênero no mundo e a única organizada na América Latina.

De acordo com o acadêmico do quinto ano do curso de Engenharia Mecânica da Unioeste, Renan Pemp e que faz parte do grupo de pesquisa, o novo carro de Etanol produzido especialmente para a competição deverá ser despachado para os Estados Unidos já no próximo dia 20, enquanto a equipe de alunos que participará da maratona segue para competição no dia 20 de março próximo.
“A nossa expectativa é de ficar entre os primeiro colocados nessa competição já que produzimos um carro dentro das normas exigidas e com um consumo bastante parecido com o carro anterior, ou seja, que faz 736 km/1”, diz Renan. Para ele o sucesso da pesquisa se dá pelo nível técnico-científico dos docentes da Unioeste, bem como pelo apoio do PTI para o seu desenvolvimento.

A Equipe
A equipe, que é formada por 20 acadêmicos, no ano passado foi uma das grandes surpresas da 8ª Maratona Universitária da Eficiência Energética, realizada no Kartódromo de Interlagos, em São Paulo. O grupo bateu o recorde de consumo da prova na categoria Etanol e conquistou o primeiro lugar ao fazer 736 Km/l, superando os 140 Km/l obtidos pela Anhambi Morumbi, no ano passado. O GCEE também conquistou premiações importantes ao ficar em segundo lugar na categoria Gasolina (420 Km/l) e terceiro na categoria Elétrico (13 voltas com velocidade média mínima de 15 Km/l, usando uma bateria padrão de 12V 4Ah). O grupo da Unioeste ainda ficou em segundo lugar na categoria Projetos, que avaliou a sustentabilidade do carro, projeto, gerenciamento e formação da equipe.

Por esses resultados, o GCEE foi premiado na ocasião com dois carros e três motores da Fiat, e um kit de ferramentas Tramontina, equipamentos destinos à Unioeste para uso didático, nos laboratórios de engenharias Mecânica e Elétrica. “Estamos muito contentes pelas conquistas. Foi muito além das nossas expectativas, pois não tivemos como medir o consumo exato dos carros durante os testes. Sabíamos que os carros estavam prontos para a competição, mas não tínhamos ideia que os resultados seriam tão surpreendentes”, destacou Renan Temp, coordenador da equipe.

O GCEE
O GCEE foi criado em 2009, fruto da ideia de cinco alunos do segundo ano de Engenharia Elétrica, da Unioeste. A proposta do grupo era de trabalhar o conceito de “tecnologia verde”, por meio da pesquisa e do desenvolvimento de novas tecnologias. O projeto expandiu e mais acadêmicos foram convidados a participar do grupo. Eles foram responsáveis pela construção de três protótipos de veículos: movidos à energia elétrica, gasolina e etanol.

O grupo que participa do projeto é formado pelos alunos: André William Tonatto, Daniel Roncaglio, Deisson Cassiano Diedrich, Diogo Oscar Boechat, Felipe Arce Boiarski, Gabriel Apoena de Oliveira, Geórgia Tannara Beal, Iuri Moreira Andrion, Laura Morgenstern, Leonardo Santolin Anzileiro, Lucas Mozelli Padial, Natália Escalada, Rafael Martins de Farias Rebecchi, Renan Temp, Samar Fares Ghattas, Vinicius Terna Machado, Vitor Trentini Neto e Welder Hemkemeier.

Enviado por ACS em sex, 17/02/2012 - 09:49

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

MIMO'S BABY



 


POESIA/CECILIA MEIRELLES



Nem tudo é fácil

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!


Cecília Meireles - Cecília Benevides de Carvalho Meireles[1] (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira.

Indígenas


 ''Atender a demanda indígena é contrariar a política federal de incentivo ao agronegócio''

Nesta entrevista para o site IHU On-Line, o geógrafo Eduardo Carlini, explica que a morte de caciques e professores, lideranças Guarani-kaiowá, são a máxima expressão dos conflitos fundiários que envolvem a permanente luta por território e por sobrevivência dos indígenas e a ascensão dos latifúndios do agronegócio.

Por IHU On-Line

 
"A omissão do Estado em relação à questão agrária e indígena no Brasil é algo que reforça a violência no campo brasileiro enquanto um problema estrutural, ao mesmo tempo em que fortalece a elite agrária e provoca a morte dos povos indígenas”. A afirmação é de Eduardo Luiz Damiani Goyos Carlini, geógrafo, que fez parte da Expedição Marcos Veron, que visitou, até o último dia 25 de janeiro, diversas aldeias do estado de Mato Grosso do Sul para registrar a situação de vida dos Guarani-kaiowá e as ameaças de morte às suas lideranças. O objetivo é elaborar um material que possa compor a luta dos Guarani-kaiowá pela demarcação de seu território e pela cessação imediata da violência a que estão submetidos cotidianamente.

Na entrevista que concedeu por e-mail para a IHU On-Line, ele dá detalhes da experiência e é enfático quando questionado sobre as ameaças de morte às lideranças indígenas: “Não são apenas ameaças, mas assassinatos praticados rotineiramente”. E continua: “a ação dos fazendeiros se configura por homicídios bem planejados. Não mandam matar qualquer membro da comunidade, mas sim lideranças – sejam eles caciques ou professores. Tiram de circulação aquelas pessoas escolhidas pela própria comunidade por terem a capacidade de repassar os ensinamentos para o coletivo e inevitavelmente fortalecer a organização do movimento indígena. A perda dessas referências para a comunidade traz, em si, o medo como parte do cotidiano. E essa é uma estratégia utilizada pelo agronegócio para o extermínio desses povos. A população vive em constante incerteza sobre seu próximo amanhecer”.

Por fim, conclui Eduardo, “precisamos também destacar que não só os indígenas em todo o Brasil recebem ameaças de morte por parte da elite agrária, mas também os camponeses que lutam pelo direito legítimo de acesso à terra de trabalho nos mais diversos cantos deste país”.

Carlini é membro da Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB-SP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como você avalia a Expedição Marcos Veron? Qual o saldo que fica?

Eduardo Carlini – A Expedição Marcos Veron é resultado de um acúmulo de discussões feitas pelo Tribunal Popular (1) que, nos últimos anos, tem cumprido um papel importante, denunciando crimes cometidos pelo Estado brasileiro ou em sua atuação direta, ou por sua omissão frente as mais diversas questões sociais. É sob esse pano de fundo que a Expedição foi pensada: elaborar um material que possa compor a luta dos Guarani-kaiowá pela demarcação de seu território e pela cessação imediata da violência a que estão submetidos cotidianamente.

O fato de este material ser resultado de uma experiência vivida por pessoas que atuam politicamente em diferentes áreas do conhecimento acrescenta, à denúncia, uma relevância democrática por estarmos buscando participação direta na transformação da sociedade na qual estamos inseridos. Sabemos que um dos mitos sobre o Estado democrático de direito é a ideia de que a democracia apenas se realiza nos momentos eleitorais, tornando difícil para parte dos brasileiros entenderem que seus cotidianos podem, e devem, ser obra, principalmente, deles mesmos.

Hoje, três semanas após o período em que estivemos em campo, nos encontramos ainda no início de um longo trabalho. Coletamos muito material, entre depoimentos e informações das mais diversas que estão em formato de fotos, filmagens, gravações de áudio e anotações. Isso tudo está em processo de sistematização. Importante frisar que nosso trabalho não termina apenas na publicação do material, mas também, e principalmente, no fortalecimento do debate com a sociedade.

IHU On-Line – O que caracteriza as ameaças de morte às lideranças Guarani-kaiowá? Elas partem de quem?

Eduardo Carlini – Não são apenas ameaças, mas assassinatos praticados rotineiramente. A morte de caciques e professores, lideranças Guarani-kaiowá, documentadas inclusive nos trabalhos do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, são a máxima expressão dos conflitos fundiários que envolvem a permanente luta por território e por sobrevivência dos indígenas e a ascensão dos latifúndios do agronegócio.

A ação dos fazendeiros se configura por homicídios bem planejados. Não mandam matar qualquer membro da comunidade, mas sim lideranças – sejam eles caciques ou professores. Tiram de circulação aquelas pessoas escolhidas pela própria comunidade por terem a capacidade de repassar os ensinamentos para o coletivo e inevitavelmente fortalecer a organização do movimento indígena. A perda dessas referências para a comunidade traz, em si, o medo como parte do cotidiano. E essa é uma estratégia utilizada pelo agronegócio para o extermínio desses povos. A população vive em constante incerteza sobre seu próximo amanhecer.

Por fim, precisamos também destacar que não só os indígenas em todo o Brasil recebem ameaças de morte por parte da elite agrária, mas também os camponeses que lutam pelo direito legítimo de acesso à terra de trabalho nos mais diversos cantos deste país.

IHU On-Line – Quais são os principais entraves jurídicos e políticos envolvendo os Guarani-kaiowá?

Eduardo Carlini – Tomei a liberdade de convidar a advogada Irene Guimarães, que compõe a Expedição Marcos Veron, para me auxiliar nessa questão. De acordo com ela, a Constituição Federal de 1988 assegura aos indígenas de terem reconhecido o direito às terras originárias que tradicionalmente ocupam. Trata-se de um direito anterior e oponível a qualquer ocupação e reconhecimento, independentemente da época de concessão do título de propriedade. Assim, a demarcação não é um ato administrativo que constitui a terra indígena, mas é mero ato de reconhecimento, tendo natureza declaratória. E quando ocorre a demarcação paga-se apenas o valor das benfeitorias de boa-fé, porque o título de propriedade é considerado inexistente e nulo.

Contudo, os interesses econômicos em torno da terra no Mato Grosso do Sul e a ausência de uma atuação do Estado na efetiva demarcação das terras indígenas (cujo prazo estipulado pela Constituição de 1988 era de cinco anos), que se encontram dentro dessas áreas, geram diversos conflitos.

Além disso, com a Constituição de 1988, o processo demarcatório abre a possibilidade de contraditório, ou seja, de questionamento perante o Poder Judiciário (inciso XXXV art. 5º). Esta introdução gera diversos questionamentos por parte de alguns juristas que alegam que para poder recorrer é necessário que tenha ocorrido primeiro a conclusão da homologação. Não há como recorrer a qualquer dos momentos anteriores a ela devido à circunstância jurídica de a demarcação administrativa não ter sido aperfeiçoada completamente. O que ocorre é que isso é usado frequentemente como forma de impedir a finalização do processo de demarcação da terra indígena. Dessa forma, os conflitos tendem a se reproduzir por meio dos processos judiciais que se prolongam indefinidamente. E quem “paga” por isso são as comunidades indígenas, na medida em que se acentua o clima de insegurança jurídica e fática que os afeta.

Por exemplo, a Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul – Famasul interpôs agravo regimental que sustentava a incompetência do Supremo Tribunal Federal – STF para tratar da questão das demarcações dos Guarani-kaiowá no Estado, ainda que o STF já tivesse se manifestado pela continuidade do processo de demarcação, e solicitou que a Fundação nacional do Índio – Funai notificasse todos os ocupantes de imóveis rurais de 26 municípios do Mato Grosso do Sul, e o Tribunal Regional Federal da 3ª Região suspendeu as demarcações. Ainda, a Famasul defende que os conflitos seriam resolvidos por meio das terras pelo governo, a preço de mercado, terra nua e benfeitorias, ainda que a Constituição Federal diga o contrário.

Existe uma clara inoperância da Funai em dar andamento aos procedimentos necessários à demarcação, que leva ao aumento de conflitos entre os fazendeiros e os índios do Mato Grosso do Sul como um todo (tanto é que, segundo dados do relatório do CIMI, essa é a região onde os indígenas mais sofrem violência, assassinatos, etc., de todo o país).

Quando as ocupações são objeto de ação judicial de reintegração de posse, o Judiciário alega, muitas vezes, que a ausência de estudos e providências por parte da Funai para caracterizar a área como “terra tradicionalmente ocupada por índios”, faz com que prevaleça o direito de propriedade dos donos das terras ocupadas ou retomadas.

IHU On-Line – Que tipo de violência os Guarani sofrem da parte do agronegócio do Mato Grosso do Sul?
Eduardo Carlini – Há alguns anos o CIMI publica o Relatório de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil. Trata-se de um instrumento de denúncia que revela esta gravíssima problemática que envolve a população indígena no Brasil e mais: nos dá a clareza do quão chocante é esta realidade em Mato Grosso do Sul.

A omissão do Estado em relação à questão agrária e indígena no Brasil é algo que reforça a violência no campo brasileiro enquanto um problema estrutural, ao mesmo tempo em que fortalece a elite agrária e provoca a morte dos povos indígenas.

Só para se ter uma ideia, sem aprofundarmo-nos muito na análise dos dados, na última publicação do CIMI, em 2011, podemos identificar que no ano de 2010 mais de 152 ameaças de morte foram registradas no país, sendo que 150 ocorreram em Mato Grosso do Sul. Do mesmo modo, dos 398 outros tipos de ameaças sofridas pelos indígenas no Brasil, 390 foram em Mato Grosso do Sul. Entre as tentativas de assassinato, das 22 registradas no país, 17 ocorreram nesse estado. Podemos também lembrar dos dados que dizem respeito aos assassinatos que ocorreram no referido ano: dos 60 que aconteceram em todo país, 34 foram confirmados em Mato Grosso do Sul. E assim poderia seguir com uma lista enorme que diz respeito à violência que os Guarani-kaiowá sofrem por parte do agronegócio, ressaltando, inclusive, os casos de intoxicação e morte pelo uso abusivo de agrotóxicos nos latifúndios de soja que cercam as aldeias e os acampamentos; ou mesmo as mortes provocadas por atropelamento dos indígenas que se encontram acampados nas beiras das estradas à espera da regularização de seu território; conjuntamente repetidos casos de violência e abuso sexual são registrados; e ainda casos de racismo e discriminação étnico-cultural.

IHU On-Line – O que significa a terra para um povo indígena e como entender como se sentem ao serem despejados de seu território?

Eduardo Carlini – Sobre essa questão, não podemos cometer um equívoco bastante comum: confundir terra com território. A terra é um bem que não é produto da força de trabalho do homem, ela é um bem natural. Já o território é uma construção social – produto concreto da luta de classes – independentemente de como é organizado, pensado e vivido.

O território Guarani-kaiowá, assim como o das populações indígenas de um modo geral, é um lugar livre e desprovido das relações capitalistas. Construído e reproduzido por outros diversos fins que não a obediência ao relógio e ao lucro. Os poucos dias em que convivemos com os Guarani-kaiowá durante a expedição são insuficientes para que tenhamos dimensão, com nossos olhos civilizados, do que significa estar e ser Guarani-kaiowá.

É preciso refletir e agir sobre essas questões para que não continuemos com este processo histórico de genocídios dos povos indígenas no Brasil.

E vejo que não há como fazer as pessoas que não estão em situação semelhante entender tamanha violência. Pensando sobre isso, vou recorrer às minhas aulas de geografia, onde procuro instigar a possibilidade dos educandos de imaginar como pode parecer ao serem despejados. Pergunto aos alunos se gostam quando suas mães, ao arrumarem seus quartos, retiram algo do lugar. Imediatamente as respostas identificadas já com a situação criada, são de repúdio à mãe, pois não encontram ou demoram para encontrar tal objeto. Na sequência, peço, então, para tentarem imaginar como se sentiriam se tirassem toda sua vida do lugar e a colocassem onde não a encontrariam. Muitas vezes, respondem com um silêncio que sufoca as palavras; dizem tudo sem falarem nada.

IHU On-Line – Qual é a ideia predominante na opinião pública em torno dos debates sobre as demarcações das terras indígenas?

Eduardo Carlini – Entendo que, antes de procurar saber a opinião pública sobre a questão indígena no Brasil, devemos refletir sobre os meios e a qualidade da formação da população brasileira sobre esse assunto. Um primeiro ponto passa por uma análise crítica de como a mídia tem trabalhado essa questão. E um segundo ponto é como esse debate vem sendo tratado nas escolas, ou se minimamente este assunto faz parte do cotidiano escolar. Sabemos que este trabalho está muito além de desenhar cocares e comemorar o dia do Índio.

Cabe destacar o desserviço deliberado feito pela grande mídia de massas sobre a questão indígena de uma maneira geral. Pouco ou quase nada se sabe sobre a luta indígena no Brasil. Muitas vezes, os meios de comunicação acabam por desinformar, distorcendo e omitindo as situações que ganham destaque. E é claro, a situação dos Guarani-kaiowá não se faz diferente. São raros os momentos em que não são divulgadas matérias criminalizando situações dos indígenas ou que façam uma real problematização da complexidade que envolve essa questão no Brasil.

Sobre a questão da formação escolar trago uma experiência vivida durante a Expedição. Trata-se de um relato de uma jovem Guarani-kaiowá (2) que estudou em uma escola não indígena. Em uma conversa informal perguntei sobre as aulas de geografia, se gostava da disciplina e de seu professor. De maneira muito tranquila, a jovem respondeu que sim, gostava de estudar geografia e que seu professor “era legal”. Por conta de sua resposta, associei o professor como um parceiro que, até então, me pareceu ter feito algum trabalho que ocasionou a identificação da jovem com o próprio, e perguntei: “Então, ele trabalha a questão indígena em sala de aula?”. E veio o susto: “Não, isso não é tratado na escola!” Mesmo reformulando a pergunta as respostas eram sempre no mesmo tom. É claro que essa pode ser a condição de má formação de um grupo de professores, mas também, por outro lado, nos revela a fragilidade desse assunto na região. A jovem, de maneira pontual, denunciou, talvez sem mesmo perceber, a gravidade que atinge, inclusive, os jovens não índios, também pela deliberada falta de informação.

IHU On-Line – Como você avalia a atuação da Funai e do governo federal em relação às populações indígenas e à questão agrária no Brasil?

Eduardo Carlini – Não é possível entender de forma isolada a atuação da Funai em relação ao governo federal. Não podemos esquecer que a Funai “é o órgão federal responsável pelo estabelecimento e execução da política indigenista brasileira em cumprimento ao que determina a Constituição Federal Brasileira de 1988” (3). Dessa forma, mesmo que a constituição de 1988 garanta aos índios o direito a suas terras, a realização desse processo será sempre refém ao entendimento de política indigenista que cada governo terá e, consequentemente, determinando a ordem de prioridade de cada caso.

Para que fique claro do que falamos aqui, vou relembrar um momento da Expedição. Nos primeiros dias, estivemos em uma situação bastante problemática. Visitamos a Aldeia Laranjeiras Nhanderú, cujo acesso passa pela lavoura de soja da fazenda de José Raul das Neves, pai do presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) do município de Rio Brilhante (4). Durante nossa estada na aldeia, fomos alertados de que estávamos presos ali. O acesso à estrada tinha sido bloqueado pelo proprietário. Fizemos alguns contatos. A Polícia Federal, junto a Funai, interveio na situação, garantindo nossa saída. Durante nossa conversa com a encarregada da Funai, quando questionada sobre qual o papel do órgão, afirmou que “o papel da Funai é mediar conflito entre os fazendeiros e os indígenas” (5).

A Funai cumpre hoje o mesmo papel desempenhado pelo Serviço de Proteção ao Índio – SPI (6) na primeira metade do século passado. O SPI contribuiu fundamentalmente para o acirramento do conflito na região, com a criação das reservas indígenas. O papel dessas reservas foi o de confinamento das aldeias em áreas (7) de no máximo 3.500 ha, antes espalhadas sob uma vasta área que configurava o território Kaiowá. Dessa forma, abriu-se espaço para o projeto de colonização de Getúlio Vargas, “a marcha para o oeste”, com a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados – CAND.

É interessante notar que aquilo que, num primeiro momento, pode nos parecer algo coerente, como no caso a criação das reservas, era na verdade a liberação da área, garantindo assim o loteamento da região, beneficiando as elites agrárias em detrimento da manutenção do modo de vida Guarani-kaiowá.

Hoje não é diferente; precisamos ter clareza. Ao se pronunciar, a encarregada da Funai não fez nada mais do que nos mostrar qual o interesse do governo sobre essa questão. Afinal, atender à demanda indígena é contrariar a política federal de incentivo ao agronegócio. Por isso que essa situação está sendo “mediada”, em vez de ser resolvida.

IHU On-Line – Deseja acrescentar mais algum comentário sobre o tema?

Eduardo Carlini – Sabemos, por experiência, que mesmo após a demarcação de suas terras, o problema para os indígenas está longe de ser resolvido. A violência ocorrida após a demarcação das terras da Raposa Serra do Sol deixou claro que a luta pela terra transforma-se na luta pela permanência na terra. Outra questão sobre a qual não podemos deixar de refletir é o momento em que a justiça se faz cega. Os crimes, quando julgados, são entendidos como crimes comuns. A real situação do conflito agrário no Brasil é abrandada com a ideia de justiça no momento da condenação dos pistoleiros e raramente de seus mandantes, os fazendeiros. Pontualmente retiram-se de cena alguns atores, ao tempo em que permanece no cotidiano do campo brasileiro o agrobanditismo, violentando os mais variados territórios não capitalistas.

NOTAS DO ENTREVISTADO

(1) O Tribunal Popular constitui um espaço aglutinador de diversos movimentos sociais e organizações populares que, a partir das lutas empreendidas em torno das mais diversas pautas (campo, cidade, agronegócio, megaeventos, grandes projetos, etc.), procuram denunciar os crimes cometidos pelo atual Estado de direito brasileiro.

(2) Nomes não serão aqui divulgados para preservação da integridade física dessas pessoas.

(3) Cf. em: http://www.funai.gov.br/.

(4) Cf. em: http://www.douradosnews.com.br/dourados/fazendeiro-nao-concorda-com-tratamento-recebido-da-comissao-de-direitos-humanos.

(5) Cf. em: http://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19386. O jornalista, autor do artigo, faz parte do grupo que compôs a Expedição Marcos Veron.

(6) O SPI foi extinto com a criação da Funai em 1967.

(7) Existem reservas onde vivem mais de 5 mil Kaiowá confinados nessas áreas de 3500 ha.
IHU On-Line - EcoAgência
 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

ROSA LUNA

Ciência e Pesquisa



SBPC critica corte orçamentário na área de ciência, tecnologia e inovação

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou nota “repudiando” o corte de R$ 1,486 bilhão do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), anunciado esta semana pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Segundo o documento, o corte “foi recebido com desagrado pela SBPC”.



Em entrevista à Agência Brasil, a presidenta da entidade, Helena Nader, disse que “a ciência brasileira está muito preocupada”. Ela lembrou que o ministério incorporou “inovação” ao nome, mas não recebeu reforço orçamentário. “O ministério ganhou mais um penduricalho e está com menos dinheiro. É uma incoerência”, ponderou.

Segundo Helena, o país vai perder competitividade porque o governo não preserva o orçamento do MCTI. “Vocês vão ver o efeito nefasto disso não é agora, vai levar um tempo”, previu. Ela lembra que os Estados Unidos, no epicentro da crise financeira internacional de 2008, anunciou aumento de gastos com ciência e tecnologia e não cortes. “O mundo não está parado, é só olhar o que os tigres asiáticos, a Índia e a China investem”, comparou.

A presidenta da SBPC salienta que a diminuição do orçamento do MCTI “não vai ao encontro do discurso da presidenta Dilma Rousseff”, se referindo às promessas de campanha, ao lançamento do programa Ciência sem Fronteira e à decisão do governo de tentar repatriar cientistas brasileiros que estejam no exterior e de atrair pesquisadores estrangeiros para trabalhar no Brasil. “Eu acho que a presidenta não está vendo o corte que estão fazendo”, comentou.

A SBPC mandou este ano duas cartas à presidenta Dilma alertando sobre a possibilidade de cortes. A última foi enviada uma semana antes do anúncio. A primeira, assinada em conjunto com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), no começo de janeiro.

Nas cartas, a entidade destaca “a necessidade de se manter os investimentos na área, de modo a alcançar as metas previstas na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação - 2012-2015, e assim alcançar ao final desse período investimentos em pesquisa e desenvolvimento da ordem de 1,8% do PIB [Produto Interno Bruto]”. Atualmente, o Estado e as empresas privadas investem juntos cerca de 1,1% do PIB nacional em ciência e tecnologia.

A Agência Brasil tentou ouvir o ministério e colher informações sobre as áreas e os programas que serão afetados com os cortes, mas não obteve retorno. Em discurso de posse, o ministro Marco Antonio Raupp (MCTI) defendeu que “a alocação de mais recursos deve estar atrelada a padrões de eficiência na sua utilização” e que “sem investimento, pesquisa e desenvolvimento, as empresas brasileiras não inovam, perdem competitividade e correm o risco de serem engolidas ou trucidadas pelas concorrentes de outros países”.

Como ocorreu em 2011, o corte no orçamento do MCTI poderá ser contrabalançado pelo aumento de crédito da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para empréstimos a empresas que façam inovação. De acordo com nota publicada no site da agência, a previsão para este ano é que a “Finep opere, em recursos reembolsáveis para empresas, R$ 6 bilhões, contra os R$ 3,75 bilhões aplicados em 2011, o que corresponde a um aumento de 62,5%”. Os recursos são do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que tem como fonte o Tesouro Nacional.
Por Gilberto Costa, repórter da Agência Brasil
Agência Brasil - EcoAgência

Fonte: http://www.ecoagencia.com.br/?open=noticias&id=VZlSXRVVONlYHpkdOdFdWJFbKVVVB1TP


ALCIDES WALDOW - Pasquim do Oeste 17 anos


Agricultura de baixo carbono, um modelo brasileiro



Como surgiu o Programa ABC? Como ele funciona? Qual será o impacto econômicode sua adoção no Brasil? O assessor técnico da Comissão Nacional do Meio Ambiente da CNA Nelson Ananias Filho respondeu essas e outras perguntas para você ficar por dentro do programa que vai revolucionar a agricultura brasileira. Veja abaixo:

Como surgiu o programa ABC? Explique um pouco sobre como ele funciona.

O programa surgiu da necessidade de criar linhas de financiamento e crédito específicos para incentivar a adoção de tecnologias que evitem a emissão ou capturem os Gases de Efeito Estufa (GEEs). O público alvo é formado por produtores rurais e suas cooperativas, inclusive, para repasse aos associados. Através da apresentação de um projeto técnico para uma instituição bancária, este público terá acesso a recursos financeiros, com juros e formas de pagamento diferenciados, e que possibilitem a adoção de práticas como a recuperação de áreas e pastagens degradadas, a implantação de sistemas orgânicos de produção agropecuária e a adequação ou regularização das propriedades rurais frente à legislação ambiental.

-A agricultura de baixo carbono é baseada em um mecanismo chamado“sequestro” de carbono. Como ele funciona?

Funciona por meio da adoção das seguintes tecnologias:

Recuperação de pastagens degradadas: a recuperação e manutenção da produtividade das pastagens contribuem para mitigar a emissão dos gases do efeito estufa, o que permitiria também um aumento da capacidade de suportedessas pastagens, dos atuais 0,4 para 0,9 unidades animais por hectare (UA/ha), reduzindo a pressão pela conversão de novas áreas em pastagens.

Integração lavoura-pecuária-floresta(iLPF): Ossistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e os sistemas Agroflorestais (SAFs) são estratégias de produção sustentável que integram atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema. A expectativa é aumentar a área com sistemas iLPF e Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 4 milhões dehectares.

Sistema Plantio Direto (SPD): Além de contribuir para o aumento da resiliência do solo, a adoção do SPD resulta na redução da emissão dos gases de efeito estufa, mediante redução da degradação de matéria orgânica do solo, de combustível fóssil pelo menor uso de maquinário e redução na adubação.

Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): é amplamente reconhecida, pois, reduz os riscos para o meio ambiente pela redução de emissão de gases de efeito estufa, além de reduzir o custo da produção, elevar o conteúdo de matéria orgânica (seqüestro de carbono) e melhorar a fertilidade do solo.

Florestas Plantadas: A produção de florestas plantadas(econômicas) nas propriedades rurais poderá contribuir para a redução de 8 a 10 milhões de toneladas de CO2 eq, uma vez que a expansão dessa atividade deverá se dar sobre áreas de pastagens degradadas, onde há emissões oriundas da degradação de matéria orgânica no solo, e pela fixação de carbono na biomassa florestal.

A Adoção das tecnologias citadas propiciam a fixação de carbono no solo e nas plantas, além de reduzir as emissões dos GEEs.

- Na COP-15, o governo brasileiro divulgou o compromisso de reduzir entre 36,1% e 38,9% a emissão de CO2 até 2020. Como o programa ABC pode ajudar o Brasil a cumprir essas metas?

Os compromissos da agricultura referem-se a ações que implicarão em redução das emissões projetadas até 2020, entre 133 a 166 milhões t CO2 eq, por meio da adoção de tecnologias desenvolvidas e aperfeiçoadas pelos institutos de tecnologias agropecuárias.

-Quais são os principais desafios que o país vai ter que enfrentar para que o programa funcione como esperado?

O Brasil precisa continuar estimulando o desenvolvimento, com a produção crescente da agricultura, para gerar divisas com a exportação, mas, sobretudo, para alimentar a população brasileira. A questão ambiental associada com a redução das emissões de gases de efeito estufa são necessidades fundamentais no desenvolvimento do Brasil, o que concretiza diversos novos imperativos para os produtores e para a ação governamental. Será preciso enfrentar um duplo desafio: estimular o crescimento e reduzir as emissões de GEE e, para tanto, a agricultura brasileira dispõe de tecnologias mitigadoras dos gases de efeito estufa e que podem ser incorporados pelos agricultores no seu processo de produção.

-A agricultura de baixo carbono já é utilizada em outros países? Em quais? Como essa prática é vista no exterior?

Não temos notícias sobre políticas análogas a esta no mundo. O Brasil desenvolveu e aperfeiçoou estas tecnologias que já fazem parte da rotina de muitos proprietários rurais. O Programa apenas favorece a adoção destas tecnologias a quem ainda não teve acesso a elas.

-Qual será o impacto econômico da adoção da agricultura de baixo carbono no Brasil? Para o meio ambiente, não há dúvida deque ela é favorável, mas e para a economia? Ela é mais ou menos rentável que a agricultura tradicional?

As vantagens da adoção destas tecnologias sustentáveis são extremamente benéficas à economia. Por um lado, o produtor poderá incorporar ao processo produtivo as tecnologias sustentáveis para uma produção mais eficiente, que proporciona o aumento da renda através do incremento da produtividade e da diversificação da produção. Por outro, o país ganha agregando a variável ambiental em seus produtos de exportação, evitando a incidência de barreiras não tarifárias. Os benefícios do programa ABC em números poderão ser avaliados no final deste ano quando fecharemos o primeiro ciclo do programa, que com certeza será positivo.

07 de fevereiro de 2012 - 07:35h
Autor: Assessoria 
Fonte: http://www.sonoticias.com.br/agronoticias/mostra.php?id=49779

TINTAS RONDON




Incra recebe área da SPU e soluciona conflito histórico no Paraná

16 02 solidor pr"A reforma agrária no Paraná tem um novo capítulo hoje". Com essa frase o Superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, comemorou a transferência da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para a autarquia, nesta quarta-feira (15), da Fazenda Boa Vista de São Roque, conhecida como Solidor, em Espigão Alto do Iguaçu, região Centro-Sul do Paraná.

Na área viviam 34 famílias de trabalhadores rurais no assentamento Núcleo Vitória desde 1984. Porém, desde 2000 as famílias voltaram à condição de acampadas. O assentamento Núcleo Agrícola Vitória foi reconhecido como de posse da União pela Justiça na década de 80. Em 2000, famílias que estavam assentadas foram despejadas em função do ganho de causa por Jocemino João Bonotto, posseiro irregular da área.

A área recebida pelo Incra está localizada na faixa de fronteira, a qual exige a ratificação da propriedade pela União. A União é a única capaz de convalidar titulações anteriores inválidas expedidas pelos governos estaduais em áreas de domínio federal. A propriedade é reivindicada por Jocemino João Bonotto, Irene Languinski Bonotto e Arcoplan Thermoplásticos Limitada. No entanto, a ratificação do título foi negada pela União e, consequentemente, a área foi reincorporada ao patrimônio público.

"Apesar da incorporação ao patrimônio público o Incra não pôde realocar as famílias novamente em projeto de assentamento, pois não possui a posse da área" Explica o Superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes.

Com a posse da área pelo Incra, assinada hoje, resolve-se assim um grande conflito agrário no estado. "Nesta área estava instalado o maior conflito em termos de intensidade que temos hoje no Paraná. Com a transferência da área para o Incra vamos corrigir uma injustiça histórica feita com essas famílias assentadas".

Publicado em Quinta, 16 Fevereiro 2012 20:25 | Imprimir | E-mail 
Fonte: http://www.incra.gov.br/index.php/noticias-sala-de-imprensa/noticias/11780-incra-recebe-area-da-spu-e-soluciona-conflito-historico-no-parana

ANDERSON PICOLO - Paquim do Oeste 17 anos


Péricles quer aprovar emenda da cultura, vetada por Richa


A emenda do deputado Péricles de Mello (PT), que prevê aumento de recursos para a cultura do Paraná, foi vetada pelo governador Beto Richa (PSDB).  A emenda autoriza o governo a conceder até 5% do valor do imposto de renda destinados pelas empresas a projetos culturais paranaenses, por meio das leis federais Rouanet e de Áudio Visual, em isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).  
A proposta de Péricles foi apresentada ao projeto de lei do Poder Executivo, que instituiu o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura, ambos aprovados pela Assembleia Legislativa, no final do ano passado. A lei de incentivo foi sancionada, mas a emenda recebeu o veto do governo do Estado.  
Em discurso no plenário da Assembleia, nesta segunda-feira, dia 13, Péricles disse que vai agendar uma audiência com Richa e o secretário de Estado da Cultura, Paulino Viapiana, para pedir apoio à emenda e reverter o veto na Assembleia.  
Péricles aponta que a isenção de 5% do ICMS poderá elevar em até 20 vezes os recursos da Lei Rouanet para a cultura. “Se o Estado conceder R$ 10 milhões em isenção do ICMS significa que o empresariado destinou R$ 200 milhões para projetos culturais, por meio da Lei Rouanet”, explica o deputado.   
Ele enfatiza ainda que o potencial de investimento pela lei Rouanet é de R$ 250 milhões por ano, mas as empresas paranaenses que recolhem imposto de renda aplicam apenas R$ 40 milhões, cerca de 16 % do que poderia ser investido no setor. 
“Esse incentivo estimula a classe empresarial em valorizar a cultura do nosso Estado, abrindo espaço para a classe artística concretizar seus projetos”, destaca Péricles.  O deputado reforça que serão valorizados os projetos de interesse do Paraná, uma vez que passarão pela análise do Conselho Estadual de Cultura. 
Lei Rouanet 
Péricles salientou que a emenda vai descentralizar os investimentos da Lei Rouanet no setor cultural. Segundo o deputado, estudos do Ministério da Educação mostram que 79,11% dos recursos ficam na região Sudeste, principalmente entre o Rio de Janeiro e São Paulo. A região Sul concentra 9,69% e ao Paraná restam 2,24% dos investimentos da lei federal.  
“Vamos ampliar o diálogo com o governo do Estado, para mostrar que a nossa emenda só traz benefícios ao Paraná”, afirma Péricles.

Fonte: Assessoria de Imprensa
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GRÁFICA LÍDER


sábado, 18 de fevereiro de 2012

“Concessão” é igual à “privatização”? A mídia hegemônica nos dá um exemplo…




O artigo a seguir é uma colaboração especial de Rodrigo Cardia*


A polêmica dos últimos dias na área da política é quanto à “concessão” de três aeroportos (Guarulhos, Campinas e Brasília) à iniciativa privada. Afinal, foi privatização ou não?
Para os defensores mais ferrenhos do governo Dilma, não houve uma privatização, visto que os aeroportos não se tornaram empresas totalmente privadas, mas sim, passaram a ter 51% de seu capital privado e 49% público. (Embora me pareça lógico que os interesses privados prevalecerão: desde quando 49 é maior que 51?)
A verdade é que o termo “concessão” é mais palatável que “privatização”, associado ao desmonte do Estado empreendido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e, mais recentemente, à roubalheira denunciada no livro “A Privataria Tucana” de Amaury Ribeiro Jr. Justamente porque dá a entender que trata-se de patrimônio público cuja administração é cedida à iniciativa privada, e não de transferência de patrimônio do poder público para mãos privadas. Assim, o governo poderia retomá-lo em caso de irregularidades cometida por parte da concessionária. Porém, como bem sabemos, não é assim que funciona no Brasil. E a questão das concessões de rádio e televisão nos oferece um ótimo exemplo disso.
Os canais que assistimos na televisão aberta (assim como as rádios que ouvimos) são concessões públicas para que empresas, na maioria privadas, os explorem. Elas têm prazo de validade, e após seu vencimento podem ser renovadas pelo governo – ou não.
Porém, não sei se alguma vez aconteceu no Brasil algo semelhante ao que se passou em 2007 na Venezuela, quando o presidente Hugo Chávez não renovou a concessão da RCTV. Em maio daquele ano, a licença para que a emissora transmitisse seu sinal para a televisão aberta vencia. E o governo venezuelano decidiu não renová-la, substituindo-a por um canal público, a TVes (Televisora Venezolana Social). A justificativa foi o apoio da RCTV, principal emissora privada do país, ao golpe militar que em abril de 2002 afastou Chávez da presidência por dois dias. O que quer dizer que o presidente venezuelano não agiu de forma autoritária coisa nenhuma, já que esperou a concessão da emissora vencer: o golpe poderia muito bem ter servido de justificativa para cassar a licença da RCTV já em 2002.
Ou seja, na Venezuela as empresas que exploram os sinais de televisão e rádio podem ser privadas, mas o sinal é, de fato, público. O Estado pode se fazer presente, como de fato se fez em 2007, ao não renovar a concessão da emissora. Pode-se até questionar os critérios de Chávez para não renovar concessões (embora não me pareça lógico um defensor da democracia discordar da medida quando o canal em questão apoiou uma ruptura da ordem democrática), mas as emissoras não podem agir como se o sinal aberto fosse propriedade privada delas.
Já no Brasil, o que acontece? Embora legalmente os canais privados sejam também concessões públicas para que empresas os explorem, na prática boa parte do espectro eletromagnético é propriedade privada: as renovações de licenças se dão de forma quase automática (jamais se cogitou, por exemplo, não renovar a concessão da Rede Globo). As emissoras fazem literalmente “o que querem”, e à qualquer tentativa de regulação, gritam contra a “censura”. Para se ter uma ideia, em 30 de setembro de 2011 um canal de TV na Paraíba exibiu, à tarde (!), cenas de um estupro de uma menina de 13 anos; o MPF pediu a cassação da concessão da emissora, medida à qual o diretor da empresa detentora da licença reagiu com o ridículo argumento de “cerceamento à liberdade de expressão”. Obviamente a emissora continua transmitindo sua programação, como se nada tivesse acontecido…
Agora, me digam: dá para acreditar que, na prática, os aeroportos não foram privatizados? Ainda mais que a lei federal nº 9.491/97, que norteou o Programa Nacional de Desestatização do governo FHC, prevê que em seu artigo 2º, inciso III, que “serviços públicos objeto de concessão, permissão ou autorização” poderão ser “objeto de desestatização” – ou seja, privatização.
E olha que, como mostrei, a lei nem chega a ser necessária para privatizar os aeroportos “concedidos”, visto que as concessões de canais abertos de televisão e estações de rádio para exploração por empresas privadas são, na prática, propriedade privada destas.


* Rodrigo Cardia é historiador, diagramador do Jornalismo B Impresso e autor do blog Cão Uivador.




Fonte: http://jornalismob.wordpress.com/

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A comida para alimentar nove bilhões de pessoas



RIO - Eraldo Medeiros volta esta semana de Roma. Na cidade, sede da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), foi o único brasileiro a participar de uma conferência sobre entomofagia. A palavra esconde uma prática crescente mundo afora, mas para a qual muita gente ainda torce o nariz por aqui - a introdução de insetos na dieta humana. A quem considera que só alguns povos e participantes de reality show encaram esses bichos num prato, a FAO avisa: a França já importa 5 toneladas de lagarta seca por ano da República Centro-Africana. E tudo vai para a cozinha.

Nos próximos meses, um holandês entrará para a História. Seu feito: provar um hambúrguer de carne produzida em laboratório. A iguaria, criada a partir de células-tronco, ainda está no forno. Grupos de pesquisa de outros países aguardam ansiosamente a degustação. Se dela sair algo minimamente comestível, pode ser o primeiro passo para a aposentadoria da pecuária - atividade econômica que ocupa um terço da área terrestre do planeta.

A falta de espaço sobre a terra foi um dos estímulos para a aquicultura, o cultivo de algas marinhas. Esta produção, em 2008, chegou a 15,8 bilhões de toneladas - em cifras, R$ 12,7 bilhões. O Brasil importa cerca de R$ 384 milhões de algas secas e derivados, embora tenha potencial para depender apenas de sua costa. O carro-chefe deste mercado no mundo é a multifuncional Kappaphycus alvarezii, presente como aditivo ou espessante em sorvetes, iogurtes e cervejas, entre outros. Aqui, porém, os estados do Rio e São Paulo são os únicos autorizados a vendê-las. Apenas em Santa Catarina há 700 famílias esperando autorização do Ibama para juntar-se ao comércio.

Em Brasília, onde preside a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Pedro Antônio Arraes orgulha-se de seu laboratório de nanotecnologia, o único do mundo voltado à agricultura. Nele se desenvolve uma película comestível. A ideia é simples: sabe aquele saco plástico onde se guarda a comida na geladeira? Que tal reforçá-lo, para que segure por mais tempo o sabor do alimento - e, depois, ingeri-lo também? Os testes foram bem-sucedidos até agora.

Insetos, carnes de laboratório, fazendas de algas marinhas e películas comestíveis são algumas soluções para um mundo que, em 2050, terá 9 bilhões de bocas. E, desde agora, incita preocupações sobre como tanta gente poderá ser alimentada.

No Brasil, embalagens comestíveis

Símbolo da culinária brasileira, o feijão, até o ano que vem, ganhará nova versão. Há três meses, sementes transgênicas do grão tiveram a produção e a venda aprovadas. Outros alimentos devem seguir o mesmo caminho, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), inventora do feijão geneticamente modificado.
O gosto, asseguram os pesquisadores, é o mesmo. Mas os prejuízos para os produtores serão menores. O novo feijão é resistente ao vírus do mosaico dourado, que contamina de 90 mil a 280 mil toneladas anuais do cultivo tradicional, inviabilizando a venda. O feijão transgênico teve as defesas reforçadas e ativadas mais cedo, para evitar o contágio em massa.
- O prejuízo causado pelo mundo por virose nas diversas culturas é de US$ 3 trilhões - ressalta o presidente da Embrapa, Pedro Antônio Arraes. - A tecnologia elaborada para o feijão abre uma nova porta. Sabemos que há controvérsia em relação aos transgênicos. Mas as mudanças que faremos são inócuas para o ser humano. As plantas podem ser mais eficientes, perder menos água.
A Embrapa desenvolve 180 projetos de estudo para aumentar a produtividade no campo. Um dos mais importantes é o da fixação biológica para as culturas de soja - a associação de leguminosas com bactérias, que "puxam" o nitroênio para a planta e, assim, evitam o consumo de fertilizantes. Quanto menos produtos químicos usados na agricultura, mais natural é o alimento que chega à mesa e menor é o lançamento de poluentes no solo e em rios.
- Podemos fazer a fixação biológica também com milho e cana-de-açúcar - revela o coordenador de Estudos Estratégicos da Embrapa, Elísio Contini. - Como usamos poucos produtos nitrogenados, não jogamos ureia nos rios. É um ganho do meio ambiente, além de uma economia bilionária com químicos.
Mesmo com seu clima e proporções continentais, até 40 anos atrás o Brasil importava arroz, feijão, leite e carne. A Embrapa foi criada em 1973 para formar pesquisadores na agropecuária e aumentar a produção. Hoje, são 47 centros de pesquisa - alguns dedicados a certos alimentos (como gado de corte e de leite), outros a biomas.
Enquanto montava sua estrutura, a empresa pública testemunhou o Brasil rural tornar-se urbano. Mais de 85% de nossa população vive em cidades; o que, teoricamente, representaria um esvaziamento da produção agrícola. Não foi o que aconteceu. Em 1976, a produção brasileira de grãos era de 40 milhões de toneladas. Hoje, é quatro vezes maior. E, neste período, a área usada pelo setor cresceu apenas 31%.
Hoje, cientistas brasileiros já atuam na vanguarda de área de alimentos. Um dos laboratórios da Embrapa desenvolve películas comestíveis, cujo objetivo será aposentar o uso de plástico em embalagens de comidas.
- Você poderá, por exemplo, comer uma embalagem com gosto de maçã - explica Arraes. - É um produto biodegradável, que aumenta o tempo de vida do alimento guardado dentro dele. Além disso, não precisaremos esperar um século para que um plástico abandonado seja incorporado ao meio ambiente.
Quando receberem o aval para chegar ao mercado, estas invenções prometem dar ao país um papel estratégico no planeta daqui a 40 anos.
- De todo o aumento na produção alimentícia esperado até 2050, 40% devem vir do Brasil - avalia o presidente da Embrapa. - Esta é a expectativa das ONU para atender a 9 bilhões de pessoas. Creio que teremos condições de atendê-la.
Para fazer o dever de casa, não será necessário transformar biomas inteiros em pasto ou lavoura. A menina dos olhos da Embrapa é o Projeto iLPF - ou Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Nas fazendas-piloto em que foi implantado, planta-se grão e cria-se gado ao lado da floresta. O objetivo é saber se este sistema de produção retém ou emite carbono. E, também, quantas árvores devem ser plantadas para cobrir a emissão de metano pela pecuária.
Se o programa der certo, o país, além de aumentar a produtividade no campo, poderá ajudar a combater o aquecimento global.
Entre insetos e algas, um desafio técnico e cultural
Há dois anos, Eraldo Medeiros organizou um evento em Feira de Santana (BA) sobre o consumo de insetos. Daí veio um livro - "Antropoentomofagia" - e uma certeza que carrega até hoje, corroborada pela FAO:
- Insetos são alimentos e devem ser consumidos por todos - ressalta. - Eles são ricos em nutrientes.
Para o pesquisador, a aversão a insetos é uma questão cultural. Numerosos povos asiáticos e africanos consomem normalmente estes animais. Antigas tribos da América Latina também. Os astecas, por exemplo, não dispensavam um inseto. Noventa e uma espécies compunham o seu cardápio.
Medeiros, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, é um dos pioneiros no assunto no Brasil. Como um número crescente de especialistas em alimentação, ele vê nos insetos uma forma de aumentar a oferta de proteínas sem explorar ainda mais o solo e a água. Insetos têm muita proteína. Sua percentagem de proteína não raro é superior a 50% - caso das larvas de vespas ou das pupas de moscas.
O Brasil, segundo ele, ainda está distante de se tornar um grande consumidor de insetos. Mas, quando implantada aqui, o Norte do país a receberia com mais facilidade.
- Nesta região, os insetos já fazem parte da culinária dos ribeirinhos e de várias etnias indígenas - conta. - Mas também existe um comércio informal de formigas tanajuras em Minas Gerais e em Pernambuco. Eu, sempre que tenho a oportunidade, e que conheço sua procedência, como um inseto.
Enquanto os bichos expandem seus domínios, a inglesa Hanna Tuomisto dedica-se a um tema que, segundo ela, conta com a atenção de poucos grupos de cientistas. Hanna estuda o desenvolvimento de carne cultivada, feito através de células-tronco.
- Extraímos estas células, por exemplo, de porcos, para depois convertê-la em células musculares - explica a pesquisadora da Universidade de Oxford. - Elas, então, são cultivadas junto a nutrientes e vitaminas essenciais para que cresçam na quantidade desejada. O gosto da carne sofre influência de muitos fatores, como a textura e o teor de gordura. Podemos controlar tudo isso, mas ainda não temos certeza do sabor do produto final.
Especialista em impactos ambientais gerados pela agropecuária, Hanna enumera as vantagens da carne de laboratório: sua produção exige 99% menos terra, 90% menos água e libera até 95% menos gases-estufa. Cada quilo de carne produzido via pecuária convencional requer de 4 a 10 quilos de alimentos; com a nova tecnologia, são apenas 2 quilos.
- Se este método constituísse metade da carne que consumimos, a cobertura florestal do planeta aumentaria 50%, o equivalente a quatro vezes a área verde do Brasil - ressalta. - E mais espaço para a vida silvestre provocaria um incremento da biodiversidade.
Hanna admite, no entanto, ignorar o custo comercial da carne cultivada. Algo não desprezível, considerando que laboratórios e pesquisadores de célula-tronco custam muito mais do que a mão de obra dedicada à pecuária tradicional.
Outra área que se desenvolve velozmente é a da cultura de organismos marinhos. Algas, principalmente. A China, pioneira no setor, lidera é líder de mercado. Na América Latina, o Chile se destaca, mas o Brasil ainda tem um grande potencial inexplorado, segundo Alex Alves dos Santos. Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), ele luta para que os estados do Sul possam comercializar a Kappaphycus alvarezii, cujo uso vai de vinhos a cosméticos, passando por carne vegetal congelada.
- O Ibama ainda não liberou o cultivo desta alga no Sul por ser uma espécie exótica. Mas ela não faz mal a qualquer outra planta daqui, e temos a temperatura ideal para seu crescimento - ressalta. - Só é perigoso produzí-la acima do Espírito Santo, onde há recifes de corais que poderiam ser invadidos pela Kappaphycus.
Ciência ajuda a alimentar o mundo


 Seremos 9 bilhões em 205.  Mas a exploração de novas fronteiras alimentares 
não pode ultrapassar as fronteiras da nossa dignidade.

Representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o moçambicano Hélder Muteia destaca a enormidade do desafio que temos pela frente para alimentar a crescente população mundial - seremos 9 bilhões em 2050 - de forma sustentável e num mundo cada vez mais quente. Em 2009, um em cada 6 habitantes do planeta estava desnutrido. E entre 2010 e 2011, a produção mundial de cereais caiu 1,1%. Para o especialista, somente a ciência e a tecnologia poderão ajudar o mundo a estar à altura do desafio. "O Brasil tem um papel fundamental nisso, pois possui muito conhecimento na área agrícola e pode contribuir para o desenvolvimento sustentável".

O Globo: Em 2009, atingimos um triste recorde mundial, com 1,023 bilhão de pessoas desnutridas. Este índice deveu-se a fenômenos como a seca na Rússia. Com a projeção de que eventos climáticos extremos vão se tornar cada vez mais comuns, podemos esperar novos recordes de desnutrição num futuro próximo?

Hélder Muteia: Os desastres climáticos sem dúvida representam um risco enorme aos esforços de combate à fome mundial, a exemplo da terrível seca que atingiu a região do Chifre da África em 2011, a pior dos últimos 60 anos. Mas eles são apenas parte do problema, há outros fatores, como o aumento e a volatilidade dos preços dos alimentos, que causam prejuízos aos pequenos agricultores, os mais atingidos pela fome. Afinal, 75% das pessoas que passam fome no mundo estão no campo. Nossa esperança é que a fome diminua no mundo. Até 2015 esperamos ter menos do que 400 milhões passando fome. Mas para isso, o mundo precisa estar preparado para produzir alimentos de maneira sustentável. Acima de tudo, precisamos de uma nova plataforma institucional internacional, de novos atores com vontade política para combater a fome. Só recentemente, por exemplo, o G-20 incluiu o tema do combate à fome na agenda de discussões. Voltando aos desastres naturais, temos de nos preparar melhor para enfrentá-los e reduzir seus efeitos. Em um país de forte instabilidade social, um evento climático extremo tem um efeito devastador, como se observa em nações do continente africano. Isso gera aumento dos conflitos armados, o que dificulta muito o trabalho de ajuda humanitária nas regiões atingidas. Em áreas agrícolas, é preciso que haja um conjunto de ações que fortaleça o sistema produtivo no campo (acesso à terra, água, mercado e tecnologia ao pequeno produtor) e o uso de mecanismos de prevenção, como o mapeamento e a identificação do histórico de áreas atingidas.

O Globo: A produção de alimentos cresce hoje num ritmo que acompanha o crescimento da população?

Muteia: Nós temos muitos desafios. Como mencionei, a alta volatilidade de preços tem prejudicado muito nossos esforços. Apenas entre 2010 e 2011, ela empurrou cerca de 70 milhões de pessoas para a pobreza extrema, tornando-as ainda mais vulneráveis à fome. Também temos o desafio demográfico: em 2050 seremos 9 bilhões e a produção de alimentos deve crescer em 70%. Porém, entre 2010 e 2011, a produção mundial de cereais caiu 1,1% e o consumo aumentou em 1,9%. Isso afetou negativamente os estoques mundiais. Mas nós acreditamos numa recuperação sólida. Não só do ponto de vista da produção, mas também do acesso real aos alimentos pelas pessoas mais vulneráveis. O fortalecimento da produção e do consumo em âmbito local é uma peça-chave nesse mecanismo. Por meio dele, é possível combater a fome e dinamizar a economia ao mesmo tempo.

O Globo: Qual será, nas próximas décadas, o papel do Brasil na produção de alimentos? O crescimento de nossa produção, como é feita hoje, representa um risco ao meio ambiente, levando em consideração a expansão das fronteiras da agropecuárias para áreas de florestas?

Muteia: O Brasil é um país que aposta na agricultura. Essa aposta deve vir acompanhada de três elementos essenciais: sustentabilidade econômica, social e ambiental. A ciência já demonstrou que a base de recursos que nos alimenta tem os seus limites. O ambiente é feito de múltiplos sistemas que se sustentam em cadeia. Os solos, o fluxo das águas, a temperatura, as florestas, a fauna... Eles formam uma cadeia de sustentação. Qualquer desequilíbrio nessa equação pode comprometer a vida no planeta. A agricultura mal concebida e mal implementada acarreta riscos: desmatamento, emissão de gases-estufa, uso excessivo de agroquímicos e degradação de solos. A ciência deve nos ajudar a encontrar os melhores caminhos para uma vida mais sustentável em todos os níveis. E o Brasil tem um papel fundamental nisso, pois possui muito conhecimento na área agrícola. A ciência vai contribuir para o desenvolvimento sustentável. Ela é parte essencial da solução para a questão ambiental.

O Globo: O governo brasileiro investe em produtos transgênicos, fixação biológica de milho e cana-de-açúcar e nanotecnologia na agricultura. Como o senhor analisa a aplicação dessas tecnologias em alimentos?

Muteia: As instituições científicas têm a responsabilidade de encontrar as respostas tecnológicas e propor as soluções para aumentar a produção com sustentabilidade. Há regras mundiais e nacionais que orientam esse exercício. Nós apoiamos toda pesquisa que promova os objetivos de combater a fome, dentro da legalidade e de princípios éticos.

O Globo: Os transgênicos, como existem hoje, já são mal vistos por parte da população. No futuro, quando se difundirem ainda mais, podem provocar uma reação ainda maior?

Muteia: A engenharia genética é hoje prática comum dos institutos de pesquisa. Muito do que produzimos e consumimos hoje é resultado de pesquisa em biotecnologia. Sabemos que o assunto causa polêmica. Se essa polêmica vai prevalecer ou não, dependerá muito da capacidade da ciência provar a existência ou não de riscos em determinado setor, dependerá dos passos que a tecnologia poderá dar. E dependerá também da imagem que o público formar desses alimentos. Essa percepção é subjetiva, mas orienta o mercado. O importante é garantir que os alimentos transgênicos sejam devidamente rotulados. Estamos num mundo democrático, em que a livre escolha prevalece. O mesmo acontece com a questão relacionada à agricultura orgânica.

O Globo: Em outros países, investe-se em soluções ainda mais polêmicas, como carne produzida em laboratórios, ou na alimentação com insetos. A FAO tem uma posição em relação a estes projetos?

Muteia: Devemos respeitar três elementos essenciais: o científico, o cultural e o social. A ciência nos dá respostas sobre o valor nutritivo, riscos e limites. Por meio dela, sabemos como uma boa dieta deve ter equilíbrio entre valores energéticos, proteicos, vitamínicos e minerais. Sabemos os potenciais riscos e excessos, os níveis de toxicidade... A cultura nos orienta para aquilo que é aceitável em determinadas regiões. As serpentes são fontes proteicas em alguns lugares. A carne de porco e seus derivados são comuns em outras culturas. Já os insetos são consumidos com voracidade por muitos povos. Em certas partes da Ásia a proteína animal não é consumida. Somos seres sociais. As sociedades são guiadas por seus princípios. E a alimentação, como um direito, deve ser exercida com dignidade. A exploração de novas fronteiras alimentares não pode ultrapassar as fronteiras da nossa dignidade.

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/comida-alimentar-nove-bilh%C3%B5es-pessoas-171557024.html